30 julho 2011

Rio Ribeira - Vapor - Foto

Declaração de Elano

Caros Leitores,

O jogador de futebol, Elano, do Santos Futebol Club, declarou no jornal de esporte da TV RECORD, em rede nacional, hoje, sábado, que o Brasil não dá segurança as pessoas, como na Europa.

Lamentável.

Sem comentários.

Roberto J. Pugliese

29 julho 2011

Prepotencia da Elite do Poder Judiciário -

Em férias, juízes usam escolta
policial para passear de moto


Um grupo de magistrados motociclistas de São Paulo em férias percorreu parte dos 1.000 km até Brasília com uma escolta policial.Os oito juízes levaram dois dias até a capital federal para participar do primeiro encontro do grupo "Amigos do Motociclismo Brasileiro da AMB" (Associação dos Magistrados Brasileiros). Foram acompanhados por policiais militares rodoviários até Minas. Lá, policiais rodoviários federais fizeram a escolta. "Grande parte do caminho fomos sozinhos, pois os policiais foram atender um acidente", disse o juiz Flávio Fenoglio, diretor da AMB.
A escolta, divulgada ontem pelo blog de Frederico Vasconcelos, da Folha, foi criticada. "É mais uma desmoralização do Judiciário, que vive de benesses", afirmou o historiador Marco Antonio Villa, da Universidade Federal de São Carlos.
"Revela um ranço patrimonialista de quem é da elite e acha que pode tudo", disse o juiz Luis Fernando Vidal.
Fenoglio diz que cumpriu a lei ao informar a polícia de que um grupo de motociclistas estaria nas rodovias.
Conforme a PM, tratou-se de acompanhamento, realizado para evitar impacto no trânsito e que pode poder solicitado por qualquer pessoa, e não escolta, relativa "a importância de determinada pessoa" ou "interesse de segurança pública".
Dois membros de motoclubes disseram à Folha que nunca conseguiram o acompanhamento policial.
Fonte: Folha de São Paulo ( Copiado do boletim diário da OAB-SC )

27 julho 2011

Professora COERENTE recusa prêmio -

Natal, 02 de julho de 2011.

Prezado júri do 19º Prêmio PNBE.

Recebi comunicado notificando que este júri decidiu conferir-me o prêmio

de 2011 na categoria Educador de Valor, "pela relevante posição a favor

da dignidade humana e o amor a educação”.




A premiação é importante reconhecimento do movimento reivindicativo dos

professores, de seu papel central no processo educativo e na vida de

nosso país. A dramática situação na qual se encontra hoje a escola

brasileira tem acarretado uma inédita desvalorização do trabalho docente.




Os salários aviltantes, as péssimas condições de trabalho, as absurdas

exigências por parte das secretarias e do Ministério da Educação fazem

com que seja cada vez maior o número de professores talentosos que

após um curto e angustiante período de exercício da docência exonera-se

em busca de melhores condições de vida e trabalho.




Embora exista desde 1994 esta é a primeira vez que esse prêmio é

destinado a uma professora comprometida com o movimento

reivindicativo de sua categoria.




Evidenciando suas prioridades, esse mesmo prêmio foi antes de mim

destinado à Fundação Bradesco, à Fundação Victor Civita (editora Abril),

ao Canal Futura (mantido pela Rede Globo) e a empresários da educação.




Em categorias diferentes também foram agraciadas com ele corporações

como Banco Itaú, Embraer, Natura Cosméticos, McDonald’s, Brasil

Telecon e Casas Bahia, bem como a políticos tradicionais como

Fernando Henrique Cardoso, Pedro Simon, Gabriel Chalita e Marina Silva.




A minha luta é muito diferente dessas instituições, empresas e personalidades.




Minha luta é igual a de milhares de professores da rede pública. É um

combate pelo ensino público, gratuito e de qualidade, pela valorização

do trabalho docente e para que 10% do Produto Interno Bruto

seja destinado imediatamente para a educação.




Os pressupostos dessa luta são diametralmente diferentes daqueles

que norteiam o PNBE.




Entidade empresarial fundada no final da década de 1980, esta manteve

sempre seu compromisso com a economia de mercado. Assim como

o movimento dos professores sou contrária à mercantilização do

ensino e ao modelo empreendedorista defendido pelo PNBE.




A educação não é uma mercadoria, mas um direito inalienável de todo

ser humano. Ela não é uma atividade que possa ser gerenciada por

meio de um modelo empresarial, mas um bem público que deve

ser administrado de modo eficiente e sem perder de vista sua finalidade.




Oponho-me à privatização da educação, às parcerias empresa-escola e

às chamadas "organizações da sociedade civil de interesse público"

(Oscips), utilizadas para desobrigar o Estado de seu dever para com o

ensino público.




Defendo que 10% do PIB seja destinado exclusivamente para instituições

educacionais estatais e gratuitas. Não quero que nenhum centavo

seja dirigido para organizações que se autodenominam amigas ou

parceiras da escola, mas que encaram estas apenas como uma oportunidade

de marketing ou, simplesmente, de negócios e desoneração fiscal.




Por essa razão, não posso aceitar esse Prêmio. Aceitá-lo significaria

renunciar a tudo por que tenho lutado desde 2001, quando ingressei

em uma Universidade pública, que era gradativamente privatizada, muito

embora somente dez anos depois, por força da internet, a minha voz

tenha sido ouvida, ecoando a voz de milhões de trabalhadores e

estudantes do Brasil inteiro que hoje compartilham comigo suas

angústias históricas.




Prefiro, então, recusá-lo e ficar com meus ideais, ao lado de meus

companheiros e longe dos empresários da educação.




Saudações,




Professora Amanda Gurgel

26 julho 2011

Ilha do Cardoso na TV


Programa da TV GLOBO mostra a Ilha do Cardoso.

Visitem o endereço abaixo e conheçam a reportagem da Ilha do Cardoso, Cananéia, que foi levada pela TV GLOBO - TRIBUNA e está sendo divulgado pelo sítio virtual Cananet.

http://www.cananet.com.br/html/link_jornal_hoje.html

Roberto J. Pugliese
www.pugliesegomes.com.br

litigancia de má fé não atinge advogado. STJ

Advogado não responde pessoalmente por litigância de má-fé

A pena por litigância de má-fé deve ser aplicada à parte e não ao seu advogado. A decisão é da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que proveu recurso de um advogado contra a Fazenda Nacional. A Turma, seguindo voto do relator, ministro Humberto Martins, entendeu que o advogado não pode ser penalizado no processo em que supostamente atua como litigante de má-fé, ainda que incorra em falta profissional. Eventual conduta desleal do advogado deve ser apurada em ação própria e não no processo em que defende seu cliente.

No caso, o advogado recorreu ao STJ após decisão do Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF5) que o responsabilizou por litigância de má-fé e determinou a compensação dos honorários advocatícios com o valor fixado para a multa.

Ainda em sua defesa, argumentou que a compensação dos valores não poderia ter sido feita, já que ele jamais poderia ter sido pessoalmente condenado por litigância de má-fé. Para ele, apenas as partes ou o interveniente podem ser condenados. Por fim, afirmou que os honorários advocatícios não poderiam ser compensados, pois estes pertencem unicamente aos advogados e não às partes.

Ao decidir, o ministro Humberto Martins destacou que a solução adotada pelo tribunal regional não está de acordo com a legislação processual vigente, já que o valor referente à multa por litigância de má-fé não pode ser compensado com os honorários devidos ao advogado.

“Conforme expressa determinação legal, eventual condenação do advogado pela litigância de má-fé deve ser apurada em ação própria, e não nos mesmos autos em que defende seu cliente”, acrescentou o relator.

REsp 1247820

25 julho 2011

Reforma Agrária

Caros leitores.

Para quem profeça a religião Católica Apostólica Romana, hoje, 25 de julho, é o dia de São Cristovão, protetor dos motoristas e dia que se comemora e homenageia o homem do campo.

A reforma agrária é uma necessidade premente para que se de a verdadeira justiça social.

Editora Abril Condenada por propaganda enganosa.

TJSP. Editoras são condenadas por propaganda enganosa
25 de julho de 2011
A 25ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo manteve decisão de primeira instância para condenar a Editora Caras e a Abril a pagarem indenização por danos materiais e morais no valor de R$ 15.838,40 a um consumidor por propaganda enganosa.
O leitor teria assinado a revista Caras pelo prazo de dois anos, aceitando oferta enviada por mala direta. Em troca receberia, além da publicação semanal, uma passagem para Nova Iorque, sem a necessidade de sorteio ou concurso. Após efetuar pagamento da assinatura, recebeu um voucher, mas a passagem não foi confirmada. Ao entrar em contato com as editoras para reclamar, foi informado que a promoção havia terminado.
De acordo com o relator do recurso, desembargador Marcondes D’Angelo, o dano ficou configurado uma vez que, ao não honrar o compromisso, as editoras geraram uma frustração ao consumidor, que despendeu tempo, programou férias e foi exposto à situação vexatória, tendo inclusive que recorrer ao Judiciário para ter uma resposta satisfatória.
Também participaram do julgamento, que teve votação unânime, os desembargadores Antonio Benedito Ribeiro Pinto e Hugo Crepaldi.

( Transcrito no sítio eletronico do Juridico News - Publicação on line )

24 julho 2011

destinos procurados em julho -

O IBGE elaborou pesquisa para saber quais os destinos mais procurados no período de férias de julho de 2011. São Paulo aparece em primeiro lugar, seguido de Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

Os destinos no exterior mais procurados são Londres, N.York e Buenos Ayres.

ROberto J. Pugliese
www.pugliesegomes.com.br

A Jogada da Vez - Ana Paula Fanton. ( transcrito de A noticia )

A jogada da vez
As vantagens que estimulam as empresas a apostarem em atletas ou times de Joinville na hora de divulgar um produto ou uma marca e os cuidados necessários para garantir bons resultados
Cada vez que alguém liga o televisor para assistir à transmissão de uma modalidade esportiva, está fazendo a caixa registradora das empresas que trabalham com marketing esportivo armazenar mais algumas moedas. A divulgação da marca acontece de forma menos agressiva do que em um comercial de TV, mas não menos eficiente.

Para Roberto Pugliese e Douglas Strelow, da Agôn Assessoria Esportiva, um projeto de marketing esportivo bem estruturado pode trazer vantagens como a mídia espontânea gerada cada vez que a marca aparece nos meios de comunicação por meio dos uniformes ou placas de patrocínio, além de aliar o nome da empresa a algo que traz benefícios à saúde.

Por outro lado, é bom ficar atento ao profissionalismo do clube ou de onde o dinheiro será investido para não ter prejuízo. Se o patrocínio for para um atleta, o prejuízo pode vir se o profissional não tiver uma conduta adequada, envolvendo-se com problemas de doping, por exemplo.

Como o patrocínio esportivo gera retorno, há regras para que os valores investidos possam ser deduzidos do Imposto de Renda. Só as empresas que têm lucro real – cerca de 7% das que existem no País, de acordo com o Ministério do Esporte – se enquadram nesta forma de benefício. Elas podem destinar até 4% do imposto devido para projetos esportivos e a dedução não pode ultrapassar 1%. Para participar, a empresa pode escolher entre um dos projetos aprovados pelo Ministério dos Esportes. Outra opção é o Fundesporte, do governo estadual.

Em Joinville, futebol e futsal são os favoritos de boa parte do público e também das empresas que viram nas modalidades uma oportunidade de se promover. Os especialistas da Agôn explicam que a escolha das empresas por patrocinar esportes de massa é mais comum do que optar pelas modalidades individuais porque nestas há sempre a busca por expoentes e o espaço na mídia dedicado para elas é menor.

Para eles, o esporte é uma atividade que dá mídia natural para quem patrocina, e o mar- keting esportivo é um dos investimentos com melhor custo-benefício. “Em Joinville, há várias modalidades, o setor pode ser mais bem aproveitado. Existe um potencial muito grande no amador que é pouco explorado”, defendem.

Outra questão é que as empresas precisam mudar a visão que têm do esporte para investir ainda mais na atividade. “Hoje, muitos empresários não conseguem enxergar o retorno que o patrocínio de equipes ou atletas pode dar. Não é uma questão de doação de dinheiro e sim de investimento”, opinam.

ana.fanton@an.com.br

ANA PAULA FANTON

Estamos na série C - ( transcrito de A Noticia, de Joinville )

Estamos na Série C!, por Roberto J. Pugliese Jr.*
Enfim, estamos na Série C! Mas não foi nada fácil voltar. Após belíssima campanha do JEC na Série D do futebol brasileiro em 2010, faltou um gol contra o América de Manaus para conquistarmos a vaga em campo em 17 de outubro. A diretoria agiu rápido, acionou o competente Paulinho Hoffmann para que verificasse a condição dos jogadores do semiamador América e constatou que o atleta Amaral jogou a primeira partida sem qualquer registro e a segunda com contrato registrado fora do prazo de inscrição.

Como advogado responsável pela assessoria jurídica do JEC já há sete anos, esclareci sobre procedimentos, chances e riscos de interposição de medidas. O JEC tinha prazo e legitimidade para agir, e o STJD, a competência para apreciar o caso e eliminar o clube amazonense. Em algumas horas elaborei a comunicação à procuradoria requerendo a abertura de processo desportivo. A denúncia foi oferecida pela irregularidade comprovada. Com o apoio do estagiário Leonardo Roesler e a torcida de milhares de pessoas, partimos para o Rio de Janeiro. A primeira sessão de julgamento foi absurdamente interrompida por falta de resposta da CBF há um ofício do STJD. Voltamos para julgamento pela 4ª Comissão Disciplinar. A defesa do América alegou “falha no sistema da CBF”. Em sessão “dramática”, o empate em dois votos absolveu o América, com o relator afirmando que “as competições devem ser decididas em campo”.

Muitos torcedores e membros da imprensa deixaram de acreditar que teríamos êxito, afirmavam que a Justiça Desportiva não era confiável, que estava tudo armado, que o Joinville e sua assessoria jurídica não tinham competência nem força na CBF, que podíamos desistir e lutar pela Série D. Mas a diretoria confiou no trabalho e em minha experiência de mais de dez anos de estudos e atuação no direito desportivo e investiu o que foi necessário para o recurso ao pleno. Reforçados pelo advogado carioca Dr. Martinho Miranda, que nos deu apoio total no Rio, voltamos ao STJD e fomos surpreendidos por outro adiamento inexplicável. Não desistimos! Já era 9 de dezembro quando, por seis votos a um, foi provido o recurso do JEC e da procuradoria, e o América, condenado à perda de seis pontos e multa. Com justiça, a vaga na Série C de 2011 ficou com o Joinville. Agora, nos resta desejar boa sorte e apoiar o time na luta pelo acesso à Série B.

*Advogado desportivo, assessor jurídico do Joinville Esporte Clube

23 julho 2011

Carta Aberta à Palestina

Carta Aberta à Palestina



Em 1980, uma canção que escrevi, “Another Brick in the Wall Part 2”, foi proibida pelo governo da África do Sul porque estava sendo usada por crianças negras sul-africanas para reivindicar o seu direito a uma educação igual. Esse governo de apartheid impôs um bloqueio cultural, por assim dizer, sobre algumas canções, incluindo a minha.

Vinte e cinco anos mais tarde, em 2005, crianças palestinas que participavam num festival na Cisjordânia usaram a canção para protestar contra o muro do apartheid israelita. Elas cantavam: “Não precisamos da ocupação! Não precisamos do muro racista!” Nessa altura, eu não tinha ainda visto com os meus olhos aquilo sobre o que elas estavam cantando.

Um ano mais tarde, em 2006, fui contratado para atuar em Telavive.

Palestinos do movimento de boicote acadêmico e cultural a Israel exortaram-me a reconsiderar. Eu já me tinha manifestado contra o muro, mas não tinha a certeza de que um boicote cultural fosse a via certa. Os defensores palestinos de um boicote pediram-me que visitasse o território palestino ocupado para ver o muro com os meus olhos antes de tomar uma decisão. Eu concordei.

Sob a proteção das Nações Unidas, visitei Jerusalém e Belém. Nada podia ter-me preparado para aquilo que vi nesse dia. O muro é um edifício revoltante. Ele é policiado por jovens soldados israelitas que me trataram, observador casual de um outro mundo, com uma agressão cheia de desprezo. Se foi assim comigo, um estrangeiro, imaginem o que deve ser com os palestinos, com os subproletários, com os portadores de autorizações. Soube então que a minha consciência não permitiria afastar-me desse muro, do destino dos palestinos que conheci, pessoas cujas vidas são esmagadas diariamente de mil e uma maneiras pela ocupação de Israel. Em solidariedade, e de alguma forma por impotência, escrevi no muro, naquele dia: “Não precisamos do controle das ideias”.

Acreditando nesse momento que a minha presença num palco de Telavive iria legitimar involuntariamente a opressão que eu estava testemunhando, cancelei o meu concerto no estádio de futebol de Telavive e mudei-o para Neve Shalom, uma comunidade agrícola dedicada a criar pintinhos e também, admiravelmente, à cooperação entre pessoas de crenças diferentes, onde muçulmanos, cristãos e judeus vivem e trabalham lado a lado em harmonia.

Contra todas as expectativas, ele tornou-se o maior evento musical da curta história de Israel. 60.000 fãs lutaram contra engarrafamentos de trânsito para assistir. Foi extraordinariamente comovente para mim e para a minha banda e, no fim do concerto, fui levado a exortar os jovens que ali estavam agrupados a exigirem ao seu governo que tentasse chegar à paz com os seus vizinhos e que respeitasse os direitos civis dos palestinos que vivem em Israel.

Infelizmente, nos anos que se seguiram, o governo israelita não fez nenhuma tentativa para implementar legislação que garanta aos árabes israelitas direitos civis iguais aos que têm os judeus israelitas, e o muro cresceu, inexoravelmente, anexando cada vez mais a faixa ocidental.

Aprendi nesse dia de 2006 em Belém alguma coisa do que significa viver sob ocupação, encarcerado por trás de um muro. Significa que um agricultor palestino tem de ver oliveiras centenárias ser arrancadas. Significa que um estudante palestino não pode ir para a escola porque o checkpoint está fechado. Significa que uma mulher pode dar à luz num carro, porque o soldado não a deixará passar até ao hospital que está a dez minutos de estrada. Significa que um artista palestino não pode viajar ao estrangeiro para exibir o seu trabalho ou para mostrar um filme num festival internacional.

Para a população de Gaza, fechada numa prisão virtual por trás do muro do bloqueio ilegal de Israel, significa outra série de injustiças. Significa que as crianças vão para a cama com fome, muitas delas desnutridas cronicamente. Significa que pais e mães, impedidos de trabalhar numa economia dizimada, não têm meios de sustentar as suas famílias. Significa que estudantes universitários com bolsas para estudar no estrangeiro têm de ver uma oportunidade escapar porque não são autorizados a viajar.

Na minha opinião, o controle repugnante e draconiano que Israel exerce sobre os palestinos de Gaza cercados e os palestinos da Cisjordânia ocupada (incluindo Jerusalém oriental), assim como a sua negação dos direitos dos refugiados de regressar às suas casas em Israel, exige que as pessoas com sentido de justiça em todo o mundo apóiem os palestinos na sua resistência civil, não violenta.

Onde os governos se recusam a atuar, as pessoas devem fazê-lo, com os meios pacíficos que tiverem à sua disposição. Para alguns, isto significou juntar-se à Marcha da Liberdade de Gaza; para outros, isto significou juntar-se à flotilha humanitária que tentou levar até Gaza a muito necessitada ajuda humanitária.

Para mim, isso significa declarar a minha intenção de me manter solidário, não só com o povo da Palestina, mas também com os muitos milhares de israelitas que discordam das políticas racistas e coloniais dos seus governos, juntando-me à campanha de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) contra Israel, até que este satisfaça três direitos humanos básicos exigidos na lei internacional.

1. Pondo fim à ocupação e à colonização de todas as terras árabes (ocupadas desde 1967) e desmantelando o muro;



2. Reconhecendo os direitos fundamentais dos cidadãos árabe-palestinos de Israel em plena igualdade; e


3. Respeitando, protegendo e promovendo os direitos dos refugiados palestinos de regressar às suas casas e propriedades como estipulado na resolução 194 da ONU.

A minha convicção nasceu da ideia de que todas as pessoas merecem direitos humanos básicos. A minha posição não é antissemita. Isto não é um ataque ao povo de Israel. Isto é, no entanto, um apelo aos meus colegas da indústria da música e também a artistas de outras áreas para que se juntem ao boicote cultural.

Os artistas tiveram razão de recusar-se a atuar na estação de Sun City na África do Sul até que o apartheid caísse e que brancos e negros gozassem dos mesmos direitos. E nós temos razão de recusar atuar em Israel até que venha o dia – e esse dia virá seguramente – em que o muro da ocupação caia e os palestinos vivam ao lado dos israelitas em paz, liberdade, justiça e dignidade, que todos eles merecem.



ROGER WATERS

Cantor e compositor britânico

( Contribuição de Victor Hugo Noroef )

Carta Aberta à Palestina

Carta Aberta à Palestina



Em 1980, uma canção que escrevi, “Another Brick in the Wall Part 2”, foi proibida pelo governo da África do Sul porque estava sendo usada por crianças negras sul-africanas para reivindicar o seu direito a uma educação igual. Esse governo de apartheid impôs um bloqueio cultural, por assim dizer, sobre algumas canções, incluindo a minha.

Vinte e cinco anos mais tarde, em 2005, crianças palestinas que participavam num festival na Cisjordânia usaram a canção para protestar contra o muro do apartheid israelita. Elas cantavam: “Não precisamos da ocupação! Não precisamos do muro racista!” Nessa altura, eu não tinha ainda visto com os meus olhos aquilo sobre o que elas estavam cantando.

Um ano mais tarde, em 2006, fui contratado para atuar em Telavive.

Palestinos do movimento de boicote acadêmico e cultural a Israel exortaram-me a reconsiderar. Eu já me tinha manifestado contra o muro, mas não tinha a certeza de que um boicote cultural fosse a via certa. Os defensores palestinos de um boicote pediram-me que visitasse o território palestino ocupado para ver o muro com os meus olhos antes de tomar uma decisão. Eu concordei.

Sob a proteção das Nações Unidas, visitei Jerusalém e Belém. Nada podia ter-me preparado para aquilo que vi nesse dia. O muro é um edifício revoltante. Ele é policiado por jovens soldados israelitas que me trataram, observador casual de um outro mundo, com uma agressão cheia de desprezo. Se foi assim comigo, um estrangeiro, imaginem o que deve ser com os palestinos, com os subproletários, com os portadores de autorizações. Soube então que a minha consciência não permitiria afastar-me desse muro, do destino dos palestinos que conheci, pessoas cujas vidas são esmagadas diariamente de mil e uma maneiras pela ocupação de Israel. Em solidariedade, e de alguma forma por impotência, escrevi no muro, naquele dia: “Não precisamos do controle das ideias”.

Acreditando nesse momento que a minha presença num palco de Telavive iria legitimar involuntariamente a opressão que eu estava testemunhando, cancelei o meu concerto no estádio de futebol de Telavive e mudei-o para Neve Shalom, uma comunidade agrícola dedicada a criar pintinhos e também, admiravelmente, à cooperação entre pessoas de crenças diferentes, onde muçulmanos, cristãos e judeus vivem e trabalham lado a lado em harmonia.

Contra todas as expectativas, ele tornou-se o maior evento musical da curta história de Israel. 60.000 fãs lutaram contra engarrafamentos de trânsito para assistir. Foi extraordinariamente comovente para mim e para a minha banda e, no fim do concerto, fui levado a exortar os jovens que ali estavam agrupados a exigirem ao seu governo que tentasse chegar à paz com os seus vizinhos e que respeitasse os direitos civis dos palestinos que vivem em Israel.

Infelizmente, nos anos que se seguiram, o governo israelita não fez nenhuma tentativa para implementar legislação que garanta aos árabes israelitas direitos civis iguais aos que têm os judeus israelitas, e o muro cresceu, inexoravelmente, anexando cada vez mais a faixa ocidental.

Aprendi nesse dia de 2006 em Belém alguma coisa do que significa viver sob ocupação, encarcerado por trás de um muro. Significa que um agricultor palestino tem de ver oliveiras centenárias ser arrancadas. Significa que um estudante palestino não pode ir para a escola porque o checkpoint está fechado. Significa que uma mulher pode dar à luz num carro, porque o soldado não a deixará passar até ao hospital que está a dez minutos de estrada. Significa que um artista palestino não pode viajar ao estrangeiro para exibir o seu trabalho ou para mostrar um filme num festival internacional.

Para a população de Gaza, fechada numa prisão virtual por trás do muro do bloqueio ilegal de Israel, significa outra série de injustiças. Significa que as crianças vão para a cama com fome, muitas delas desnutridas cronicamente. Significa que pais e mães, impedidos de trabalhar numa economia dizimada, não têm meios de sustentar as suas famílias. Significa que estudantes universitários com bolsas para estudar no estrangeiro têm de ver uma oportunidade escapar porque não são autorizados a viajar.

Na minha opinião, o controle repugnante e draconiano que Israel exerce sobre os palestinos de Gaza cercados e os palestinos da Cisjordânia ocupada (incluindo Jerusalém oriental), assim como a sua negação dos direitos dos refugiados de regressar às suas casas em Israel, exige que as pessoas com sentido de justiça em todo o mundo apóiem os palestinos na sua resistência civil, não violenta.

Onde os governos se recusam a atuar, as pessoas devem fazê-lo, com os meios pacíficos que tiverem à sua disposição. Para alguns, isto significou juntar-se à Marcha da Liberdade de Gaza; para outros, isto significou juntar-se à flotilha humanitária que tentou levar até Gaza a muito necessitada ajuda humanitária.

Para mim, isso significa declarar a minha intenção de me manter solidário, não só com o povo da Palestina, mas também com os muitos milhares de israelitas que discordam das políticas racistas e coloniais dos seus governos, juntando-me à campanha de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) contra Israel, até que este satisfaça três direitos humanos básicos exigidos na lei internacional.

1. Pondo fim à ocupação e à colonização de todas as terras árabes (ocupadas desde 1967) e desmantelando o muro;



2. Reconhecendo os direitos fundamentais dos cidadãos árabe-palestinos de Israel em plena igualdade; e


3. Respeitando, protegendo e promovendo os direitos dos refugiados palestinos de regressar às suas casas e propriedades como estipulado na resolução 194 da ONU.

A minha convicção nasceu da ideia de que todas as pessoas merecem direitos humanos básicos. A minha posição não é antissemita. Isto não é um ataque ao povo de Israel. Isto é, no entanto, um apelo aos meus colegas da indústria da música e também a artistas de outras áreas para que se juntem ao boicote cultural.

Os artistas tiveram razão de recusar-se a atuar na estação de Sun City na África do Sul até que o apartheid caísse e que brancos e negros gozassem dos mesmos direitos. E nós temos razão de recusar atuar em Israel até que venha o dia – e esse dia virá seguramente – em que o muro da ocupação caia e os palestinos vivam ao lado dos israelitas em paz, liberdade, justiça e dignidade, que todos eles merecem.



ROGER WATERS

Cantor e compositor britânico

( Contribuição de Victor Hugo Noroef )

Atitude Suspeita

ATITUDE SUSPEITA

*Marcelo Semer

do BLOG SEM JUÍZO


Uma coisa que eu sempre tive curiosidade de entender é a “atitude suspeita”, o que
leva policiais em patrulhamento a abordar certas pessoas, e não outras.

Quando ouvimos os relatos no Fórum, temos a nítida impressão de que eles sempre acertam – afinal, se virou um processo, a atitude era mesmo suspeita.

Não levamos em conta, lógico, todo aquele contingente de pessoas vigiadas, abordadas, revistadas que não resulta em prisão nem em processo.

Muitas vezes eu pergunto aos policiais: mas qual era a atitude suspeita?

As respostas são as mais diversas e até contraditórias.

O sujeito estava andando em uma direção e passou a andar em outra. Ele estava parado e, então, começou a andar, ao vir a viatura. Quando nós passamos, ficou completamente parado e não saiu do lugar.

A reação facial também é determinante da suspeita: seus olhos mostravam nervosismo, quando nos viu. Ele abaixou a cabeça quando olhamos para ele. Fingiu que não era com ele e continuou olhando para outro lado. O rapaz me encarou de frente, doutor, quando o encarei. E por aí vai.

O medo parece ser o principal combustível da suspeita, segundo o tão comentado “tirocínio policial”. Mas será que em certas situações, o medo não é provocado pelo próprio tirocínio?

Marcos Roberto não foi abordado por um policial. Mas por um agente de segurança ferroviário. Algo como um ‘policial’ da companhia de trens. Talvez sem o mesmo tirocínio. Talvez exatamente com ele.

Foi no mesmo contexto em que Suzana, uma mulher de trinta, se tanto, foi encontrada com uma porção de cocaína do tamanho de uma bola de tênis dentro de sua bolsa.

Eu não consegui saber se Suzana e Marcos se conheciam. Os agentes ferroviários também não.

Suzana entrou em um vagão de trem. Os agentes entraram atrás. Antes que o trem desembarcasse, ela mudou de vagão, despertando a suspeita dos seguranças e disparando o alarme do tirocínio.

Na estação seguinte, os agentes mudam de vagão e encontram Suzana sentada. Encaram-na e recebem como resposta um abaixar de olhos. O comportamento estranho de trocar de vagão, o medo no olhar e pronto, a decisão de abordá-la estava tomada. Na revista da bolsa, bingo, a droga, que ela afirmava portar para uso pessoal.

Mas o leitor pode estar se perguntando a essa altura: e Marcos Roberto, o que tem a ver com isso?

Foi exatamente o que eu perguntei.

Marcos não estava conversando com Suzana.

Não estavam sentados juntos.

Não estavam se olhando, enquanto o trem andava.

Abordado com os olhos, Marcos Roberto não abaixou a cabeça. Encarou os agentes, assim, como quem não tem medo nem nada a dever.

Por que, então, a atenção dos seguranças?

-Bom, doutor, começou um dos agentes, ele era negro, né, ..?

Diante do olhar estupefato de todos nós e depois de um constrangedor minuto de silêncio, o segurança emendou com explicações desencontradas:

-Estava no vagão, estava meio próximo dela assim, o senhor sabe como é, pareceu intranquilo, olha, doutor, mesmo se fosse branco...

O outro agente, mais discreto ou mais precavido talvez, disse que o que chamou mesmo a atenção da segurança foi o fato dele estar ... suando.

Marcos Roberto foi abordado, revistado e, depois de descoberto que já tinha passagens pela polícia, encaminhado à delegacia, de onde foi finalmente liberado.

Até uma próxima abordagem, onde continue despertando “suspeitas”...



Da série Crônicas do Crime

*Marcelo Semer, 45 anos, Juiz de Direito em São Paulo, membro e ex-presidente da Associação Juízes para Democracia

( Contribuição de Victor Hugo Noroef )

22 julho 2011

Coperativa de Barcos vai paralizar viagens

A Cooperbarcos, que faz o transporte de passageiros entre a Costa da Lagoa e o centro da Lagoa da Conceição, em Floripa irá parar as atividades, deixando isolado 1500 habitantes daquela comunidade cujo acesso se da por barcos.

Por falta de subsidios da Prefeitura Municipal, a travessia é economicamente inviável para os cooperados e as tratativas não estão logrando exito, motivando assim, a medida mais severa, segundo dita o seu presidente Volnei.

Isso ocorrerá dia 26 de julho próximo, terça feira, isolando todos do restante da cidade, inclusive os estudantes e doentes do lugar.

18 julho 2011

Rogério Ceni fala o que milhões de brasileiros gostariam

Colhido da entrevista publicada no MSN, em 18 de julho de 2011.

Ceni critica Copa América e avisa: 'Minha seleção tem três cores'
Goleiro do São Paulo detonou o nível da Copa América e afirmou que não assiste aos jogos da seleção brasileira

Perto do fim da carreira, Rogério Ceni não carrega mais pretensões em defender a seleção brasileira, contudo ele aparenta guardar mágoas da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) até pelas recentes polêmicas com o São Paulo. O arqueiro tricolor demonstra indiferença ao falar da equipe nacional.

Neste domingo, a seleção brasileira foi eliminada da Copa América ao perder para o Paraguai nos pênaltis. Rogério Ceni conheceu o resultado apenas no gramado do estádio Beira-Rio, antes do confronto contra o Internacional pelo Campeonato Brasileiro, e evitou grandes lamentações.

"Eu não acompanho mais (a seleção), prefiro ver jogos do Campeonato Brasileiro ou da Série B, onde você pode achar algum atleta interessante. A minha seleção tem três cores", afirmou o arqueiro obviamente em referência ao São Paulo.

Na visão de Rogério Ceni, a edição 2011 da Copa América pecou pela falta de apelo, já que a outra favorita, a Argentina, também fracassou de forma antecipada ao perder para o Uruguai neste sábado. Aliás, a competição foi marcada pelo número elevado de zebras.

"Esse torneio é fraquíssimo, nem os argentinos se interessaram", comentou o camisa 1, após a vitória deste domingo do São Paulo por 3 a 0 na capital gaúcha

17 julho 2011

Ricardo Teixeira - Transcrição de reportagem. Revista Piaui

Edição 58 > _figuras do futebol
Compar tilhar :
O presidente
Ricardo Teixeira combina o valor de jogo da Seleção, decide quem vai transmiti-lo e negocia quem vai patrociná-lo. Ele é o dono do futebol
brasileiro, e quer fazer uma Copa ir reprochável para se eleger presidente da Fifa
por Daniela Pinheiro
varanda do Hotel Baur au Lac foi construída, em 1844, de maneira a oferecer aos hóspedes uma paisagem inspiradora: o jardim aparado
com esmero em pr imeiro plano, depois o lago sereno e, ao fundo, os Alpes soberbos. Milionár ios bronzeados que pilotam Jaguar são
habitués do hotel, no centro de Zur ique. Eles costumam ser acompanhados por senhoras que por tam dois relógios de br ilhante no mesmo
braço (um que marca a hora local e o outro com o fuso do país de onde vêm). Ou então por loiras magras que bebem Campar i com gestos lentos.
Em maio, o hotel estava cheio de dir igentes da Fédération Internationale de Football Association, a Fifa, que realizava o seu 61º congresso na capital
da Suíça.
Num começo de tarde, Ricardo Teixeira, o presidente da Confederação Brasileira de Futebol, a CBF, tomava champanhe sentado de costas para o
jardim. A seis dias da eleição do novo presidente da Federação, ele falava de tudo um pouco, com animação: das dificuldades do ministro Antonio
Palocci para explicar o seu patr imônio, da blitz da Lei Seca que pegou o senador Aécio Neves ao fim de uma noitada, da despedida de Ronaldo
Fenômeno da Seleção, dali a alguns dias.
Parecia imune à catadupa de incr iminações de cor rupção dos dir igentes da Fifa – ele inclusive, e com realce. David Tr iesman, ex-presidente da
Federação Inglesa de Futebol, dissera que Ricardo Teixeira lhe pedira dinheiro para votar na Inglater ra para sede da Copa de 2018. O car tola
br itânico contou que o colega o abordou durante o jogo do Brasil com a Inglater ra, no ano passado, e lhe disse: “O Lula não é nada, venha aqui e
diga o que você tem para mim.”
Quando o assunto surgiu, no ter raço do Baur au Lac, ele aper tou os olhos, franziu o nar iz como se tivesse sentido um odor pestilento e emitiu um
“pffffffffffff”, enquanto girava a cabeça para o lado. O gesto se repete todas as vezes em que se fala de uma acusação a ele, ou da hipótese de um
estádio não ficar pronto a tempo da Copa no Brasil.
“Minha filha, você acredita em tudo que sai na imprensa?”, perguntou, sarcástico. “Esquece, isso é tudo armação. Esses ingleses estão putos
porque perderam, eles não se conformam. Olha para mim e me fala se eu dir ia uma bobagem dessas. Que eu ia dizer que o Lula era nada. E pedir
suborno em tr ibuna, na frente de todo mundo. Faz favor , né?”
Discor reu então sobre o domínio colonial e o imper ialismo br itânico. Classificou os ilhéus de “piratas do mundo”, relatou casos da empáfia da Loira
Albion e lembrou até de falar mal da comida inglesa. “Esse Tr iesman está tendo que explicar na Justiça como gastou 50 milhões de dólares , sendo 15
do governo, na candidatura da Inglater ra”, prosseguiu, sublinhando as moedas. “É uma quantia absurda, não se explica. Nós gastamos 3 milhões de
reais e levamos 2014. Eles não engolem isso, percebe?”
utra acusação foi feita pelo jornalista Andrew Jennings, no programa Panorama, da BBC. Ele apresentou uma lista de dir igentes da Fifa,
entre eles Teixeira e João Havelange, que ter iam recebido 100 milhões de dólares, ao longo dos anos 90, de uma empresa de
marketingespor tivo chamada ISL. Em troca, os car tolas ter iam concedido benesses à companhia na venda de direitos de transmissão de
campeonatos.
Teixeira, afirmou o repór ter inglês, recebeu 9,5 milhões de dólares, por meio de uma empresa de fachada. Jennings disse que um tr ibunal suíço
obr igara o brasileiro a devolver o suborno, o que significava admitir o cr ime. “Ah é? Devolvi dinheiro? Então, cadê? Por que ninguém mostra?”,
perguntou Teixeira. Porque, segundo a BBC, o processo foi encer rado com um acordo extrajudicial que garantiu o anonimato dos acusados. “Eu
nem era do Comitê Executivo nessa época, iam me subornar para quê?”
Juntou-se à mesa a mulher de Ricardo Teixeira, Ana Carolina Wigand, uma morena de 34 anos, tr inta mais nova que ele, e a filha do casal, Antônia,
de 11. Falou-se da cidade, do clima, do hotel. O presidente abraçou a filha, uma menina espevitada que o beijava e acar iciava os cabelos dele.
Br incando, ele disse que a proibir ia de sair à rua de roupa cur ta.
Quando as duas se foram, ele voltou ao assunto. Disse que Jennings, autor de um livro sobre cor rupção na Fifa, era um “fanfar rão” que vivia de
palestras. “Minha quer ida, presta atenção, raciocina”, pediu, “a BBC é estatal, é do governo, entende? É interesse do governo inglês anular a
escolha da Rússia e tirar o Brasil do páreo, porque eles acham que podem nos substituir na última hora. É tudo orquestrado, percebe?”
Quando quer que fixem o que diz, Teixeira faz “psssiiii” e põe o dedo indicador na altura da boca. Ele costuma chamar mulheres e homens de
“meu amor”, com acentuado sotaque car ioca: “Meu amor , já falaram tudo de mim: que eu trouxe contrabando em avião da Seleção, a CPI da Nike
e a do Futebol, que tem sacanagem na Copa de 2014. É tudo coisa da mesma patota, UOL, Folha, Lance, ESPN, que fica repetindo as mesmas
merdas.”
Uma garçonete se aproximou e recolheu os copos. “O Lula me falava: ‘Eu não vejo essa Globo News porque só dá traço’”, disse, refer indo-se à
baixa audiência da emissora. “Então, esse uolsó dá traço. Quem lê o Lance? Oitenta mil pessoas? Traço! Quem vê essa espn? Traço!”
Ele concorda com um raciocínio que José Bonifácio de Oliveira Sobr inho, o Boni, ter ia feito no tempo em que dir igia a Rede Globo. Cer ta vez,
falaram-lhe que um avião caíra e centenas de pessoas mor reram. Boni ter ia dito que, se o Jornal Nacional não noticiasse, para todos os efeitos o
avião não ter ia caído. “Por tanto, só vou ficar preocupado, meu amor , quando sair no Jornal Nacional”, disse Teixeira.
os 64 anos, o mineiro Ricardo Ter ra Teixeira está há 22 à frente da CBF. É também presidente do Comitê Organizador da Copa de 2014 e
membro do Comitê Executivo da Fifa. Dito de outro modo: ele é o chefe do futebol brasileiro, o car tola-mor .
É Teixeira quem decide onde, quando e a que horas os clubes jogam. No que toca à Seleção, ele define o cachê de um amistoso, a emissora
que o transmite, e é quem fecha os acordos milionár ios com os patrocinadores. É quem dá ou não credenciais para que jornalistas possam
trabalhar nos estádios. E quem nomeia o técnico da equipe brasileira.
Na próxima Copa, Teixeira influenciará na escolha dos estádios, dos lugares de concentração das equipes estrangeiras, e poderá palpitar sobre
qualquer obra pública ligada ao Mundial.
Filho de um funcionár io do Banco Central e de uma dona de casa, Teixeira nasceu em Car los Chagas, no inter ior de Minas Gerais. Foi cr iado em
Belo Hor izonte, mas ainda na infância se mudou para o Rio. Estudou no Santo Inácio, escola tradicional car ioca onde aprendeu francês com um
padre (se comunica bem em por tunhol e tem um inglês infrabásico).
Na adolescência, chegou a integrar a equipe de vôlei do Botafogo. Futebol nunca foi o seu for te. Torce pelo Atlético Mineiro e pelo Flamengo. Em
1968, ele estava no Centro de Preparação de Oficiais da Reserva, o CPOR, de onde observou a radicalização da ditadura militar .
Aos 19 anos, em um baile de Carnaval em Teresópolis, foi apresentado a Lúcia, filha de João Havelange, o presidente da Confederação Brasileira de
Despor tos, organização que antecedeu a CBF. Começaram a namorar , casaram-se cinco anos depois e tiveram três filhos. Abandonou o cur so de
direito, no 4º ano, para trabalhar em uma financeira de Belo Hor izonte, o que o obr igava a viver na ponte aérea.
Quando fala de seu per íodo como operador do mercado financeiro, ele se deleita em lembrar como vendia ações desacreditadas e tr iplicava o
investimento. “Eu ganhava muito mais do que hoje”, disse. “Era como se eu ganhasse um Dodge Charger RT por dia.” Graças aos contatos de João
Havelange, fez cur sos e estágios em Zur ique e em Nova York. Foram as suas pr imeiras viagens ao exter ior .
Para explicar como saiu do mercado financeiro e virou car tola de futebol, Teixeira é sucinto: “Foi o rumo natural das coisas.” No relato de João
Havelange, porém, foi ele o Mer lin que ensinou e preparou o genro para as ar tes da car tolagem. Em 1989, Teixeira foi eleito presidente da CBF. Ao
falar da Confederação ou da Seleção, Teixeira emprega a metonímia “eu”: “Eu tive que pagar”, ou “Eu tenho 120 milhões em caixa”, ou “Eu tinha
que ganhar aquela Copa”, ou “Eu não quer ia abr ir a Copa da Alemanha”.
Teixeira é pródigo em citações folclór icas, que atr ibui sempre a sua mãe, qualquer que seja o assunto. “Mamãe, que era mineira, sempre
dizia...”, ele começa, e daí segue: “o que não tem remédio, remediado está”, “aqui se faz, aqui se paga”, “macaco senta no própr io rabo para
falar do dos outros”, “nada como um dia após o outro”, “a vida é fácil, a gente é que complica”. Sua expressão predileta para falar da imprensa
espor tiva é: “Isso é de quinta categor ia!”
Ele tem as feições pouco marcadas, rechonchudas. Como anda um pouco curvado, devagar e tem pigar ros recor rentes, aparenta mais idade.
Parece estar sempre ir r itado porque, mesmo relaxado ou de bom humor , mantém o cenho contraído, como se o sol do meio-dia ou uma for te dor
de cabeça lhe atingisse em cheio a fronte. Quando se desarma, ou toma uma taça a mais num fim de noite, é espir ituoso e atencioso com todos. Ele
se veste de maneira formal, padrão: calça mar rom, camisa branca, blazer azul com botões dourados e gravata vermelha. Antes de se casar – sua
mulher contou – usava sapato preto com meia soquete branca.
Em dez dias de convivência, r iu às lágr imas em duas ocasiões. Na pr imeira, ao contar a histór ia, que jurou ser verdadeira, de duas brasileiras do
inter ior que entraram num elevador do Hotel Plaza, em Nova York, com o jogador de basquete Michael Jordan e o cachor ro. Sem saber de quem se
tratava, e aler tadas para a violência na cidade, vinda dos negros, elas se agacharam em pânico quando ele ordenou s it! ao animal. A outra foi
sobre ladrões por tugueses que, ao explodir um caixa eletrônico, botaram fogo no dinheiro.
presidente entrou às sete e meia da noite num dos seus restaurantes prefer idos, o Zeughauskeller . Especializada em salsichão, chucrute
e batata rosti, a casa tem a decoração rústica dos Alpes, com mesas longas e bancos de madeira pesada. Foi recebido em espanhol pela
dona, que o conhecia pelo nome e o encaminhou a uma mesa reservada para quinze pessoas. Sentou-se, tirou a gravata e ar regaçou as
mangas.
Os convivas eram car tolas de confederações sul-amer icanas, suas esposas e assessores. Parecia um jantar do elenco do ser iado Chapolin, com
muita tinta acaju, pulseiras de prata, calças de tergal e sobrancelhas feitas com um r isco em forma de meia-lua. Estava lá o octogenár io Julio
Grondona, jefe da Associação do Futebol Argentino. Ele é acusado de ter ganho 78 milhões de dólares para votar no Catar para sede da Copa de
2022.
Também apareceu Nicolás Leoz, um paraguaio de 82 anos que preside a Confederação Sul-Amer icana de Futebol, a Conmebol. Além de ter recebido
suborno da ISL, diz-se que ele ter ia pedido um título de nobreza a David Tr iesman, em troca de seu voto pela Inglater ra. “Don Leoz, donde está
su corona?”, gr itou-lhe Teixeira, trazendo à baila o almejado título de sir. Leoz fez um bico de muxoxo e levantou os braços sobre a cabeça,
fingindo estar sendo coroado, e todos gargalharam. “Se nos devolverem as Malvinas, eu voto em qualquer coisa!”, gr itou Grondona, que usa um
anel de ouro no mindinho com a expressão Todo pasa.
Em Zur ique, Teixeira anda sempre com os latinos. Quando não estava com a família, sua companhia mais frequente eram car tolas uruguaios,
argentinos e paraguaios. Mesmo durante a maior cr ise da histór ia da Fifa, permaneceu à margem de reuniões da cúpula da entidade – como a que
ocor reu às vésperas da eleição, quando um grupo virou a noite ajudando Joseph Blatter a preparar seu discur so.
Depois do jantar , Teixeira – apesar da locomoção vagarosa – quis voltar a pé para o hotel. Em 1998, caiu do cavalo, foi operado e lhe colocaram
uma placa de fer ro na coxa, o que lhe encur tou em 2 centímetros a perna direita. Ele enfrenta o problema usando sapatos feitos sob medida, por
“um cara em Olar ia”, com um salto interno para compensar a diferença.
À medida que percor r ia a Bahnhofstrasse, a rua das lojas de luxo, comentava o que via nas vitr ines: “Não gosto dessa roupa, acho brega”, “Olha
que diferente isso”, “Essa loja é nova”, “Nessa aqui você acha tudo quanto é tipo de per fume”, “Olha que coisa bem bolada esses chocolates”. Na
esquina do Baur au Lac, ele parou, com as mãos enfiadas nos bolsos do paletó, e se espantou: “Ah, não. Olha isso! Casaco de pele a mil euros? Tenho
que comprar . Não é possível esse preço.”
Parecia cansado, mas suger iu que tomássemos um último café no salão de chá. Meio em inglês, meio em espanhol, pediu um expresso com um pouco
de água quente em separado. Eram seis da tarde no Brasil e o celular de Rodr igo Paiva, diretor de comunicação da CBF, tocava sem parar . Em
quarenta minutos, ele havia atendido treze telefonemas, e escutara perguntas sobre o atraso do salár io da Seleção Brasileira de Futebol Feminino,
o suposto achaque ao dir igente inglês e os gastos da Confederação.
Quando Paiva desligou, Teixeira se aprumou na cadeira, como se tivesse descansado o suficiente, e disse: “Que por ra as pessoas têm a ver com as
contas da CBF? Que por ra elas têm a ver com a contabilidade do Bradesco ou do HSBC? Isso tudo é entidade pr i-va-da. Não tem dinheiro público,
não tem isenção fiscal. Por que merda todo mundo enche o saco?”
Ao assumir a presidência, Teixeira abr iu mão de toda a receita pública, inclusive de dividendos da loter ia espor tiva, uma das pr incipais fontes de
renda da entidade. Também abdicou dos ganhos pelo uso da imagem dos times, e deixou que o lucro de bilheter ia ficasse para os clubes. Ao
contrár io do Comitê Olímpico Brasileiro, cujas verbas são públicas, na CBF não há dinheiro do Estado.
Ele conta que, ao assumir o cargo, encontrou a Confederação em petição de misér ia. Até a Taça Jules Rimet estava penhorada. Houve ocasiões em
que jogadores só entraram em campo depois de ver , literalmente, a cor do dinheiro de seus salár ios atrasados. Diz que saneou as contas graças a
sua exper iência no mercado financeiro. Hoje a entidade tem 120 milhões de reais em caixa, jatinho, helicóptero e um ter reno na Bar ra, estimado
em 25 milhões de reais, destinado à construção de uma nova sede. No seu mandato, a Seleção chegou à final da Copa três vezes, venceu duas e
ganhou a Copa Amér ica em cinco ocasiões.
No final de 2009, ele encomendou uma pesquisa ao Vox Populi. Das 2 500 pessoas entrevistadas em 150 municípios, 53% disseram que o seu trabalho
na CBF era ótimo ou bom. Mais da metade considerou que o Campeonato Brasileiro de Futebol estava mais organizado. E a maior ia se disse
favorável às mudanças que o presidente implementou, como o ponto cor r ido, a quantidade de times da ser ie a e o fim do mata-mata. “Só
jornalista fala mal de mim”, ele disse.
Todos haviam terminado o café. Um representante da empresa Match, que negocia os pacotes de hospedagem e entradas para a Copa, quis saber
se, na entrevista agendada com a Rede Globo, haver ia perguntas sobre os preços, considerados estratosfér icos, de hotéis e restaurantes no Brasil.
“Não vai ter isso, não: está tudo sob controle”, respondeu Teixeira. Quase à uma da manhã, ele se despediu. Antes de entrar no elevador ,
comentou: “E essa coisa da Dilma doente? Não quero nem pensar .”
naugurada há dois anos, a sede da Fifa em Zur ique custou 250 milhões de dólares. Em uma área de 44 mil metros quadrados, o prédio de
três andares tem outros cinco pisos subter râneos, sala de meditação, capela ecumênica, academia de ginástica e um campo de futebol
oficial. O piso do saguão da entrada é for rado com granito e lápis-lazúli impor tados do Brasil. Era meio-dia quando Teixeira saiu de uma
reunião e checou a programação do dia com seu secretár io par ticular .
Alexandre Silveira o acompanha há dezoito anos. Car rega sua mala, celular e computador , tem sempre duas gravatas do patrão à mão, completa as
suas frases, faz ligações, organiza a sua agenda, e tudo o mais que lhe for pedido, com a eficiência de alguém treinado no cer imonial do Palácio de
Buckingham – e sem jamais ouvir um “por favor” ou um “obr igado”. Ex-telefonista da CBF, ele é jovem, baixo, só anda de terno e passa mais
tempo com o chefe do que com a mulher e a filha de 7 anos. José Ser ra uma vez o confundiu com o ministro Or lando Silva, dos Espor tes, e o
cumpr imentou efusivamente.
Breno Silveira e Andrucha Waddington, da Conspiração Filmes, registraram os bastidores da Copa na Alemanha, em 2006. No DVD com a pr imeira
montagem das imagens, pode-se ver Ronaldo Fenômeno sem camisa, com 91 quilos de músculos, enquanto a imprensa o chamava de gordo (hoje ele
pesa cerca de 110 quilos). Também chamam a atenção as cenas no vestiár io que mostram o ambiente pesado, de der rota inevitável, ainda no
intervalo da final contra a França.
No car ro, a caminho do almoço, Teixeira falou que quer fazer um filme em 2014 cujo tema seja “a Copa que perdeu e a Copa que ganhou”
(pressupondo que na próxima a Seleção vencerá). Quer ia ter feito isso no Mundial passado, mas Dunga proibiu que os cineastas se aproximassem
dos jogadores, o que o ir r itou sobremaneira. No banco de trás, Rodr igo Paiva observou que dever iam pedir o copião do que fora gravado, e
Teixeira o atalhou: “Pedir por ra nenhuma, o filme é nosso, as imagens são minhas.”
Com a temperatura de 18 graus, o presidente quis ficar no ter raço do restaurante italiano Bindella. Naquela manhã, uma nota de cinco linhas na
Folha de S.Paulo noticiava que o processo conhecido como “voo da muamba”, no qual ele era réu, havia sido arquivado, dezessete anos depois de
iniciado. “São uns filhos da puta, nem colocaram que não tinha a coisa do meu bar”, disse.
O avião que trouxe a Seleção de volta ao Brasil, depois de ganhar a Copa do Mundo nos Estados Unidos, em 1994, tinha na bagagem 17 toneladas de
compras de jogadores, car tolas e convidados. Teixeira foi acusado de pressionar um funcionár io para liberar a carga sem vistor ia. “Falaram que
eu tinha trazido mater ial contrabandeado, o caralho”, lembrou. “Agora, sabe por que isso tudo aconteceu? Porque não deixei que a imprensa
entrasse no avião e porque o secretár io da Receita, o Osír is Lopes Filho, ia ser demitido.”
O garçom, que falava por tuguês, inter rompeu a conver sa para anotar os pedidos. Ele quis burrata com presunto cru, uma massa bem cozida
(“Detesto al dente, sinto gosto de far inha”, disse) e vinho tinto. Teixeira não gosta de peixe, dispensa frango e não come nada verde.
Explicou que Osír is ser ia exonerado por Itamar Franco, por ter “falado umas merdas sobre a Petrobras”. De fato, em julho daquele ano, numa
palestra, o secretár io da Receita disse que a estatal devia o equivalente a 1 bilhão de dólares em impostos.
“Aí, foi tudo armado”, prosseguiu. “Descemos no aeropor to, o povo da Receita falou para deixarmos as bagagens, que eles iam guardar e dali a
três dias devíamos voltar para pegar . A CBF pagar ia todo o imposto, como pagou depois, mas o seu Osír is armou para mostrar serviço, posou de
arauto da moralidade, a imprensa comprou a histór ia e nós nos fodemos.”
Havia toda sor te de eletroeletrônicos e eletrodomésticos a bordo. Falou-se que o jogador Branco havia trazido uma cozinha inteira e que Teixeira
incluíra na bagagem chopeiras para seu bar no Jockey Club, no Rio. “Essas chopeiras vieram da Nova Zelândia”, disse ele. “Então, presta atenção:
o gênio aqui conseguiu entrar com esse mater ial contrabandeado ilegalmente nos Estados Unidos, depois sair dos Estados Unidos ilegalmente, e
entrar no Brasil também ilegalmente, até ser descober to?” Dias depois, em Brasília, encontramos por acaso Henr ique Hargreaves, chefe da Casa
Civil do governo Itamar Franco, que confirmou a ver são de Teixeira.
á mais de quarenta anos, Jean-Mar ie Faustin Goedefroid de Havelange se hospeda no Hotel Savoy. Não gosta da badalação do Baur au Lac.
Num fim de tarde, ele chegou ao saguão para a entrevista com pontualidade suíça. Aos 95 anos, mantém o por te reto e senhor ial. Sempre
de terno, chama a todos de mais de quinze anos de “senhor” ou “senhora”. Para expor seus argumentos, usa o método socrático: faz
perguntas cujas respostas já sabe, mas deixa que o inter locutor chegue a elas por conta própr ia.
Havelange é talvez o maior responsável pela transformação da Fifa numa potência. Ao assumir a sua direção, contou ter encontrado 20 dólares no
caixa. Foi um dos pr imeiros a perceber , nos anos 70, que o futebol tinha a vocação de se transformar , com as transmissões ao vivo, via satélite,
num espetáculo mundializado, atraindo patrocinadores multinacionais. Com a vantagem de, ao contrár io das Olimpíadas, o futebol não ser
contaminado pela política da Guer ra Fr ia, já que os Estados Unidos não se interessavam pelo espor te.
Mas ser ia preciso que a Federação, de or igem europeia e bem de vida, incorporasse países pobres. Alterou então o cr itér io de eleição para
presidente, dando o mesmo peso dos europeus aos votos da Áfr ica, do Car ibe e da Ásia. Destinou-lhes também verbas para organizarem
estruturas nacionais. Assim, consolidou o seu poder . Hoje, a Fifa fatura 4,6 bilhões de dólares só com o Mundial.
No Savoy, Havelange disse que, se teve algum sucesso, foi porque nasceu no Brasil, onde “aprendemos a lidar desde o berço” com diferenças de
raça e religião. Lembrou-se do pr imeiro congresso da Fifa que organizou, em 1974: “A senhora acha que um inglês dá beijo num preto? Um alemão
dá? Pois todo afr icano que entrava no congresso, eu e minha mulher , Anna Mar ia, beijávamos todos.”
A escolha do Brasil para sediar a Copa do Mundo passa pela relação de Havelange com os car tolas afr icanos. Em troca do apoio que teve durante os
anos à frente da Fifa, Havelange havia conseguido, já em 2006, a maior ia dos votos para que a Áfr ica do Sul fosse a sede da Copa. Em
contrapar tida, os afr icanos apoiar iam a candidatura brasileira na eleição seguinte.
Na última hora, no entanto, numa atitude suspeitíssima, o representante da Nova Zelândia votou em branco, e a Alemanha levou o Mundial de 2006.
A Fifa mudou logo as regras de rodízio de continentes, de modo que a sede seguinte fosse na Áfr ica e, na sequência, na Amér ica do Sul. Como a
Áfr ica do Sul e o Brasil eram os países mais r icos dos seus continentes, não tinham como perder . E não perderam.
As denúncias de cor rupção não lhe fizeram mossa. Para Havelange, tratava-se de maquinações para desestabilizar candidatos, de disputa política
por um cargo cobiçadíssimo. “Quem não quer sentar nessa cadeira com os recur sos e o poder que a Fifa tem hoje?”, perguntou.
Ele descreveu Ricardo Teixeira assim: inteligência acima da média, observador , calado “como um bom mineiro”, tem sempre uma pessoa dele
infiltrada nos lugares que impor tam (“O que faz com que esteja sempre bem informado”) e capacidade de aguentar desaforos e planejar o troco
para mais tarde. “O Ricardo é o quê? Mineiro, não é? O Aécio é amigo dele, não é? Onde você acha que vai ser a aber tura da Copa do Mundo?”
“Em Belo Hor izonte”, concluí. “Isso é o Ricardo, nós é que somos bobos”, ele comentou.
Quando o casamento de sua filha acabou, Havelange rompeu com Teixeira. Ninguém da família podia pronunciar o nome dele na sua frente. “Um dia
minha mulher , Anna Mar ia, me disse: ‘Não te esqueças que ele é o pai dos teus netos’”, contou. “E aí apaguei tudo. Voltei a me relacionar como se
ele ainda estivesse casado com a minha filha. Porque neto é neto. Bisneto é bisneto.”
Por isso, tentará o que lhe estiver ao alcance para fazer o ex-genro chegar à presidência da Fifa, em 2015: “O Ricardo quer ia se apresentar
agora, mas eu disse a ele: ‘Faz uma Copa do Mundo de qualidade, trata todo mundo de maravilha, vão votar em você por agradecimento.’”
erguntei se Teixeira precisava dele para se eleger . “Claro que não, bur ro é uma coisa que ele não é”, respondeu Havelange. “Se a senhora
um dia tivesse que definir a malandragem, no bom sentido, claro, ela se chamar ia Ricardo Teixeira.”
Ele acha, contudo, que o seu herdeiro dever ia ter mais paciência para cultivar as pessoas, como ele própr io fez. E poder ia se preocupar
um pouco mais em não melindrar cer tos ânimos. Contou que, cer ta vez, Joseph Blatter foi de jatinho à Etiópia. E ele fez uma ponderação ao seu
sucessor na Fifa: “Não se anda em país pobre de jatinho. Pega um avião comum, salta pela frente, todo mundo respeita. É essa sensibilidade que se
tem que ter .”
Depois de quase duas horas sentado, Havelange sentiu uma fisgada no pé. Apesar de ainda nadar 1 200 metros diar iamente, teve uma fissura no
osso do tornozelo. Gentilmente, encer rou a entrevista. Sua observação final foi a seguinte: “O Ricardo é sozinho. Dever ia ter alguém para confiar ,
para se détendre.”
Jornalistas espor tivos me disseram que a CBF pr ivilegia repór teres e veículos de comunicação que preservam Teixeira. E procura restr ingir o
acesso daqueles que o cr iticam. Em Zur ique, o presidente conver sou por duas vezes com advogados sobre a possibilidade de negar credenciais
para jogos da Seleção Brasileira. Foi or ientado a conceder pelo menos uma aos desafetos, de maneira a não se caracter izar a discr iminação.
Uma equipe da BBC mandara mais de dez pedidos de entrevista a Teixeira, para uma repor tagem que far iam no Brasil sobre a Copa de 2014. “Eu
vou infernizar a vida deles”, explicou. “Enquanto eu estiver na CBF, na Fifa, onde for , eles não entram.” Apesar de a repor tagem da BBC e de o
depoimento do inglês David Tr iesman terem ocupado a pr imeira página de dezenas de jornais, Teixeira não buscou reparação na Justiça. Um
advogado francês lhe disse que um processo contra a BBC lhe custar ia, no mínimo, 500 mil dólares. “Fora isso, tem que ir lá, dar depoimento,
aquela coisa toda, muito trabalho”, comentou.
No Brasil, suas investidas judiciais têm um alvo preferencial, o comentar ista Juca Kfour i, a quem já processou mais de cinquenta vezes. “Dele, eu
não deixo passar nada”, afirmou. “Outro dia, recebi um dinheiro dele. Mas eu doo para a car idade. Na próxima que ganhar , vou publicar no site
da CBF um agradecimento.”
A desavença entre ambos, contou, tinha uma or igem pessoal. Antes de se divorciar da filha de Havelange, cor reu o rumor de que uma amante de
Teixeira havia mor r ido em um desastre de car ro, em Miami. Kfour i noticiou a histór ia, provocando um ter remoto em sua vida familiar que
culminou com o fim do casamento.
Kfour i disse que o car tola usa a histór ia como pretexto para atacá-lo, e que a or igem real do conflito foi o fato de ele ter noticiado as “relações
promíscuas” de Teixeira com a Nike. “A estratégia dele é me processar por qualquer coisa, na tentativa de convencer meus empregadores que eles
gastam muito com advogados para me defender , e me mandem embora”, disse Kfour i. “Ele não pode achar que pode agir como quiser à frente do
futebol, sem que ninguém fale nada. Na camiseta da Seleção não está escr ito Teixeira.”
No ter raço do Bindella, a mesa aguardava a sobremesa enquanto Rodr igo Paiva atendia mais chamadas de repór teres brasileiros. Quer iam saber o
que o presidente pensava da tentativa do deputado Anthony Garotinho, da bancada evangélica, de aprovar uma Comissão Par lamentar de
Inquér ito para investigar a CBF e a organização da Copa do Mundo. “Ele está trabalhando para a Record”, disse Teixeira.
As relações de Teixeira com a Record ficaram atr itadas no ano passado, quando a rede mantida pela Igreja Univer sal do Reino de Deus tentou tirar
da Globo o direito de transmissão do Campeonato Brasileiro. Falava-se que a Record oferecer ia 1 bilhão de reais aos vinte maiores times,
congregados no chamado Clube dos 13. E a Globo, com o apoio da CBF, passou a negociar individualmente com os clubes. Logo de início, acer tou-se
com o Flamengo e o Cor inthians, cujos dir igentes são bastante próximos de Teixeira. No fim, a maior ia renovou com a Globo e a Record,
novamente, ficou sem futebol.
“A par tir daí, o Garotinho começou com essa coisa de montar CPI”, disse Teixeira. Em março, o ex-governador do Rio conseguiu reunir as
assinaturas para formar uma Comissão sobre a Copa. Pego de surpresa, o presidente da Confederação voou para Brasília, peregr inou pelos
gabinetes e conseguiu demover muitos par lamentares. “Todo mundo que era do PT e havia assinado voltou atrás quando viram que aquilo era um
absurdo”, disse.
No futuro, Teixeira considera montar uma estrutura jornalística própr ia, que produzirá conteúdo de interesse da CBF. Seja para responder aos
ataques dos cr íticos, seja para comercializar o acesso pr ivilegiado que a entidade tem sobre os jogadores.
ntes de pagar a conta no restaurante, Teixeira falou pelo telefone com Evandro Guimarães, lobista da Globo em Brasília. Trocou ideias
sobre inseminação de bovinos, uma de suas mais novas atividades. Sua fazenda, no inter ior do Rio, produz 10 mil litros de leite por dia e
os laticínios do presidente são consumidos em diver sos restaurantes car iocas. Ele também vende doce de leite, r icota, queijo de minas,
parmesão e requeijão (o melhor produto, no seu entender ). O negócio é rentável? “Não sou de jogar dinheiro fora”, respondeu.
Perguntado sobre quem são seus melhores amigos, ele disse: “O Rico, o Beto, a Joana e a minha mulher .” São os seus três filhos mais velhos, que,
assim como seu irmão e seu cunhado, também estão no ramo dos negócios do futebol. Para ilustrar sua visão da amizade, inventou uma pequena
fábula: “Se você está na merda, vão falar : ‘Coitado do Ricardo, vamos dar uma mão para ele.’ Mas aí, todo mundo volta para casa, não ajuda e
finge que esqueceu o assunto”, disse. “Agora, pense na situação inver sa: ‘Por ra, o Ricardo está bem pra caralho, que sucesso.’ Pode ter cer teza
que vai ser aquele que você acha que é seu melhor amigo quem vai dizer pr imeiro: ‘Também, roubando, quem não fica bem?’”
Ele disse que não se incomoda com as acusações de cor rupção: “Não ligo. Aliás, caguei. Caguei montão.” Como Tom Jobim, ele acha que os
brasileiros lidam mal com o sucesso alheio. “O neguinho do Har lem olha para o car rão do branco e fala: ‘Quero um igual’”, raciocinou. “O negro não
quer que o branco se foda e perca o car ro. Mas no Brasil não é assim. É essa coisa de quinta categor ia.”
Ao sair do Bindella, quis novamente andar até o hotel. “Preciso dar essa caminhadinha para fazer a digestão”, justificou. Em frente à loja dos
casacos de pele, mais uma vez se mostrou intr igado: “Olha o casaco, ainda está lá. Será que o preço é esse mesmo?”
No salão de chá do Baur au Lac, o argentino Julio Grondona estava espar ramado numa poltrona, com o rosto afogueado. “Ah, fui ver os vitrais do
Chagall, comi um r isoto maravilhoso, bebi uma gar rafa de Chianti e br indei à eleição da Fifa”, disse, caindo na gargalhada.
Teixeira pareceu surpreso ao saber que um dos pr incipais pontos tur ísticos de Zur ique, os vitrais de Marc Chagall, ficava a menos de 500 metros
do hotel. Ainda que frequente a cidade há mais de tr inta anos, seus trajetos são inalteráveis: hotel, Fifa, os mesmos restaurantes, onde é atendido
pelos mesmos garçons – a quem pede os mesmos pratos. As paisagens deixaram de deslumbrá-lo.
Às cinco e meia da tarde, Teixeira disse que precisava dar uns telefonemas, avisou que jantar íamos às oito e subiu para o quar to. Eduardo Deluca,
o secretár io-geral da Confederação Sul-Amer icana de Futebol, falou então sobre o companheiro: “Você conhece alguém que tenha esse cargo, essa
projeção e sobre o qual não inventem as mesmas histór ias? Ele é um candidato for tíssimo para 2015, por isso o atacam. Estamos fechados com ele.”
Deluca é uma figura pantagruélica, de fala monocórdia, cujos olhos parecem boiar no vazio.
O presidente, a mulher , as duas filhas, Rodr igo Paiva e o secretár io Alexandre Silveira foram jantar no Dézaley, que serve uma das fondues mais
elogiadas da cidade. Instalaram-se numa mesa de fundos, o garçom lhes deu boas-vindas em por tuguês e anotou os pedidos.
“Olha aqui, tenho uma notícia fresquinha”, anunciou o car tola à mulher enquanto lhe passava um maço de folhas de papel. “A Federação inglesa
mandou um relatór io agora à tarde para a Fifa dizendo que não tenho nada com aquilo de pedir suborno para o inglês, lê aí.”
Quando chegou a fondue, Teixeira dizia que o documento ser ia mostrado à imprensa dali a três dias, durante uma entrevista coletiva. “Mas que
absurdo. Vão deixar você apanhar até lá?”, perguntou Ana. “Tanto faz para mim”, respondeu ele. Sua filha mais velha, Joana Havelange, de 34
anos, só escutava a conver sa. Ela é loira, alta e gosta de roupas pretas. Foi nomeada pelo pai diretora-executiva do Comitê Organizador da Copa.
Nos almoços e jantares com Ricardo Teixeira (que nunca me permitiu pagar nem um café em sua companhia), todos são instados a dar palpites
sobre a burocracia do futebol, sobretudo da Copa, e a comentar fofocas políticas. São raros os momentos de intimidade, como quando a caçula
Antônia abraçou o pai e disse que ele era lindo, tinha um cabelo maravilhoso e que não dever ia cor tá-lo. Der retendo-se, ele deixou a cabeça
descansar no ombro da menina.
Quando a conta chegou, Teixeira sacou a car teira Gucci, que só tem car tões de crédito e nenhuma nota de dinheiro. Ajeitou os óculos na ponta do
nar iz e perguntou, atarantado: “O que é trinkgeld?” Quando soube que se tratava da gor jeta, contou que uma vez teve um car tão recusado
porque se confundiu com os números da senha, ainda que o limite fosse de 600 mil reais.
Per to da meia-noite, o grupo andou até a ponte do r io Limmat e parou na frente do relógio da catedral de Fraumünster . Estavam munidos de
pedaços de pão velho, trazidos do restaurante, que foram jogados ao vento, caíram e boiaram na água cr istalina do r io. “Dou pão aos patos aqui
desde 1974”, disse Teixeira, suspirando. Na Bahnhofstrasse, ele chamou a atenção da filha: “Toninha, olha esse casaco: mil euros! Eu vou
comprar !”
m 1997, Ricardo Teixeira se separou de Lúcia Havelange e engatou um namoro com a grã-fina Narcisa Tambor indeguy. Logo depois,
conheceu Ana Carolina, que estudava administração na Pontifícia Univer sidade Católica. Ela esperava amigas no bar da El Tur f, a boate
dele. As amigas não chegaram e o car tola, sem se identificar , disse a um funcionár io que pegasse o telefone da jovem de 19 anos. Dias
depois, ligou. “Ele não ficou enrolando, disse que não era garoto, que não tinha tempo nem paciência para ficar de paquera e foi logo direto ao
assunto”, contou Ana Carolina.
Passaram semanas até que ela consentisse em marcar um encontro. Foram jantar e, na hora de deixá-la em casa, beijaram-se. Ela gostou, mas
Teixeira deu-lhe um gelo. “Depois daquilo, ele me ignorou totalmente, e aí eu fiquei com a pulga atrás da orelha: quem era ele para fazer aquilo
comigo?”, disse.
Ana Carolina comentou que mexera recentemente numa caixa de fotos antigas. Ficou surpresa com as mudanças físicas do mar ido, ocor r idas em
tão pouco tempo: “O pescoço, a pele, tudo; o cabelo era gr isalho e agora é todo branco.”
Passaram-se outras tantas semanas até que começassem a namorar . Aí veio Par is. Com um sor r iso eloquente, ela lembrou a pr imeira viagem que
fizeram juntos. Jantaram no Jules Verne, o restaurante da Tor re Eiffel, e depois, caminhando para o hotel, ocor reu, segundo ela, uma das cenas
mais românticas do casamento. “Tinha uma cigana vendendo rosas. Ele perguntou quanto era, ela disse que eram 10 francos, acho, ele pegou uma
nota de 500, deu a ela e pegou uma rosa”, contou, encarando o mar ido, que ficou todo o tempo de cabeça baixa, examinando algo invisível nas
mãos. “Aí, ele pegou a rosa, deu para a cigana, pegou o balde inteiro de flores e me deu.” Teixeira continuava vexado. Quando perguntei o que lhe
havia chamado a atenção em Ana Carolina, ele não respondeu (para desconsolo da mulher ).
quatro dias da eleição da nova diretor ia da Fifa, uma equipe da Globo foi mandada de Londres para Zur ique para fazer uma
repor tagem sobre os preparativos da Copa. Executivos da Federação, inclusive Teixeira, falaram longamente sobre as obras de
infraestrutura no Brasil, a construção dos estádios e as cidades-sede dos jogos. Apesar de todas as denúncias sobre cor rupção e suborno,
nenhuma pergunta foi feita sobre o assunto pela Globo.
Durante a CPI da Nike, em 2001, a rede levou ao ar uma repor tagem no Globo Repórter sustentando que a renda de Ricardo Teixeira era
incompatível com o seu patr imônio e padrão de vida. A CBF anunciou pouco depois, do nada, uma mudança no horár io de transmissão de uma
par tida Brasil x Argentina, clássico sul-amer icano que costuma bater recordes de audiência. Em vez de ser exibido no horár io de praxe, depois da
par tida Brasil x Argentina, clássico sul-amer icano que costuma bater recordes de audiência. Em vez de ser exibido no horár io de praxe, depois da
novela das oito, o jogo foi marcado para as 19h45.
“Pegava duas novelas e o Jornal Nacional. Você sabe o que é isso?”, cochichou-me Teixeira, no Baur au Lac, quando o caso foi relembrado. Como a
Globo transmitiu a par tida, amargou o prejuízo de deixar de mostrar diver sos anúncios no horár io nobre, o mais caro da programação. A par tir
daí, não houve mais repor tagens desagradáveis sobre o presidente da CBF na Globo.
Teixeira quis almoçar de novo no Zeughauskeller . No caminho, o celular de Rodr igo Paiva tocou e, do Rio, alguém lhe contou que o prefeito Eduardo
Paes havia divulgado que a sede do centro de imprensa da Copa ser ia na cidade. O anúncio, no entanto, dever ia ter sido feito pelo Comitê
Organizador , ou seja, por Ricardo Teixeira. O que se falou no car ro é impublicável.
Chovia com intensidade e o celular de Paiva não parava. Em outro telefonema, alguém avisou que uma repor tagem “bombástica” sobre Teixeira
ser ia exibida, no domingo, na Rede Record. Ele reagiu amaldiçoando a emissora, jornalistas, sites noticiosos e a imprensa toda. Disse que não se
preocupava porque o programa da rede da Igreja Univer sal “dava traço”. Achava até bom: “Quanto mais tomo pau da Record, fico com mais
crédito na Globo.” Ao longo dos dias, porém, teve a sensação de que era injusto tomar bordoadas sozinho por causa de uma br iga deletér ia entre
a Globo e a Record.
Quando o car ro entrou na rua do restaurante, disse ao secretár io para não se esquecer de “comprar as meias do vice-governador Pezão”. No
Zeughauskeller , pediu cerveja e o estrogonofe de vitela. Depois, telefonou para o líder do PMDB na Câmara, Henr ique Eduardo Alves, para
reclamar de Garotinho.
Enquanto comia, disse que estava comprometido “desde sempre” com a reeleição de Joseph Blatter , que disputava com o milionár io catar iano
Mohammed Bin Hammam. A filha Antônia, que saboreava batatas fr itas, virou em direção ao pai com uma expressão de não ter entendido direito.
“Ué, mas você não quer o Bin Hammam?”, ela perguntou. Teixeira fez um movimento brusco com o braço direito por debaixo da mesa. Quis ser
discreto, mas a menina protestou, alto: “Ai, pai! Não me belisca!”
Houve um silêncio desajeitado. Teixeira voltou a comer , sua mulher a ler o cardápio e Antônia escreveu uma mensagem no smartphone. A menina
passou o telefone para a mãe, que digitou alguma coisa antes de lhe devolver o aparelho. De olho na tela, Antônia r iu e disse alto: “Desculpa.”
eixeira mandou o secretár io ligar para Sandro Rosell, presidente do Barcelona, ex-diretor da Nike e seu padr inho de casamento. “Meu
quer ido, boa sor te, tudo de bom, estamos torcendo demais”, disse-lhe. No dia seguinte, o Barcelona enfrentar ia o Manchester , na final
da Copa dos Campeões, em Londres, e Rosell havia convidado os Teixeira a assistir a par tida na tr ibuna. O presidente não aceitou para
evitar o assédio da imprensa inglesa.
Eles são amigos desde os anos 90, quando Rosell morou no Rio. Foi nessa época que a empresa se tornou fornecedora oficial do mater ial espor tivo
das seleções do Brasil e uma grande patrocinadora da CBF. A relação entre a Confederação e a Nike foi investigada na Câmara e no Senado, e ficou
meses a fio no noticiár io.
“Aquilo só aconteceu para abafar a CPI do Eduardo Jorge: ela estava pronta, mas aí inventaram essa do futebol que, obviamente, ofuscou a
outra”, disse Teixeira. Ele se refer ia ao secretár io-geral da Presidência, no governo Fernando Henr ique Cardoso. À época, Jorge foi envolvido no
escândalo de super faturamento de obras do Tr ibunal Regional do Trabalho, junto com o juiz Nicolau dos Santos Neto e o senador Luiz Estevão.
(Nada ficou provado contra Eduardo Jorge, que processou e ganhou indenização de vár ios órgãos de imprensa que o acusaram.)
“Até o Ronaldo teve que depor na CPI da Nike”, prosseguiu ele. “E, no depoimento, um deputado ficou perguntando quem era o encar regado de
marcar o Zidane. Isso é coisa para CPI?” Ao final da investigação, Teixeira foi indiciado por treze cr imes, entre eles apropr iação indébita,
lavagem de dinheiro e sonegação fiscal. Todos os processos vieram a ser arquivados, a pedido do Ministér io Público Federal. “Reviraram tudo e
não acharam nada. Foi tudo arquivado. E aí? O Ministér io Público é incompetente, então?”, disse.
A empresa Match alugara uma sala no hotel para que caciques da Fifa assistissem ao jogo do Manchester contra o Barcelona. Teixeira ajeitou-se
numa cadeira na pr imeira fileira, em frente à televisão. Havia salgadinhos e bebida, mas ele tomou suco. Um car tola uruguaio lhe perguntou
detalhes dos times brasileiros e ele respondeu de maneira lacônica: “Santos es muy fuerte. El problema es que sólo tiene dos
jugadores”,“Problema de Palmeiras es que gastó mucho y no ganó nada.”
Ao contrár io dos outros, que vibravam,comentavam, gr itavam e xingavam, Teixeira parecia ver um filme repetido da sessão da tarde. Fez
comentár ios breves sobre os passes er rados do Barça, e aper tava os lábios quando o time perdia uma boa jogada. No meio do jogo, pegou seu
iPad. Quando Messi marcou um gol, mal levantou os olhos por cima dos óculos para confer ir o tira-teima.
Ao final, comentou que detestava ver jogo rodeado de “muita gente”. Ele já me havia dito que sabia separar o público do pr ivado no que dizia
respeito ao gosto pelo espor te. “Eu não sou dir igente torcedor , eu sou administrador”, dissera. “Não quero saber quem o técnico vai escalar , não
fico de ti-ti-ti com jogador , não chamo jogador para a minha casa.”
No dia seguinte, devido às denúncias, o tradicional baile de gala que antecede a eleição do presidente da Fifa foi cancelado. O secretár io-geral
Jérôme Valcke mostrara à imprensa o documento que absolvia Teixeira da acusação de suborno. Ainda assim, o car tola estava com a cara péssima.
“Olha como a imprensa brasileira é escrota!”, disse, na varanda do hotel. Pegou o iPad e mostrou três repor tagens de sites brasileiros sobre o
assunto. Apenas a da BBC esclarecia o caso com detalhes. As demais colocavam o documento sob suspeita, já que era produto de uma investigação
de um órgão ligado à Fifa.
“A imprensa brasileira é muito vagabunda”, disse. Contou que, cer ta vez, um site noticiara que ele havia passado o Réveillon em uma estação de
esqui. Usara como fonte um por teiro de hotel. “Se eu não estivesse com a minha mulher , esses putos ter iam acabado com o meu casamento”, falou.
s 7h45, João Havelange estava sentado sozinho no saguão do Savoy, esperando seu motor ista, que só chegar ia às nove para levá-lo à
eleição da Fifa. A caminho, falou que comemorava seu aniver sár io, havia décadas, indo a um circo em Zur ique. “O circo é o único lugar
do mundo hoje onde ainda há solidar iedade”, disse. Quando chegou, em frente ao prédio, dez manifestantes exibiam car tazes pedindo
“jogo limpo”. Havia mais de 500 jornalistas cadastrados, a maior par te ingleses.
Antes de começar a votação da Fifa, Jérôme Valcke avisou aos 203 delegados presentes que dever iam testar a maquininha de voto. Ele far ia duas
perguntas pró-forma, e os representantes dos países filiados dever iam aper tar verde para sim, amarelo para abstenção e vermelho para não. As
instruções foram traduzidas em sete idiomas. “Esse Congresso está ocor rendo na Hungr ia?”, foi a pr imeira questão. Para o espanto geral,
45 delegados responderam que sim. “Foi a Espanha que ganhou a última Copa do Mundo?” No painel, viu-se que sete responderam negativamente.
Aprovaram-se pontos de um novo estatuto, a entrada de novos membros e, motivados pelas acusações de cor rupção, mudanças no sistema de
escolha dos países para sediar as copas do mundo. Dali em diante, todos os delegados, e não mais só os membros do Comitê Executivo, poder iam
votar . O aumento do número de votantes dificultará, em tese, a cor rupção, já que haverá muito mais gente para se subornar .
Ricardo Teixeira passou todo o tempo com o fone de tradução no ouvido. Antes de o resultado da eleição ser proclamado, sumiu. Tinha que pegar
um voo para o Brasil ainda naquela tarde. Sem adver sár ios, Blatter foi reeleito por mais quatro anos. O pr imeiro ministro inglês, David Cameron,
classificou o resultado de “far sa”.
ra meio-dia quando Ricardo Teixeira atravessou o saguão do Hotel Caesar Park, em Guarulhos, onde a Seleção Brasileira estava
concentrada para o amistoso contra a Romênia. O jogo marcar ia a despedida de Ronaldo Fenômeno. Em uma sala do hotel, ocor reu a
cer imônia de entrega de um relógio comemorativo ao jogador , com quem Teixeira estava estremecido. “Você foi o melhor jogador da
Seleção Brasileira na minha gestão”, disse-lhe o car tola. Na frase, havia uma vendetapar ticular : o deputado federal Romár io, que quisera levar
Teixeira a depor na Câmara, havia dito que era ele, e não Ronaldo, o melhor atleta da histór ia recente do Brasil.
A eleição da Fifa ocor rera há uma semana e ninguém mais falava dela. Quando encontrei Teixeira, quis saber se a situação era como dizia o anel de
seu amigo Grondona: Todo pasa. Ele r iu, botou a mão no meu ombro e disse: “O feio é perder , minha quer ida. Quando ganha, acabou.”
Na saída do evento, o presidente do Cor inthians, Andrés Sanchez, contou que o ex-presidente Lula lhe havia dito que não poder ia assistir ao jogo
de Ronaldo porque tinha de ir a Brasília “resolver essa coisa do Palocci, que está dando a maior merda”. Quando alguém comentou que Palocci não
se sustentava mais no cargo, Teixeira respondeu: “Por que ele tem que sair ? Não tem que sair nada, Palocci não vai sair .”
À tarde, a Seleção fez um treino rápido no Estádio do Pacaembu. Ao final, Luiz Gleiser , diretor da Globo, ensaiou Ronaldo: ensinou como ele e seus
dois filhos dever iam andar ao entrar no campo, a que horas dever iam cor rer , quantos minutos depois dever iam se retirar , onde ele dever ia falar .
Assim, na noite da par tida, depois de quinze minutos em campo, duas tentativas de gols perdidas, o Fenômeno se despediu.
Na hora do intervalo, fez um discur so preparado e agradeceu aos torcedores por “terem me aceitado como eu sou”. As câmeras e as lentes dos
fotógrafos registraram a última imagem do ídolo em campo: suado, gordo e, cur iosamente, usando um dilatador de nar iz. Em casa, os
espectadores da Globo tiveram uma informação complementar : entre a despedida de Galvão Bueno e a chamada doJornal da Globo, o único
comercial exibido foi o do Respire Melhor , o dilatador de nar iz que Ronaldo usara sem nenhum motivo.
a semana seguinte, Ricardo Teixeira entrou numa sala VIP do Aeropor to Santos Dumont, no Rio, onde embarcar ia no jato da CBF para
Brasília. Soube que a deputada Ideli Salvatti havia acabado de ser anunciada ministra de Relações Institucionais. “A presidenta sabe
exatamente por que quis a Ideli lá”, disse ele, em resposta a um comentár io estranhando a nomeação.
Na hora da decolagem, olhou pela janela, respirou fundo e fez cinco vezes seguidas o sinal da cruz. Só relaxou quando o avião alcançou a altura de
cruzeiro. Alexandre Silveira se sentou à sua frente e começaram a despachar . Eram três pastas com dezenas de car tas, solicitações, convites. A
cada uma, o presidente dava uma or ientação: “Arquivo”, “Recebo”, “Manda para o Salim”, “Diz que me coloco à disposição”. A respeito de um
convite para um baile pelo aniver sár io da rainha Elizabeth, no Copacabana Palace, disse: “Ninguém vai a nada de inglês.”
Em Brasília, ele pretendia assistir à cer imônia de posse de três ministros do Super ior Tr ibunal de Justiça. Também esperava se encontrar com
Ciro Gomes e Aécio Neves. A um ele chama de “Cir inho”, mas quer que o outro seja presidente da República. O vínculo entre o car tola e o senador
mineiro é recente. Quando era presidente da Câmara, foi Aécio Neves quem indicou Sílvio Tor res para o cargo de relator da CPI da Nike. Tor res
preparou uma denúncia nutr ida e bem concatenada contra Teixeira.
Até a CPI da Nike, a CBF fazia doações em dinheiro para candidatos. Assim, manteve no Congresso, durante anos, a chamada “bancada da bola”.
Agora, com investimentos previstos de 24 bilhões de reais em obras para a Copa, os políticos o bajulam e pressionam para que ele marque jogos
nos seus cur rais eleitorais.
eixeira se aproximou de Lula em 2004, quando a Seleção Brasileira foi jogar no Haiti, numa ação de propaganda para valor izar as tropas
nacionais enviadas a Por to Pr íncipe. Lula passou a recebê-lo, geralmente às sextas-feiras, no final do expediente, para tomar um uísque
e conver sar sobre futebol e política. Com Dilma Rousseff, a situação mudou: jamais esteve com a presidenta. Quando quer saber sobre
os bastidores do Palácio do Planalto, costuma acionar inter locutores em comum, com trânsito pr ivilegiado em Brasília.
Ao entrar no restaurante Gero, num shopping center de Brasília, Teixeira foi cumpr imentado pela maior ia das mesas: “Oi, presidente!”, “Boatarde,
presidente!”; “Por aqui, presidente”, disse-lhe o garçom. “Não tenho a mínima ideia de quem seja aquele baixinho. Tenho que fazer óculos
para longe”, falou. Nem Ciro Gomes, nem Aécio Neves apareceram. Não estavam na cidade.
Ele pediu nhoque com ragu (“O meu nhoque é muito cozido, tá? Ragu é tipo bolonhesa, é isso?”) e uma gar rafa de vinho tinto. Um assessor
comentou que o sucesso da Copa do Mundo no Brasil ser ia a prova de sua competência e calar ia os inimigos. Teixeira mencionou que já havia
conseguido amealhar 300 milhões de dólares, três anos antes do Mundial, enquanto a Áfr ica do Sul não havia faturado nem 40 milhões de dólares em
todo o per íodo dos jogos.
E continuou: “Taí, vai ver que a minha vaidade é essa: ver que as maiores empresas do mundo, a maior de carne, a maior de seguros, a maior
cervejar ia, o maior banco do país, a maior editora, todo mundo investiu milhões no ladrão, no bandido aqui, numa CBF de merda, num time que
só perde, né?” Refer ia-se aos grandes patrocinadores da Copa no Brasil: Seara, Liber ty, Ambev, Itaú e Abr il. Entre r isadas, contou que, ao voltar
de Zur ique, mandou cancelar o resumo dos jornais, parou de ver televisão e fuçar a internet. “Não leio mais por ra nenhuma, a vida ficou leve pra
cacete, tá muito bom”, afirmou.
cer imônia de posse dos ministros do Super ior Tr ibunal de Justiça foi rápida. Mas havia uma fila de cumpr imentos interminável. Ao
deixar o plenár io, Teixeira foi abordado por uma repór ter . “Não dou entrevista”, disse, r íspido. Foi informado de que se tratava de
uma jornalista da TV Justiça, que só quer ia saber o que ele achara da cer imônia.
Depois de uma hora em pé na fila, ele começou a sentir dores na perna operada. Uma desembargadora a seu lado puxava assunto sobre as obras
para a Copa de 2014. “No que depender de nós, está tudo dentro do prazo”, disse. “Estou muito tranquilo, vai dar tudo cer to. O Rio está um
canteiro de obras; Belo Hor izonte, Salvador e Recife, idem. Com dinheiro, se faz tudo”, afirmou.
Quis saber sobre a polêmica dos estádios paulistas. “A imprensa é a maior culpada de tudo isso”, ele disse. “Por ser toda paulista, passou três anos
tentando enfiar goela abaixo o Morumbi. Com isso, atrasaram todos os projetos.”
Há outra ver são. A de que, na esteira da br iga envolvendo o Clube dos 13, a Globo e a Record, Teixeira ter ia descar tado o Morumbi, que per tence
ao São Paulo, para atingir o presidente do clube, Juvenal Juvêncio – um de seus detratores –, durante a disputa. Os cr íticos do presidente
argumentaram que, em vez de se gastar o tr iplo na construção do estádio do Cor inthians, o Itaquerão – como ele defende –, bastar ia apenas uma
reforma para viabilizar o Morumbi.
Teixeira argumentou que o melhor estádio da Copa na Alemanha ficava “no meio de uma estrada e outra estrada”. Segundo ele, “Itaquera tem
muito mais estrutura do que o Morumbi. Tem trem e metrô na por ta”.
Como de hábito, responsabilizou a imprensa pela celeuma: “Olha a merda que foi a Copa na França: a Seleção jogou num estádio de 27 mil lugares,
ficamos concentrados no meio do nada. E algum jornalista reclamou? Não, né? Afinal, estavam indo para Par is.” Quando se falou em aeropor tos, ele
deixou claro que o problema não lhe diz respeito. “Isso é o governo. E se o governo acha que a Copa não é pr ior idade, não posso fazer nada. Esse é
o SEU país”, disse.
A fila andou, mas havia pelo menos mais vinte minutos em pé. Falou-se sobre o goleiro Bruno, acusado de mandar matar a mãe do filho dele.
Teixeira acha que há pelo menos cinco jogadores de renome que foram salvos pelo futebol. Se não tivessem se tornado profissionais, ter iam sido
mor tos antes dos 15 anos por terem índole de cr iminosos. Depois de quase duas horas de espera, os cumpr imentos duraram menos de cinco
minutos. Mas ele ficou satisfeito: “Foi muito bom, encontrei pelo menos vinte ministros.”
Na Base Aérea de Brasília, recebeu um telefonema aler tando que a Record anunciava mais uma “repor tagem avassaladora” sobre sua vida, naquela
noite. Teixeira afastou-se para falar com seu advogado, e perguntava o que exatamente exibir iam no programa. Repór teres haviam feito imagens
da sua fazenda, atr ibuído a ele uma casa em Búzios que não era sua, e mostrado sua casa na Flór ida.
Ele mandou o advogado preparar a notificação para um processo. O jatinho taxiava e ele atendeu a mais uma chamada pelo celular . Quando
desligou, ficou sentado longe do espaldar da poltrona segurando o telefone na mão. “Alguém está falando do Palocci hoje? Não, né? Se eu
renunciasse hoje, eu virar ia santo”, disse, em tom de desabafo.
Enquanto o avião decolava, tirou os sapatos, esticou as pernas sobre um banquinho de couro creme e fez o sinal da cruz. As luzes da cidade tinham
ficado para trás quando rompeu o silêncio: “Em 2014, posso fazer a maldade que for . A maldade mais elástica, mais impensável, mais
maquiavélica. Não dar credencial, proibir acesso, mudar horár io de jogo. E sabe o que vai acontecer ? Nada. Sabe por quê? Porque eu saio em
2015. E aí, acabou.”

Seleção brasileira de futebol.

A seleção brasileira decepcionou muitos torcedores espalhados pelo país e pelo mundo. No entanto, os mais severos e competentes críticos, notadamente a imprensa especializada de S. Paulo, não estranha.

É o resultado de uma grande mudança que se opera no mundo futebolístico profissional.

Os jogadores, sem qualquer identificação com os torcedores, recolhidos nos 4 cantos do mundo, de clubes nacionais e estrangeiros, mais preocupados, alguns, com os campeonatos que os seus clubes estão dispuntando ou com o resultado economico do torneio que a seleção participa, não se empenham e se assim o fazem, não dispõe de tempo hábil para entrosamento e conjunto. E futebol de verdade é o futebol associação.

Enfim, apenas para lembrar: No país em que a Rede Globo manda no futebol e o Ricardo Teixeira é o maior mandatário, não se pode esperar muito...

Roberto J. Pugliese

Pre Sal, Submarino, Riquezas e Paz

Dilma e Jobim participaram de solenidade"
A presidente Dilma Rousseff afirmou neste sábado, em solenidade de início da construção do primeiro submarino nacional, que os submarinos construídos pelo País vão compor um quadro de defesa nacional 'capaz de garantir ambiente pacífico no nosso País e garantir a segurança das nossas riquezas'. Em ato simbólico, Dilma participou do corte de uma chapa de aço na sede da Nuclebrás Equipamentos Pesados (Nuclep), no município de Itaguaí, a 70 km do Rio de Janeiro. A chapa não será usada em submarinos. Ficará como uma espécie de marco da entrada do País no ramo da construção de veículos submersíveis de grande porte.

Dilma recebeu também uma réplica do submarino convencional. 'Esses submarinos vão compor um quadro de defesa nacional, jamais de ataque, porque somos um país comprometido com a paz. O País passa a ter um valor muito grande com a descoberta do pré-sal na plataforma continental', afirmou a presidente.

Ela ressaltou que o início da construção de submarinos é um 'momento estratégico' para o País. 'Sabemos que um pequeno grupo de países domina a construção do submarino, em especial os de propulsão nuclear. O Brasil dá mais um passo em direção à afirmação cada vez maior de sua condição de país desenvolvido, com indústria sofisticada', disse a presidente, lembrando que o grande mérito da operação foi a transferência de tecnologia.

O Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub) da Marinha prevê a construção de quatro unidades convencionais (sigla S-BR, de submarino brasileiro), da classe Scorpène, com tecnologia francesa. Firmado em 2008 na França, o contrato, que prevê transferência de tecnologia para o Brasil, está orçado em R$ 6,7 bilhões. De acordo com a Marinha, o primeiro dos quatro submarinos deverá estará pronto em 2016, com a entrada em operação marinha em meados do ano seguinte.

O Ministério da Defesa informou que o corte da chapa de aço significa o primeiro passo para a construção do submarino brasileiro com propulsão nuclear (SN-BR), cuja previsão de entrega é 2023. Na solenidade, também foi anunciada a construção de um estaleiro, com término da obra fixado em 2014. Também será erguida em Itaguaí uma base naval e a Unidade de Fabricação de Estruturas Metálicas (Ufem). A Nuclep produzirá os cilindros que formarão os corpos dos submarinos.

Segundo o Ministério, as obras físicas gerarão 9.000 empregos diretos e 27 mil indiretos. As obras dos submarinos empregarão 10 mil trabalhadores, dos quais 2.000 diretos.

16 julho 2011

Audiencia Pública - Defensoria - Assembléia Legislativa

Defensoria Pública em SC: segue o debate
13 de julho de 2011

CDH e MNDH participaram de Audiência Pública na ALESC sobre a Defensoria Pública em Santa Catarina

O Centro dos Direitos Humanos de Joinville e o Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH) participaram, no último dia 12 de julho, na Assembleia Legislativa de Santa Catarina, da Audiência Pública sobre a implantação da Defensoria Pública em Santa Catarina. A audiência foi convocada para debater esse tema, já que tramita na ALESC projeto de lei de iniciativa popular que visa a criação da Defensoria Pública no Estado.

Apenas parte dos Deputados estavam presentes, mas o Plenário e as Galerias estavam completamente lotadas. Havia também forte presença dos professores do Estado, em greve há mais de quarenta dias.

Os pronunciamentos se dividiram entre os favoráveis e contrários à implantação da Defensoria Pública. Os Deputados Darci de Matos e Euclides Escludark posicionaram-se de forma contrária, sendo que a Deputada Luciana Carminati, Ana Paula Lima e os Deputados Dirceu Dresch e Sargento Soares posicionaram-se a favor da Defensoria.

Várias entidades de classes e movimentos sociais se fizeram presente. Entre elas a OAB, que defendeu o modelo de defensoria dativa, atualmente adotado em Santa Catarina e a Associação dos Juízes para a Democracia que defendeu a implantação da Defensoria Pública, da forma preconizada pela Constituição Federal.

Digna de nota, foi a fala do Deputado Sargento Soares. Além de defender a implantação da Defensoria Pública, ressaltou que a maioria das instituições do Estado sempre se colocam ao lado dos mais fortes: dos empresários contra os trabalhadores, dos latifundiários contra os sem-terras, do governo contra os servidores públicos, etc. Mas, quando se trata de criar uma instituição estatal, cujo objetivo é fazer a defesa dos mais fracos, dos explorados, apresentam uma série de obstáculos à sua criação.

O CDH é intransigente na defesa da implantação da Defensoria Pública em Santa Catarina, assim como é intransigente na defesa de todos os Direitos Humanos, sendo que o acesso à Justiça é uma das principais vias para a efetividade dos direitos já conquistados.

A Constituição Federal elenca como instituições essenciais à administração da Justiça, o Ministério Público, a Advocacia e a Defensoria Pública. Quanto a última o art. 134 é cristalino no que diz respeito à sua organização e forma criação:

Art. 134. A Defensoria Pública é instituição essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na forma do art. 5º, LXXIV.)

§ 1º Lei complementar organizará a Defensoria Pública da União e do Distrito Federal e dos Territórios e prescreverá normas gerais para sua organização nos Estados, em cargos de carreira, providos, na classe inicial, mediante concurso público de provas e títulos, assegurada a seus integrantes a garantia da inamovibilidade e vedado o exercício da advocacia fora das atribuições institucionais.

§ 2º Às Defensorias Públicas Estaduais são asseguradas autonomia funcional e administrativa e a iniciativa de sua proposta orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias e subordinação ao disposto no art. 99, § 2º.

Art. 135. Os servidores integrantes das carreiras disciplinadas nas Seções II e III deste Capítulo serão remunerados na forma do art. 39, § 4º.

Portanto, o modelo catarinense, estabelecido na Constituição Estadual e regulamentado em lei está em desacordo com a Constituição Federal. Tramitam, ainda sem decisão, duas ações diretas de inconstitucionalidade em face da lei estadual. A Constituição Federal é claríssima ao estabelecer que os membros da Defensoria Pública devem integrar a carreira mediante concurso público de provas e títulos, com a garantia de inamovibilidadae, sendo vedado o exercício da advocacia.

Isso tudo tem o condão de garantir qualidade e independência na prestação de importante serviço àquela significativa parcela da população que tem negado o acesso à justiça em razão da sua condição de hipossuficiência econômica.

Sabemos que a aprovação do projeto de lei de iniciativa popular não será nada fácil, pois, é nítido o caráter conservado da maioria da Assembleia. E, para a direita efetividade dos direitos resume-se ao problema da despesa pública.

Cabe agora aos movimentos sociais e todos que lutam pela efetividade dos Direitos Humanos continuarem firmes nessa batalha.

Relatado por: Luiz Gustavo Assad Rupp - coordenador do Centro dos Direitos Humanos Maria da Graça Bráz, advogado e professor de Direito Ambiental na Univille.