09 janeiro 2012

Passagem de ano -

Passagem do Ano

Passagem do Ano
O último dia do anonão é o último dia do tempo.
Outros dias virãoe novas coxas e ventres te comunicarão o calor da vida.
Beijarás bocas, rasgarás papéis,farás viagens e tantas celebraçõesde aniversário, formatura, promoção, glória, doce morte com sinfoniae coral,que o tempo ficará repleto e não ouvirás o clamor,os irreparáveis uivosdo lobo, na solidão.

O último dia do temponão é o último dia de tudo.
Fica sempre uma franja de vidaonde se sentam dois homens.
Um homem e seu contrário,uma mulher e seu pé,um corpo e sua memória,um olho e seu brilho,uma voz e seu eco,e quem sabe até se Deus…

Recebe com simplicidade este presente do acaso.
Mereceste viver mais um ano.
Desejarias viver sempre e esgotar a borra dos séculos.
Teu pai morreu, teu avô também.
Em ti mesmo muita coisa já expirou, outras espreitam a morte,mas estás vivo.
Ainda uma vez estás vivo,e de copo na mãoesperas amanhecer.

O recurso de se embriagar.
O recurso da dança e do grito,o recurso da bola colorida,o recurso de kant e da poesia,todos eles… e nenhum resolve.
Surge a manhã de um novo ano.
As coisas estão limpas, ordenadas.
O corpo gesto renova-se em espuma.
Todos os sentidos alerta funcionam.
A boca está comendo vida.
A boca está entupida de vida.
A vida escorre da boca,lambuza as mãos, a calçada.
A vida é gorda, oleosa, mortal, sub-reptícia.

( Desconheço o autor )

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