09 outubro 2012

Homenagem à Hebe Camargo -


HEBE , A MULHER E A ADVOGADA
                                                     

                                                        Fevereiro de 1980. No ápice das atividades do Cone Sul, assim denominada aliança entre países da América do Sul para combate ao terrorismo, uma   jovem brasileira perdia sua juventude em cárcere uruguaio. Militante tupamara, assim como seu namorado uruguaio, com ele pactuara que, se fossem apanhados pelas forças de repressão, não se deixariam jamais ser presos, preferindo a morte ao enjaulamento.

                                                       Ela cumpriu o juramento, ele   não.  Emboscados numa praça de Montevidéu , ela não se rendeu e tomou um tiro que lhe transfixou o pescoço, deixando-a quase agonizante.

Ele se acovardou e foi preso. Ela foi levada a um hospital militar instalado subterraneamente no  lindo bairro de Carrasco, na capital uruguaia, e foi salva pela ação de um cirurgião militar que a operou com inteiro sucesso.
                                                       Presa  havia sete anos em Punta Rielles, seu pai Paulo Schilling nos procurou como advogados  (Ivo Galli, Gerson Mendonça Neto, José Francisco Martins Junior e este escriba), para a missão de libertá-la.

                                                       Trabalhamos com afinco por vários meses, junto ao Ministerio de Relações Exteriores (o Min. Saraiva Guerreiro, também advogado de formação, se sensibilizara pela sorte de Flavia), à Embaixada do Uruguai no Brasil, e com juristas uruguaios (destacando-se o insigne Adolpho Gelsi Bidart, , que ajudou a redigir Projeto de Lei que objetivava libertar presos políticos estrangeiros no Uruguai). Na área política, nosso amigo e colega Clodoaldo Pacce Filho também não mediu esforços para colaborar com nossa missão.
                                                       Os tempos eram duros, a liberdade um bem não garantido, precioso demais para os cidadãos dos países sulamericanos.

                                                       Foi então que uma mulher especial, já conhecidíssima por ser a rainha da televisão brasileira, condoeu-se pela sorte de Flavia e, por sua produção, na época trabalhando na Rede Bandeirantes  (os queridos Mario Buonfiglio e Jair Brito, este de saudosa memória), abriu seu famoso programa para que nós, advogados, pudéssemos expor ao pais o  drama da jovem e pedir o auxilio possível às autoridades brasileiras e uruguaias para apressar sua libertação.
                                                      No dia da apresentação do programa, lembro-me ter sido recebido por Hebe ainda em seu camarim, onde ela acabava de   se  aprontar para entrarmos ao vivo : mostrou-se vivamente interessada nos detalhes da historia e nos planos jurídico e políticos que tentávamos realizar.

                                                      Perante seu fiel público e para todo o Brasil, Hebe se solidarizou com a empreitada e fez questão de disponibilizar todos os recursos que pudessem ser utilizados em prol do sucesso  da libertação de Flavia.

                                                      A partir daí, tenho certeza de que houve a sensibilização de todos, do governo brasileiro, do governo uruguaio, das autoridades do Executivo e do Judiciario de ambos os países.

                                                      Flavia foi libertada em 14 de abril de 1980, e, como todos nós,  compareceu ao programa de Hebe para agradecer sua inestimável ação de solidariedade.

           
                                                      Assim como em milhões de pessoas, fiquei com Hebe no coração, admirando a cada dia sua disposição, coragem, pioneirismo, liderança e sensibilidade extrema, que a fazem  o símbolo da mulher no Brasil.

                                                     Como ocorreu no episódio da Flavia, Hebe sempre foi ardorosa e convincente defensora  dos direitos mais sagrados para o ser humano, sem coloração política nem submetida a idiotas patrulhamentos ideológicos que em época não longínqua infelizmente proliferaram nos meios cultural e artísticos desta nação.

                                                      HEBE, TALVEZ SEM O SABER, ERA UMA VERDADEIRA ADVOGADA.

Se eu pudesse,   daria a ela o título de Advogada do Brasil, e da gente brasileira.
                                                 

                                                       No sábado, dia 29, ela se foi deixando um rastro de luz invulgar, que certamente vai iluminar os caminhos de todos os brasileiros que aprenderam a amá-la.
                                                        Na mesma data, certamente não por acaso, mais de 270 mulheres advogadas  reunidas  para trabalhar pelo resgate da importância da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção de São Paulo,  juntas prantearam a grande mulher, a grande líder, a grande artista e, por que não, a grande advogada Hebe Camargo.

                                                        Seu exemplo de luta, alegria de viver, solidariedade aos menos favorecidos e grande liderança, vai permanecer eternamente em nossos corações.
 
                                                             Orlando Maluf Haddad  

Roberto J. Pugliese
www.pugliesegomes.com.br]
                              

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