01 julho 2013

Elite fransiquense se auto destroe. Fato incontroverso.


Antropofagia francisquense.


 

Na primeira metade do século XX Mário de Andrade percorreu por duas vezes o Nordeste, estudando o comportamento da sociedade, pesquisando costumes e tradições. Manteve estreitas relações com Câmara Cascudo e Gilberto Freyre, vindo a concluir trabalhos sociológicos que até hoje são de súbita validade para a realidade  nacional.

 

Da aventura pelos sertões, nas odisséias vividas na caatinga,  no inóspito  interior e nas amenidades da zona da mata, pode constatar  a realidade própria da cultura regional, colhendo subsídios bastantes para concluir o Antropofagia, através do qual expôs com a perfeição de sua pena, a versão oficiosa da raça submissa com a qual pode conviver.

 

Relatou o literato paulistano que a concentração de renda exacerbada, o coronelismo truculento dos proprietários da terra e a ganância dos que gerenciam a política, estavam levando a auto destruição e conseqüentemente  a extinção de toda estirpe social local, prevendo que a continuar o mesmo comportamento dos poderosos em relação a plebe submissa, em poucas décadas, todo o Nordeste estaria fadado a sucumbir diante da desmoralização total do povo, que sem condições mínimas de sobrevivência,imigrariam  e levariam à falência a economia regional, destruindo os meios de produção de suas riquezas,  estancando abruptamente os privilégios da elite local, por falta de mão de obra e vassalos, como ironicamente soube descrever com pormenores e detalhes.

 

Dali a esta época, o nordestino houve colonizar o norte, alistando-se voluntariamente no exército da borracha, iludido pelas promessas do tio san, durante a II guerra mundial e, posteriormente inchar as cidades do sudeste, em busca de condições mínimas para sobreviver, dada a ausência do estado social e a prepotência dos senhores quase feudais.

 

Hoje, salvo alguns poucos bolsões turísticos, de um modo geral, a região está à míngua. Suas indústrias, sem incentivos, estão destruídas. São obsoletas e não atendem se quer o mercado interno. Seus tradicionais engenhos de açúcar, penhorados e no mais, resta a miséria, a falta d’agua, a fome e a inércia de quem não vislumbra nenhuma condição para reverter a situação contemporânea.

 

A população despreparada não tem mais como servir a elite decadente e empobrecida financeira e culturalmente, que diante da situação sócio política financeira, mantém um pé no Nordeste, onde explora sua economia, outra em Brasilia, onde lambe o poder e ainda, com constantes idas ao sudeste, lugar no qual permanece porque  sabe que poderá saborear as benesses do século XXI.

 

S. Francisco do Sul caminha igualmente para a antropofagia. A cidade histórica, mais antiga da civilização catarinense, situada na ilha do mesmo nome, na baia de Babitonga, é por natureza antropofágica.

 

Seus filhos  por tradição, para poder sobreviverem com dignidade mínima, estão buscando  em centros mais acessíveis, nem sempre maiores, as oportunidades negadas na cidade, quer pelos que manipulam a economia cada vez mais concentrada e não distribuída, quer pelos coronéis do poder político que mantém o cabresto apertado, de forma a controlar a dominação imposta  à plebe inculta e acanhada, sempre temendo insurgir-se contra aqueles que sempre deram as ordens.

 

É cultural e histórica a dominação por  poucos sobre muitos na Babitonga. O novo e as novidades não são aceitos, de modo a manter o stabelechiment na mão das mesmas famílias e o poder político permanecer com dantes no quartel de Abrantes.

 

Castram-se aqueles que possam alertar. Desmoralizam-se os que denunciam. Cala-se a voz dos que gritam e por gerações seguidas, o povo é afastado coercitivamente do poder e das riquezas geradas na ilha pelos seus esforços. A violência é estrategicamente disposta a não se permitir inclusive, que no futuro, surjam lideranças contrárias, a ponto de inibir-se que os estudantes organizem-se em grêmios autônomos, de forma a induzi-los a submissão histórica inerente à cultura local, de que uns mandam e haverão de mandar e os demais obedecem. Foi assim e assim será.

 

A balela é perceptível, mas a cultura social dirigida à auto destruição, impede que a sociedade civil se organize para mudanças. Temor reverencial àqueles que por tradição impõe suas idéias e não aceitam contrariedades, em troca de esmolas e dádivas generosamente distribuídas aos que contemplam da senzala a luxúria dos senhores. Banquetes e cestas básicas é a relação histórica e harmônica  entre os pacíficos, tolerantes e  submissos e ilhéus.

 

Infelizmente a permanecer a situação hermeticamente sitiada do poder e das riquezas, inacessíveis às maiorias, a antropofagia francisquense será inevitável. Veja-se a sina dos poucos empresários que ainda restam: Aliados do referido poder, se esforçam em manter o incipiente comércio, cuja freguesia que restou  ou compra à prazo com bastante dificuldade ou deixa para depois, enquanto que a pseudo elite financeira local, mesquinha, inculta e irresponsável debanda elegantemente para outros centros, aplicando seus recursos em variedades bem mais atraentes, de melhor qualidade e preço impossíveis de serem oferecidas na ilha, diante do poder aquisitivo cada vez menor.

 

Naquela ilha se encontra a maior empresa industrial catarinense, ali instalada por favores do Poder Público que a isentou de impostos e a favoreceu com incentivos especiais, inclusive água, dada a dificuldade que a ilha oferece para servir-se do precioso líquido.

 

Naquela ilha também a Petrobras mantém um porto oceânico sobre boias e seus reservatórios na praia de Ubatuba bombeiam o precioso líquido para a refinaria no planalto paranaense.

 

Essas duas empresas de grande potencial econômico já são suficientes para mudar a fisionomia da cidade, injetando através de seus funcionários valores expressivos na sua economia, no entanto, se quer os funcionários mais qualificados, residem ali. Não investem na cidade, no comércio e no bambaleante serviço prestado pelos ilhéus.

 

Por essas condições expostas, São Francisco  do Sul é há alguns anos, o maior PIB do Estado. É o terceiro PIB do sul do país, atrás de Porto Alegre e Curitiba e um dos mais elevados do país.

 

Um PIB concentrado nas mãos de poucas famílias e poucas atividades lucrativas, visto que a vocação do francisquense, continua sendo a pesca artezanal rudimentar e primária.

 

 Enfim, para confirmar a antropofagia francisquense, a miséria cultural e econômica é tão elevada, que a maior celebridade contemporânea de lá, filho legítimo que saiu para o mundo para tentar sobreviver e ganhar a vida, por falta de oportunidades na terra natal, ainda continua sendo o famigerado JOÃO ACÁCIO, o BANDIDO DA LUZ VERMELHA.

 

A elite paulatinamente está se auto  destruindo com a eliminação das vítimas de sua ganância e de seus próprios aliados. E os partidos políticos se confundem sem ideologia ou propostas para reverter a situação sócio econômica caótica. PT saudações. 

 Roberto J. Pugliese
www.pugliesegomes.com.br
presidente da Comissão de Direito Notarial e Registros Públicos –OAB-Sc

 

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