01 julho 2013

Lembrança de Porto Ferreira, Sp. ( Memória 13 )


Memória 13
A viagem para Porto Ferreira.

 

O Brasil vivia ótimo momento de sua história. No esporte, nas artes e no desenvolvimento tudo seguia `as mil maravilhas. Tudo azul. O país brilhava e o povo sorria junto com o bom humor do presidente JK.

 

Ele não se recorda bem o ano, mas provavelmente foi 1959. Com certeza o final da década. Tempo da industrialização do país. Cinqüenta anos em cinco.

 

Otimismo que inundava a alma dos brasileiros. Na música a Bossa nova. No esporte campeão de quase tudo. Até porta aviões o Brasil comprara e o povo era feliz e não sabia.

 

Iriam  à Porto Ferreira, cidade de 15 ou 20 mil habitantes, à beira da rodovia Anhanguera, próximo da pujante Capital do Café, a ensolarada Ribeirão Preto. Cidade plana próxima ao rio Mogi Guaçu, tributário do Rio Grande, formador do Rio Paraná.

 

Iriam visitar seus tios e primos.

 

Àquele tempo doce e terno é inesquecível. Ora pelos 7 ou 8 anos de idade, sem complicações, responsabilidades e cheio de aventuras infantis; ora pelo momento positivo que a sociedade brasileira vivia, pelo desenvolvimento social e industrial que se implantava e fazia da capital paulista, a CIDADE QUE NÃO PODE PARAR...

 

Anos dourado recitou o poeta. Havia grande harmonia que refletia pelos cantos, recantos e encantos de um país em movimento.

 

Otimismo geral dos adultos que se expandia pelo seio das famílias.

 

Iriam de automóvel. O pai no volante, a mãe e os três filhos. Lourenço sempre ligado, mesmo na tenra infância, já sentia suficientemente adulto para acompanhar o motorista, imaginando durante todo o percurso estar no seu lugar na direção do Ford de cor clara, ano 1948, seguindo para o interior do Estado.

 

A industria automobilística ainda não se implantara. Eram raras as rodovias e os poucos veículos não provocavam congestionamentos.

 

Recorda-se bem que era noite ainda quando partiram em direção à Lapa, pela estrada da boiada, uma sinuosa avenida que desde Pinheiros ou imediações seguia para a periferia da cidade. Lembra-se que, ainda meio escuro, amanhecendo nublado, com a neblina e a umidade típica da terra da garoa, naquela fria manhã daquele sábado talvez, seu pai parou na porta de uma padaria para comprar cigarros, que  lhe tomava tempo, dinheiro e saúde, e ao voltar para o carro, falou com ar contente:

 

- Eder Jofre ganhou. É o campeão dos Galos !

 

A luta fora na madrugada contra um japonês. Fora transmitida pelas emissoras de rádio paulistas. Televisão não tinha recurso hábil para essas captações intercontinentais.

 

Os satélites eram raros. O Sputnik fora lançado em 1956 pela URSS que deu inicio a corrida espacial e ainda era um monstruoso aparelho em teste. O Japão era longe, do outro lado da terra, incomunicável instantaneamente...

 

Eder era campeão mundial pela categoria dos pesos Galos, com as cores do Brasil. Pugilista pelo São Paulo Futebol Clube.

 

Boa saudade. Não sai da lembrança aquela manhã fria. E recorda-se bem, que Anhanguera, rodovia estadual era de pavimentação asfáltica, com duas mãos de direção, com  canteiro no meio, desde seu inicio, junto a uma das margens do rio Tiete. As avenidas marginais do Tiete e do Pinheiros não existiam. Se quer projeto.

 

São Paulo era ainda uma cidade elegante, de gente operosa e educada. Calma e organizada, ainda que viva e acordada 24 horas por dia.

 

Estrada moderna. Bem sinalizada. Policia rodoviária. Símbolo da grandeza paulista que já o deixava orgulhoso por se-lo.

 

A partir de algum ponto, um pouco depois de Jundiai, a rodovia limitava-se a uma única pista, com mão dupla de direção, também asfaltada e bem sinalizada. Lembra-se que passaram por um posto de pedágio e que o ticket foi lhe entregue com a missão de guardar até o final do trajeto, impondo-lhe a grande missão e responsabilidade.

 

As obras de duplicação eram visíveis. Em breve, estaria duplicada até Campinas. Seria igual ‘a via Anchieta, a rodovia mais moderna do país, inaugurada à época que nascera. Um pouco antes provavelmente.

 

O dia amanhecendo e os quilômetros sendo percorridos em pouco mais de duas horas de viagem, logo após Campinas, o asfalto terminou.

 

Estrada de terra para uns, ou de chão, como também é dito... e o poeirão correndo solto. Lembra-se bem que as margens da rodovia, nesse trecho de terra, existiam arbustos de erva cidreira talvez, que ajuda a manter firme e não desbarrancar.

 

A estrada, bem rudimentar, com facões e bueiros, tinha  sulcos feitos pelas enxurradas que provocavam um balanço incessante e sacolejava todos e tudo.

 

A manhã passava e os quilometros idem no meio da poeira em baixo do sol. A estrada sinuosa, com subidas e descidas chegava e saía das periferias das cidades, sem desviá-las e correr ao largo. Adentrava, nas pequenas cidades agrícolas daquele tempo:Americana, Araras, Limeira...

 

Não se recorda de ter avistado o Cristo Redentor em Leme. Talvez ainda não estivesse erguido ou o leito original da rodovia passasse longe de onde se encontra.

 

Pirassununga um destaque: Belo jardim, com as arvores podadas sombreando toda a orla, escola de cadetes da aeronáutica, escola Normal... Bem limpinha e organizada. Seus pais comentaram algo à respeito.

 

No meio da tarde estavam tomando café, comendo biscoito e pondo a conversa em dia na cozinha dos tios. Recorda-se que fixo numa das paredes da cozinha sua tia mantinha u’a maquina de moer café colhido do quintal. Havia também nos fundos da casa mangueira e galinheiro.

 

- Típica casa do interior.

 

A cidade igualmente era limpa e havia charretes que eram alugadas para transporte de pessoas. O ponto era na estação ferroviária. Na praça central, onde ficava a Igreja Matriz havia uma torre bem no centro com altos falantes. Numa das laterais da praça, uma pequena sala servia de estúdio, no qual alguém dava recados e colocava música de discos de 78 rotação ou long plays no ar. Recorda-se que Net King Cole era a grande atração. ( ...aqueles ojos verdes... )

 

Lourenço não se recorda da viagem de volta. Mas lembra-se bem que esteve com seus primos mais velhos no Ginásio no qual o tio era diretor assistindo na quadra existente, uma partida de basquete na qual eles participaram. Lembra-se que foram a um passeio numa fazenda a beira do rio Mogi e se divertiram bastante.

 

Enfim, não sabe se ficaram apenas o final de semana ou mais, porém tem na lembrança que a visita aos primos de Porto Ferreira, como noutras que fizeram se tornaram inesquecíveis.

 

Roberto J. Pugliese
www.pugliesegomes.com.br
presidente da Comissão de Direito Notarial e Registros Públicos –OAB-Sc
Membro da Academia Eldoradense de Letras
Membro da Academia Itanhaense de Letras
Autor de Terrenos de Marinha e seus Acrescidos, Letras Jurídicas
Autor de Direitos das Coisas, Leud

 

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