Memória nº64
Itanhaem Iate Clube: a briga.
O Iate Clube foi fundado em
1959 por ideia de um grupo de frequentadores da cidade que adquiriram o Bar e Restaurante Santo
Antonio, situado no Porto Novo, que dispunha de um pequeno salão de bailes e
estratégicamente estava plantado à beira do rio.
Com o passar dos tempos
o clube foi crescendo e ampliando suas
instalações. Lourenço pai fora um dos fundadores e desde então, todos
familiares o frequentavam com bastante assiduidade.
Já adulto Lourenço colaborou
na regularização junto ao Patrimônio da União – SPU de áreas lindeiras ao rio
e, por ser quase vizinho da casa da família, sempre o tinha como uma extensão
da casa, distante cerca de 100 metros.
Quando Lourenço mudou-se para
o Tocantins, por força dos Estatutos pediu licença que lhe foi concedida pelo
então Comodoro, cumprindo as regras estabelecidas tradicionalmente, desde
que foram idealizadas por um grupo de
juristas capitaneados pelo professor Miguel Reale, sócio e frequentador da
cidade.
No entanto, com a mudança de
Comodoro, quando pediu a renovação da licença, esta lhe foi negada, sem
qualquer argumento plausível. A pedido, o pai de Lourenço pessoalmente tentou
convencer o Comodoro truculento que não deveria proceder desse modo, porém não
teve êxito na empreitada.
Assim, foram emitidos boletos
para cobrança e Lourenço teve que ingressar na Justiça contra o Clube. Foi algo
muito doloroso e bem pensado, pois como assinalado, o Iate era parte de todo
sentimento que curtia por Itanhaém.
Parte considerável de sua infância e juventude fora vivida na cidade no
Clube...
Durante os anos que vivera na
cidade fora por 3 mandatos seguidos secretário da OAB e 1 vez Tesoureiro,
motivo que pediu a um ex presidente da Ordem, que não era sócio do clube e
assim não haveria constrangimento, que ingressasse com as medidas judiciais
para corrigir o ato arbitrário.
Nessa altura, constrangida e
envergonhada, sua mãe deixara de ir ao final da tarde, como até então, no
cantinho em que junto com outras sócias jogavam baralho e faziam fofocas...
Passado alguns dias Lourenço
foi surpreendido por uma ligação de Fausto, seu advogado, que o Magistrado
concedera liminar a seu favor, e que pedia um terminal de fax para mandar o
texto. Gurupi, àquele tempo tinha um aparelho na Associação Comercial e assim,
foi com Lourenço Jr. buscar.
O filho estava a par do que
acontecia e nos seus dez anos de idade ponderou:
- Bom esse juiz. Ele poderia
se manter neutro, pois você está aqui, longe e ele pode frequentar o Clube e
ficar numa situação delicada na cidade... mas foi justo. (... )
A despeito da liminar o
truculento e ignorante nas coisas da lei, cruzou com Lourenço pai e disse, que
no Iate Clube quem mandava era ele e não iria deixar de emitir e cobrar os
valores correspondentes à anuidade...
(...)
Ciente desse fato, Lourenço
explicou ao pai que não iria endurecer e pedir a abertura de procedimento
criminal por desobediência ao julgado, pois no fundo o Comodoro era ignorante,
mas não era delinquente...
Ocorre que o Conselho
Deliberativo tomou conhecimento dos fatos e deve ter alertado ao Comodoro que
aí, caiu em si, e soube que poderia ser processado, condenado etc... Enfim,
teria inúmeros aborrecimentos à sua frente.
Jhonn Berner o Comodoro
correu à casa de Lourenço pai, que sem dar muita atenção, do terraço, distante
uns dois metros do portão da rua, sem mandá-lo entrar, foi dizendo:
- Eu não tenho nada com isso.
Não vou dar recado nenhum. Se quiser algo com ele, vá procurá-lo. Ele mora em
Gurupi e não tenho autorização para dar outras informações.
O aprendiz de ditador,
Comodoro do Clube se desesperou.
Procurou Fausto que também não deu muita trela...
Marson, Juiz de Direito em
São Paulo, frequentador do Iate Clube e amigo de Lourenço foi incumbido de
telefonar e tentar um armistício. E num
dialogo franco, Lourenço aquiesceu impondo três cláusulas:
- Primeiro expressas desculpas
ao Lourenço pai, mãe e a mim. Depois quitação das dividas infundadas. Terceiro
a licença de direito. Tudo em ata da diretoria para ser entregue por cópia ao
pai e ao advogado para juntar nos autos.
(...)
Meses depois o Comodoro adoeceu
e veio a falecer. Talvez pela vergonha que passou.
Roberto J. Pugliese
Presidente da Comissão de Direito
Notarial e Registros Públicos –OAB-Sc
Membro da Academia Eldoradense de Letras
Membro da Academia Itanhaense de Letras
Titular da Cadeira nº 35 – Academia São
José de Letras
Sócio do Instituto dos Advogados de Santa Catarina
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