02 abril 2015

Parabéns Itanhaém - Feliz Aniversário.


Conceição de Itanhaém: 483 anos de idade.
 
 
 

Para uns trata-se da segunda cidade fundada no Brasil. Outros apenas a inclui entre as cinco ou dez primeiras, já que não há fonte precisa para determinar se realmente São Vicente foi a primeira, ou São João Batista de Cananéia,  São Francisco do Sul ou mesmo Angra dos Reis...
 
Historiadores também divergem, apontando Pedro Namorado como sendo o conquistador daquele sítio  ameno tomado dos guaranis. Há, no entanto, quem assevere que foram os castelhanos João Rodrigues e Antonio Soares, por volta de 1549  que ali iniciaram a povoação fincando a cruz no pé do outeiro.
 
Paulino de Almeida e Pedro Taques, entre outros historiadores gabaritados, inclusive Frei Vicente do Salvador, assinalam que o português Martim Afonso de Souza na sua passagem pelo litoral da Capitania de São Vicente foi quem escolheu aquele despraiado formoso à beira da última curva do rio que os bugres chamavam de ita nha y em, ou no vernáculo, pedra que canta, e lá determinou fosse erguida a ermida no alto da penha em louvor a Nossa Senhora da Imaculada Conceição, cedendo o sagrado nome para a povoação. 
 
O que importa é que 22 de abril de 1532 é considerada a data oficial de fundação daquela que por seus primados naturais e tantos encantos ao longo de seus 483 anos, tem acolhido prazerosamente incontáveis turistas que a visitam o ano inteiro para gozar das praias e das belezas que a circundam, desde o pé da Serra do Mar, no seio da Mata Atlântica, até os grotões por onde serpenteiam seus rios, ribeirões,  cachoeiras e lagos, passando por suas encantadoras ilhas e ilhotas de seu tricotado litoral.
 
 
 
Apinhada o ano inteiro, sempre soube receber os que a procuram para conhecer seus encantos e as incontáveis relíquias de sua rica história que se confunde com a epopéia paulista e brasileira. Ao longo desses séculos  tem recebido carinhosamente os anônimos turistas e igualmente migrantes que para lá se dirigem estabelecendo seus domicílios. É sabido que Anita Malfati, Antonio Volpi, Tarsila do Amaral, artistas plásticos e letrados, entre os quais, Paulo Bonfim que empresta seu nome à biblioteca municipal, iguais a tantos, também adotaram ali como seus principais domicílios.
 
Vale recordar que Hans Staden também marcou  sua passagem e estadia pela Vila, como outros ilustres personagens que se deixaram envolver pela cordialidade de seus caiçaras e encanto de tão bucólico sítio.
 
Naqueles confins da Praia Grande, berço de destacados filhos, abrigou desde a tenra história os  devotos missionários jesuítas Manoel da Nóbrega e José de Anchieta, que por la estiveram antes de desbravarem o sertão e subirem a serra e no então desconhecido  planalto de Piratininga, às margens do Anhembi  erguer a escola dedicada à São Paulo e plantarem a semente da pujante capital ainda no século XVI.
 
Conceição de Itanhaém indicam os assentos oficiais a partir de 1625 durante a governança da Condessa de Vimeiros, Mariana de Souza Guerra, herdeira de Martim Afonso de Souza tornou-se cabeça de Capitania, tendo ampla jurisdição desde Cabo Frio ao norte, estendendo-se pelos sertões do Vale do Paraíba e atingindo a Ilha do Mel, ao sul.
 
Nesse período fausto e de enérgico poder político, que Sorocaba, Iguape e Paranaguá foram fundadas por ordem da já donatária da Capitania, como assinalam forais, mapas, sesmarias, e atas da Câmara de São Vicente que registram Taubaté e Pindamonhangaba entre outras tantas vilas, fundadas e desmembradas da então pujante Conceição de Itanhaém. Uma progressista Vila que fora Capital de tão imenso território e ainda hoje segue sua história, salientando-se pela importância e estratégia.
 
Foi na Vila erudita e cultural que em 1888, sob a liderança de Beneticto Calixto de Jesus, talvez o mais ilustre de seus filhos, historiador, antropólogo, pintor e grande pensador que correu o mundo registrando o nome de sua cidade natal através de seus escritos, telas e infinades de afrescos,  ilustres personagens da sociedade, criaram a Associação Cultural Gabinete de Leitura, que em poucos anos, já dispunha de acervo de livros, documentos, mapas e promovia espetáculos teatrais, cursos e toda iniciativa voltada para as letras e artes, sendo apontada como a primeira biblioteca erguida no país fora dos limites da Corte.
 
 
 
 A importância da Vila era tamanha que no inicio do último século, Rui Barbosa enfrentando os perigosos cinqüenta quilômetros de praia arenosa  e suas marés oscilantes na memorável Campanha Civilista, lá chegou de automóvel para visitar companheiros de seu partido e  a sede do município que se estendia desde  Xiririca e Iporanga no sudoeste, até o boqueirão da Praia Grande.
 
E merece registro igualmente que a Câmara de Vereadores de Conceição de Itanhaém foi a primeira a ser instalada e funcionar regularmente no Império do Brasil.
 
Por isso e por mais isso e tudo isso teço respeitosas considerações. Curvo-me à história viva de tão precioso relicário do passado colonial para qual fui conduzido ainda na tenra primeira infância pelas mãos firmes e sábias de meus pais que me oportunizaram conhecer. E nesse tempo de festa que Abril é para Itanhaém  abraço os filhos naturais ou como eu, que adotaram e foram adotados pela Vila, que se trata de   recanto risonho, ou como consta nas armas de seu brasão, Angulus Ridet.
 
Longe desse sítio inesquecível, resta-me apenas, distante como estou lavrar algumas letras memoráveis, a par de manter hasteada sua bandeira e vê-la tremulando radiante e alegre no desterro que as imposições inquestionáveis do destino nos impõe.
 
 
 
 
Do meu jardim, distante e saudoso, comemoro admirando as armas expostas no centro do fundo azul da tradicional bandeira, a vendo tremular, espalhando o brilho da magnitude que espelha e representa.
 
 
 
 
Parabéns Conceição de Itanhaém!

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Roberto J. Pugliese
Foi diretor da 83ª. Subsecção da OAB-SP por 10 anos.
Foi fundador do Lions Clube Itanhaém-Praia.
Membro da Academia Itanhaénse de Letras.
Foi assessor jurídico da Câmara Municipal da Estância Balneária de Itanhaém.

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