Carta Aberta para a sociedade e autoridades de Conceição de Itanhaém.
Senhoras
e Senhores.
Saudações
Respeitosas,
Venho
à público indignado ao saber dos equívocos graves carimbados pelas autoridades
municipais, que sem dimensionar suficientemente o valor da vida intensa, rica
em ações sociais e políticas e a inequívoca liderança de Miguel Simões Dias,
gravaram seu nome, buscando homenageá-lo, em logradouro escondido despido da grandeza
mínima que possa revelar a importância de que ao longo de seu tempo, representou
para a cidade, seus frequentadores e sua população.

( Tela de Benedicto Calixto de Jesus -Prainha )
Não
pretendo rabiscar seu extenso currículo por ser de conhecimento dos que vivem,
sabem e conhecem realmente a história recente de Itanhaém, mas cravo meu
repúdio aos responsáveis pela infelicidade do ato que deve ser corrigido o
quanto antes, evitando perpetuar-se o grosseiro erro que houve macular a
própria história da Câmara Municipal e de seus atuais ilustrados integrantes.
A
par desse tropeço os mesmos responsáveis ignoraram que no passado Sebastião das
Dores, por seus méritos, fora homenageado cedendo seu nome ao antigo Caminho do
Porto Novo, lugar que durante sua vida trilhou incansavelmente abastecendo os
munícipes com a fartura de peixes que resignado, ao tempo, pescava enfrentando
as intemperes naturais, com sua frágil embarcação movida pelos seus braços e
agregados. Sem dúvida o primeiro morador da Prainha, lugar de onde partiam para
singrar as águas da costa atlântica.
Fui
privilegiado em conhece-lo, já frágil e com idade avançada, estava sempre
cuidando para que as pescarias fossem exitosas. Comandava permanecendo atento,
sentadinho à porta de seu barraco, aliás o único da praia, Maneco Silveira,
João Rosa, Pedro Riccardi e outros que constituíam o único núcleo de pescadores
artesanais instalados onde posteriormente ficou conhecida, com a chegada dos
catarinenses com suas canoas motorizadas, como Praia dos Pescadores.

Repentinamente
o pescador com tantas histórias e vida repleta de ações que foram relevantes à
sua época, que vivera sempre ao redor de sua praia, teve riscada a homenagem
que outrora lhe fora prestada e em seu lugar, Miguelzinho como carinhosamente sempre
fora conhecido o vereador, o prefeito, o líder da histórica Conceição é
titularizado no modesto logradouro bem acanhado para tão grande personagem.
Se
para o incógnito pescador o antigo Caminho que do Porto Novo, junto à beira do
rio, seguia tortuoso até a Prainha tem motivação histórica e revela sua própria
vida naquele sítio, para o gigante Miguelzinho, trata-se apenas de um beco
medíocre que não condiz com o seu legado.
É
preciso anular o ato equivocado e fazer com que o status quo ante
permaneça homenageando o caiçara que bem simboliza Conceição de Itanhaém dos
primeiros anos do século passado.
Atribuír-se
o nome de Miguel Simões Dias, à prédio público, escola, posto de saúde, creche,
repartição municipal, biblioteca o dignificará merecidamente. Seu nome estampado
em qualquer outro logradouro, que tenha fluxo de pessoas, trânsito, comércio,
ou seja, em artéria movimentada de pessoas e veículos, que visualize a importância
e o que representou o homenageado durante seu tempo, perpetuará o agradecimento
póstumo dos munícipes pelo que foi e legou.
É
preciso repensar com serenidade e corrigir o erro e jamais repeti-lo. Insta
lembrar que são inúmeros os personagens com raízes, vínculos e ligações
diversas com a cidade, que num tempo futuro virão a ser objeto de graças
semelhantes. É o resultado natural que se repete ao longo da história. Será
grotesco, um dia qualquer, Itanhaém pelas suas autoridades, perpetuar
eternamente, por seus méritos, ilustres figuras com raízes e vínculos e a par,
rasgar o papiro anterior, carimbando injusta decisão, substituindo um pelo
outro, como a que agora se deu com o antigo caminho.
É
sabido que avenidas, destacando a Condessa de Vimeiros; ruas entre as quais
salienta-se a Cesário Bastos ou praças como a Benedito Calixto, pela relevância
desses personagens na história de Itanhaém, devem ser preservados e nunca virem
a ter seus nomes substituídos; porém merece ser repensado, por não haver
qualquer motivo que justifique que se mantenha a homenagem perpétua, à logradouros
de relevância urbana, agraciando quem é
despido de motivações justas para a história recente ou de outrora da cidade.
Entre outras vias públicas, à avenida Presidente Kennedy importante artéria estratégica
no Parque Balneário ou rua Colibri no Guaraú, apenas para lembrar que o ato
lamentável repudiado, mais do que injusto, trata-se de dupla infâmia cuja
correção é viável valendo-se da existência de incontáveis logradouros que
oferecem essas condições, posto que as substituições de seus nomes não causarão
qualquer trauma para a memória da sociedade.
Oportuno
lembrar que recentemente o saudoso Harry Forssel foi perpetuado na importante
avenida que dos Belas Artes segue para a rodovia em substituição a 31 de Março,
então nome da antiga estrada, já que a efeméride diz respeito ao golpe militar,
mancha escura da história que merece ser ignorada e esquecida e não havia razão
outra para manter-se tamanha agressão a democratas e vítimas de suas crueldades,
alguns dos quais, inclusive, filhos da cidade.
Enfim,
sem maiores delongas, ouso pedir a esta Casa de Cultura e individualmente aos
seus integrantes que se manifestem e
movimentem-se em favor da correção necessária para que o Plenário Don Edílio
José Soares da Colenda Casa Legislativa municipal mantenha altivo e soberbo
lastreado por sua elegante história que nunca se desviou da justiça e de ações
dignas de aplausos.
Agradeço
a distinta atenção e conto com o empenho de todos para que a justa correção
decrete a verdadeira homenagem perpétua ao saudoso Miguelzinho e a par, conceda
novamente a digna graça de manter-se perpetuado o nome de Sebastião das Dores no antigo
Caminho do Porto Novo.
Joinville, 11 de Janeiro de 2024.
Roberto J. Pugliese
editor
www.puglieseadvogados.com.br
vidaexpressovida.blogspot.com