AS LIÇÕES DE CHAVES !
Desde que foi eleito em 1998,
o presidente Hugo Chávez vem estimulando uma série de debates, seja em razão
das amplas transformações sociais que promove na Venezuela, seja em razão do
medo pânico que causa nos governos imperiais e nas oligarquias de cada país,
vassalas e zeladoras dos interesses deste imperialismo em cada país.
Certamente, sobre cada um destes aspectos é possível retirar profundas lições.
No caso brasileiro, a mídia do capital que jamais se preocupou em oferecer um
mínimo de informação objetiva sobre as mudanças em curso na Venezuela, agora,
em razão do infortúnio da enfermidade de Chávez, esta mídia supera-se. Promove
uma comunicação necrológica, havendo inclusive comentarista de veículos das
Organizações Globo, que chega mesmo ao grotesco de torcer pela desaparição do
mandatário venezuelano.
Sobre isto devemos tirar lições, seja aquelas amargas , a partir do
comportamento medieval da mídia empresarial sobre a trágica enfermidade de
Chávez, enfermidade que, óbvio, pode alcançar a qualquer um de nós, mas também
sobre o que este mandatário já realizou mudando a face de seu país e ajudando a
mudar a face da América Latina. Por um lado, fica claro que para aqueles
comentaristas globais, a ideologia está por cima de qualquer conceito básico de
humanidade ou solidariedade, que sustentariam desejos de restabelecimento e de
superação deste azar pessoal.
Mas, o que se observa é ainda
mais grave: para além do desejo pessoal da morte alheia, as concessões de
serviço público de radiodifusão estão a ser utilizadas para a propagação destes
desejos mórbidos em grande escala de difusão, violando a Constituição
Brasileira, que, em seu artigo 221, estabelece como princípio a ser observado,
“o respeito aos valores éticos e sociais, da pessoa e da família”, sem qualquer
manifestação da autoridade responsável. É como se fosse autorizado aos
concessionários de serviços públicos de abastecimento de água, distribuir água
contaminada e suja à sociedade.
Para que serve a mídia?
Será que isto estaria se tornando uma tendência? Há alguns meses, quando
cientistas iranianos foram assassinados em atentados que, segundo o noticiário
da época, teriam sido organizados por comandos israelenses - os mesmos que
assumem agora terem participado na eliminação de Yasser Arafat - num programa
televisivo, Manhattan Conexion , também veiculado por empresa das Organizações
Globo, comentaristas chegaram a defender que aqueles cientistas iranianos
mereciam mesmo ser assassinados. Apologia do homicídio!
Tanto num caso, como em outro, Venezuela e Irã são países com os quais o Brasil
possui relações de amizade e cooperação, aliás crescentes, em benefício mútuo
notório. Qual seria a reação do Itamaraty, do Governo Federal, caso emissoras
de TV da Venezuela ou do Irã passassem a hostilizar autoridades brasileiras, e,
chegassem a torcer pela reincidência do câncer em Dilma ou em Lula, e para que
eles não resistissem? Ou se estas emissoras defendessem a morte de cientistas
brasileiros, pois, como sabemos, o Brasil também possui - de modo soberano -
seu próprio programa nuclear, como EUA, Rússia, China, Israel e Irã?
Pra que servem os meios de comunicação social, afinal de contas? Para
hostilizar e desejar o pior, de modo incivilizado, embrutecido, desumano e
antidemocrático, a personalidades de outros países, com o que se desrespeitam
povos com os quais temos relações de cooperação e amizade? Será mesmo
admissível que concessões de serviço público sejam utilizadas para insuflar,
propagandear e celebrar o desejo de morte de seres humanos, simplesmente por
não comungar de suas ideias? Esta prática não seria equiparável àquelas que
Goebels denominava de “razões propagandísticas”, e que precederam os ataques
nazistas a outros povos?
Estranho “ditador”
As notas que a mídia brasileira divulgam sobre Hugo Chávez atentam contra a
prática basilar do jornalismo. Críticas e discordâncias são absolutamente
normais e devem ser praticadas. Mas, desinformação, distorção e inverdades
grotescas são atributos rigorosamente alheios ao jornalismo.
Um dos aspectos mais utilizados nesta cruzada midiática de anos é a tentativa
de rotular Hugo Chávez como ditador. Estranho “ditador” este que chegou ao
poder pelas urnas e, em 14 anos, promoveu 16 eleições, referendos e
plebiscitos, dos quais venceu 15 pelo voto popular e respeitou,
democraticamente, o resultado do único pleito em que não foi vencedor.
Estranhíssimo “ditador” esse Chávez que introduziu na Constituição Bolivariana
- ela também referendada pelo voto popular - o mecanismo da revogabilidade de
mandatos, utilizado pela oposição que, no entanto, não conseguiu a vitória nas urnas.
Auditoria eleitoral
Na Venezuela, para dar ainda mais segurança às eleições, estas não são julgadas
pela mesma autoridade que as organiza. Além disso, as urnas possuem mecanismo
de impressão do voto, possibilitando ao eleitor conferir se o voto que teclou
foi realmente o voto registrado pelo computador. De posse deste voto impresso,
o eleitor, no mesmo momento da votação, o deposita em urna anexo. Isto
possibilita que haja plena auditoria do voto, o que não ocorre no Brasil, onde,
conforme já demonstraram especialistas da UnB, as urnas eletrônicas são
vulneráveis a interferência externa sobre seus programas, além do que, na
existe a possibilidade do voto material em papel para eventual necessidade de
recontagem.
Estranho “ditador” este Chávez, que ampliou a segurança eleitoral dos cidadãos,
lembrando que lá na Venezuela o voto não é obrigatório, tendo sido registrada,
na eleição de outubro de 2012, uma participação superior a 86 por cento do
colégio eleitoral. O revelador aqui é que as Organizações Globo, tão empenhada
em rejeitar e criticar a democracia venezuelana, é aquela que apoiou o a
supressão do voto popular no Golpe de 1964, apoiou a Proconsult contra a
eleição de Brizola em 1982 e foi contra a Campanha Diretas-Já, em 1984, uma das
mais belas páginas da consciência democrática do povo Brasil. E, ainda hoje, a
Globo insiste em difamar e combater a instituição do voto impresso na urna
eletrônica brasileira, cuja vulnerabilidade tem lhe causado a rejeição por mais
de 40 países, exceção para o Paraguai, a quem o TSE regalou tais
equipamentos......
Povo ignorante?
Esses comentaristas da Globo tentam passar a imagem de que a Venezuela é um
país de atraso cultural, para o que se valem , novamente, do expediente
corriqueiro da desinformação massificada, repetida sistematicamente. Vamos aos
fatos: enquanto a Venezuela já foi declarada oficialmente, pela UNESCO, como
“Território Livre do Analfabetismo”, o Brasil ainda não tem sequer uma meta
segura para erradicar esta mazela social, apesar de terem nascido aqui os
geniais Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro e Paulo Freire.
Lá, para a erradicação do
analfabetismo, além da utilização de um método super-revolucionário elaborado
em Cuba, o “Yo Si Puedo”, houve uma tremenda mobilização do governo, das
massas, das instituições, mas também dos meios de comunicação públicos, que,
existem, informam e possuem uma programação cultural educativa elevada ao
contrário daqueles sintonizados com os ditames prepotentes do Consenso de
Washington.
Aliás, vale lembrar que foi exatamente por meio deste método que o Deputado
Tiririca foi alfabetizado em prazos relâmpagos e foi capaz superar as ameaças
elitistas da autoridade eleitoral que queria lhe cassar o mandato. Tiririca
aprendeu a ler e escrever em poucas semanas. Com também foram alfabetizados
campesinos, índios, povo pobre na Venezuela, na Bolívia e no Equador. Em breve
será a Nicarágua a ser declarada também, oficialmente, pela Unesco, Território
Livre do Analfabetismo.
Como contraponto, vale lembrar que o programa Telecurso Segundo Grau, produzido
pela Fundação Roberto Marinho, é exibido em horário da madrugada pelas
emissoras que empregam esses comentaristas, apesar dos volumosos recursos
públicos despendidos para a sua produção e veiculação. A escolha do horário é
apenas demonstração da baixa preocupação e vontade dos concessionários de
serviços públicos de radiodifusão em contribuir para a elevação do nível
educacional e cultural do nosso povo. Contrariando a Constituição.
O que é notícia?
Aqueles comentaristas são incapazes de informar sobre tudo isto, bem como sobre
o papel dirigente de Hugo Chávez ao formar com estes países e outros a ALBA -
Aliança Bolivariana para o Progresso, numa iniciativa em que colocou o petróleo
com instrumento da elevação das condições de vida não apenas dos venezuelanos,
mas também do progresso social conjunto destes povos. A isso chamam de
ingerência, trocando solidariedade por intromissão. Graças aos recursos do
petróleo, milhares de latino-americanos, estão recuperando a plena visão, por
meio de cirurgias gratuitas realizadas pela Operación Milagro, um esforço comum
entre Cuba e Venezuela.
Esta operação humanitária,
jamais divulgada adequada pelas Organizações Globo, nasce quando a OPAS alertou
para a possibilidade de que pelo menos 500 mil latino-americanos perdessem a
visão à curto prazo, vítimas de catarata, uma tragédia perfeitamente evitável.
As cirurgias são feitas tanto em Cuba, como na Venezuela, e agora também na
Bolívia, no Equador, seja por médicos cubanos, ou locais. Isto não se informa,
mas um dia destes , fiquei tomei conhecimento, pelo Jornal Nacional, da
edificante informação de que a esposa do Príncipe Willians, a tal duquesa de
Cambridge, está sofrendo muito enjoo na sua gravidez. Cuba e Venezuela
decidiram operar 6 milhões de latino-americanos, gratuitamente, em 10 anos. O
que é notícia?
Índios leem “Cem anos de solidão”
Aí temos outra lição de Chávez: depois de erradicar o analfabetismo, Chávez
criou a Universidade Bolivariana, pública e gratuita, a Universidade das Forças
Armadas, e um programa para elevar a taxa de leitura do povo venezuelano. Por
meio deste programa foram editados, dando apenas alguns exemplos, a obra “Dom
Quixote”, com uma tiragem de 1 milhão de exemplares que foram distribuídos
gratuitamente nas praças públicas, e também a obra “Contos”, da Machado de
Assis, pelo mesmo programa, com uma tiragem de 300 mil exemplares, tiragem que
o genial escritor do Cosme Velho jamais mereceu aqui no Brasil, onde não apenas
o analfabetismo persiste , mas a tiragem padrão de nossa indústria editorial
arrasta-se na melancólica marca de 3 mil exemplares.
Além disso, algumas tribos
indígenas da Amazônia venezuelana, que, até Chávez, ainda desconheciam a
escrita, já tiveram seu idioma sistematizado, e, como primeira obra publicada
no novo sistema de escritura, tiveram o belíssimo “Cem Anos de Solidão”, de
Gabriel Garcia Marquez. No entanto, apesar de tudo isto, para estes
comentaristas da Globo, que agridem Chávez no leito de um hospital, na
Venezuela há um “povo ignorante”, dirigido por um “ditador”.... Como explicar,
então, a realização destas mudanças marcantes?
Vale contar um caso: o
senador Cristovam Buarque, ex-Ministro da Educação de Lula, foi à Venezuela
para a solenidade de Declaração de Território Livre do Analfabetismo. Escreveu
num papelucho um endereço e saiu pelas ruas perguntando ao acaso aos
transeuntes, que lhe orientassem como chegar ao destino marcado. “Falei com
pessoas indistintamente, camelôs, donas-de-casa, jovens ou não, ninguém me
disse que não sabia ler e davam a informação”, contou. São as lições de Chávez
que a Globo não possui aptidão para aprender....
Petróleo a preço de água
Antes de Chávez, quando 80
por cento dos venezuelanos viviam na miséria absoluta, o petróleo era regalado
aos EUA, enquanto a burguesia local era conhecida por ser a maior consumidora
de champanhe do mundo, depois da francesa, e pela elevadíssima importação de
caviar para pequenos círculos oligarcas.
Eleito, Chávez cumpriu
promessa de campanha de acabar com a farra imperialista com o petróleo
venezuelano regalado. Recuperou gradativamente o controle sobre a PDVSA e
também fez uma cruzada internacional para acordar a OPEP de seu sonho
colonizado. Na época, o preço do petróleo estava em 7 dólares o barril - ou
seja, muito mais barato que água mineral ou Coca-Cola - e hoje, avança pela
casa dos 100 dólares. Eis a razão do ódio dos EUA a Chávez.
Evita Perón e Vargas
Este ódio imperial se expressa como uma ordem, uma sentença de morte, dada
pelos falcões norte-americanos para que seja alcançada, por meio do câncer,
aquela meta mórbida contra qualquer mandatário que não seja talhado para
vassalagem, para submissão. Não é a primeira vez na história que isto ocorre.
Quando Evita Perón foi acometida por um câncer, este jornalismo mortífero se
expressou sem qualquer escrúpulo. O ódio que os círculos imperiais nutriram por
Evita fez com que ele saltasse das páginas da imprensa portenha para os muros
de Buenos Aires, nos quais a oligarquia festejava sua podridão moral escrevendo
“Viva el Câncer!”.
Os imperialistas jamais
perdoaram Evita por ter armado os trabalhadores da CGT para resistir aos golpes
que frequentemente se organizavam contra Perón. Chegou mesmo a advertir Perón,
que lhe criticou pela distribuição de armas, da qual ela nunca se arrependeu,
que ele estava preparando as condições - desmobilizando os trabalhadores - para
não ter capacidade de resistir ao golpe, que chegou em 1955, 3 anos depois da
morte de Evita. Ela bem que avisou.
Depois foi contra Getúlio Vargas, quando sua saída da vida para entrar na
história foi comemorada em círculos manipulados pelo capital externo, que não
suportavam a criação da estatal Petrobrás, dos direitos laborais inscritos na
CLT e da lei da remessa de lucros ao exterior. Não por acaso, o povo expressou
sua tristeza e sua fúria, pranteando Vargas, mas também empastelando os
símbolos daquele ódio contra o popular presidente, entre os quais os jornais
Tribuna da Imprensa, Globo, e, até mesmo do jornal do PCB, Tribuna Popular, que
no dia do suicídio de Vargas trazia desorientada entrevista de Prestes pedindo
sua renúncia.
Assustados e envergonhados,
os dirigentes comunistas recolhiam os exemplares do jornal que ainda estavam
nas bancas. Mas, não tiraram conclusões históricas do porquê também foram alvo
da fúria popular contra seus inimigos, sobretudo porque Vargas havia convidado
Prestes para ser o chefe militar da Revolução de 30, aquela que em apenas 24
horas alistou mais de 20 mil voluntários para pegar em armas e combater a
República Velha. Prestes inicialmente aceitou o convite, mas a ordem stalinista
foi para que se afastasse de Vargas, enquanto que, na mesma época, em sentido
contrário, Leon Trotsky escrevera que tanto Vargas como o mexicano Cárdenas,
eram expressão de um bonapartismo sui generis, com potencial revolucionário, e
que deveriam receber o apoio tático dos revolucionários.
O Levante de 4 de Fevereiro de 1992
Processos revolucionários começam sob formas mais inesperadas, normalmente com
rupturas da legalidade instituída quando esta acoberta iniquidades, sob a forma
de insurreições, armadas ou não. A partir das revoluções outra legalidade é
constituída. Assim foi a Revolução de 30. Assim havia sido a Revolução
Francesa, Assim foi a revolução em Cuba, na Nicarágua ou na Argélia. A
Revolução Iraniana, por exemplo, desde 1979, de quatro em quatro anos promove
eleições diretas, o que ainda não foi conquistado pelo povo dos EUA, onde o
voto é indireto e apenas os candidatos que podem pagar aparecem na mídia para
defenderem suas ideias.
A Revolução Bolivariana
começa com um levante insurrecional - o 4 de fevereiro de 1992 - destinado a
convocar uma Assembleia Nacional Constituinte, cujo objetivo era retirar a
Venezuela da condição de colônia petroleira. Evidentemente, os comentaristas
que seguem orientação imperial não suportam qualquer forma de rebeldia contra
hegemonias colonizadoras. Na prisão, Chávez se transforma no homem mais popular
da Venezuela, aquele capaz de traduzir e promover a identidade de seu povo com
a sua história, com Bolívar, com a sua identidade cultural, sua mestiçagem
negra e índia, como são os venezuelanos.
A Revolução Bolivariana começa com um levante armado e transforma-se em
processo institucional por meio da aprovação do voto popular. Mas, diante das
constantes ameaças golpistas imperiais e também das provocações
desestabilizadoras da oligarquia, Chávez mesmo declarou que “esta é uma
revolução pacífica, pero armada” , como a expressar a consciência do golpismo
que sempre esmagou processos democráticos de transformação social na América
Latina. Não lhe sai da lembrança que Allende morreu de metralhadora na mão...
Jornalismo de desintegração
As lições de Chávez estão aí aos olhos do mundo, mesmo que esta mídia golpista,
praticando o mais vulgar jornalismo de desintegração, queira ocultar. A
parceria Brasil-Venezuela multiplicou em mais de 500 por cento o comércio
bilateral em poucos anos e hoje estão atuando na pátria de Ali Primera a
Embrapa, a Caixa Econômica e muitas empresas brasileiras. Realizam obras de
infra-estrutura indispensáveis para que o país dê um salto em seu
desenvolvimento, o que sempre foi sabotado pelas oligarquias do período
pré-Chávez.
Agora Venezuela constrói
ferrovias, metrôs, teleféricos, estradas, hidrelétricas, pontes, e a participação
brasileira nisto, com financiamento estatal, via BNDES, traduz bem o pensamento
de Lula de que integração significa “todos os países crescendo juntos”. Os
comentaristas da Globo não informam nada disso, até porque apoiaram quando o
Brasil, na era da privataria neoliberal, demoliu um terço de suas ferrovias,
além de ter destruído sua indústria naval, que agora, recuperada, tem inclusive
27 encomendas para a construção de navios petroleiros da PDVSA, a serem feitos
aqui.
Solidão do uniforme
Além da integração, Chávez recuperou para o centro do debate o conceito de
socialismo, além de propor a organização de uma nova Internacional,
indignando-se com a cruzada da morte que o imperialismo organizou contra o
Iraque, a Líbia e também contra Síria. Muito longe de resolver o desemprego
galopante que assola a França, o governo de Hollande lança-se em mais uma
empreitada imperial contra. Só sabem guerrear.
Chávez recupera o debate
sobre uma nova função social para os militares, retirando-os da solidão do
uniforme, unindo-os ao povo e às causas mais preciosas para viver com
dignidade, com soberania e como democracia e justiça social. Recuperou até
mesmo a função histórica do General José Ignácio de Abreu e Lima, pernambucano
que lutou ao lado de Bolívar e que foi o primeiro a escrever sobre O Socialismo
na América Latina, o que, em boa medida era desconhecido até mesmo pelas
esquerdas brasileiras. Hoje os militares venezuelanos cumprem função
libertadora e resgatam a função das correntes militares progressistas e
antiimperialistas na história e seus representantes como Velasco Alvarado,
Torres, Torrijos, Perón, Prestes, Nasser, Tito, a Revolução dos Cravos.....São
lições de Chávez.
Os comunicadores que ignoram os fatos objetivos alardeiam a existência de
desabastecimento alimentar quando a Unicef comprova que a Venezuela teve
reduzida drasticamente a desnutrição e sua mortalidade infantil. O que há é
boicote da indústria alimentar, o que levou o governo a montar uma rede estatal
de mercados, fixos e móveis, que chegam a vender alimentos ao povo a preços até
70 por cento mais baratos, já que supera a especulação dos oligopólios.
Na semana que passou, para as
autoridades venezuelanas confiscaram 3 mil toneladas de alimentos que estavam
escondidos pelos oligopólios, numa operação casada com a mídia para fazer a
campanha de que “falta alimento”, operação da qual participam, vergonhosamente,
os comentaristas globais e sua grotesca desinformação. Segundo estatísticas da
FAO, o consumo de alimentos na Venezuela aumentou em 96 por cento no período de
2001 a 2011, Era Chávez, enquanto a Cepal atesta que este país é hoje o menos
desigual da América Latina, além de pagar o maior salário mínimo do continente,
o equivalente a 2440 reais, informação que a Globo jamais noticiará.
MST, sem veneno
Antes de Chávez, a Venezuela não possuía economia agrícola, ou melhor, tinha
apenas uma “agricultura de portos”, todo alimento era importado, até alface
vinha de avião de Miami. Hoje o país, graças à integração e à cooperação
promovidas incansavelmente por Chávez, já tem uma pecuária leiteira, já produz
metade do arroz que consome e recebeu até a solidariedade do MST que lhe doou
toneladas de sementes criollas de soja não transgênica. Aliás, Chávez organizou
convênio com o MST, o então governador Roberto Requião e a Universidade Federal
do Paraná para montar escolas de agroecologia aqui no Brasil, abertas à
participação de estudantes de toda a América Latina.
Jornais populares e diversidade
Essas são algumas das generosas lições de Chávez, atacado pela Globo daqui,
como pela de lá, exatamente porque existe plena liberdade de imprensa na
Venezuela. Ou, como disse Lula, “o problema da Venezuela é excesso de
democracia”. Vale contar episódio de jornalista brasileira que antes de viajar
para lá me perguntou como poderia ter acesso a imprensa não controlada pelo
governo, segundo frisou. Eu lhe disse, vá às bancas de jornal. Ela desconfiou,
mas foi. E me contou; “pedi ao jornaleiro imprensa de oposição ao Chávez. Ele
apontou para toda a sua banca e disse-me. minha filha, isso aí tudo é contra o
governo, que poderia escolher á vontade”, relatou-me surpreendida.
A diferença é que essas
grosseiras distorções e manipulações que se lançam aqui contra Chávez, lá têm
respostas pois foi constituído um sistema público de comunicação, inclusive com
jornais populares distribuídos gratuitamente ao povo nos metrôs e rodoviárias,
o que ainda não temos aqui. O povo brasileiro eleva seu padrão de consumo, mas
não tem um jornal com o qual possa dialogar e refletir sobre as mudanças
sociais em curso aqui. Continua “dialogando” com as xuxas da vida....
Caminhando e cantando e seguindo a lição....
Diante de tantas lições civilizatórias, democráticas, transformadoras e
marcadas pelo humanismo que está sendo aplicado pelo governo bolivariano da
Venezuela, a conclusão de um comentarista global de que Chávez iria tomar o
poder no além, é apenas e tão somente confissão de um desejo golpista macabro e
atestado da estatura moral desta mídia teleguiada de Washington. O que
desejamos é que Chávez possa se recuperar, concluir a sua obra, na qual está a
meta de construir e entregar 380 mil novas moradias em 2013, equipadas com
móveis e eletrodomésticos, em terrenos localizados também em bairros nobres, e
não numa periferia longínqua ou à beira de precipícios que desmoronam com as
chuvas.
Quanto a nós, que aprendamos algumas destas lições, especialmente quanto à
necessidade de fortalecer, expandir e qualificar um sistema público de
comunicação, para que tenhamos acesso ao que está em nossa Constituição, a
pluralidade e a diversidade informativas, e um jornalismo como construção de
cidadania e de humanidade.
* Beto Almeida é membro da Junta Diretiva de Telesur
Roberto J. Pugliese
membro da Academia Itanhaense de Letras
Autor de Direito das Coisas, Leud