O Expresso Vida transcreve o discurso que Roberto J. Pugliese proferiu em 12 de Agosto último durante a sessão da Câmara de Vereadores em que foi homenageado com o título de cidadão Cananeense.
Vista parcial da cidade de Cananeia
"Saudações
Senhoras e senhores !
Serei breve. Apenas alguns
minutos.
Caminhava descomprometido
pelo centro histórico do Recife, quando
numa das calçadas, exposto junto à porta de um restaurante, um quadro indicava
– “ Temos ostras de Cananéia.” Isso
se deu em 1973 quando participava de congresso universitário de direito civil,
representando o Estado de São Paulo. Não conhecia a CIDADE ILUSTRE DO BRASIL, mas sabia dos
atributos de suas ostras, reconhecidas pelo sabor e qualidade pelo mundo a fora.
Por volta de 1979, num final
de tarde presenciei deslumbrado um caiçara valendo-se da força do vento que
estufava um pano branco adaptado e a força da maré enchente, navegando numa
piroga à remo, vindo do sul para o porto Bacharel.Antes, durante a manhã já me surpreendera ter pela primeira
vez me deparado com um micro computador, funcionando no escritório contábil
Jacy. Cananéia se revelara, mostrando
num único dia, versões de sua realidade. Senti naquela cidadezinha de 3 mil
almas a riqueza criativa de seu povo.
Em 1991
assistia palestra na Faculdade de Direito no interior do Estado do Tocantins, e
o palestrante, mencionou a história do Mestre Cosme Fernandes, o enigmático
Bacharel de Cananéia. Impressionante: Estava na Amazônia e o letrado de Minas Gerais,
falou com bastante intimidade de personagens dos primórdios do Brasil Colônia
que viveram por aqui.
A história
do Brasil tem suas primeiras linhas escritas nesta Maratayama indígena, com o
europeu presente anteriormente à conquista oficial pelos portugueses. A
importância estratégica de Cananéia àquela época é simbolizada pelo monumento
em mármore, nos arredores da Torre de Belém, em Lisboa, no qual está esculpido
a rosa dos ventos com o mapa mundi, salientando o contorno da costa do Brasil,
assinalando:1502, Cananéia. O Padrão dos Descobrimentos foi erguido estampando
mapa quinhentista usado pelos navegadores a quem se destina a homenagem.
Ao tempo
que me refiro, o Padrão português
assinalando as divisas entre castelhanos e lusitanos, foi assentado por
Martin Afonso de Souza,na Ilha do Cardoso.Por foto estampa a primeira capa do Direito das Coisas, que publiquei em
2005.
São João
Batista de Cananéia, sítio abençoado, reconhecido por seus encantos como RESERVA NATURAL DA BIOSFERA, tombado como
Patrimônio Natural Mundial pela
UNESCO, no passado se destacou como empório abastecendo navegadores e tornou-se
a grande guardiã da Colônia, impedindo aventureiros apossarem-se do cobiçado litoral,transformando-se
no primeiro povoado em terras americanas e o berço da civilização brasileira, de
onde partiram bandeiras ampliando o Brasil.
Essa é a cidade cujo povo
generoso e pacifico me acolheu como seu filho. É o lugar no qual vivendo,
convivendo e vivenciando atentamente, chegando de São Paulo, minha vibrante
terra natal, pude aprimorar o sentimento da verdadeira justiça. Evoluí.
Transformei-me.
O pessach se deu em 1976,
quando navegando avistei o casario à beira mar. Antes e depois. E o depois é o
agora, que me tornei oficialmente seu filho e, me permito assentar-me com os
heróis que imbuídos de audácia e coragem aventuraram-se em colonizar a Terra
dos Papagaios.
Aqui vivi a realidade então
desconhecida. Paulistano, urbano, almofadinha, filho da alta classe média,
ignorava o drama dos caiçaras desses confins. Não tinha ideia que nos limites
do território paulista, tão rico, esbanjando progresso, poderia encontrar o que
pensava só existir além fronteiras.
Soube ser Cananéia. Envolvido
pela brisa adocicada da flora Atlântica, deixei-me seduzir pela magia de seu
povo brejeiro, simples, caiçara, suis
generis. Encantado soube interpretar a fala marota do boto cinza. Conheci o
jacaré de papo amarelo.À sombra do Caindiró, ouvi o choro triste da rabeca
solitária.
Soube acreditar na dança das
sereias. Aprendi saudar os amigos com gole de Cataia, ouvir, cantar e dançar
fandango. Na trilha do telégrafo entendi a história de onde o Brasil começou.
Privilégio raro que me oportunizou expressar a sensibilidade de ser Cananéia.
E assim me aproximei do
laureado Antonio Paulino de Almeida, a quem, por oportuno, rendo sinceros
aplausos.
Orgulhoso desse honroso título, diplomado por tão
Respeitada Casa, da qual fiz parte, deixo expresso, que a participação de
amigos, companheiros ilustres e anônimos foram fundamentais para a gala desta
celebração,com os quais compartilho tão importante condecoração.
Expressando gratidão abraço
tabelião José Luis Gorgone; aos professores Wagner Teixeira e Pedro Souza
Franco; o querido compadre Aroldo Pires Xavier e sua tão acolhedora família, os
diletos Marcos Gama, Osvaldir Camargo Dias, Aderbal Arantes, Medalhinha, Pedro
Mariano e Roberto Carlos Rodrigues; os advogados Antonio Severino dos Santos, tão
importante que foi e continua agora como sempre; Jomary Farias e Leonel Saletti
esse verdadeiramente o ADVOGADO MAIOR; aos auxiliares da Justiça, Paulão e
Tininho; aos pescadores Armando Cuba, Wagner Klienki, Jorge Malaquias e demais
integrantes da Colônia Apolinário Araújo; as dedicadas Sonia Ferreira e Cida
Rangel da Pastoral dos Pescadores; os jornalistas Mário e Edna Sulzbach da
Folha de Cananéia; Benedito Machado, do saudoso O IGUAPE; os integrantes do Correio
do Vale e A Tribuna do Ribeira, inesquecível porta voz do povo caiçara. Igualmente
rendo homenagens aos saudosos amigos que, rebeldes já se foram: O Deputado
Rubens Lara, os queridos Jair Saurin
Rios; Edegar Jacy Teixeira; pe. João XXX; Son; Firmo Rodrigues; Bernardo Paiva;
Lino Xavier; Josef Kovaciks;Mauricio Xavier de Oliveira Rosa; Otávio
Baganha; Ernesto Matheus Guimarães;
Eider Castor; Don Aparecido José Dias; Carlos Ialongo, João Albano Mendes da
Silva, José Gaspar Silva, Eduardo Boechart Ramos, João Carriel, Delmar Simões, fundamentais
para a costura de tão importante pergaminho.
Agradeço ao ilustre presidente vereador Marco Aurelio que ousou me
propiciar com o projeto do Decreto Legislativo nº 01-2015, aprovado por
unanimidade de seus dignos pares, a quem também agradeço, por tão nobre
titulação.
Agradeço sensibilizado a
presença de queridos amigos que se deslocaram de São Paulo, Santos, Rio de
Janeiro, do interior do Vale do Ribeira, do tão longínquo Tocantins e do
distante Estado de Santa Catarina. A presença de Carlos Eduardo meu irmão.
E nessa plêiade expresso o
mais terno para Ivone Cláudia, companheira, parceira de incontáveis projetos, sempre
presente ajudando nos difíceis enfrentamentos da vida.
A celebração festiva dessa
outorga seria completa se presente estivessem minha mãe com seus 91 anos e meu
saudoso pai. Lamento que Betito, meu filho; Thais Cristina, minha nora e
Rafaela, tão amada netinha não puderam aqui chegar para aplaudir os 484 anos de
fundação e vida rica em histórias e importância que representa Cananéia para
todos nós.
Tenham certeza. Até então me
empenhava pelo charme de seus encantos e carinho de seus habitantes que me
conquistaram. Doravante, como filho
privilegiado deste Lagamar, vou me empenhar e dar razões para justificar essa honraria e virem a se
orgulhar deste novel cidadão da Estância de Cananéia.
Muito obrigado
**************
Roberto J. Pugliese
Cidadão Cananeense
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