Conforme historiadores de estirpes, Itanhaem é tida com a segunda cidade mais
antiga do Brasil, fundada por Pedro Namorado
ou como assinalam outros, por Martim Afonso de Souza na sua passagem
pelo litoral da Capitania de São Vicente. No 22 de Abril a tradicional cidade paulista
está em festas: Comemora 484 anos de rica e pitoresca história que revela a
epopéia paulista e brasileira.
Os registros oficiais indicam que a partir de 1625
durante a governança de Mariana de Souza
Guerra, Condessa de Vimieiros,
herdeira de Martim Afonso de Souza, Conceição de Itanhaém tornou-se cabeça de
Capitania, tendo ampla jurisdição desde Cabo Frio ao norte, estendendo-se pelos
sertões do Vale do Paraíba e atingindo a Ilha do Mel, ao sul. Foi o tempo que
Sorocaba, Iguape e Paranaguá foram fundadas por sua determinação, assim como
erguidas outras vilas, com destaque para Taubaté e Pindamonhangaba,
paulatinamente desmembradas da Vila que fora Capital de tão imenso território.
O formoso despraiado à beira da última curva do rio
que os bugres chamavam de ita nha y em,
ou no vernáculo, pedra que canta,
Itanhaem já acolheu personalidades ilustres, ora ditadas pela saúde debilitada
que por recomendações médicas lá se instalaram, entre outras Anita Malfatti e
seu marido Antonio Volpi ou pelo quadro inspirador de bucólica paisagem, que
levou Tarsila do Amaral ou mesmo para abrigar-se das perseguições dos
ditadores, como o Deputado Roge Ferreira e tantos outros.
Paulo Bonfim, o já velhinho Príncipe dos Poetas, que
empresta seu letrado nome à Biblioteca Municipal também tem por lá seu
domicílio e no auge da Campanha Civilista Rui Barbosa, desbravou as areias
desertas da Praia Grande, alcançando a Vila para expor suas idéias liberais.
Pela adocicada e bucólica Vila de Conceição de
Itanhaém também marcaram por seus passos pelas praias, rios e morretes, Hans Staden que por lá esteve
durante temporada que se prolongou em vista da acolhida que teve por lá e é
sabido que desde a tenra história os
devotos missionários jesuítas Manoel da Nóbrega e José de Anchieta, de
lá partiram para desbravarem o sertão e subirem a serra e no então
desconhecido planalto de Piratininga, às
margens do Anhembi erguer a escola
dedicada à São Paulo e plantarem a semente da pujante capital. Leonardo Nunes,
o Padre Voador também esteve pregando junto à raiz da serra de Itatins.
Foi na Vila erudita e cultural que em 1888, sob a
liderança do pintor e historiador Beneticto
Calixto de Jesus, o mais ilustre de seus nobres filhos naturais, ilustres
personagens criaram a Associação Cultural Gabinete de Leitura, que em poucos
anos, já dispunha de acervo de livros, documentos, mapas e promovia espetáculos
teatrais, cursos e toda iniciativa voltada para as letras e artes, sendo
apontada como a primeira biblioteca erguida no país fora dos limites da Corte.
Centro incentivador das artes e ciências que ilumina os destinos da cidade
Itanhaém tem desde seus primeiros tempos estreita ligação com a cultura e o
saber.
Merece registro ainda que em Itanhaém foi eleita e
assumiu a primeira prefeita municipal no Brasil, Senhora Bechelli e, a Camara
de Vereadores da histórica municipalidade foi a primeira a ser instalada no
Brasil, conforme registros extraídos do Congresso Nacional.
Sem rodeios nesse 22 de Abril a história viva de
tão precioso relicário do passado colonial merece ser congratulado
efusivamente, aplaudindo o recanto risonho, como consta nas armas
de seu brasão, Angulus Ridet.
Particularmente tive o privilégio de chegar à
cidade, então uma pequena Vila com menos de cinco mil habitantes espalhados
desde a divisa de Ana Dias, até os limites com São Vicente, isolada pela
imensidão despovoada da praia Grande e de Peruíbe e os contra-fortes da Serra
do Mar, e por lá, a partir do Rancho Santa Fé, na Prainha dos Pescadores tecer
artesanalmente dias felizes a partir da primeira infância.
Já
adulto, por sete anos, envolvido pelo ozônio produzido pela mata atlântica e a
flora pitoresca do litoral paulista, bem assim inebriado pelo adocicado perfume de sua forte maresia,
a vida permitiu-me por lá, com meu filho então criança e a jovem mulher, principiar o longo e tortuoso caminho que o
tempo vai revelando, talhando cuidadosamente as primeiras letras da história que começara a escrever, cujas
linhas ainda estão sendo desenhadas, agora menos a firmes e já tremidas pelo esforço de anos
que se passaram.
Por
oportuno, exponho aos leitores que me brindam com a preciosa atenção que o povo
amigo de Itanhaém, honrou a memória de meu pai ao atribuir seu nome ao Caminho Turístico que adentra pelo
Morro Sapucaitava à Praia da Saudades, partindo do Porto Novo onde por lá,
durante sua vida, sempre que podia, permanecia pensativo observando a fauna e flora de tão precioso
sítio, e talvez hoje noutra dimensão por lá permaneça; e torno, repetidamente,
igualmente pública minha gratidão aos cultos e generosos confrades da Academia
Itanhaense de Letras que conferiram a gala dela participar como um de seus
membros.
Hoje
distante, onde cheguei tropeçando nas encruzilhadas dos tantos caminhos que
percorri, mantenho laços afetivos e saudosos com a velha Itanhaém de sempre.
Inesquecível fonte histórica de tantas glórias que espelham a própria
paulistaniedade desde seu principio. Não
a esqueço, assim como também manhtenho acesa a tocha da lembrança dos seu filhos, naturais e adotados,
de quem e privo carinhosas amizades.
E
diante disso e daquilo, que nesse apertado texto rabiscado pela emoção, com
sentimento e solenemente mantenho hasteada e tremulando a bandeira azul do
cavalinho, erguido em mastro posicionado no jardim de minha residência, para
que todos os passantes possam vê-la e aplaudir, reverenciando a data símbolo
dessa projeção de luz e cultura tradicional que irradia.
Parabéns Conceição de Itanhaém! Parabéns pelos 484
anos.
Roberto
J. Pugliese
Foi diretor da 83ª. Subsecção da OAB-SP por 10
anos.
Foi fundador do Lions Clube Itanhaém-Praia.
Membro da Academia Itanhaénse de Letras.
Foi assessor jurídico da Câmara Municipal da Estância
Balneária de Itanhaém.
MANTÉM ITANHAÉM VIVA NA SEDE DE SUA ALMA !
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