Em Defesa das
Tartarugas.
O Expresso Vida publica texto
elaborado por Rubem Braga há quase cinqüenta anos. Muito interessante, merece
reflexão.
“A Tartaruga
Moradores de Copacabana,
comprai vossos peixes na Peixaria Bolívar, Rua Bolívar, 70, de propriedade do
Sr. Francisco Mandarino. Porque eis que ele é um homem de bem.
O caso foi que lhe mandaram
uma tartaruga de cerca de cento e cinqüenta quilos, dois metros e (dizem)
duzentos anos, a qual ele expôs em sua peixaria durante três dias e não quis
vender; e levou até a praia, e a soltou no mar.
Havia um poeta dormindo dentro
do comerciante, e ele reverenciou a vida e a liberdade na imagem de uma
tartaruga.
Nunca mateis a tartaruga.
Uma vez, na casa de meu pai,
nós matamos uma tartaruga. Era uma grande, velha tartaruga-do-mar que um
compadre pescador nos mandara para Cachoeiro.
Juntam-se homens para matar
uma tartaruga, e ela resiste horas. Cortam-lhe a cabeça, ela continua a bater
as nadadeiras. Arrancam-lhe o coração, ele continua a pulsar. A vida entranhada
nos seus tecidos com uma teimosia que inspira respeito e medo. Um pedaço de
carne cortado, jogado ao chão, treme sozinho, de súbito. Sua agonia é horrível
e insistente como um pesadelo.
De repente os homens param e
se entreolham, com o vago sentimento de estar cometendo um crime.
Moradores de Copacabana,
comprai vossos peixes na Peixaria Bolívar, de Francisco Mandarino, porque nele,
em um momento belo de sua vida vulgar, o poeta venceu o comerciante. Porque ele
não matou a tartaruga.”
O Expresso Vida parabeniza o
saudoso e inesquecível Rubem Braga, pelo texto publicado em julho de 1959.
Roberto J. Pugliese
Autor de Direito das Coisas,
Leud, 2005.
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