Memória nº 118.
A emboscada no Gaivota.
Lourenço acabara de almoçar
naquela quinta feira e convidou Lourenço Jr para irem juntos até o Gaivota,
bairro periférico próximo a divisa do município de Itanhaém com Peruíbe. Pretendia ver uma, área de terra
conflituosa que seu escritório estava envolvido e conversar com o cliente,
caseiros e até mesmo algum invasor.
Uma fazenda entre a rodovia e
a praia com disputa de propriedade e posse que Lourenço fora contratado para
promover ação em favor de uma das partes. Foram de buggy pela praia.
Dia bonito foram conversando
até chegarem ao ponto em que saíram da praia e por uma pequena estrada arenosa
seguiram em direção à sede da fazenda. Uma estradinha quase caminho, com
facões, buracos, charcos, curvas fechadas... Um caminho precário.
Chegaram a uma clareira no
meio do mato ralo típico da costeira onde estavam erguidas duas ou três casas de
alvenarias aparentemente abandonadas. Ninguém apareceu mesmo tendo aguardado
alguns minutos. Tocou buzina algumas vezes e o próprio barulho do motor do auto
revelou sua presença, porém ninguém apareceu. Ou se esconderam ou não havia
ninguém por ali.
Retornavam para a praia pelo
mesmo caminho quando numa curva Lourenço deparou-se com uns arbustos postos de
modo a impedir a passagem do veículo. Estancou e recuou alguns metros, onde
tinha visão melhor ao redor, já que o obstáculo fora colocado onde o mato era
mais alto.
- Preste bem atenção, vou
tentar passar a qualquer modo, mas é uma emboscada. Caso alguém me barre ou
atirem ou aconteça algo, mesmo que eu pare ou me peguem, você pula fora e saia
correndo sem olhar para trás. Corra sem parar em direção à praia e chame
socorro. Não se importe comigo. Entendeu?
Lourenço dirigiu-se ao filho
de modo sério e preocupado, instruindo o garoto que à época tinha menos de 10
anos. Em seguida acelerou bem o veículo e sem dar confiança ao que havia no
caminho, foi em direção aos galhos e arbustos, desviando o máximo que pode,
adentrando um tanto na lateral esquerda do caminho, ultrapassando pelo tronco e
galhos e superando o obstáculo sem parar, seguiu em velocidade superior em
direção à praia.
Pessoas fecharam o caminho.
Não soube quem era e tão pouco porque razão. Mas foi claro que interromperam a
passagem para impedir que saísse do lugar em conflito para assaltarem ou apenas
amedrontar ou mesmo para outras ações conexas ao próprio conflito fundiário. A
sorte, provavelmente se deu que retornando rapidamente, a barreira não ficara
completa e permitiu ser superada.
Para o filho, foi uma grande
aventura. Para ele um grande susto, principalmente por estar com a criança e
não saber o que poderia acontecer.
Roberto J. Pugliese
pugliese@pugliesegomes.com.br
Autor
de Direito das Coisas, Leud, 2005.
Cidadão
Honorário de Cananéia, Sp. -
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