Judiciário brasileiro: Caixa preta. (?)
O Expresso Vida trás abaixo texto do economista Paulo Muzzel,
que se estriba
em pesquisa que revela o quanto é ineficiente, cara e suspeita a
justiça pública
no Brasil. Lamentavelmente, anos passados o editor em palestra
ministrada
em Curitiba, foi objetivo em afirmar o quanto é o Poder Judiciário
responsável
pela violação de direitos humanos. E de lá, para cá, nada mudou.
“ Um judiciário caro, uma justiça falha
Dois
pesquisadores, Luciano Da Ros, da UFRGS e Matthew Taylor, da Universidade de
Washington estão elaborando um estudo “Abrindo a caixa-preta: três décadas de
reformas do sistema judicial no Brasil”. Embora a conclusão do trabalho só deva
ocorrer em 2016, Da Ros publicou uma prévia sob o título “O custo da Justiça do
Brasil, uma análise exploratória”. Os dados apresentados são impactantes.
Na
Europa o gasto em relação ao PIB oscila entre 0,12% (Espanha) e 0,32%
(Alemanha), com uma média pouco acima dos 0,20%. Nos Estados Unidos é de 0,14%,
nos principais países da América do Sul varia entre 0,13% (Argentina) e 0,34%
(Venezuela), com a média também na faixa dos 0,20%. No Brasil a fatia do poder
judiciário atingiu em 2014 o montante de 68,9 bilhões de reais, correspondendo
a 1,2% do PIB. E já foi maior, motivo de estar em curso uma ofensiva por mais
recursos. Se for aprovado um projeto de lei que tramita no Congresso que
reajusta os holerites da “turma do judiciário” em até 78%, teremos um acréscimo
de 5 bilhões de reais na despesa de 2016. Há também um outro projeto que eleva
o teto do STF dos atuais 33,7 para 39,3 mil reais. Aprovado este reajuste,
teremos um efeito dominó que aumentará a remuneração de milhares de magistrados
e membros do Ministério Público, onerando pesadamente os cofres públicos. E o
que seria teto do judiciário é, na verdade, uma remuneração-piso acrescida de
um vasto “elenco” de “penduricalhos” (auxílios, indenizações, gratificações,
etc) não definidos como salário e que aumentam substancialmente a remuneração
total. Sérgio Moro o juiz da Lava Jato, por exemplo, recebeu em setembro
passado 82,3 mil reais, José Ricardo Costa, presidente da Associação dos
Magistrados Brasileiros 41,2 mil reais. No Rio Grande do Sul os juízes recebem
“auxílio-táxi”, em Goiás há o “auxílio-livro”, no Rio o “auxílio-educação”, sem
falar no ilegal e imoral “auxílio-moradia”. Há também outra vantagem absurda:
no STF dezessete juízes que auxiliam os ministros recebem um adicional de 5,4
mil mensais.
Goran
Lambertz, um dos juízes da Corte Suprema sueca, ao tomar conhecimento desses
fatos, escandalizado, afirmou em recente entrevista: “É absolutamente
inacreditável que os juízes brasileiros tenham o descaramento e a audácia a
ponto de criar benefícios como auxílio-moradia e auxílio-escola para seus
filhos. Nunca ouvi falar de nenhum outro país onde juízes tenham utilizado sua
posição para beneficiar a si próprios”.
Em São
Paulo o Tribunal de Justiça paga “por fora“ juízes que auxiliam na elaboração
dos votos dos desembargadores o que permite não recolher imposto à Receita e a
contribuição à Previdência, além de mascarar o estouro do teto.
O órgão
supostamente fiscalizador, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) é
corporativista e inoperante. Dentre os 16 mil magistrados brasileiros o CNJ em
dez anos puniu apenas 72. Sete por ano, o que significa um percentual de 0,04%,
ou seja, algo muito próximo do zero, nada.
Ao
cometer qualquer delito, por mais grave que seja, o magistrado tem como pena
mais dura a aposentadoria compulsória. Pendura a toga, vai para casa, mas vai
continuar recebendo seus vencimentos até o fim de sua vida.
Da Ros
conclui afirmando que é um verdadeiro absurdo criar um expediente que permite
aos juízes federais, além da boa vida de 60 dias de férias, a possibilidade de
“esticá-las por mais 15 dias.” Isto ocorre num país que tem mais de 99 milhões
de processos “encalhados”.
Se o
poder judiciário é caro e ineficiente, a nossa justiça é branca e rica. É o que
afirma a jornalista Djamila Ribeiro em matéria recentemente veiculada na revista
CartaCapital. Temos no Brasil um sistema penitenciário cuja população é na sua
maioria constituída por negros pobres. Os brancos e ricos são exceção, minoria.
Isso ocorre porque, mesmo quando cometem delitos graves, os aquinhoados
conseguem a liberdade. Raramente são condenados. Ela ilustra comentando o
recente caso de Juliana Cristina da Silva, uma jovem, que, embriagada,
atropelou e matou dois operários que pintavam uma ciclo-faixa e fugiu do local.
Ela, pasmem, responderá ao processo em liberdade depois de pagar uma fiança de
20 salários mínimos (cerca de 15 mil reais), devendo comparecer ao fórum a cada
dois meses. O lamentável acidente deixou seis órfãos, todos menores de idade.
Djamila encerra sua matéria afirmando que após tirar a vida de dois
trabalhadores dirigindo alcoolizada, Juliana uma moça branca “bem nascida” vai
passar o natal com a sua família porque, numa lógica desigual e racista, ela é
só uma “moça de bem” que cometeu um erro.” (Paulo
Muzell é economista.)
O Expresso Vida lamenta
especialmente porque cabe ao Poder Judiciário executar a justiça e distribuir a
democracia.
Roberto J.
Pugliese
Autor de Direito Notarial
Brasileiro, Leud 1987.
Titular da cadeira nº38 da
Academia São José de Letras.
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