27 julho 2011

Professora COERENTE recusa prêmio -

Natal, 02 de julho de 2011.

Prezado júri do 19º Prêmio PNBE.

Recebi comunicado notificando que este júri decidiu conferir-me o prêmio

de 2011 na categoria Educador de Valor, "pela relevante posição a favor

da dignidade humana e o amor a educação”.




A premiação é importante reconhecimento do movimento reivindicativo dos

professores, de seu papel central no processo educativo e na vida de

nosso país. A dramática situação na qual se encontra hoje a escola

brasileira tem acarretado uma inédita desvalorização do trabalho docente.




Os salários aviltantes, as péssimas condições de trabalho, as absurdas

exigências por parte das secretarias e do Ministério da Educação fazem

com que seja cada vez maior o número de professores talentosos que

após um curto e angustiante período de exercício da docência exonera-se

em busca de melhores condições de vida e trabalho.




Embora exista desde 1994 esta é a primeira vez que esse prêmio é

destinado a uma professora comprometida com o movimento

reivindicativo de sua categoria.




Evidenciando suas prioridades, esse mesmo prêmio foi antes de mim

destinado à Fundação Bradesco, à Fundação Victor Civita (editora Abril),

ao Canal Futura (mantido pela Rede Globo) e a empresários da educação.




Em categorias diferentes também foram agraciadas com ele corporações

como Banco Itaú, Embraer, Natura Cosméticos, McDonald’s, Brasil

Telecon e Casas Bahia, bem como a políticos tradicionais como

Fernando Henrique Cardoso, Pedro Simon, Gabriel Chalita e Marina Silva.




A minha luta é muito diferente dessas instituições, empresas e personalidades.




Minha luta é igual a de milhares de professores da rede pública. É um

combate pelo ensino público, gratuito e de qualidade, pela valorização

do trabalho docente e para que 10% do Produto Interno Bruto

seja destinado imediatamente para a educação.




Os pressupostos dessa luta são diametralmente diferentes daqueles

que norteiam o PNBE.




Entidade empresarial fundada no final da década de 1980, esta manteve

sempre seu compromisso com a economia de mercado. Assim como

o movimento dos professores sou contrária à mercantilização do

ensino e ao modelo empreendedorista defendido pelo PNBE.




A educação não é uma mercadoria, mas um direito inalienável de todo

ser humano. Ela não é uma atividade que possa ser gerenciada por

meio de um modelo empresarial, mas um bem público que deve

ser administrado de modo eficiente e sem perder de vista sua finalidade.




Oponho-me à privatização da educação, às parcerias empresa-escola e

às chamadas "organizações da sociedade civil de interesse público"

(Oscips), utilizadas para desobrigar o Estado de seu dever para com o

ensino público.




Defendo que 10% do PIB seja destinado exclusivamente para instituições

educacionais estatais e gratuitas. Não quero que nenhum centavo

seja dirigido para organizações que se autodenominam amigas ou

parceiras da escola, mas que encaram estas apenas como uma oportunidade

de marketing ou, simplesmente, de negócios e desoneração fiscal.




Por essa razão, não posso aceitar esse Prêmio. Aceitá-lo significaria

renunciar a tudo por que tenho lutado desde 2001, quando ingressei

em uma Universidade pública, que era gradativamente privatizada, muito

embora somente dez anos depois, por força da internet, a minha voz

tenha sido ouvida, ecoando a voz de milhões de trabalhadores e

estudantes do Brasil inteiro que hoje compartilham comigo suas

angústias históricas.




Prefiro, então, recusá-lo e ficar com meus ideais, ao lado de meus

companheiros e longe dos empresários da educação.




Saudações,




Professora Amanda Gurgel

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