A saga do povo do Ariri.
O território do Estado do Paraná foi desmembrado de São Paulo
e dessa divisão política surgiu uma pendenga no que toca a linha seca que das
cabeceiras do rio Paranapanema, encontra o litoral separando as duas unidades políticas da
federação.
Os Estados discutiam o marco para puxar a linha divisória,
acompanhando relevos físicos da natureza e políticos dos municípios limítrofes,
mas não chegavam a um acordo.
Com a intervenção federal na disputa, foi decidido que os
limites estaduais teriam o marco inicial no litoral, mais ao norte do que o previsto,
de modo que a Vila do Ararapira, então distrito do município de Cananéia, foi
transferida para o território paranaense.
Com essa nova plástica política territorial o povo do lugar se
revoltou e se movimentou para deixarem o Paraná e retornarem a origem paulista.
Desse modo, o então presidente do Estado, ( à época da I República, o título
era presidente e não governador ) sensibilizado entendeu criar do outro lado do
rio, praticamente em frente ao então distrito que passara ao Paraná, uma nova vila.
Washington Luiz Pereira de Barros, que fora prefeito da
Capital e posteriormente presidente da República, deposto pelo caudilho Getúlio
Vargas, determinou fosse criado o distrito do Ariri, pertencente ao município
de Cananéia, atendendo a reivindicação da população de Ararapira, bastante
desgostosa.
Assim, mandou erguer uma cadeia pública, um colégio e o
cartório de registro civil com anexo de tabelionato. A par, cedeu lotes de
terras para os que quizessm se transferir para a vila recém-criada, facilitando
o pagamento de suas aquisições.
Com isso, a par de atender os reclamos da sociedade
local, trouxe um destacamento da Força
Pública para guarnecer a nova divisa territorial, disfarçada com o fim de
cuidar do presídio. Ergueu o colégio, cujo prédio até hoje é usado, de forma a manter funcionários públicos do
Estado de São Paulo, justificando assim a posse política sobre aquele
território e dando condições para que houvesse a pretendida imigração e
povoação da vila. Com o cartório, os atos civis, certificados pelo registro
civil e pelas notas do tabelião demonstravam a territoriedade paulista.
Essa história, verídica e real, está praticamente
esquecida, pois as autoridades
municipais de Cananéia, que deveriam mantê-la viva, desconhecem a sua
importância. O prédio da Escola ainda existente, deveria estar tombado e
transformado em museu. A cadeia foi demolida há pouco mais de trinta anos, por
ordem do prefeito municipal. E o cartório, por ser deficitário, foi extinto por
ato do Poder Judiciário Paulista.
Lamentável, pois trata-se de saga merecedora de aplausos que
está relegada ao esquecimento.
De outra parte, registre-se que a Vila de Ararapira, hoje é um
povoado abandonado por seus habitantes.
Nesse mês de Agosto em que o primeiro povoado do país, berço
de ilustres personagens e domicilio do Bacharel de Cananéia, comemora 483 anos,
essa lembrança deve ser registrada, publicada e divulgada amplamente.
Roberto J. Pugliese
( Foi vereador em Cananeía em 1983 )
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