Calha a fiveleta e outros pitorescos. (
memória nº103 )
Lourenço foi contratado para
lecionar na FAFICH, escola de nível superior com sede em Gurupi, Tocantins e
posteriormente, participou de concurso público e saiu-se vencedor assumindo a
cadeira de Direito Civil para lecionar Direito das Coisas. Disputou a vaga com
três outros candidatos.
A Faculdade de Filosofia e
Ciências Humanas mantida pela Fundação Educacional de Gurupi, FEG, pertencente
ao Município atualmente integra a Universidade do Estado do Tocantins.
Àquela época Mundinho era
professor de psicologia e presidente da fundação mantenedora e ocorreu
movimento grevista dos professores na busca de melhores condições de trabalho,
inclusive aumento salarial e outros direitos.
As assembleias dos
professores grevistas se davam dentro da faculdade numa sala de aula com a
presença de Mundinho, que agia na condição de professor grevista e fora da
sala, como patrão titular da caneta que comandava a FEG.
Certo dia Lourenço combinou
com os demais professores que iria agredir com palavras a presença do professor
que agia contra os grevistas e permanecia no ambiente criando constrangimentos.
Disse que iria desmoraliza-lo e que estaria posicionado bem longe e caso ele
levantasse para tirar satisfações ou agredi-lo, os demais professores estariam
atentos para segura-lo, evitando o confronto físico.
Lourenço discursou.
Pediu a palavra e aos
professores falou que o Mundinho era um sujeito sem vergonha que agia nos
bastidores contra aos interesses gerais e permanecia no seio dos grevistas
ouvindo tudo, levando noticias ao prefeito municipal e que no fundo era um dedo
duro.
- O professor se tivesse
vergonha na cara, se fosse homem de bem, não estaria aqui...
Não aconteceu nada. O
presidente da FEG permaneceu imóvel e como se não tivesse ocorrido nada, não se
atreveu a responder ou a se defender. A solução foi decidida por proposta de
Lourenço.
- Já que o professor Mundinho
é um Calabar e não vai cair fora, doravante meu escritório passa a ser a sede
do Movimento Grevista e lá, não permitirei a sua entrada.
(... )
Em Joinville Lourenço também
lecionou Direito das Coisas por quinze anos. Também durante um ano, quando
Lourenço Júnior foi aluno do 2º ano, lecionou Direito Constitucional. Durante
esse período que esteve na Faculdade de Direito de Joinville, entidade
particular de ensino superior, lecionou Direito Ambiental e Direito Notarial em
cursos paralelos.
Como professor de Direito
Civil por anos seguidos foi convidado a orientar alunos em monografias de
Trabalhos de Conclusão de Curso. Por ano seguia em torno de sete alunos,
chegando a orientar dez alunos em alguns anos. Nessas ocasiões, como professor
orientador participava da banca examinadora e recorda-se de pitorescos dos mais
variados.
Numa delas o aluno houvera
colado o trabalho inteiro. Pegara da internet e simplesmente colara sem ter
noção do que estava falando, lendo ou explicando, aliás muito mal explicado. O
aluno copiara o trabalho.
Lourenço questionou:
O que vem a ser calha a fiveleta? E o aluno mudo disse não saber
o que se tratava. Então um dos integrantes da banca mostrou a todos que era um
termo posto no trabalho e que revelava o quanto o aluno desconhecia pois não fizera
o trabalho, não fora o autor da obra.O mesmo professor que integrava a banca
examinadora mostrou a fonte da cola que o aluno fizera, desmoralizando-o
publicamente.
Noutra ocasião o aluno
desconcentrado por não saber responder as perguntas, diante da família que
assistia a sessão solene, foi inquirido e revelou-se merecedor da reprovação,
até porque a autoria do trabalho fora comprovadamente revelada ser de outrem,
por se tratar de cópia.
Lourenço, o presidente da
mesa, levantou-se e começou a discursar e sem saber como decretar a reprovação,
pois o aluno estava na presença dos filhos, esposa, mãe. Lourenço não parava de
falar e enrolar, sem ir ao ponto certo. Numa das orações, foi interrompido pelo
professor Mauro, outro integrante da mesa, que pediu licença e a palavra,
concedida por Lourenço, e estampou firme e em bom som:
- O senhor está reprovado.
Colou. Não é o autor do trabalho. (...)
Em seguida Lourenço declarou
encerrada a sessão.
Lourenço também lecionou na
Faculdade Paulista de Direito, da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo. Por dois anos foi assistente do titular de Introdução à Ciência do
Direito, professor Franco Montoro, então Senador da República. E por dois anos
lecionou na Faculdade de Direito da cidade de Jaraguá do Sul, onde fora
contratado para lecionar Direito das Coisas.
Com frequência Lourenço tem
proferido palestras abordando temas jurídicos e políticos. Tem viajado bastante
com esse fim.
Certa vez, à época que era
presidente da Ordem dos Advogados do Brasil em Gurupi e professor de Direito
das Coisas, na Fafich, foi convidado à ministrar palestra abordando direitos
humanos na cidade de Palmerópolis, distante quase 300 km.
A palestra seria numa
solenidade do Lions Clube à noite, em um sábado qualquer, que coincidia com algum
festejo local. Palmerópolis é uma pequena cidade no sul do Tocantins, e àquele
tempo, a estrada de terra, sem sinalização fazia com que a viagem fosse
cansativa e demorada.
Lourenço chegou no meio da
tarde acompanhado de seu amigo Lourival, advogado que também trabalhava no seu
escritório. Uma vez hospedados no único hotel da cidade, após descansarem um
pouco, aprontaram-se e seguiram de terno à pé para o local do evento.
Ambos traziam às mãos algum
livro ou código e foram abordados no caminho por um casal que respeitosamente
questionou:
- Os senhores são os novos
pastores que foram transferidos para cá?
Em pleno sábado ao anoitecer,
dois desconhecidos caminhando à pé pela cidade, trajando paletó e gravata, com
livros nas mãos... Só poderiam ser ministros religiosos caminhando para o culto do final de semana.
Roberto J. Pugliese
Consultor
Nacional da Comissão de Direito Notarial e Registral do Conselho Federal da
OAB.
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