Brasil
de Joelhos. Chega!
O Expresso Vida tem gama de leitores que antes de qualquer outra
qualidade são pensadores e pessoas de bem, que desejam sempre o melhor para a
sociedade.Essa afirmativa vem de comentários outros que são postados ou
diretamente destinados à caixa eletrônica particular do editor.
Daí, pessoalmente não sou
amistoso ao Breno, por questões particulares, que remontam há mais de dez anos,
quando lançou uma revista independente e tivemos contatos pessoais. Porém, sua
independência e visão crítica não me
confundem com o comportamento que teve comigo, motivo que peço aos ilustres
brasileiros que adentram a esse blog,
que leiam com atenção, meditem, reflitam e se entenderem correto, divulguem.
O texto é muito importante para
reflexão e revela, por linhas tortas, o porque mesmo crítico, estou votando no
segundo turno no Partido dos Trabalhadores.
São muitos os motivos, porém o
que o texto traz à baila de forma expressa e clara, talvez seja o principal.
Até porque reforma política partidária e territorial está fora de cogitação.
Leiam.
“
AÉCIO
DEIXARIA BRASIL SEM SAPATOS
Breno
ALtman
O diplomata Celso Lafer, chanceler durante o
governo Fernando Henrique Cardoso, teve seus minutos de fama em 2002. Diante de
exigências das autoridades de segurança, ao chegar nos Estados Unidos em missão
oficial, o ministro tucano tirou os sapatos. De meias, aceitou o ultraje
colonial contra o pais que deveria representar com altivez.
Este episódio virou símbolo de uma época.
A política internacional brasileira funcionava como
apêndice dos interesses norte-americanos, submetida à estratégia econômica do
governo tucano.
A dinâmica do desenvolvimento não era determinada
pela expansão do mercado interno, mas pela atração incondicional de capitais
internacionais.
Privatizações e juros estratosféricos eram os
principais elementos financeiros de sedução. Uma diplomacia submissa, sem
sapatos, o instrumento político para conquistar o favorecimento das potências
ocidentais.
O Brasil, naquela época, tinha como principal
projeto a integração na Área de Livre Comércio das Américas, a ALCA. Proposto
pela Casa Branca, esse bloco eliminaria todas as barreiras alfandegárias e
extra-alfandegárias nos mercados ao sul do Rio Grande, com exceção de Cuba.
A indústria norte-americana, beneficiada pela
capacidade tecnológica e o poderio financeiro, ganharia um novo mercado com 500
milhões de consumidores potenciais, além de acesso mais fácil a matérias-primas
e mão-de-obra barata. As demais nações consolidariam um perfil extrativista e
agroexportador.
Tal modelo, calcado no aprofundamento dos laços de
dependência, era de interesse do agronegócio e do capital financeiro local. O
primeiro grupo lucraria com a abertura comercial. O segundo, com a
intermediação de negócios, o crédito ao consumo e o financiamento das trocas
internacionais. Estas eram, e continuam sendo, as frações de classe mais
vinculadas ao PSDB.
Alguns setores industriais conseguiriam sobreviver,
mas o Brasil estaria condenado a perder sua cadeia produtiva, vítima da
desnacionalização, com a exportação de empregos industriais para o norte do
continente. Mesmo a agricultura de alimentos, menos competitiva que a de grãos,
estaria sob perigo de sucumbir às grandes corporações.
Iniciativas regionais
Este processo foi bloqueado com a eleição de Hugo
Chávez e Lula, logo seguida por novas vitórias progressistas na América Latina.
A ALCA foi fulminada no novo cenário. Abriu-se espaço para uma outra estratégia
de crescimento, na qual o Brasil tornou-se peça decisiva.
Talvez em nenhuma outra questão foi tão profunda a
mudança conduzida pelas administrações petistas. O centro da política
internacional passou a ser o esforço para a integração autônoma da América
Latina, como espaço prioritário para a consolidação da própria economia
brasileira.
Nos últimos doze anos, além da expansão do
Mercosul, assistimos a criação da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e da
Comunidade dos Estados Latinoamericanos e Caribenhos (Celac). O comércio e o
investimento dentro do bloco subcontinental cresceram fortemente, abrindo
fronteiras para um caminho de desenvolvimento através do qual os países
sulistas preservem e ampliem sua soberania industrial, alimentar e financeira.
As iniciativas regionais foram complementadas pela
construção de pontes com a África e a Ásia, além do fortalecimento de relações
com as demais nações emergentes.
A principal conquista dessa ofensiva foi a
consolidação do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) como
aliança geopolítica. A criação de um banco comum dessa coalizão, decidida na
Cúpula de Fortaleza, em julho deste ano, pode ajudar a romper com a hegemonia
das potências ocidentais sobre instituições financeiras que controlam o crédito
mundial.
Ao longo dos últimos doze anos, o Brasil
multiplicou por quatro suas exportações e quintuplicou seu intercâmbio
comercial. Diversificou parceiros e encontrou novos mercados. Apesar das
enormes dificuldades internacionais, começou a lenta transição entre o
predomínio da venda de bens e serviços para a centralidade da exportação de
capitais e tecnologia.
Os avanços não foram apenas econômicos ou
regionais. O país vem desempenhando papel de relevo na luta pela superação do
mundo unipolar que emergiu do colapso soviético.
Ganhou destaque o empenho pelo direito dos povos à
autodeterminação, contra as guerras de agressão, pela democratização das
instituições internacionais, contra o neocolonialismo e pela defesa ambiental.
Propósito restauracionista
Infelizmente este temário pouco foi discutido na
atual campanha presidencial. Mas o PSDB não deixa dúvidas que gostaria de dar
um cavalo de pau na política internacional estabelecida pelo PT.
Seu principal porta-voz para esta agenda, o
diplomata Rubens Barbosa, tem deixado claro os fundamentos da orientação que
gostaria de implantar. Vale a pena ler sua entrevista recente para o Opera Mundi.
Alegando defender “uma política externa pragmática,
fugindo das ideologias”, o ex-embaixador brasileiro em Washington sustenta que
o país não deve mais “ficar amarrado ao Mercosul”. A opção seria estabelecer
unilateralmente acordos de livre-comércio com a União Europeia, o Japão e os
Estados Unidos.
Também critica a relação dos governos petistas com
Cuba e seu afastamento da abordagem norte-americana sobre direitos humanos,
sempre funcional para deslegitimar processos nacionais que fogem do controle da
Casa Branca e se chocam contra seus interesses.
A linguagem melíflua mal esconde o propósito
restauracionista. A verdade é que o programa tucano representa alternativa
antagônica ao curso seguido por Lula e Dilma em política internacional.
A eventual eleição de Aécio Neves teria fortes
consequências regionais, provavelmente abalando o atual desenho geopolítico
latino-americano e enfraquecendo o diálogo sul-sul. Não é à toa a torcida
descarada e pró-tucano das elites financeiras internacionais e seus meios de
comunicação.
Os centros imperialistas de poder não querem outra
coisa: o Brasil, novamente sem sapatos, facilitaria enormemente a manutenção de
sua hegemonia planetária”
Parcela
ampla dos leitores são pessoas que querem o melhor para si, para a própria
família e também para todos os brasileiros. Portanto particularmente peço que
atendam o reclamo e reflitam antes de sufragarem o nome do próximo Presidente
da República no dia 26 de outubro.
Roberto J. Pugliese
Autor
de Direito das Coisas – Leud, 2005.
Autor
de Terrenos de Marinha e seus Acrescidos – Letras Jurídicas, 2009.
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