Terror e insensibilidade. Brasil contemporâneo.
Florianópolis é uma cidade essencialmente turística e
desse segmento econômico é que sobrevive com muita dificuldade. Uma ilha de
plástica incrível, dada a beleza natural onde combina a floresta originária, as
praias, o manguezal, o mar, os diversos ribeirões que tem condições especiais
para trazer turistas ávidos pelos atrativos dispostos em sítio tão encantador.
No entanto, ora por ordem judicial, ora por determinação
administrativa do Executivo Municipal, ou por força de ato das autarquias
ambientais, sob a acusação de agressão ilegal ao meio ambiente, construções são
derrubadas. Residências e comércios instalados aqui ou ali são postos à baixo
sob a estapafúrdia alegação de ilegalidade e violência ao meio ambiente.
O pior: Os manezinhos mais humildes, maioria das vezes
que desconhecem seus mínimos direitos de cidadãos, que não são
lembrados por políticos ou pessoas importantes, que na sociedade de consumo são
anônimos são as vítimas mais visadas de
tamanha truculência. São os alvos principais.
Os rigores da legislação são aplicados sem piedade alguma
contra os mais humildes enquanto, em situações assemelhadas, vizinhos abastados
ou bem relacionados não sofrem qualquer ameaça.
Quanta injustiça e desigualdade de tratamento que se
testemunha na ilha, sempre sob a batuta de decretos judiciários, resoluções de
conselhos, ordens perseguidoras contra adversários políticos, associações de defesa ambiental e por aí a fora
com freqüência. Injustiças praticadas com assiduidade freqüente sempre com
assinaturas autenticas de déspotas inconscientes da realidade à própria volta.
Não tem perdão. Manezinhos tradicionais que herdaram
posses de ancestrais, que mínguam a miséria de atividades rudes, na condição de
barqueiros, pescadores artesanais e profissões menos relevantes aos olhos dos
que manipulam o poder, sofrem por estarem situados em pontos privilegiados da
ilha e são expropriados à força, sem qualquer direito.
Nada justifica. Lei alguma tem legitimidade para agredir
moradores tradicionais autênticos e, repentinamente por ser Terreno de Marinha,
Área de Preservação Permanente, Área de Preservação Ambiental, manguezal ou o
esquinbal, demolir construções onde velhos nanicos de poder tiram seus
sustentos e as habitam continuando o dia a dia que apreenderam de antigos
ilhéus.
Recentemente autoridades impostadas de sabedoria e
justiça quase divina pretendiam derrubar toda a orla da Lagoa da Conceição. Os beetch clubs são alvos de medidas
restritivas com regularidade ordinária e, para não dizer que não falei de
flores, derrubaram os restaurantes da Praia dos Naufragados.
Não importa que houve o devido processo legal e que as
vítimas puderam se defender e o Poder Judiciário na forma da lei, da
constituição e de acordos internacionais que o país é signatário em defesa do
meio ambiente, houve distribuir a melhor justiça, ordenando a demolição de
casas rústicas e humildes pertencentes a pequenos comerciantes que podiam
ocupar-se de outras atividades.
Não há justificativa que possa conceber esses atos, cada
vez mais freqüentes, como justos e com amparo na ordem jurídica. Nem contra os
mais abastados, que dispõe de mansões na orla ou dos elegantes comerciantes bem
situados em lugares especiais, mas também nem contra os pobres e humildes
comerciantes, pescadores, barqueiros e profissionais dos bicos que exercem por
não terem capacitação melhor.
A cidade é turística, numa ilha e vocacionada ao turismo ao ar livre. Se não é suficiente
afirmar que derrubar construções tradicionais, sendo medida injusta e
truculenta, o fato da cidade depender da exploração dessa atividade econômica já
é o bastante para que essa barbaridade não se repita e de uma vez por todas
suspendam-se esse terrorismo determinado por agentes públicos brutos, estúpidos
e insensíveis a dor do próximo.
O Expresso Vida é solidário às vítimas das autoridades
autoritárias e não irá se calar, denunciando amplamente os autores desses atos
injustos e violentos.
Não tem explicação nem justificativa plausível. É terror imposto aos mais pobres, porque se ocorrer com quem tem recurso, amizade ou condições melhores, o prejuízo é mais fácil de reparação. Os manezinhos humildes da orla não tem como voltar a se organizar.
Ademais, quem perde é toda a sociedade, pois a ilha tem que oferecer atrativos aos seus visitantes e impedir restaurantes, bares e outras construções ao longo da costa é inviabilizar atividades próprias da ilha. É expulsar aqueles que podem trazer condições melhores para todos. Lamentável.
O Expresso Vida é solidário às vítimas das autoridades
autoritárias e não irá se calar, denunciando amplamente os autores desses atos
injustos e violentos.
Roberto J. Pugliese
editor
Titular da cadeira nº35 da Academia São José de Letras
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