Onze de
Setembro: Reflexões maduras.
Roberto J. Pugliese ( publicado em 2011 )
Lamentamos profundamente a dor de um
povo que não sabe o que é a guerra no solo da própria nação
Repentinamente somos forçados a
lembrar de anos atrás, quando vítimas civis, igualmente inocentes, foram
trucidadas repentinamente em Hiroshima e Nagasaki, em defesa de um ideal
democrático. Lembramos que pela causa nobre, vítimas civis e tão inocentes
quanto as do trágico quadro que recordamos, também vieram a falecer durante os
anos que o exército de Ho Shi Minh enfrentou no seu território, tendo a paixão
pela pátria como a principal arma, o mais equipado exército do mundo.
Lembramos das bombas de napalm que
foram jogadas na Colômbia, com outros preparados químicos, que a par de
exterminar com o plantio da coca, provocou a morte e danos à saúde de civis
agricultores dos confins da Amazônia.
Lembramos das vítimas de mais de meio
século de bloqueio comercial sobre a ilha caribenha, que ousou se tornar
verdadeiramente independente e soberana e de modo insolente venceu o poderoso
vizinho em todas as tentativas de invasão e terrorismo plantados a partir de
Miami. Inclusive midiático.
Lembramos das vítimas civis de todas
as idades, que em razão do bloqueio imposto pela nobre causa democrática,
também vieram a falecer no Iraque insubordinado, que se atreveu enfrentar o
mesmo exército. Nem remédios podiam ser adquiridos naquele país de areia e
petróleo.
Lembramos da tragédia militar imposta
ao povo da extinta Iugoslávia, massacrado pelas tropas da OTAN; do Afeganistão
ocupado há décadas por invasores que defendem a liberdade democrática dos
castigados nômades das montanhas, e das intermináveis guerras que se sucedem no
estratégico Chifre da África, para controle da rota comercial do Suez e Mar
Vermelho.
Lembramos de líderes que enfrentaram
a garras da mesma Águia poderosa, símbolo do majestoso império e foram
condenados por defenderem de forma ousada a liberdade de seus povos: Agostinho
Neto, Patrick Lomumba, Bem Bela, Nasser e SS. O XIV Dalai Lama, cujas preces e
orações não são ouvidas na Wall Street que se curva às dimensões econômicas
chinesas.
É lamentável que essas lembranças e
outras que não cabem no diminuto espaço, se dêem sempre com a presença armada
dos EEUU, através de seus fuzileiros e marines, com parceiros e aliados
mancomunados com o objetivo de controlar a humanidade através dos potentes
exosettes ou com vetos às cláusulas jurídicas em defesa do meio ambiente, ou incentivos
fiscais que violam pactos comerciais ou indecentes elevações dos juros
aplicados às dívidas de povos miseráveis e famintos.
Lamentamos profundamente a dor de um
povo que não sabe o que é a guerra no solo da própria nação. Um povo que,
envolvido em conflitos militares, se fez presente na Europa, na Ásia, na
América Latina, porém nunca sofrera no seu território, hermeticamente fechado
com radares, mísseis e um muro de fios elétricos junto aos limites que o separa
do México, qualquer ameaça a tão imponente e soberbo império.
Lamentamos principalmente pelas
vítimas das torturas que ditadores truculentos latino-americanos impuseram aos
seus opositores, seguindo regras que aprenderam na Escola das Américas,
pomposamente erguida na cidade do Panamá, com instrutores norte-americanos
lecionando o terror. Lamentamos bastante a morte de patrícios brasileiros,
residentes em Manhattan, por carecerem de empregos na saudosa terra brasilis ou
por terem ingenuamente sido ludibriados pelas mensagens subliminares produzidas
pelos quatro cantos da Broadway e pelas telinhas sem vergonha da Globo e demais
agentes midiáticos do Tio Sam infiltrados escancaradamente nas escolas de todos
os níveis, nos shoppings e repartições governamentais.
Lamentamos bastante a humilhação do soberbo
povo norte americano, que viu suas defesas violadas e o maior símbolo da
globalização do capital ser destruído em poucos minutos por aviões
aparentemente inofensivos, como outrora inofensiva fora a Aliança para o
Progresso e as Igrejas idealizadas pelo Departamento de Estado que destruíram
com cânticos e palmas as Comunidades Eclesiais de Base do Venerável Dom Helder
Câmara e toda a prática da Teologia da Libertação.
Lamentamos profundamente tanta
violência. Lamentamos e choramos a saudades dos civis que pereceram na guerra
do Golfo e ainda perecem nas intermináveis filas do INSS desestruturado por
carecer de recursos financeiros desviados para fomentar o enxugamento do Estado
neoliberal que os EEUU idealizaram.
Lamentamos profundamente que a
violência haverá de prevalecer enquanto não for alterada a política neocolonial
imperialista que através da publicidade de massa e do controle financeiro
exaure todas as riquezas dos povos, especialmente culturais.
Enfim, por oportuno, lembramos que 11
de setembro é a data memorável e que deve ser rememorada sempre, pois simboliza
a truculência ianque. Não se poderá jamais esquecer que o Chile, o país que
integra a ALCA e está em crise notável, foi bombardeado pela aviação
subordinada aos ditames das multinacionais do Cobre e Salvador Allende,
legítimo presidente democraticamente eleito foi cruelmente assassinado no
palácio de La Moneda, abrindo as portas para a longa e infame ditadura do
corrupto Pinochet, braço dos elevados interesses dos empresários norte.
O orgulho da Nação mais poderosa do
planeta, quebrada pelos desmandos neoliberais do século XXI segue o curso
natural da história.
Para encerrar, a data é um bom motivo
para que os brasileiros de mãos dadas dêem um brinde à pátria do Pré Sal e ao
visionário José Bento Monteiro Lobato, que contrariando interesses da Standard
Oil foi perseguido, preso e exilado.
Roberto J. Pugliese
Roberto J. Pugliese
( publicado em 12 de setembro de
2011 – Adjori )
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