O pagé Kunue Kalapalo chegou de madrugada de sua aldeia, no
Xingu, para apoiar a manifestação contra a derrubada do antigo museu, onde o
marechal Cândido Rondon iniciou o Serviço de Proteção ao Índio. “Nós estamos
preocupados. Há muitos anos, meu avô esteve nesse prédio para conversar com o
marechal Rondon, que usava o local para receber os índios. Eu era pequeno nessa
época. Precisamos manter o prédio, porque é um ponto de referência para nossa
cultura”, disse o pagé.
O cacique Carlos Tukano, que ocupa o prédio com outros 35 índios,
disse que a situação é dramática porque o governo do estado acaba de lançar o
edital para a demolição do imóvel. Para evitar que isso aconteça, foram
chamados índios de vários estados para ocupar o espaço. “Fizemos uma convocação
e estão chegando índios do Espírito Santo, de Mato Grosso, de São Paulo e do
Rio Grande do Sul. Ninguém vai arredar o pé. Vamos resistir até o final”,
garantiu o cacique.
A manifestação deste sábado foi organizada pelos Comitês
Populares da Copa em quatro cidades, além do Rio: São Paulo, Distrito Federal,
Natal e Curitiba. No Rio, um dos integrantes do comitê, Gustavo Mehl, explicou
o motivo do protesto. “Temos um processo de privatização do Maracanã, um
complexo esportivo no qual foi investido R$ 1,5 bilhão desde 1999. Isso é um
desrespeito com o nosso dinheiro e com a coisa pública”, disse Mehl, contrário
ao processo de privatização lançado pelo governo do estado em outubro deste
ano, que vai conceder o estádio à iniciativa privada por 35 anos, em troca do
recebimento de R$ 7 milhões anuais. A reforma do estádio para a Copa 2014 está
orçada em quase R$ 900 milhões em recursos públicos.
Outro efeito das obras do Maracanã é o desalojamento de 350
estudantes da escola Friedenreich, que funciona ao lado do estádio. Pais de
alunos participaram do protesto. “A escola está ali há 50 anos, passamos por
vários eventos e nunca tivemos problema algum. Jogar esta escola no chão é
demolir um projeto pedagógico que a transformou na 10ª melhor escola pública do
Brasil, no segmento educação básica, e a quarta melhor do Rio de Janeiro”,
protestou Carlos Sandes, que tem uma filha na escola.
O Ministério Público Estadual ingressou na Justiça, em 21 de
novembro, com uma Ação Civil Pública contra o governo do estado e a prefeitura,
pedindo a preservação da escola e impondo multa diária de R$ 5 mil, caso seja
impedida a matrícula dos alunos. O governo do Rio alega que as alterações e
demolições são necessárias para adequar o Maracanã às exigências da Federação
Internacional de Futebol (Fifa) para a Copa 2014.
O Expresso Vida lamenta que em nome da Copa do Mundo de 2014, o
Brasil está se curvando a exigências absurdas, modificando legislações e
investindo dinheiro público em obras que serão esquecidas após o evento e
servindo de bandalheira oficializada.
Lamentável o desgoverno federal, estadual, municipal, distrital
e do quarteirão...
Roberto J. Pugliese
Autor de Direito das Coisas, Leud.
( Fonte: Correio do
Brasil )
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