“A
Festa no céu e na terra “
O Chefe Supremo dera
autorização. A data era especial. Foram liberados. Cícero, o velho tabelião
deixara a portaria, onde trabalha como ajudante promovendo assentos e
registros, para poder se fazer presente. Justificou que o grande estádio fora
idéia sua.
Pedro, o seu chefe imediato,
também iria. Estavam autorizados a fechar a portaria. Fora convidado por Paulo,
o verdadeiro dono do espetáculo, que chamou Bento, que vive em Sorocaba e Caetano
do ABC e José do Vale do Paraíba. Todos
iriam dar uma força.
- Afinal, são 4 anos...
Quanto mais santos presentes melhor, exclamou o próprio Paulo, bastante
excitado com a decisão.
Jorge, no seu cavalo branco e
a mania de matar dragão, também convidado, se desculpou. Não poderia ir. Estava
atarefado com as pendengas a enfrentar no Japão. Depois teria que voltar à face oculta da lua.
- Coisas do Chefe Supremo que
me designou guardião daquele deserto cheio de crateras. Fazer o que?
Os Ilustres convivas iam se acomodando. Vinham de longe, mas valia
o sacrifício, pois a festa prometia.
Jurandir, Feola e Toninho Guerreiro
foram uns dos organizadores.
Da estrela que ilumina o
Maranhão, Canhoteiro seu antigo morador, foi o primeiro a chegar. De Poços de
Caldas veio Mauro, o elegante capitão.
Chicão veio de Piracicaba. Trouxe pamonha para uns e outros que gostam e sempre
pedem...
- Em Piracicaba a cana é uma
delicia...mas não podemos. Aqui é proibido.
O salão era só alegria e boas
recordações. Histórias interessantes eram contadas. Tele Santana, empolgado,
revelava confiança no preparador técnico. Comentou sobre o tempo que esteve por lá.Lembrou
até do Expressinho. Gino apostava cinco a zero. Comedido, Adhemar Ferreira da
Silva, assinalava que estaria satisfeito com o resultado mínimo, suficiente
para o título.
A roda dos cartolas, regada
com o malte escocês e acepipes dos Caucasos,
mostrava-se bem confiante: Estavão Sangirahdi de fraque relembrava a época do inovador Show
de Rádio, e imitava o sui generis
Didu, sempre feliz. Machado de Carvalho,
o grande marechal de 58, animado, comentava a chegada prematura do inigualável
Roberto Dias.
Manoel Raimundo Paes de
Almeida num canto conversava com o General Porifírio da Paz, que cantarolava o
hino que escrevera junto com Ratinho e
Roberto Gomes Pedrosa, incentivando a todos cantarem...
Kid Jofre na porta do
camarote principal junto com Abella, Sastre, Poy, discutem com King,
animadamente o desempenho do capitão da equipe.
Zizinho, Rui, Noronha e Bauer, ao lado, assinalam preocupação com a
ausência do Fabuloso...
De repente, surge o Diamante
Negro: Leônidas da Silva adentra animando todos, revelando confiança no balanço
e na ginga que o centro avante escalado para o jogo imporá aos seus
marcadores...
E pouco a pouco os chegantes
vão ocupando todos os lugares.
Inicia a partida: Fixos no
telão, atentos ao jogo uns nervosos permanecem de pé: Friaça, Piragibe
Nogueira... curvam seus corpos a medida que a bola é lançada, acompanhando a
trajetória como se fossem a própria. Outros indisfarçavelmente apreensivos,
mesmo acomodados nas poltronas estrategicamente dispostas, permanecem calados.
Monsenhor Bastos aproveitando
a ausência do Chefe fala mal do bandeirinha, num lance duvidoso que interrompeu
a jogada do ataque. Teixeirinha e Pardal lamentam o equivoco.
- Esse ladrão não entra aqui
!(... )Exclama Pé de Valsa irritado, olhando para os responsáveis da portaria.
O jogo prossegue e num lance
memorável surge o primeiro gol do tricolor do Morumbi. O clube da fé não
decepciona seus milhões de torcedores. Depois vem o segundo e a torcida aguarda
o terceiro.
Bafafa generalizado... violência
e o anti futebol. Fim de jogo.São Paulo campeão
da Copa Sul americana... e todos
festejam, inclusive, o Chefe Supremo, que é brasileiro e, mesmo disfarçando-se
na Sua camisola branca e barbas prateadas que encobrem suas emoções,
revela-se torcedor do clube mais querido
da cidade.
Do fundo do salão, em coro
todos escutam: - Viva o São Paulo Futebol Clube! Um amontoado de torcedores segurando bandeiras
e vestidos à caráter começam a cantar. São apaixonados recém chegados: Benedicto
Pedroso, Arlindo Fuim, Pugliese Jr, Pedro de Castro, todos do 22º cartório de
São Paulo; Edgar Jacy Teixeira, Mauricio Xavier e Ernesto Matheus, que vieram
de Cananéia; Décio Monteiro Garcia, Gilberto Rocha Azevedo e Palú, que se
conheceram na saudosa Conceição de Itanhaém e outros irreconhecíveis, quase
anônimos que também estavam de saída...
- fuzarca total, exclamaram Silvio
e Carlos Francisco, primos que se
encontraram por lá, encerrando a noite de festa no céu.
Roberto J. Pugliese
www.pugliesegomes.com.brMEMBRO DA ACADEMIA ITANHAENSE DE LETRAS -
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