Não
posso me calar diante de fatos que se repetem. Morreu um grande jornalista,
ícone da profissão no país, que se mantendo coerente ao longo da vida, fez
brilhar mais uma vez o nome de São Paulo fora das fronteiras brasileiras.
Rui Mesquita, um dos proprietários e diretor do grupo O Estado de São Paulo, que edita há mais de cem anos o jornal que leva o mesmo nome, não foi lembrado pelas vozes da esquerda brasileira. Mas foi homenageado por intelectuais, políticos, estadistas, personalidades do Brasil, das Américas e do mundo.
O
silencio dos que estão sempre clamando por democracia, justiça social, direitos
humanos, nacionalismo... E tantas reivindicações revela que, não são isentos e
tão justos, democráticos, defensores da imprensa livre e tantas outras
qualificações que se auto denominam como se conclama.
O
extinto homem da imprensa sempre se revelou conservador, democrático e defensor
do Estado nacional, da livre iniciativa, dos direitos humanos e outros motes,
sem se curvar à opinião pública contrária e mais ativa e sem preconceitos.
Sempre
foi coerente nas suas ações, como coerente, sempre foi o jornalzão de sua família. Alías, por gerações seguidas, a família
Mesquita tem revelado intransigência com relação a ditaduras e a benesses do
Poder Público, sendo tradicionalmente combativa e crítica, fiscalizando os
agentes, desde escriturários anônimos de pequenas prefeituras, até estadistas
brasileiros e de outros países. Inclusive fardados.
A história é testemunha:
Alguns
exemplos dessa postura se notabilizaram. Os Mesquitas tiveram seu jornal
invadido e sob intervenção por alguns anos durante a ditadura do cautilho
gaucho Vargas.
Durante anos
que o ditador mandou e desmandou o jornal, a despeito de dificuldades inerentes
ao regime de exceção, denunciou as masmorras do truculento Felinto Muller,
chefe de polícia do gorducho do sul e os cambalachos corruptos dos porões do
Catete.
Não se calou.
Noutros
tempos, novamente foram combativos.
Os Mesquitas
adversários do governo Jango, se posicionaram favorável a sua queda, mas em
pouco menos de um ano, o jornal da familia foi o arauto de oposição clara aos
ditadores que se instalaram e ficaram.
As receitas
de bolo e poesias de Camões mostraram ao mundo a censura.
O boicote
publicitário oficial quase levou à quebra do baluarte que através da caneta
enfrentou baionetas, apoiando a Cúria administrada por Don Paulo Evaristo Arns,
o notabilíssimo Cardeal Arcebispo de São Paulo, sem receio de desagradar as botinas
sujas de sangue provocado pela tortura e violência.
Do mesmo modo
denunciou a corrupção que se implantou no país amordaçado pelos milicos.
Comissões, nomeações e favores políticos às marionetes da Arena, então o
partido político governista.
Esse jornal
sobreviveu com dignidade. Mostrou que seus proprietários se revelam fortes e
coerentes e que, igual ao aço, pode quebrar, mas não se curva, dignificando a
condição tradicional estirpe paulista que sabem honrar.
Nesses dois
períodos lembrados, outros órgãos de imprensa, agiram de modo distinto. O
concorrente paulista alude-se à boca pequena sua participação a atos de apoio
aos donos do poder. A Folha de São Paulo se não apoiou os ditadores, não os
enfrentou. Foi acanhada.
No Rio de
Janeiro, o grupo do colega Marinho, deu um salto. Ganhou estações de TV e se
tornou o grande arauto da ditadura, durante os intermináveis anos de chumbo.
Boicotou movimentos populares e teve ajuda técnica e financeira descarada do
Grupo Time Life, ignorando, sob a vigia cega da farda, a legislação vigente.
E a família
Brito, nesse tempo, também da cidade maravilhosa, manteve-se com o elegante
Jornal do Brasil, muda. Nem cá, nem lá.Apenas aproveitou o tempo de vacas
gordas para reformar o belo prédio de sua sede nas proximidades do canal do
mangue, junto a Rodoviária Novo Rio.
Mas o Estadão, como é carinhosamente
conhecido, do Dr. Rui, do Dr. Júlio pai, do Dr. Júlio Filho e Dr. Júlio Neto, dos
tradicionais Vieiras de Carvalho e todos os aristocráticos representantes do
poder de liderança paulista, foi um bastião de denuncias e quase fechou.
Quase fechou
pelo boicote imposto pelos generais que impediram publicidade tal qual os EEUU
bloqueiam desde 1959 Cuba. Os bancos oficiais negaram crédito, mas mesmo com
toda dificuldade, os Mesquitas, não cederam.
Agora faleceu
também Roberto Civita, um dos proprietários da Editora Abril. O que dizer?
Nada: Basta lembrar que o pulo econômico e a visibilidade dos títulos editados
pela Abril, desde a Realidade, passando
pela Veja, Exame, Pato Donald, Playboy etc e tal, aconteceu no período mais violento
e triste da história do país. Coincidência bem distinta dos que mantiveram EX LIBERIS sempre empunhando a bandeira
coerente da democracia. O Expresso Vida, ainda que discorde em muitas posições do grande jornal brasileiro e dos veículos de comunicações da família Mesquita, não se intimida em publicamente registrar que o tem como um órgão firme e coerente da grande imprensa livre e independente.
Um grande exemplo da grandeza do povo paulista, que não é conduzido, conduz.
Pêsames aos familiares de Rui Mesquita. Pêsames à imprensa brasileira.
E para não dizer que não falei de flores, pêsames extensivos também à família Civita.
Nossas homenagens póstumas. Modestas e sinceras.
Roberto J. Pugliese
www.pugliesegomes.com.brpresidente da Comissão de Direito Notarial e Registros Públicos –OAB-Sc
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