Memória 8
Memória – Pixoxó
Corria o final do trágico ano de
2006. O seu pai falecera em Dezembro, antes fora sua tia, irmã do pai e agora
era o viúvo, o tio Maneco que ia.
Estava terminando o ano que fora
cheio de tragédias. Muitas que abalaram a ele e sua família. De bom fôra o
casamento de seu filho.
Tinham ido passar o natal em São
Paulo e resolveram estourar 2007 na praia do Una em Peruíbe. Foram sem marcar
hotel e conseguiram uma pousadinha simples perdida numa das vielas do lugar.
Próximo à praia, mas longe do buchicho. Não queriam barulho ou muita confusão.
Iam para curtir o final do ano.
Tomar banho de mar e de piscina. Só os dois.
Certa tarde, não se recorda se
ainda em 2006 ou já em 2007, deitados, ouviram o vizinho ao lado, hospede recém
casado em segundas núpcias, com aproximadamente a sua idade, talvez um pouco
mais velho, que falando ao telefone, gritava e se expandia, de forma que podia
bem ouvir o que se dava ao lado.
- Pois é Pixoxó...
E o papo ia as alturas. Pixoxó
para lá. Pixoxó para cá e ele deitado ouvia freqüentemente o vizinho referir-se
a quem estava na linha pelo nome ou apelido: Pixoxó.
Lembrou-se que no tempo de
criança, a Chiquita, doméstica da tia de seu recém finado pai, que morava em S.
Paulo, à rua Maestro Cardim, próximo ao Hospital Beneficência Portuguesa, tinha
um filho que, era um dos motoristas da fábrica dos patrões cujo apelido era
Pixoxo.
A indústria, já tradicional no
Brasil, era uma das três únicas existentes até então, que produzia mesas e
utensílios referentes a jogos de bilhar. Fabricava mesas de jogos de bilhares.
Situada também à Rua Maestro Cardin, esquina com a Rua Pedroso, junto ao
matagal que posteriormente deu origem a Avenida 23 de Maio, então projetada
como Avenida Itororó, sobre o córrego do
mesmo nome, tributário do Anhangabaú, fomentador das tradicionais
enchentes do vale que também leva esse nome.
Pois o filho da Chiquita, então
uma velhinha cega de um dos olhos, tinha esse nome: Pixoxó. Esse quadro se
refere aos seus 4 ou 5 anos de idade, nos idos longínquos de 1955 ou
menos...Lembra-se bem.
Depois nunca mais ouviu falar da
Chiquita, da tia Gracia, a patroa e outros primos do seu pai. Mas guardara o
nome, pois o rapaz atencioso lhe agradava e ficara na memória.
Meses antes de seu pai falecer
também vira um conjunto musical num programa qualquer da televisão, que entre
os músicos, havia um senhor, com o apelido Pixoxó. Chegou a falar para seu pai,
visto que a aparência, pela idade, poderia ser o mesmo filho da Chiquita.
Assim ao levantar da cesta que
terminará com os berros do vizinho em sua conversa com o tal de Pixoxó foi indagar
quem se tratava a pessoa que estava do outro lado da linha.
Por longos e longos anos, nunca
ouvira alguém chamar-se ou ser chamado por tal apelido, motivo que ao assistir
o conjunto musical e ouvir agora o dito apelido, pensou tratar-se da mesma
pessoa. Pensou tratar-se do filho da velha e saudosa Chiquita, doméstica que
trabalhara para a tia Grácia.
Frustração total: Pixoxó era um
jovem, de pouca idade, que morava na Praia Grande, cidade do vizinho, pessoa
bem distante de ter condições de ser o
mesmo filho da Chiquita.
Conclusão: Daquela data em
diante, sempre que escuta alguém, quando está em lugar público, como, por
exemplo, no restaurante ou na rua, numa
loja ou pelo rabo do ouvido, sua mulher que fora testemunha do que ocorrera com
o aludido vizinho de apartamento na pousadinha do Una, refere-se a situação com
o código PIXOXÒ, verbalizando uma criação lingüística no gerúndio:
- Pixoxando !
Um neologismo válido e bem
compreendido pelo casal. Somente pelo casal.
Hoje, 25 de Maio de 2013, no
centro de Florianópolis, ele ainda teve a surpresa de ver uma barraca, próximo
ao mercado municipal, denominada Pixoxó,
nome de um pássaro falante...
Roberto J. Pugliese
www.pugliesegomes.com.brmembro da ACADEMIA ITANHAENSE DE LETRAS
membro da ACADEMIA ELDORADENSE DE LETRAS
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