Memória 9
CIRCULO MILITAR
Eram os anos de chumbo. Nos
seus vinte anos de idade na condição de
dependente de seu pai, junto com seus irmãos, freqüentava o Circulo
Militar de São Paulo.
Tinha amigos. Jogava tênis.
Fazia sauna. Aos domingos tinha a concorrida domingueira. Enfim, um clube
social, à Rua Abílio Soares, próximo a Assembléia Legislativa, no Parque
Ibirapuera.
Residia com a família à Rua
Manoel da Nóbrega, distante apenas alguns quarteirões do clube. Na redondeza
tinha muitos amigos.
Àquele tempo, ser barbudo era
sinônimo de comunista e ser comunista era ser contra a Revolução que os
golpistas do poder impunham à vontade do povo.
O clube através de sua
diretoria determinou ser proibido freqüentá-lo se fosse barbudo e ele tinha
longas barbas, como até hoje as tem. Eram escuras, com alguns fios ruivos.
Atualmente são brancas, com alguns fios que permanecem ainda escuros.
Reunido com amigos sócios do
clube, resolveram enviar carta a direção, pedindo que a medida fosse revogada.
Entre outros argumentos, falaram de militares, cujos bustos estavam expostos no
clube e eram barbudos. Falaram de Jesus e da importância de estarem presente no
clube e não vagando, nas horas de lazer, pelos bares etc.
Não adiantou. A carta foi mal
recebida. Seu pai foi chamado. Não deu bola. Apenas comunicou que dera educação
ao filho e que ele sabia o que estava fazendo. Um procedimento administrativo
foi instaurado. Foi suspenso preventivamente.
Durante o período, ficou com
medo. Mas enfrentou. Num determinado sábado, haveria o interrogatório: Um
advogado e diretores membros da Comissão Processante... e o resultado esperado
foi assinalado: EXPULSO.
O Gal. Cláudio presidente
expulsara pela insolência de rebater sua determinação com argumentos. Atitude
própria de general frustrado.
Certa tarde estava na casa de
um de seus amigos e uma senhora foi visitar a dona da casa. Como estavam
ocupados, ele fez as vezes de dono da casa enquanto aguardavam a verdadeira
dona, mãe do amigo.
Soube depois que a senhora o
elogiara pela a educação e boa conversa e que ouviu da dona da casa que o
marido dela, o referido Gal. Cláudio o havia expulsado, em razão da barba...
Mas logo, haveria eleições no
clube. O candidato da oposição era o Almirante que residia nas imediações.
Junto com alguns amigos foi a sua casa e explicou que fora expulso, que iria
fazer campanha para ele e gostaria que se fosse vencedor revisse o processo. Se
achasse injusta a expulsão então anulasse ou então mantivesse a expulsão...
Durante uns 30 ou 40 dias,
andou de casa em casa nas imediações pedindo votos ao Almirante e o veredicto
das urnas foi vitória da oposição. Gal. Cláudio perdeu.
Posse do Almirante e depois
de alguns dias, lembrado, determinou fosse revisto o processo. Passado uns 60
dias, seu pai recebeu uma comunicação que o filho estava sendo readmitido,
visto que a expulsão fora decretada nula.
Feliz, escreveu outra carta e
protocolou no clube. Nela dizia que estava se excluindo do clube, visto que era
uma associação autoritária e não iria permanecer ali como sócio...
Essa passagem está bem viva
em sua memória.
Roberto J. Pugliese
www.pugliesegomes.com.brmembro da ACADEMIA ITANHAENSE DE LETRAS
membro da ACADEMIA ELDORADENSE DE LETRAS
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