14 dezembro 2014

Médice cuidava dos prontuários dos que torturava. -


 


 

Brasil esconde a verdadeira história.

São poucos os anos que o país viveu em regime menos rigoroso. Fomos Colonia, Reino Unido e o primeiro Império quando a democracia engatinhou e não funcionou plenamente. No segundo Império a maior parte dos longos anos de Don Pedro II foram de guerras e insurreições que impediram a plena vigência democrática. Havia também a sombra da escravidão. Com a República a maior parte da sua história o país foi submetido oficialmente à ditaduras reconhecidas, como Vargas e os militares e a períodos constantes e repetidos de suspensão de direitos civis na forma prevista em mecanismos políticos e jurídicos.

Mas a ditadura mais cruel talvez tenha sido a última, comandada pelos norte-americanos que manobraram as fardas brasileiras submetidas ao entreguismo e a violência que apreenderam na Escola das Américas no Panamá.

Agora muitas verdades até então ocultas estão surgindo.

A Comissão da Verdade aponta ter encontrado prontuários médicos de presos políticos no arquivo do ex ditador Médice.

As histórias de crueldade praticadas durante o período de sua administração como representante de interesses dos EEUU  são inúmeras.

Vale transcrever o texto:

“ Durante décadas a cúpula do governo militar negou a prática de tortura contra presos políticos na ditadura. Não importavam as denúncias das famílias, as marcas ou sequelas das vítimas. Quase 30 anos após o fim do regime, surgem agora as primeiras provas documentais de que no auge da repressão política — 1970 — o próprio general e então presidente da República Emílio Garrastazu Médici sabia em detalhes sobre a violência dos quartéis e suas consequências físicas e psicológicas.aderno onde guardava os relatos das

Médici guardou até a morte, em meio a 32 caixas de manuscritos, um caderno de capa de couro preta com o nome do ex-presidente timbrado em letras douradas na frente. Dentro, a revelação: três prontuários médicos de presas políticas atendidas no Hospital Central do Exército (HCE). São elas: Dalva Bonet,Francisca Abigail Paranhos, além dos documentos de Vera Sílvia Magalhães — conhecida por sua participação no sequestro do embaixador americano Charles Elbrick.

O arquivo pessoal de Médici, doado pela família há 10 anos, integra o acervo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) e foi disponibilizado para pesquisa da Comissão da Verdade do Rio, que localizou os prontuários. “Quanto mais temos acesso aos documentos, confirmamos que a cadeia de comando das torturas e desaparecimentos começava no Palácio do Planalto”, afirma Wadih Damous, presidente da CEV-Rio. Cópias dos documentos serão entregues às famílias em audiência pública na próxima terça-feira.a, ao deixar o país, foi carregada por Cid Benjamin

Foto:  Reprodução

O prontuário de Vera Sílvia detalha cada medicamento utilizado por ela durante os dois períodos de internação registrados. Presa em 6 de março de 1970, ela chegou pela primeira vez ao HCE transferida do Hospital Souza Aguiar no dia seguinte devido a um “traumatismo craniano encefálico por projétil de arma de fogo”. Tratada na unidade, ela foi liberada dias depois para interrogatório no DOI-Codi.

Em 18 de maio foi internada novamente, e a descrição do quadro dá a medida do sofrimento de Vera. “Paciente acentuadamente desnutrida, subfebril. O exame neurológico acusa sensível diminuição da força muscular nos membros inferiores...há acentuada hipertrofia muscular nos membros inferiores”, registra o prontuário. O diagnóstico, porém, foi de que ela estava com uma paralisia nas pernas devido a razões psicológicas.

O médico legista Levi Inima, que auxilia a pesquisa da CEV-Rio, disse que a avaliação é “falsa”. “As alterações em termos de hipotrofia muscular demonstram a tortura em pau de arara. Ela estava bastante desnutrida, o que mostra os maus-tratos”, explicou. Vera deixou o Brasil em junho de 1970, trocada pelo embaixador alemão. Ela retornou após a anistia e morreu devido a um câncer em 2007.
Choque elétrico provocou crises convulsivas
Ao saber que seu prontuário médico fazia parte do arquivo pessoal do presidente Médici, a tradutora Maria Dalva Bonet, 68 anos, olha para alto e respira fundo. “Vou precisar de um tempo para poder falar sobre isso. É inacreditável”, desabafa Dalva.

Militante do Partido Comunista Revolucionário Brasileiro (PCBR), ela diz que foi presa no fim de janeiro de 1970 junto com a amiga inseparável, Abigail. “Foram 72 horas de pancadaria. Eu estava com a pele toda descascada do choque e me jogaram no chão de cimento. Foi quando eu comecei a ter hemorragia. Os presos pressionaram e eles me levaram para o HCE”, conta Dalva.

Ela diz que ficou cinco meses sem andar devido à tortura no pau de arara. Além disso, os choques desenvolveram um quadro de epilepsia. Por isso, como o próprio prontuário encontrado registra, foram realizados exames neurológicos. “Eles queriam dizer que as convulsões que eu passei a ter eram preexistentes. Mas eu nunca tive nada”, diz ela. Dalva disse que sofreu com crises convulsivas durante 10 anos.

Segundo o diagnóstico feito no HCE, a paralisia de suas pernas também seria emocional — como a de Vera.“Não apresenta vontade de locomover-se; procura queixar-se de tudo e de todos; é impertinente e astuciosa. Costuma ser acometida por pesadelos”, descreve o documento.a Bonet ficou cinco meses sem conseguir andar devido à tortura no pau de arara. Ela ta

O médico legista Levi Inima também chamou a atenção para a quantidade de tranquilizantes, ansiolíticos e sedativos como Mandrix e Kiatrium ministrados. “ É uma associação de vários medicamentos. Isso tudo faz parte de um cenário médico exatamente para suprimir a questão da tortura”, explica Inima.

'Não deseja recuperar-se'
A advogada Francisca Abigail Paranhos também teve a sua passagem pelo Hospital Central do Exército guardada por Médici. No relatório que segue com o prontuário ela é descrita como “indiciada em inquérito policial-militar pelos crimes praticados como membro do PCBR, alegou paralisação dos membros inferiores”.
Além disso, o diagnóstico diz que Abigail, como era conhecida, não ajudava na melhora de seu quadro de saúde. “Os exames revelaram que Abigail é portadora de depressão neurótica, que não deseja recuperar-se não colaborando para o sucesso do tratamento que lhe é ministrado”, finaliza o relatório.
Dalva diz que elas deixaram a prisão cerca de um ano e meio depois. Abigail morreu de câncer em 1994.
( Julinana Del Piva -
Erli Camargo Conselho Nacional do MNDH
)

O Expresso Vida aplaude o trabalho exaustivo da Comissão da Verdade e por oportuno repudia às manifestações populares que são favoráveis ao retorno do período ditatorial.

 

Lamentável o pensamento conservador e retrógado de alguns brasileiros desinformados.

 

Roberto J. Pugliese
 
Autor de Terrenos de Marinha e seus Acrescidos, 2009 – Letras Jurídicas.

( FOTOS DO SÍTIO ELETRONICO DE O Globo )

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