Memória nº 115
ABÍLIO PEREIRA DE ALMEIDA.
Começou
a investir no Vale do Ribeira por ter vislumbrado grandes possibilidades de
progresso pois era, como ainda hoje é, a região mais carente do solo paulista.
Comprou
uma fazenda situada no bairro do Serrote, em Registro, onde plantava chá e
abacaxi. Depois montou um escritório imobiliário em Miracatu e em Iguape loteou
duas áreas no bairro do Rocio, próximo ao campo de pouso.
Quando
trabalhava no cartório focou clientes que investiam em loteamentos na Ilha
Comprida, então parte pertencente a Iguape e parte à Cananéia. Chegou a ter mais
de vinte loteadores que lavravam as escrituras de venda de seus lotes com ele.
Cada loteamento tinha em média quatro ou cinco mil lotes.
Em
Cananéia chegou a comprar e vender alguns terrenos e investiu bastante no
exercício da advocacia, morando na cidade
por dois anos, porém mesmo longe, desde que mudou-se de lá, sem se
desvincular de suas relações com a cidade, sempre se manteve próximo à cidade.
Certa
vez, ainda residente na cidade de São Paulo, soube que determinada área,
abandonada, com grande extensão de terras coberta por mata primária originária,
situada junto à Serra do Mar, no sul de Cananéia, pertencia a um senhor que a
adquirira e há boa data não ia visitá-la. Boa parte invadida e que poderia ser
negociada.
Com
cautela e muita pesquisa conseguiu o endereço do proprietário e determinada
noite, com hora marcada foi ao seu encontro. Um apartamento situado num prédio
antigo, mal tratado, nas imediações da Praça 14 Bis, numa ladeira em direção à Rua
Augusta. Um apartamento modesto num edifício igualmente modesto, num bairro boêmio.
Foi
encontrar-se com Abílio Pereira de Almeida, então já um velhinho bem decadente
revelando-se no final de sua vida, com saúde aparentemente debilitada e mostrando-se
empobrecido.
Não
sabia que estava na residência de um dos maiores destaques do cinema e do
teatro brasileiro, e que ao longo da primeira metade do século XX havia
contribuído sobremaneira para a cultura das artes cênicas brasileiras e na
formação desse segmento artístico em São Paulo.
Não
sabia que fora um dos atores do filme O
Caiçara, que também era dramaturgo de grande projeção e também fizera parte
do tradicional TBC – Teatro Brasileiro de Comédia.
Desconhecia
o ilustre anfitrião e limitou-se a falar de negócios envolvendo o imóvel em
Cananéia. Não houve acerto e por sua ignorância cultural se quer pediu um
valoroso autografo do teatrólogo de grande projeção que era e foi Abílio
Pereira de Almeida.
Pouco
tempo depois, em 1977 veio a falecer e o noticiário envolvendo o óbito trouxe à
Lourenço a biografia do extinto.
Lourenço
lamenta profundamente que esteve junto e próximo do grande artista e não soube
avaliar a grandeza de quem o recebera.
Roberto J. Pugliese
Autor
de Direito das Coisas, Leud -2005.
Nenhum comentário:
Postar um comentário