Sindicato omisso
prejudica jornalistas.
O Expresso Vida lamenta a
omissão do Sindicato dos Jornalistas
de Santa Catarina que não torna público as falcatruas objeto de
inúmeros inquéritos promovidos por incontáveis órgãos que buscam demonstrar
crimes praticados pela RBS – Rede Brasil Sul de Comunicação, com sede no Rio
Grande do Sul e atuação em Santa Catarina.
O texto muito bem elaborado
pela Elaine Tavares é transcrito e merece leitura e reflexão.
“ A RBS e o drama dos trabalhadores
Causa
profundo constrangimento abrir a página do Sindicato dos Jornalistas de Santa
Catarina e não ver uma única linha sobre a Operação Zelotes, que investiga o
sumiço de débitos tributários, um desfalque homérico aos cofres públicos no
qual está envolvida a mais importante rede de comunicação do estado: a RBS,
afiliada da Globo. Há suspeitas de que a empresa dos Sirotsky tenha pago cerca
de 15 milhões de reais para que desaparecesse um débito seu com o Estado que
pode passar dos 150 milhões de reais. É dinheiro demais da conta. Quem explica
isso? E por que o sindicato dos jornalistas não abre a sua boca?
Lembro que
durante a gestão do Rubens Lunge foi feito um importante trabalho de denúncia
do oligopólio que é a RBS em Santa Catarina. Um trabalho difícil, na medida em
que contou com um sistemático boicote. Naqueles dias, um procurador do
Ministério Público Federal chegou a entrar com uma ação pedindo a investigação
do oligopólio (que tratava da compra de vários jornais no estado), mas ele foi
afastado da capital e as coisas esfriaram. Ainda assim, o Sindicato dos Jornalistas,
à época dirigido por Rubens Lunge, fez vários atos públicos no centro da
cidade, recolheu assinaturas para um abaixo-assinado, buscou apoio junto aos
demais sindicatos. Mas pouca ajuda veio e, finalizada a gestão, os novos
dirigentes não levaram adiante o trabalho de denúncia. O resultado foi que a
ação acabou julgada improcedente pelo juiz Diógenes Marcelino Teixeira, da
Terceira Vara Federal de Florianópolis. A justiça se rendendo ao oligopólio.
Agora, quando
as notícias fervilham por todo o estado e até nacionalmente, com a RBS
envolvida em corrupção – enquanto ela mesmo posa de vestal da moralidade
denunciando a corrupção alheia –, o que faz o nosso sindicato de jornalistas? O
mesmo que vê, todos os dias, trabalhadores sendo explorados e demitidos sem
justa causa por essa empresa? Nada! Nem mesmo um texto de informe. É mesmo a
morte do sindicalismo e da própria política nesse campo de luta. Será que os
dirigentes do SJSC não percebem o tamanho da bomba que vem por aí? Porque
certamente tudo isso vai explodir no lado fraco da corda, os trabalhadores.
Certamente haverá cortes, demissões, mais exploração. Esse é um tema que
deveria estar na pauta do dia. Lamentável.
Uma moral de cueca
E já que o
SJSC não faz seu trabalho, a gente ajuda. A Operação Zelotes tem uma
característica que escapa aos “moralistas” de plantão. Ela não envolve
políticos – os que são alvos fáceis e preferidos. Ela envolve o sacrossanto
setor empresarial. São os bonitinhos e engravatados executivos das empresas que
estão dando o calote no Estado brasileiro, deixando de pagar impostos. Não é só
a RBS envolvida, não. Estão sendo investigadas a Ford, a Mitsubishi, a BR
Foods, a Camargo Corrêa, a Light, a Petrobras e pasmem, também os bancos. Estão
na lista o Bradesco, o Santander, o Safra, o BankBoston e o Pactual. Segundo os
informes iniciais, essas empresas teriam deixado de pagar aos cofres públicos a
bagatela de 5,7 bilhões de reais. Eu disse bilhões.
Esse é um
escândalo que está sendo investigado pela Polícia Federal, a Receita Federal, o
Ministério Público Federal e a Corregedoria do Ministério da Fazenda. Por certo
haverá funcionários da Receita envolvidos, pois o esquema de sumiço dos débitos
se dava desde dentro, no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf),
mas é importante lembrar que não há corrompidos sem um corruptor. Há notícias
de que existam pessoas – lobistas – especializadas nesses esquemas de
contestação administrativa de débito e as empresas se utilizavam deles para
fazerem os débitos desaparecer do sistema.
Conforme as
investigações que estão sendo feitas desde 2013, dos 70 processos investigados
junto ao Carf, o total de tributos devidos chega a 19 bilhões de reais, sendo
que 5,7 comprovadamente foram “desaparecidos” de forma ilegal. Em alguns casos
já está acontecendo até a apreensão de bens, como carros de luxo importados.
Todas as empresas envolvidas responderão a inquérito administrativo aberto pelo
Ministério da Fazenda. A rede da Zelotes pegou gente demais. E o que é mais
incrível, gente que até ontem estava nas passeatas gritando contra a corrupção.
São os que têm, como popularmente chamamos, uma moral de cueca. Gritam contra
seus inimigos e não se preocupam com as travas que têm no próprio olho. Na
verdade, é uma gente que nada de braçada no mundo das finanças, certa da
impunidade.
Haverá choro e ranger de dentes
Assim, agora, junto com a operação Lava Jato,
que investiga o rombo na Petrobras e envolve PSDB e PT, as “renomadas” empresas
e bancos privados terão de prestar contas de seus malfeitos. Em Santa Catarina,
a RBS tem uma história de expansão vertiginosa. Em pouco tempo de ação no
estado foi aos poucos acabando com praticamente toda a imprensa regional.
Comprou o Santa, de Blumenau, e A Notícia, de Joinville, que eram
jornais de circulação estadual, e os transformou em tabloides locais sem que
houvesse qualquer chance do aparecimento de uma voz dissonante no estado. A RBS
passou a ser a única voz de circulação estadual a partir doDiário Catarinense. Não
bastasse isso, foi estendendo os tentáculos também na televisão e hoje abrange
todo o estado com emissoras em cidades-chave. É um oligopólio e oferece ao
estado um pensamento único, sempre ancorado nos interesses da classe dominante,
reservando aos sindicatos, movimentos sociais e lutas populares a alcunha de
baderneiros, bagunceiros e criminosos.
A comunicação
em Santa Catarina está sob o controle majoritário dessa empresa que, além de
não pagar os tributos corretamente, como agora se anuncia, ainda lucra sobre os
trabalhadores, no geral superexplorados. A multifunção é uma realidade
denunciada todos os dias, com trabalhadores tendo de cumprir jornadas
exaustivas, cumprindo funções de quatro ou cinco pessoas.
É fato que a
categoria dos jornalistas é de difícil abordagem e de pouca participação nas
lutas corporativas. No geral existe muito medo – e não é para menos quando se
vive num estado no qual praticamente todo o mercado de trabalho é dominado por
uma única empresa. Aquele que reclama ou que luta fica marcado e as pessoas
precisam ganhar a vida. Por isso o trabalho de um sindicato é importante.
Porque o sindicato pode falar, denunciar, mostrar. Um sindicato tem as
condições de atuar sem medo. Infelizmente não o faz. Nem mesmo agora, quando a
denúncia já circula em nível nacional.
É hora dos
jornalistas cobrarem ação, se juntarem, participarem da vida sindical. Nos
tempos difíceis que virão, não será fácil enfrentar sozinho. Haverá choro e
ranger de dentes, mas isso não acontecerá nas salas acarpetadas da empresa de
comunicação. Se a RBS tiver de devolver aos cofres o que tem sonegado, é na
carne dos trabalhadores que haverá o corte.
É hora de
pensar sobre o caso e começar a se mexer.”
Por oportuno, importante registrar que o mundo
contemporâneo perdeu
um grande humanista com o falecimento do uruguaio Eduardo
Galeano, jornalista que lutou durante toda a vida por um mundo melhor.
O Expresso Vida aproveita para manifestar desejo que todo
o
trabalho do saudoso Eduardo Galeano sirva de exemplo aos colegas brasileiros.
Roberto J.
Pugliese
( foi correspondente da
Agencia Estado – Itanhaém )
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