Memória nº 113
Acôrdo com a luz acesa -
Rubens então residente na
Reta, um bairro rural de São Francisco do Sul, recém conhecido de Lourenço foi
ao escritório para pedir alguma medida no sentido de que fosse ligada a luz de
sua casa. Contou que o vizinho e
senhorio por falta de pagamento de aluguel queria que o imóvel fosse desocupado
e após diversas tentativas resolveu de per
si e unilateralmente cortar a energia elétrica, deixando a família às
escuras.
Era final do ano e antes do
início de recesso e férias forenses, em menos de um dia providenciou medida
cautelar objetivando a re-ligação da energia, pleiteando fosse deferida de
plano a ordem, dada as circunstancias relatadas. O magistrado determinou
audiência de justificação, marcando a solenidade para poucos dias à frente, à
realizar-se numa sexta feira no início da tarde.
Iniciados os trabalhos, o
Juiz de Direito propôs acordo e ficou estabelecido que o senhorio ligaria a
energia elétrica e cliente, inquilino inadimplente, sairia do prédio em 30
dias. Acertado o pacto, o Magistrado pediu a confirmação da avença e ia iniciar
o ditado da sentença, quando foi interrompido por Lourenço, pedindo que o
acordo fosse firmado à noite, na residência, com a luz acesa.
Perplexo, o Juiz de Direito
questionou a razão que foi explicado pelo advogado e confirmado pelos
presentes. O Magistrado não houvera percebido, talvez pela leitura rápida das
peças processuais, o que na verdade acontecia. Enfurecido, suspendeu os
trabalhos e determinou:
- Quero a energia ligada até
as 18 horas de hoje. Caso contrário, peço que me avise, pois estarei no fórum
até as 19 horas, que tomarei diversas providencias, inclusive mandando os autos
para o Ministério Público para que verifique a prática de crime e proponha a
competente ação penal...
A advogada do senhorio tentou
explicar que já era o meio da tarde e que na sexta feira seria quase impossível
fazer uma equipe da concessionária de distribuição de eletricidade ir até o
local, situado na periferia da ilha, e ultimar as providencias necessárias para
cumprir a ordem.
Sem dar muita atenção ao
clamor expresso, apenas salientou que o senhorio deveria ter pensado antes da
prática do ato, mormente por ser uma família com duas crianças e que a decisão
estava tomada.
( ...)
A energia foi ligada ainda
naquela sexta feira e propiciou o início de uma amizade que se projetou por
anos entre aquela família e Lourenço.
Roberto J. Pugliese
Titular
da cadeira nº35 da Academia São José de Letras.
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