Conceição
de Itanhaém: 483 anos de idade.
Para uns trata-se da segunda
cidade fundada no Brasil. Outros apenas a inclui entre as cinco ou dez
primeiras, já que não há fonte precisa para determinar se realmente São Vicente
foi a primeira, ou São João Batista de Cananéia, São Francisco do Sul ou mesmo Angra dos
Reis...
Historiadores também
divergem, apontando Pedro Namorado como sendo o conquistador daquele sítio ameno tomado dos guaranis. Há, no entanto,
quem assevere que foram os castelhanos João Rodrigues e Antonio Soares, por
volta de 1549 que ali iniciaram a
povoação fincando a cruz no pé do outeiro.
Paulino de Almeida e Pedro
Taques, entre outros historiadores gabaritados, inclusive Frei Vicente do
Salvador, assinalam que o português Martim Afonso de Souza na sua passagem pelo
litoral da Capitania de São Vicente foi quem escolheu aquele despraiado formoso
à beira da última curva do rio que os bugres chamavam de ita nha y em, ou no vernáculo, pedra
que canta, e lá determinou fosse erguida a ermida no alto da penha em
louvor a Nossa Senhora da Imaculada Conceição, cedendo o sagrado nome para a
povoação.
O que importa é que 22 de
abril de 1532 é considerada a data oficial de fundação daquela que por seus
primados naturais e tantos encantos ao longo de seus 483 anos, tem acolhido prazerosamente
incontáveis turistas que a visitam o ano inteiro para gozar das praias e das
belezas que a circundam, desde o pé da Serra do Mar, no seio da Mata Atlântica,
até os grotões por onde serpenteiam seus rios, ribeirões, cachoeiras e lagos, passando por suas
encantadoras ilhas e ilhotas de seu tricotado litoral.
Apinhada o ano inteiro,
sempre soube receber os que a procuram para conhecer seus encantos e as
incontáveis relíquias de sua rica história que se confunde com a epopéia
paulista e brasileira. Ao longo desses séculos
tem recebido carinhosamente os anônimos turistas e igualmente migrantes
que para lá se dirigem estabelecendo seus domicílios. É sabido que Anita
Malfati, Antonio Volpi, Tarsila do Amaral, artistas plásticos e letrados, entre
os quais, Paulo Bonfim que empresta seu nome à biblioteca municipal, iguais a tantos,
também adotaram ali como seus principais domicílios.
Vale recordar que Hans Staden
também marcou sua passagem e estadia
pela Vila, como outros ilustres personagens que se deixaram envolver pela
cordialidade de seus caiçaras e encanto de tão bucólico sítio.
Naqueles confins da Praia
Grande, berço de destacados filhos, abrigou desde a tenra história os devotos missionários jesuítas Manoel da
Nóbrega e José de Anchieta, que por la estiveram antes de desbravarem o sertão
e subirem a serra e no então desconhecido
planalto de Piratininga, às margens do Anhembi erguer a escola dedicada à São Paulo e
plantarem a semente da pujante capital ainda no século XVI.
Conceição de Itanhaém indicam
os assentos oficiais a partir de 1625 durante a governança da Condessa de
Vimeiros, Mariana de Souza Guerra, herdeira de Martim Afonso de Souza tornou-se
cabeça de Capitania, tendo ampla jurisdição desde Cabo Frio ao norte,
estendendo-se pelos sertões do Vale do Paraíba e atingindo a Ilha do Mel, ao
sul.
Nesse período fausto e de
enérgico poder político, que Sorocaba, Iguape e Paranaguá foram fundadas por
ordem da já donatária da Capitania, como assinalam forais, mapas, sesmarias, e
atas da Câmara de São Vicente que registram Taubaté e Pindamonhangaba entre
outras tantas vilas, fundadas e desmembradas da então pujante Conceição de
Itanhaém. Uma progressista Vila que fora Capital de tão imenso território e
ainda hoje segue sua história, salientando-se pela importância e estratégia.
Foi na Vila erudita e
cultural que em 1888, sob a liderança de Beneticto Calixto de Jesus, talvez o
mais ilustre de seus filhos, historiador, antropólogo, pintor e grande pensador
que correu o mundo registrando o nome de sua cidade natal através de seus
escritos, telas e infinades de afrescos, ilustres personagens da sociedade, criaram a
Associação Cultural Gabinete de Leitura, que em poucos anos, já dispunha de
acervo de livros, documentos, mapas e promovia espetáculos teatrais, cursos e
toda iniciativa voltada para as letras e artes, sendo apontada como a primeira
biblioteca erguida no país fora dos limites da Corte.
E merece registro igualmente
que a Câmara de Vereadores de Conceição de Itanhaém foi a primeira a ser
instalada e funcionar regularmente no Império do Brasil.
Por isso e por mais isso e
tudo isso teço respeitosas considerações. Curvo-me à história viva de tão
precioso relicário do passado colonial para qual fui conduzido ainda na tenra
primeira infância pelas mãos firmes e sábias de meus pais que me oportunizaram conhecer.
E nesse tempo de festa que Abril é para Itanhaém abraço os filhos naturais ou como eu, que
adotaram e foram adotados pela Vila, que se trata de recanto risonho, ou como consta nas
armas de seu brasão, Angulus Ridet.
Longe desse sítio inesquecível,
resta-me apenas, distante como estou lavrar algumas letras memoráveis, a par de
manter hasteada sua bandeira e vê-la tremulando radiante e alegre no desterro
que as imposições inquestionáveis do destino nos impõe.
Do meu jardim, distante e
saudoso, comemoro admirando as armas expostas no centro do fundo azul da tradicional
bandeira, a vendo tremular, espalhando o brilho da magnitude que espelha e
representa.
Parabéns Conceição de
Itanhaém!
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Roberto J. Pugliese
Foi
diretor da 83ª. Subsecção da OAB-SP por 10 anos.
Foi
fundador do Lions Clube Itanhaém-Praia.
Membro
da Academia Itanhaénse de Letras.
Foi
assessor jurídico da Câmara Municipal da Estância Balneária de Itanhaém.
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