Modernizar e
excluir (um futebol só para a elite)
A reinauguração oficial do
Maracanã, assim como a do novo Mineirão e a do estádio de Brasília, causou
enorme mal-estar em parte da população brasileira. Com toda a razão, é
reclamada a ausência de um personagem tão importante no esporte como os
próprios jogadores: o torcedor comum. Nas novas “arenas”, esqueceram, ou
melhor, deixaram de fora a turma do meio para baixo na tal da pirâmide social.
Assim como ocorre em outras
áreas há muito tempo, como na cultura, na educação, na saúde e na segurança, o
esporte agora também é segregado. A Copa das Confederações, neste ano, e a Copa
do Mundo, em 2014, serão lembradas como um divisor de águas no país. Ao
contrário do esperado, os torneios não ficarão na memória por terem trazido
grandes obras de infraestrutura, mas, sim, por representarem o marco da
elitização do futebol brasileiro.
A crítica não reside na
modernização dos velhos estádios – as reformas eram necessárias, e eu,
particularmente, teria jogado o velho Mineirão no chão e erguido algo mais
bonito e funcional.
O problema é o binômio
qualidade e exclusão comum a qualquer melhoria promovida no Brasil. Aqui é
assim: para a escola ser boa, tem de ser particular e cara; saúde de primeira,
só com o melhor plano médico; quer segurança, vá para condomínios fechados;
shows e peças de teatro com conforto e bons serviços não saem por menos de R$
100 o ingresso.
A resposta do poder público e
do setor privado para essas queixas é padronizada. “Na Europa é assim”, dizem.
Mas na Europa, durante muito tempo e ainda em alguns lugares em tempos de
crise, o chamado Estado de bem-estar social garantiu ganhos à população com
serviços básicos gratuitos e universais. Por aqui, se o pão já está difícil, o
circo, no mínimo, deveria ser mais barato; R$ 120, R$ 160, R$ 220 é muito para
o trabalhador, com base em um salário mínimo de R$ 678.
O torcedor desdentado, o
fantasiado, o irreverente, enfim, aquele cujo prazer era vingar-se das
injustiças da vida durante 90 minutos numa tarde de domingo, está barrado nos
novos estádios do Brasil. De alguma forma, o futebol ainda representava um
bolsão em que as desigualdades sociais jogadas para debaixo do tapete em outros
setores davam as caras e mostravam-se muito mais simples de resolver.
Por certo, o ideal não é
reduzirmos os preços dos ingressos apenas para essas figuras voltarem aos
campos e serem filmadas como prova da convivência harmônica entre pobres e
ricos. Não, o correto é diminuir o abismo entre as classes sociais e dar
condição aos de baixo de ter acesso a bens comuns a outros segmentos da
população.
Mas, enquanto essa revolução
social não ocorrer, excluir mais ainda o povo de um lazer tão prazeroso quanto
ir a um estádio de futebol é quase um crime. (transcrito do jornal O Tempo)
Enfim o Expresso Vida de um
lado entende que o povão, que não dá segurança às famílias para ir aos estádios
realmente deve ficar afastado, de outro é preciso salientar que a arena
pertence ao povo. Ao povo educado que deve ter acesso a esses espetáculos que
são naturalmente populares.
Roberto J. Pugliese
www.pugliesegomes.com.brpresidente da Comissão de Direito Notarial e Registros Públicos –OAB-Sc
Membro da Academia Eldoradense de Letras
Membro da Academia Itanhaense de Letras
Autor de Terrenos de Marinha e seus Acrescidos, Letras Jurídicas
Autor de Direitos das Coisas, Leud
Nenhum comentário:
Postar um comentário