13 junho 2013

Tragédia no Vale do Ribeira - pronta solução ( memória 11 )


 
 
 
 
Memória –11
REINICIO DOS TRABALHOS DO FERRY BOAT –

Por volta de Maio ou Junho de 1983 a situação climática havia se distanciado da normalidade. Chovia muito. Blumenau, no sul estava totalmente alagada. Tragédia que deu origem, após a cidade se recuperar, à primeira Octuber Fest festa que é regularmente promovida pelo município, com apoio de rádio, televisão, governo do Estado de Santa Catarina...

O Vale do Ribeira à mesma época, também sofria com as violentas chuvas torrenciais intermitentes. Água que não acabava mais. Muita chuva. Rio Ribeira alagando por onde corria. Seu leito sinuoso deixou de existir, transbordando por estradas vicinais e rodovias.  Eldorado, Iporanga, Sete Barras estavam totalmente alagadas. Seus tributários, os rios Jacupiranguinha e o Juquiá, alagando as cidades por onde correm, de modo a isolar totalmente Miracatu, Juquiá, Sete Barras e Jacupiranga. Cajati, então distrito, mas com pose de cidade, também debaixo d água.

A rodovia Regis Bittencourt, à época, com pista única, com inúmeras áreas desbarrancadas e a rodovia Padre Manoel da Nóbrega, popularmente conhecida por Rodovia da Banana, SP 55, na serra, entre os municípios de Miracatu e Pedro de Toledo, havia desmoronado um trecho que impedia a ligação para o litoral santista. O Vale estava isolado.

A população estava submersa. As plantações de chá e banana, esteios da economia regional haviam sido perdidas e as criações de gado vacum e bubalino também sofriam com as enchentes.

Em Registro, já próspera capital da região, a única rádio local, parara de transmitir, pois a torre de transmissão, do outro lado do Ribeira, ficara tomada pelas águas da enchente, submergindo totalmente a casa dos transmissores.

Tragédia sem igual. Quadro de problemas sociais que obrigara o professor Franco Montoro, governador do Estado, eleito na primeira eleição direta desde 1964 se dirigir com o secretariado, diretores de fundações, de empresas públicas e autarquias para o Vale.

O staff do governo paulista foi à Registro e no Centro Social Urbano, prédio estrategicamente situado longe da KKK, então alagada, foi recebido por prefeitos, vereadores, funcionários de órgãos estatais e municipais da região, que traziam os problemas dos seus municípios e pediam soluções imediatas.

As soluções tinham que ser imediatas. Na área da saúde, dos transportes, educação...Enfim, a tragédia exigia medidas urgentes, céleres e reais para minorar o sofrimento dos que habitavam a mais pobre região do Estado de São Paulo, naquele momento, também isolada.

Nesse tempo Lourenço era vereador em Cananéia. Substituíra, na condição de primeiro suplente, um dos edis, preso por tráfico de drogas, e junto com um já então ex vereador, contabilista e amigo também foi ao encontro das autoridades.

Antes da reunião, lembra-se que num barco do Corpo de Bombeiros, junto com alguns militares, de capa e salva vidas, o velho professor governador, deu um passeio, a título de vistoria, nas imediações do prédio, então abandonado e mal conservado, da KKK, hoje reformado e centro de eventos culturais. Navegou nas imediações da cidade.

Por incrível que possa parecer, a despeito de tanta tragédia no Vale e no sul país, com muita desgraça para ser descrita, em Cananéia, não acontecera nada de ruim, salvo as estradas vicinais que estavam praticamente intransitáveis. No mais a cidade, sob chuva, vivia ordinariamente, sem problemas de comunicação, energia elétrica, abastecimento etc.

No entanto, o serviço de travessia de ferry boat ligando o Porto de Cubatão no continente e a ilha, só funcionava em horários pré determinados, fazendo a travessia apenas duas ou três vezes diárias, pois o prefeito anterior, nas vésperas das eleições, inaugurara a rodovia municipal e a ponte situada há 15 km do centro.

A estrada da ponte, hoje Rodovia Municipal José Herculano Rosa ( Pique ) com muito barro e areia, estava praticamente intransitável, isolando a cidade, nos períodos em que a travessia do ferry boat permanecia paralisada.

Era muito barro, lama e atoleiro que impedia chegar à cidade caminhões para abastecê-la. Ou o transporte de pessoas, isolando todo o norte da ilha e a própria ilha, do continente.

Cananéia estava isolada.
 
Era pois a única reivindicação plausível. Durante a reunião, então, o vereador, aproximou-se do Secretário dos Transportes, o engenheiro Horácio Ortiz, responsável pelos serviços de travessia, e enquanto discursavam autoridades que se apinhavam ao lado do governador, falou claramente que precisa de ordem expressa para que o ferry boat voltasse a trabalhar intermitentemente. O Secretário de Estado prometeu ultimar a medida voltando à São Paulo. Discutiram e ele convenceu que deveria ser imediata. Lourenço mostrou ao eng. Horácio Ortiz que a medida deveria ser tomada de imediato por isso e por aquilo...

O Departamento de Hidrovia da Secretaria era quem explorava o tráfego de ferry boats na região e fazia a travessia entre o continente e a ilha e entre a ilha e a Ilha Comprida, então, na sua parte sul, ainda pertencente ao município de Cananéia.

Lourenço, em pé, junto a multidão de autoridades, junto ao Secretário, deu seu cartão de visitas para para que escrevesse no verso bilhete, mandando a balsa de ferro voltar a funcionar. Sem maiores formalidades, pois sabia que se não colhesse a ordem naquele instante, depois não conseguiria. Até porque, pertencente ao partido político contrário do Prefeito Municipal, provavelmente esse o boicotaria mesmo sabendo da necessidade.

O cartão foi para o bolso e às 23 horas, aproximadamente, quando retornaram sob chuva, à pacata e adormecida cidade, que tinha apenas três mil habitantes no seu centro urbano, foram direto à residência do responsável pelo serviço, tirando o da cama e exigindo, após diversas discussões que pusesse o barco a trabalhar.

Mandou que acordasse a tripulação, que fosse de casa em casa e no dia seguinte, entrasse em contato com o Secretário de Estado e se certificasse da legitimidade do cartão.

Justificou que era vereador, que não estava de brincadeira e que poderia tomar providencias legais caso a ordem não fosse cumprida.

E a cidade que estava parcialmente isolada, voltou a ter comunicação terrestre, mesmo com a precariedade da rodovia municipal, repleta de facões e atoleiros, que tornavam inviável o acesso à ponte Euclides Figueiredo.

Lourenço conseguira fazer o serviço diuturno e intermitente de balsa a funcionar e a ilha de Cananeia teve sua ligação ao continente reativada pela estrada bem precária àquela época e pela hidrovia.

Roberto J. Pugliese
www.pugliesegomes.com.br
membro da ACADEMIA ITANHAENSE DE LETRAS
membro da ACADEMIA ELDORADENSE DE LETRAS

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