04 junho 2013

Orientação para depois - ( quando morrer ! )


INSTRUÇÕES IMPORTANTES - post mortem.

 

- Ele morreu !  E agora?

Será um Deus nos acuda. Tumulto no quarto, na casa, na vizinhança. Ninguém sabe o que fazer. Um manda poupar a madrinha, outro manda avisar o tio... Cada um decreta uma sentença.

- O que fazer com ele? 

Avisa a mãe. Avisa os filhos. Avisa a esposa, a secretária... Avisa o banco. Ninguém sabe o que fazer.  Avisa o dono da escola. Avisa o patrão. O professor de inglês era tão amigo dele. Não fala nada com o Zé da Farmácia, porque ele esta devendo por lá, alguém lembra e decreta.

– Era tão bom!

Ninguém sabe o que fazer. Correm para lá. Correm para cá. Sobem, descem, chamam o médico, não sabem bem como fazer. Alguns choram. Outros mais presentes ajudam. Outros atrapalham. Outros fogem. Alguns fingem: Fingem que ajudam, fingem que choram, fingem que estão à disposição. Fingem, fingem, fingem... Tem os que telefonam dando pêsames.  Ligam. Falam. Choram... Alguém  pergunta quem irá velar o corpo durante a noite.

- É perigoso, podem assaltar... Dizem os mais experientes. Sempre tem os mais experientes. Sabem tudo. Sabem da vida e sabem da morte. No fundo, no fundo, são uns bobões  que não sabem nada. Nem da vida, nem da morte. Quanto mais do morto.

- Que merda? ( o sentido pode ser o mais amplo possível ). Ele morreu. Eu gostava tanto dele.

- Avisa o padre. Não, ele era espírita... Acho que protestante. Avisa quem?

A verdade é única: Todos morrem!

- Ele nem fechou a torneira... Que bárbaro!  Uma infelicidade.

Cada morte é uma tragédia. Um fato pitoresco e singular. O certo é que todos, sem exceção morrem.

E na morte, a maioria das vezes o protagonista sai à francesa e os que ficam quase morrem perplexos. São pegos de surpresa e se atrapalham. Ficam desorientados e no afã da surpresa, às vezes se desesperam ou agem contra os interesses de quem morreu. A verdade é que todos morrem e precisam, os mais próximos, saber como agir. Porque a verdade é sabida por todos: Não há exceção, todos morrem, inclusive o oficial público que lavra o óbito para juridicizar o evento natural e o ministro religioso que prepara a última benção.

Todos morrem.

Gente ruim, perversa e maus elementos morrem. Brasileiros, japoneses e italianos morrem. Crianças malcriadas morrem. Todos um dia se vão. Homens e mulheres vão e não levam nada. Alguns deixam saudades, outros, o alívio da ausência. Mas todos morrem, simplesmente morrem. Até senador, delegado de polícia, pastor de igreja evangélica, funcionário do IBGE, professora de matemática: Não sobra ninguém para contar a história. Magistrado corrupto morre. Deputado corrupto morre. Corrupto morre, mesmo sendo síndico de prédio de três andares que não tem elevador. Coveiro morre. Parteira, trapezista e curandeiros também.

Pessoas boas também morrem um dia. As que ouvimos falar ser boas e as que nos disseram que eram muito boas e até aquelas muito boas mesmo. Pessoas ótimas morrem. Crianças de berço também morrem. Gente rica e gente pobre, todos, sem exceção, morrem. Morrem as que conhecemos pouco e aqueles com quem convivemos. Morrem pessoas santas e piedosas.

Mas o pior são os amigos quando morrem.

Ao longo de tantas e tantas décadas vividas ele já perdera  uns tantos. Saudades. Deixaram saudades para muita gente. Sente a falta, a ausência o vazio deixado. Quantas lembranças. Histórias inesquecíveis que participaram juntos. Um foi outro ficou.

Muitos foram embora cedo. Aliás, verdade seja dita, ele não gostou que tivessem morrido, pois tinham, entre muitas, uma grande qualidade: Eram seus amigos e deixaram muitas saudades e lembranças inesquecíveis. Mas se foram e restou o vazio inexplicável da ausência.

O finado virou espólio. ( Tem bens ) Era paulistano. Fora  criado na metrópole mais acolhedora e solidária que existe. Privilégio nascer e viver na cidade de São Paulo de Piratininga. Por si, já é o melhor aprendizado.

Desde criança, sempre esteve pelo litoral. Férias, feriados, finais de semana: Sobe a serra, desce a serra, sobe a serra, desce a serra... Boas lembranças. Via Anchieta. Caminho do Mar. Imigrantes.  Rodovia da Banana. Tamoios. Todas as rotas levam à orla.

Morou em Itanhaém e lá marcou presença, fez histórias e amigos. Quantas lembranças: Praia dos Sonhos, Cibratel, Caixa d’água, Convento... Iate Clube, noites quentes de verão. Sol, sal, mar, barco, rio Itanhaém (Amazônia paulista). Inesquecível. Namoradinhas, jogos de futebol na praia, banho de mar, banho de rio, banho de cavalo no jardim. Bicicleta, buggy, intermináveis lembranças. Queimada, finca, futebol de mesa, taco, amboré, baiacu, robalo, camarão, piu-pardo.(?)

Também em Cananéia. Morou por lá. São João Baptista de Cananéia, a vila mais antiga do país. Lá foi muito bem acolhido. Foi eleito. Lá foi aplaudido e adotado. Lá pode aplaudir o caiçara. Saberes achados na brisa do mar. Universidade da vida. Laboratório vivo de sabedoria popular. Conhecimentos perdidos pelo Lagamar. Cheiro salgado de sal.

Aplaudiu, fui ovacionado. Emocionou-se. Lutou, brigou e aprendeu. 

Nascera para brilhar, mas nem sempre brilhou. Ocasiões brilhara, noutras foi ignorado. Noutras bateram palmas, deram diplomas, abraços. Noutras ciúmes, inveja e temor ( infelizes ) apagaram o brilho que merecia. Coisas da vida. Foi vaiado algumas vezes. Por ignorância, incompetência ou males entendidos, foi injustiçado diversas vezes. Errou, mas acertou mais. Muito mais. Não se  arrepende: Fecha o balanço da vida no lucro das boas ações e acertos. 

Soube saborear a vida. Saboreou com prazer os detalhes da vida.  Fora um relâmpago passageiro que nunca se assentou. Não se acomodou. Transitou o quanto pode: Navegou  nas águas calmas do Lagamar, desceu o Ribeira de Iguape, subiu às cabeceiras do Rio Itanhaém. No encontro das águas vibrou emocionado  naquela curva do Negro com o Solimões: Viu nascer o Amazonas! Esteve em Xingó e na foz do Velho Chico.  Esteve em ilhas distantes: Bananal, Marajó e outras tantas. Nunca parou. Aportou por cautela na Ilha da Casca... 15 de Novembro de 198... dia de vacinação.

Ilha Grande, Ilhabela, Paquetá, Queimada Grande... Sempre navegando, se aventurou pelo mundo colorido da picotada costa brasileira. Foi a onde pode. No tempo precioso que dispôs: Noronha, Itaparica, Ilha do Mel...Quantas !

Subiu às alturas escalando o Pico da Bandeira e desceu às profundezas das grutas e cavernas de Iporanga. Cidade encravada num parque florestal, estagnada e comprimida à serviço do meio ambiente.  Conheceu um ‘cadinho’ de tudo.Vivere navigare est  e assim, nos limites do que foi permitido continuou rodando, navegando, voando em busca do saber. Navegar é preciso, MORRER NÃO É PRECISO!


Morrer não é preciso, mas ele morreu.

Correu atrás.  Correu o país: Tocantins, onde o sol brilha e a terra queima.  Povo desbravador. Companheiros, solidários, amigos da verdade. Noites enluaradas. Saudades tantas... Gente brava, do trabalho que sabe construir. A visão de Don Bosco é verídica e se concretiza no Oeste tupiniquim. Palmas a mais nova Capital. Boi, boiada, buchada, coisas do cerrado queimado. Provou licor de piqui. Deixou por lá sua marca. E que marca !

Esteve no sul. Morou por lá. Nunca parou. Santa Catarina... Lugar frio. Povo frio. Joinville, terra de gente alemoa: desconfiada, altiva e organizada. Lugar de soldadinhos de chumbo que não cantam samba e aloirados ficam ruborizados com a ginga faceira brasileira. Terra de gente obediente, muda, que não dá bom dia ou pede licença. Pequenos robôs austro-germanicos apáticos. Por lá ficou. Por lá estava quando vivo.

São Francisco do Sul: - Que decepção. Povinho pequeno. Baia da Babitonga, paisagem exuberante, visual ímpar, povo pequeno, soberbo, decadente, infeliz. Cidade pobre de espírito e renda alta. Concentração de poder.

Floripa  bela  encantadora terra de manés.  Paisagem especial: praias de águas frias, ostras, berbigões, ponte Hercílio Luz, Lagoa da Conceição, pitoresco natural. Desfile feminino encantador.

- Viva Santa Catarina, o único estado menina!

Viveu, simplesmente viveu. Degustou pausadamente à sombra do sopro da vida, os prazeres que lhe  foi proporcionado. Valeu viver. Relacionou-se ao longo do tempo com milhares de pessoas. E por mercê divina, na Sua infinita bondade, conquistou grandes amigos que estão espalhados por aí... Amigos, simplesmente amigos. Grandes amigos. Os que restaram, pois muitos se foram. Alguns sem se despedir. Amigos apressados, teimosos, estúpidos que merecem cascudos. Lamentável.

Foi uma porção de coisas... Tentou ser outras tantas.  Dentro da cotação generosa de uma apuração de valores medíocres talvez, crê que tenha dado certo. Sabe bater à maquina, jogar xadrez, trocar lâmpada,pilotar barco. Escreveu livros. Vários livros de notas, testamentos e procurações. Plantou árvores. ( Na Enseada da Baleia ergueu  uma floresta ).  Criou um filho. Apenas um. Fez o mínimo e mais algumas tantas coisas: Trocou pneu de carro, passou vaselina, competiu, amou, chorou de alegria, chorou de emoção, chorou  escondido. Ganhou, perdeu,caiu , levantou, viveu. Usou  óculos Ray-ban, cuecas samba canção, luvas, toucas e babador. Foi instrumento da Justiça e cumpriu o papel que a vida lhe apresentou! Lutou  pelo direito.

 
Sabia que não chegara seu tempo: Tinha muito que apreender. Que ensinar. Conhecer. Trabalhar, viajar, passear... Saborear deliciosamente os quitutes naturais desse caminho sem volta.

 - Tenho muito que viver, dizia, alto e em bom som, como se lembrasse a morte que não chegara seu dia e que não chegaria tão cedo.

 No entanto, sendo humano, normal e razoavelmente aculturado ao cotidiano, sabia  que os dias acontecem. E como os dias seguem e a lógica mundana do tempo dizia que já não era  jovem, e ciente que ninguém fica para semente, restou se preparar para o depois. Sim: depois, porque será depois da vida, ou dessa vida, se tiver outra e não estaria  aqui, de carne e osso para orientar.

 Como todos, acreditava, tinha fé, porém não queria crer. Duvidava até da própria identidade para se distanciar da morte. Mas ela veio. E  o pegou de surpresa.

 Pegou a todos de surpresa. Aliás a morte é o que é mais certo na vida,mas sempre é e será a grande surpresa para quem morre e para os outros.

 Questionava com seus botões qual seria seu nome, sua identidade, seu cpf, sua camisa nova... Qual será o número das chinelas que iria  calçar se existisse outra vida. (?) Até como comunicar-se:

 -  Não sei se saberei falar na língua do além. Mas se assim for, ótimo, confabulava à mesa dos bares degustando pizza e cataia.

 Tinha razão: Melhor que a morte seca, pura e sem retorno. Não queria morrer. Não tinha a mínima vontade, mas ciente que um dia também morreria, por mais que tentasse enganá-la, não descuidava.  Os fortes também tombam. Os valentes. Os ousados. Todos morrem.

 - Não tenho medo, nem vontade, sempre falava e degustava torresmos, cataia e os seios femininos.

 Pelos textos escritos e publicados tinha consciência que seria lembrado. Por uma ou duas gerações vão lembrar-se dele. Mas estará morto. Mesmo sendo imortal. ( era acadêmico ) Sabia que depois iriam esquecê-lo... A cruel lei da eternidade. Distancia entre a vida e a morte que gera o esquecimento. Logo-logo, no espaço curto de algumas gerações, não existirá  se quer nos livros que deixou.

Nome de Praça. Nome de rua, vila... Nem beco sem saída. Nunca pleiteara tamanha honraria para si. Para os amigos sim. Seria portanto esquecido em breve: Duas gerações no máximo.  Em pouco tempo ninguém mais se lembrará. Não saberão se foi bom, mau, ou gente.

 Finitude carimbada indiscutível.

 Então, tentando precaver-se deixou o recado para quem sobrevivesse. Para os próximos. Os mais próximos. Estabeleceu regras simples:-Orientação post mortem.

 Lavrou num papel de pão o testamento de um pobre. Caneta azul esferográfica, no melhor português que soube tecer para ocasião. Chanfrou com o hálito pesado da cataia e dos acepipes.

 Recomendou que estivesse onde estivesse, no seu quintal ou noutro domicilio futuro se assim a vida o levasse, fora dele à passeio ou trabalho, esteja onde estivesse pedia que os responsáveis pelos restos mortais que sobrassem do seu eu carnal o encaminhassem  para São Paulo.

 - Levem para minha doce e sempre querida terra da garoa, do trabalho, da luz e do saber. Terra construída onde nasci.

 Pediu por isso. Levassem-no para sua inesquecível terra natal. Metrópole pulsante. Avenida Paulista, túnel 9 de julho, ( agora tem outro nome) berço de grandes heróis. Palácio dos Bandeirantes, Páteo do Colégio, Catedral da Sé, museu de arte moderna, planetário, rio Tiete, Mosteiro de São Bento, Universidade de São Paulo, Instituto Pasteur, museu da Língua Portuguesa... Que maravilha, tantos lugares especiais. Hospital do Coração, Anhangabaú,  Conjunto Nacional, edifício Martinelli ( já foi o maior do mundo), estádio Paulo Machado de Carvalho com o seu charme principesco, pizza, pizza, pizza para todo mundo.

 - A única cidade que nasceu à sombra de uma choupana dedicada ao evangelho e às letras: O colégio dos jesuítas. Então: lá era a sua cidade. Sempre falava aos amigos e informava aos inimigos que não tinha.

 Dizia alto e orgulhosamente que lá era a sua  cidade. Sempre sua.  Para lá deveriam leva-lo. Lá, junto com os  antepassados e com aqueles  que foram primeiro, os que o antecederam, junto com aqueles restos que um dia fora sua família.

 Queira estar com primos, pais, tios, avós, bisavós e outros que foram enterrados numa das tumbas do Cemitério do Araçá. Só isso. Queria ser enterrado na capital paulista. No cemitério do Araçá.

 Dispensara qualquer solenidade outra. Não precisaria de caixão de primeira. Velas. Flores... Nada disso. Nem ser velado aqui ou acolá. Bastaria  que levassem o fardo que até então era humano e já não o seria mais, desgastado, gelado, pálido e morto, para a campa da família e o dispusessem para o descanso eterno, que de eterno não tem tanto tempo, pois haverá de durar pouco, já que micróbios, lavras, peçonhentos e outros organismos menores sabia que iriam  comê-lo, dando assim continuidade à vida e fomentando a ordem natural do universo.

 Com sabedoria sabia do fim: Serei esterco, dizia.

 Tão esterco como foi Kennedy, aquele que comeu Marilyn; Don Pedro I, que comeu a Domitila e Bôscoli que comeu a Elis. Seria, como todos foram e outros serão  o fomento que a natureza precisa para se renovar. Sabia que seria terra. Novamente terra. Para os incrédulos e despeitados asseverava que seria algo servível.

 - Mas não serei eu, pois já estarei noutra dimensão.! ( Frio ou talvez lacônico, porém sábio o suficiente como Colombo o fora ao manter o ovo em pé )

 Previa que  nessa ocasião, provavelmente o seu corpo tivesse alguma  valia universal e colaborasse  para que o ciclo interminável da vida se projetasse  ao infinito, se assim fosse o verdadeiro caminho das estrelas. Uma catástrofe interplanetária movida pelo desempenho natural da vida que se extinguiu. Previsões de bruxas que trazia consigo na escuridão da noite silenciosa de suas próprias entranhas.

 Alertava com sabedoria: - Não demorem. Sejam os responsáveis pelas exéquias. Sejam rápidos, pois é mais do que sabido, ressabido e transabido: Fede. Os dejetos que um dia fui eu, afirmava, também haverá de feder. Haverá de exalar o cheiro deixado por Caim ao matar Abel nas redondezas do Paraíso que fora lacrado por ordem Superior. Herança irrenunciável da humanidade fedorenta. Fedida e poluída.

 - Sejam rápidos pois o corpo fede enquanto a alma adentra ao paraíso, declinava à sua platéia sonolenta junto ao balcão dos bares que freqüentava.

 Basta isso.
Só isso.

Sem levar a sério, com sarcasmo trazia a minuta. Elaborava regras. Dizia que  isso e aquilo seria conseqüência de sua morte.

- Custos haverá. Tudo custa. Até a morte: Cartório, certidão, atestado médico, roupa para eternidade, transporte do féretro...

- Enfim, darei mais esse prejuízo. Mas será o último. (Nesse plano ) Aliás, à essa altura, sabia que  já estará provocando atenções outras noutro estágio se tudo não se extinguir antes.

No entanto, implorava para que levassem o corpo para São Paulo. -  -

- Não esqueçam: Jazigo perpétuo da família
 
Recomendou ainda que, dentro das possibilidades, despedissem por ele das rodas que tinha circulado: Levem meu abraço para os advogados, servidores da justiça, time completo do escritório, magistrados, delegados, promotores, procuradores da república, policiais de todas as forças e fardas. Participem os alunos  que ajudei a formar por 25 anos... Avisem os caiçaras desse inebriante litoral. Ilhéus de todas as ilhas e ilhotas que passei. Dêem meu adeus ao pessoal do Lions Clube Internacional. Meu adeus ao pessoal da PUC, aos parentes e aos que perguntarem por mim. Dentro da razoabilidade, avisem um ou outro, pois será o bastante. Noticias fúnebres se espalham. ( internet, blog, face book, pombo correio, garrafa, tambor... ) Deixe patente que não gostaria de ter ido, porém, já não estarei mais presente para protestar.

Diga a todos que se existir algum lugar, nesse lugar algum estarei por lá de braços abertos esperando um por um... ESTAREI SAUDOSO.

Dizia que se existisse realmente o outro lado da vida, pois  se trata de expectativa histórica da humanidade, gostaria de poder se encontrar com os que já estiverem por lá e deixaram por aqui saudades. 

Pessoas queridas. Muito queridas.

Pessoas que teria admirado, que as conhecera em São Paulo e noutros sítios, dos tantos que vivera. Pessoas que admirara, mas nunca teve oportunidade de estar próximo. Artistas de todas as artes; cientistas de todas as ciências; personalidades com quem não pode conversar. Pessoas do esporte que não cumprimentara, não abraçara e não pudera estar perto.Gente que um dia, da platéia, o fez levantar  e aplaudir.Gente que vira de longe.

Sua esperança, se outra vida existisse, dizia com olhar umedecido,  era saber que poderia abraçar velhos amigos apressados que se aventuraram pelo desconhecido.  Que foram para o éter e se escondem entre planetas e asteróides. Meninas que se tornaram estrelas reluzindo azuis nas noites quentes do Delta do Parnaíba. Meninas  cintilantes que dançam inocentes sobre a Ilha das Cabras. Meninas nuas, eróticas e perversas que brincam de roda na praia dos Castelhanos, no Saco de Mamanguá, junto ao maciço da Juréia, na restinga do Marujá.

Ficava feliz porque poderia abraçar seu pai: Saudoso, terno, insubstituível e indispensável. Fonte de sabedoria e generosidade impar.

Enfim, taxativo rogava constantemente que os responsáveis pelos seus restos mortais, deveriam memorizar seu pedido e levarem aquele corpo deixado em qualquer lugar, para a campa do Araçá.

Diversas vezes pediu. Implorou.

Enfim, o fim. Morreu.

Não houve hinos, flores, visitas e condolências habituais. Os seus mais próximos, tristes talvez, o levaram,rezaram e enterraram.

- E para não dizer que não falei de flores... Serve de alerta, emenda Lourenço, que narra o episódio trágico de um fim: Todos seguirão o mesmo caminho. Com testamentos, codicilos, cartas ou guias... Todos irão. Até os supersticiosos que temem por orientar os sucessores...

- Lembrem-se e vivam a vida intensamente até o dia do juízo. Vivam porque a eternidade os aguarda. Noutra dimensão desconhecida.

Roberto J. Pugliese
presidente da Comissão de Direito Notarial e Registros Públicos –OAB-Sc

2 comentários:

  1. Anônimo4/6/13 19:28

    Despedida em tom de Machado em Brás Cubas; ou de Mario de Andrade. Mas, fique certo amigo, tudo será cumprido. Se for antes, espere-me com cerveja e camarão. Abraços.
    Vitor Hugo Noroefé

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  2. Tá antecipando o que ninguém quer?????

    Se cuida meu amigo. Ainda há muita lenha para queimar nesta caldeira...

    Abs.

    Fidelis

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