A bicicleta e o transito.
Repentinamente o país de norte a sul começou a propagar que
a solução para o trânsito melhorar é incentivar os ciclistas pedalarem pelas
cidades.
Especialistas aventam que a mobilidade urbana será
radicalmente melhorada pois o fluxo de automóveis diminuirá. Nesse sentido
outras justificativas segundo os entendidos decretam, ajuntam à importância do
ciclista.
Andar de bicicleta é a solução.
Segundo os adeptos, seja nas megalópoles como São Paulo,
cheia de altos como a Avenida Paulista ou Santana e baixos, como a Lapa e a
Várzea do Glicério, transitar com bicicletas é como o povo deve se mobilizar de
um para outro ponto.
Andar em Santos, a capital do litoral paulista, cheia de
morros, curvas e apertada entre o mar que a rodeia, cheia de prédios e ruas
afogadas de tantos veículos é a solução. Do mesmo modo o será em todas as
cidades brasileiras, inclusive Belo Horizonte com a sua bacia afogada dentro
das serras que a circundam ou Salvador da cidade Alta e da cidade Baixa...
Enfim, para os devotos da santa solução estratégica, que vingou na Europa, a
bicicleta é o veículo limpo, silencioso, que não polui, promove a saúde dos
ciclistas e a custo zero, leva e traz gente para todos os cantos...
Ledo engano.
Com sinceridade e já pedindo perdão pela insolência em
contrariar teses e esquemas idealizados nas mesas de estudiosos, afirmo
corajosamente que estão redondamente enganados os que decretam a bicicleta como
solução para o transito, para a saúde e para a economia nacional...
Refiro-me ao veículo de transporte. Não aponto o biciclo
como instrumento de laser ou esportivo. Falo em contestação às teses malucas
que transitar de bique é a solução
para a paz social. ( ?)
Nesta plana insta estampar que transitar de bicicleta como
meio de transporte é algo que está bem longe da tradição brasileira, aliás, da
tradição latino americana e poucos se aventuram nessa rotina. Andar de
bicicleta é ainda, para alguns poucos, lazer. Ou esporte. Bicicleta para a
massa brasileira, com raríssimas exceções é laser ou esporte. Meio de
transporte é veículo motorizado, coletivos ou particulares. Inclusive
motocicleta, triciclos e outras adaptações criativas, desde que movidas à
pilha, bateria, óleo diesel, álcool ou gasolina...
Por mais que os Poderes Públicos resolvam investir em
ciclovias e estacionamentos, ultimando medidas demagógicas por excelência, não
será por decreto que o brasileiro deixará seu carro em casa, ou abdicará do
metrô, para ir trabalhar de bicicleta.
Ainda que a mídia assuma a ideia e se debruce para valer se
empenhando em difundir que é a solução nacional andar de bicicleta, a tradição
verde amarela é outra, advinda de mais de um século rodando sobre quatro rodas
movidas a propulsão petrólica. Terno, gravata e bicicleta não combinam.
Transitar sem pressa, sem lenço ou documento nas alamedas
arborizadas da ilha de Paquetá, desviando-se apenas de charretes ou na Ilha
Grande, sem ser importunado pela pressa de atravessar a cidade para chegar em
tempo no trabalho faz da bicicleta mais que um meio de transporte, uma grande
diversão.
Situação propícia para valer-se das biques é saber que
vestido à vontade, de calção, com sandálias e apenas um chapéu para proteção
solar, sem a pressão estressante de ter de chegar, guardar, acorrentar, e
correr para o almoxarifado ou para a mesa de trabalho, pegar o alicate ou a
caneta, suado, empoeirado e sentindo-se grosso da gordura impregnada pela
proximidade das vias públicas, e iniciar a labuta rotineira. Saber que ao fim
do dia, a chuva torrencial ou o vento gélido de Porto Alegre não Irá atrapalhar
o retorno de bique para casa.
Pasmem, essa é a verdade.
Florianópolis, uma ilha paradisíaca para alguns, é uma
cidade nervosa e vibrante para outros. Apertada entre montanhas e o mar, não
tem espaço para ciclistas. Nem o costume do mané,
mais navegador do que equilibrista, para justificar tanta ciclovia espalhada
pelas vias principais, espremendo veículos presos em congestionamentos
intermináveis.
Ciclovias estão vazias. Não há público para tanto espaço
perdido. Lugares sem utilização testemunhados pelos motoristas dos autos
aturdidos pela má distribuição das vias públicas. São Paulo, Florianópolis ou
Brasília não se confundem com Guaratuba, Cananéia ou Paraty.
É preciso lembrar que na Europa a bicicleta surgiu após a
segunda Grande Guerra. O continente destruído precisava ser reconstruído, e
falido, com ajuda dos norte americano, com esteio no Plano Marssall, começaram os
investimentos de modo a dinamizar novamente os meios de produção.
Como o velho continente não tem petróleo, inventaram o
transporte de bicicleta, incutindo tratar-se de veículo barato e bom para o
ciclista, para o meio ambiente etc e tal... E assim já se vão anos de tradição...
Aqui é diferente. A influencia dos EEUU no comportamento
social e a tendência do brasileiro e dos latinos copiarem o modo de vida do
gigante do norte, influenciados pela massiva propaganda que influencia nos
costumes, o automóvel se tornou a coqueluche. Sempre foi assim e não vai mudar
logo. O brasileiro se torna deverdor, vale-se do crédito que se quer dispõe,
não come direito, mas sua primeira aquisição é o carro próprio.
Ademais, poucas são as cidades planas o bastante para valer
à pena andar de bicicleta. E por aí a fora... E o ciclista operário, executivo
ou diretor de empresa, terá também que ter adaptado o local de trabalho, com
vestiários adequados à banhos para aquele que chega sujo e precisa por a
gravata para atender o público, ou jaleco para iniciar as consultas médicas...
Vale a reflexão.
Ciclovia é uma grande enganação. Demagogia cara cujos
efeitos não são bons para a maior parte da sociedade e para os políticos que as
defendem. Ciclovia está em moda porque a politicagem e os artistas dessa arte
desacreditados, acuados em denuncias e investigações, fazem de tudo para
disfarçar e tentar agradar o eleitorado.
Repete-se: Vale refletir e pensar à respeito.
Roberto J. Pugliese
presidente da Comissão de
Direito Notarial e Registros Públicos da OAB-Sc
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