Memória nº 108
As voltas que o mundo dá.
Lourenço apalavrara a venda
de seu apartamento para um advogado numa sexta feira à tarde. Fechariam negócio
na segunda feira por alguma razão imposta por uma das partes, porém a venda
estava realizada e confirmada pelo fio de bigode.
No sábado imediato, pela
manhã um interessado apareceu, ofereceu alguns por centos à mais e comprou o
imóvel. Lourenço faltou com a palavra.
Na segunda feira desculpou-se
com o advogado alegando que sua mulher desistira da venda para ceder ao irmão.
O tempo passou.
Alguns anos depois, Lourenço
já advogando foi à Jacupiranga, então sede da Comarca de Cananéia para
distribuir uma ação possessória e pedir a liminar em defesa do direito do
cliente. Formalizou a burocracia de então, recolheu custas e subiu para
conversar com o Magistrado.
O Juiz de Direito ouviu
pacientemente a explanação de Lourenço e questionou:
- Dr. o senhor ainda tem o
apartamento que prometera me vender?
O mundo dá voltas. O advogado
que firmara compromisso em adquirir o apartamento fizera concurso e exercia o
cargo de Juiz de Direito, e provavelmente soubera que o adquirente não era seu
cunhado e que por valores, a palavra não fora honrada, para vergonha de
Lourenço.
(...)
- Dr. Lourenço, mande subir o
processo que vou analisar com toda atenção, levando em consideração sua
explanação.
Não é preciso registrar que a
liminar foi indeferida.
Noutra ocasião, Lourenço que
mudara-se para São Francisco do Sul contratou um pedreiro para reformar a casa
que adquirira na praia dos Paulas.
Teve problemas e foi obrigado
a romper o contrato e tratar com outro. Um galego que trouxe uma equipe e, além
de não fazer o serviço direito provocando prejuízos, também se plantou na obra
de forma a tornar difícil a sua substituição.
O tempo passou. Anos se
passaram e Lourenço foi contratado por uma viúva para promover o inventário dos
bens deixados pelo falecimento de seu finado marido. Um dos imóveis
constituía-se num terreno posicionado estrategicamente numa esquina onde há
alguns anos havia, dentro do imóvel uma birosca na qual era vendido milho
verde, garapa ou assemelhados...
Para zelar pela posse da
viúva Lourenço foi à responsável e pediu que tirasse a birosca em uma semana,
para evitar fossem tomadas providencias nesse sentido.
A mulher argumentou que
precisava do lugar e que estava há anos ali e que era do marido o referido
comercio e pediu para Lourenço reconsiderasse, o que de plano foi negado,
confirmando o prazo de uma semana para desocupar o prédio.
Dois dias após esse dialogo
aparece no escritório o Galego,
pedreiro que há mais de dez anos antes provocara sérios prejuízos e dissabores
a Lourenço, pedindo para que fosse reconsiderada a determinação, oferecendo
aluguel e implorando para que deixasse permanecer pois fizera o ponto e era
rentável etc...
- Voce lembra da obra que eu
contratei e o prejuízo que me causou com o seu procedimento irresponsável?
(...)
O mundo realmente dá voltas e
quando menos se espera colhe-se o que plantou.
Roberto J. Pugliese
Membro
da Academia Eldoradense de Letras.
Membro
da Academia Itanhaense de Letras.
Titular
da cadeira nº35 da Academia São José de Letras.
Lembro bem do Galego que tanta dor de cabeça nos deu!! A vida é um "bumerangue" Sem dúvida melhor é agir sempre certo!!
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