O caso Breno
- Uma dupla tragédia humana
Justiça
alemã condena jogador brasileiro acusado de colocar fogo na própria casa
“Não, não foi acidente. Fui eu que pus fogo,
numa noite, na noite de dezoito de agosto, eu não tinha outra alternativa do
quê....” É assim que começa o romance “Heimatmuseum” de Siegfried Lenz, um dos
grandes autores da língua alemã, obra de fôlego publicada em 1978 pela Hoffmann
und Campe de Hamburgo.
A frase poderia muito bem ser de
Breno, mas não é. Breno, natural de Cruzeiro, interior de São Paulo; o Breno
Vinícius Rodrigues Borges; o futebolista que, em janeiro de 2008, veio do FC
São Paulo para o FC Bayern München, um clube que por 25 vezes já foi campeão
alemão, um resultado até agora não alcançado por nenhum outro clube da
Alemanha. O FC Bayern, na época, não poupou esforços no sentido de
conseguir a transferência do jogador do FC São Paulo para o clube bávaro.
Comentários da mídia dizem que o FC Bayern chegou a pagar 12 milhões de euros.
Breno tinha 18 anos e Karl-Heinz Rummenigge, presidente do time alemão,
comentou que ele “seria um investimento para o futuro”.
Este futuro, no entanto, não se
concretizou. O jovem Breno, pelo visto, não foi abençoado pela sorte. Desde o
início de sua carreira em Munique, Breno foi perseguido pelo azar. Teve várias
lesões, com duas cirurgias e longos períodos de recuperação. Seu clube cedeu-o
ao FC Nürnberg onde Breno, segundo seus próprios comentários, sentia-se bem.
Infelizmente, teve no FC Nürnberg outra lesão, que o fez retornar ao FC Bayern.
Desde então, entre janeiro de 2008 e setembro de 2011, Breno chegou a jogar em
apenas vinte partidas do clube bávaro; no clube de Nürnberg jogou apenas sete
vezes. Tudo isso num período de quase quatro anos. Um resultado não
satisfatório para qualquer profissional futebolístico.
Na manhã de 19 de setembro de
2011 Breno foi informado pela junta médica que deveria passar por uma
terceira cirurgia. Os médicos foram precisos em suas explicações: o procedimento,
provavelmente, o transformaria em um esportista inválido. Seria o fim de
sua recém-iniciada carreira de futebolista. Um baque para qualquer indivíduo.
Na noite do mesmo dia, a mansão
de Breno, que ele alugara por um custo de 5 mil euros ao mês, localizada no
bairro Grunwald, o mais nobre de Munique, foi destruída por um incêndio. Desde
então, a mídia alemã, não só da área esportiva, tem dedicado grande
destaque ao assunto. As grandes revistas, como “Der Spiegel”, “Stern” e
“Focus”, dedicaram bom espaço ao tema. Jornais como o “Süddeutsche Zeitung“,
“Stuttgarter Zeitung“, “Die Welt“ e “Berliner Tageszeitung“ também publicaram
fartos comentários.
Logo que os bombeiros chegaram,
Breno entregou três isqueiros a um dos homens. Confuso e com visíveis sinais
de transforno, sofrera leves ferimentos. Estava todo coberto de
fuligem e foi levado ao hospital, acompanhado por dois policiais que
fizeram guarda defronte o apartamento no qual passara a noite. Técnicos do
Corpo de Bombeiros, logo de início, suspeitaram que o incêndio não poderia ter
sido espontâneo.
Diante tais suspeitas, as
autoridades tomaram uma medida rápida. Já na noite do incêndio passaram a
controlar os telefones celulares de Breno e de sua esposa, Renata. Na noite
após o incêndio a polícia interceptou um telefonema de Renata, que se diz
profundamente religiosa, com uma amiga. Ela contava que percebera
que Breno, na tarde anterior, estava confuso e que chegara a ter até medo. Por
isso pegara as crianças e deixara a casa. Pegara o carro, dera algumas voltas
no bairro e estacionara no fundo da casa, de onde pôde ver que o marido entrava
e saía de casa, e jogava garrafas pela janela. “Não creio que ele tenha
colocado fogo na casa, mas ele tinha se transformado numa outra pessoa. Satanás
já tinha se apoderado de seu corpo”, disse Renata na conversa telefônica.
Naquele dia, 19 de setembro,
Breno chegou em casa por volta do meio dia. Estava abatido e triste e começou a
beber. Segundo depoimento à polícia de seu ex-empresário, que se encontrava na
casa de Breno naquele dia, o jogador teria bebido cerveja, uísque e
Vinho do Porto durante a tarde toda. Seu colega de time, Rafinha, que vive na
mesma rua, a poucas casas da de Breno, confirmou a declaração. Realmente, a
análise sanguínea feita no hospital revelou alto teor alcoólico (1,6). Rafinha
declarou ainda que Breno o procurara várias vezes durante a tarde e que estava
com um comportamento estranho, transtornado e falava frases confusas e sem
nexo.
A entrega dos isqueiros a
um dos homens do Corpo de Bombeiros, um gesto inusitado, deu mais ênfase às
suspeitas. As primeiras investigações dos peritos detectaram indícios de
incêndio provocado. Breno foi preso no dia 24 de setembro, sob suspeita
de ter “provocado o incêndio e perigo de fuga”. A lei alemã prevê, para tais
casos, uma pena máxima de 15 anos. O seu clube, FC Bayern, pagou uma fiança de
500 mil euros e Breno foi posto em liberdade condicional e a família toda
alojou-se na casa do colega Rafinha. Os peritos, em seu laudo técnico, não
duvidam de incêndio provocado. Segundo o laudo, “não é normal que, em uma
residência, o fogo comece simultaneamente em vários aposentos”.
Breno era um indivíduo solitário,
de difícil comunicação. Com os colegas do clube mantinha relacionamento apenas
com Rafinha, Zé Roberto e Lúcio. Ele tinha dificuldades de integração no novo
meio social em que vivia, problemas de língua e, não se sabe se por falta de
inteligência ou simples falta de interesse, não se interessava em aprender o
alemão. Durante os treinos, as instruções do técnico tinham que ser traduzidas
por um de seus colegas brasileiros. Pelas mesmas razões, Breno também não foi
aprovado no teste para a carteira de habilitação alemã. Em matéria de
condução, era dependente da esposa, colegas ou taxistas. Um dos jornais resume:
“Há quatro anos Breno encontra-se na Alemanha, mas em verdade nunca chegou”.
Breno era, segundo suas próprias
palavras, “um homem de família, com fortes vínculos com seus pais”. Ele,
inclusive, trouxe pai e mãe de São Paulo à Munique, onde viviam em sua mansão.
Expirado o prazo de permanência no passaporte, os pais tiveram que
regressar a São Paulo. Breno diz que “sofreu” com o regresso dos pais e os
problemas familiares complicaram ainda mais a sua situação, agravado pelo
abandono da esposa, que levou consigo os três filhos, sendo dois deles de um
casamento anterior.
O ex-empresário de Breno ficou
com ele até tarde daquela noite. Despediu-se e foi à casa de Rafinha. Quando
ouviram o alarme dos carros de bombeiros foram ver o que se passava e então,
viram a casa sendo destruída pelo fogo. Foi neste momento que Renata regressou
com as crianças.
No primeiro dia do processo, ele
apenas limitou-se a falar de sua desastrada carreira, de sua biografia.
Negou-se a falar do incêndio. Seu advogado declarou à imprensa que Breno teria
problemas psíquicos, detalhe que, caso seja confirmado, será determinante para
a decisão da juíza.
Além disso, há meses, o jogador
não recebe mais o seu salário do clube no valor de 85 mil euros mensais. Este
procedimento é normal quando o atleta se encontra na imposibilidade de
jogar e, então, assume o seguro que, segundo Breno, paga 5.786,00 euros
mensais. Aparentemente, ele não estava devidamente segurado e, em consequência,
complicou-se dramaticamente a sua situação financeira.
Breno foi acusado pela Justiça de
ter posto fogo na própria residência. Os dirigentes do FC Bayern München
solicitaram o comparecimento de Giovane Elber, um ex-jogador do mesmo clube,
para assessorá-lo durante o processo, já que um assessoramento por parte do
clube tornava-se difícil pelas razões linguísticas já mencionadas. Elber, que
fala fluentemente o alemão, teve grande atuação na transferência de Breno do FC
São Paulo para o FC Bayern München. Giovane Elber declarou à imprensa que Breno
“era um bom menino”, mas que lamentavelmente não teria se esforçado para
aprender o idioma, “o que é imprescindível para quem quiser fazer carreira
futebolística no estrangeiro”. Como exemplos, ele citou outros craques como
Dunga, Cacau, Rafinha, Zé Roberto, Asamoah (de Gana) e outros que são fluentes
no alemão.
O processo contra Breno terminou
hoje, 4 de julho de 2012. Segundo a juíza Rosi Datzmann, ele “carrega consigo
uma culpa extremamente pesada” e não há duvida de que o acusado ateou fogo em
sua residência. Breno foi condenado a 3 anos e nove meses de prisão. Após o
veredito, pela primeira vez, o jogador falou do incêndio. Pediu desculpas à
família e ao dono da mansão. Confessou o crime quase com as mesmas palavras
iniciais deste texto.
A mídia alemã, ao tratar do
assunto, sempre se referia ao “Der Fall Breno”ou “O caso Breno”. E o caso Breno
é uma dupla tragédia. Uma, as suas constantes lesões; a segunda, o monte de
entulhos com o qual ele mesmo obstruíu a sua tão promissora carreira. Na
verdade, tudo isso nada mais é do que uma grande tragédia human
O Expresso Vida lembra que jogadores ainda não maturos são levados para longe nas negociações e se encantam com valores que jamais imaginaram receber.Jovens, como o Breno, que nem sempre estão suficientemente instruídos para enfrentar a vida longe de casa...
Enfim; Triste a realidade trazida. Sem comentários maiores.
Roberto J. Pugliese - www.pugliesegomes.com.br]
( fonte: Jornal Opção - sitio eletronico Brasil Alemanha )
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