O ministro e o Iate Clube.
Quem conhece Itanhaém sabe
muito bem do lugar privilegiado pela plástica natural que é o Porto Novo. Na
Prainha, o Iate Clube fica estrategicamente situado entre o morro e o rio.
Entre a ponte e o Iate Clube,
ao longo da orla fluvial há uma alameda, e algumas casas dispostas de frente
para o rio, são privilegiadas pela vista e demais condições naturais.
Numa delas, José Pires, ou
como os amigos mais próximos chamam, Zeca Pires, irmão de Guiomar com quem
esteve nas trincheiras de 1932 defendendo São Paulo e a Revolução
Constitucionalista e Lauro outro irmão, também freqüentador da cidade e do
clube.
Lourenço é ainda amigo de
Alexandre, filho de Guiomar, a professora do colégio de freiras, e conhecia bem
seus tios. Freqüentava aquela casa, cuja lembrança mantém ainda na memória.
Zeca à época, nos anos que
corriam em 1960, talvez tivesse mais de
60 anos e era o proprietário do bangalô. Mas pouco freqüentava. Vivia em Brasília,
envolvido com política e políticos. Trabalhara com o ministro Jair Soares que foi governador do Rio Grande do Sul, e
tempos idos, fora prefeito de Miracatu, uma pequena cidade no Vale do Ribeira,
mais ao sul cerca de 100 km.. Sempre envolvido com cooperativismo e
agricultura.
Vivíamos os anos de chumbo e
o ditador da época era Gisel, o truculento General do Exército que tinha como
seu Ministro da Agricultura, um mineiro de Banbuí, Alysson Paulinelli, bastante
moderado para o clima político daqueles tempos perversos.
Lourenço estava no Iate Clube
no final de uma tarde de sexta feira. Era ferias de verão e por alguma razão,
naquele crepúsculo não havia ninguém, salvo os empregados que estavam, se organizando para enfrentar o final de semana,
muito concorrido como de praxe durante as ferias.
Para sua surpresa, vindo do
interior para a rua, pois o clube estava vazio, no jardim que existia à época
entre a piscina e a quadra de basquete, se depara com o ministro da
Agricultura. Sozinho, meio perdido, sem saber bem o que fazer. O Ministro da
Ditadura entrara no clube sozinho e estava perdido entre a quadra de basquete e
a piscina.
Surpreso Lourenço o encara
numa distancia de 30 ou até menos metros vendo se haviam outras pessoas que o
acompanhava. Seguranças, amigos, diretores… enfim, alguém, mas o Ministro
estava sozinho, motivando fazer as honras da casa e apresentar-se.
Lourenço saudou com respeito
o Ministro que se justificou dizendo que estava aguardando seu amigo chegar e
que por sua orientação que ainda estava no banho sugeriu que fosse para o
Clube.
Diante da situação que se apresentou,
Lourenço não teve outra alternativa e
fez confidente as honras da casa. Sugeriu mostrar a autoridade chegante
as instalações. Enquanto Zeca não chegou, levou o Ministro até a Praia das
Saudades, mostrando a garage de barcos, as quadras de bochas, bares, boates e
demais dependências.
Esse quadro deve ter passado
por volta de 1978 ou no ano seguinte.
Para lá e para cá quando Zeca
Pires chegou Lourenço entregou o Ministro ao verdadeiro anfitrião, foi para sua
casa e comentou o fato.
Roberto J. Pugliese
presidente da Comissão de Direito
Notarial e Registros Públicos –OAB-ScMembro da Academia Eldoradense de Letras
Membro da Academia Itanhaense de Letras
Titular da Cadeira nº 35 – Academia São José de Letras
Autor de Terrenos de Marinha e seus Acrescidos, Letras Jurídicas
Autor de Direitos das Coisas, Leud
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