Nos
últimos dias os meios de comunicação têm estado recheados de notícias sobre a
má conduta policial. Mas a que chamou mais a minha atenção foi a da execução de
um servente por cinco policiais militares.
Um
vizinho filmou a cena, e, no vídeo, o servente aparece vivo, sendo retirado de
uma casa pelos cinco PM’s. Os PM’s o conduzem para dentro da viatura. O
servente, aparentemente, apresenta apenas resistência verbal. Um dos PM’s dá um
tapa no servente e outro o chuta. Apesar de reiterados pedidos do servente para
ser solto, alegando não ser a pessoa que os PM’s procuram, eles o conduzem para
dentro da viatura, e lá, atiram contra o servente, matando-o.
Este
é o fato. Lendo a notícia em sites, com a intenção de obter maiores informações
sobre o assunto, me deparei com comentários furiosos e, digamos, interessantes
de alguns leitores:
“Tem
que matar mesmo. Bandido é bandido e só merece sete palmos. Prender policial?
Nas imagens da TV nada está claro. Não foi execução. Houve reação do preso e
ele se deu mal. A Polícia está fazendo um excelente serviço. O resto é conversa
fiada.”
“A
televisão atrapalha o serviço da polícia, fica dando moral a bandido.”
“Os
heróis tiraram um bandido das ruas.”
“Bem
que fizeram! Bandido bom é bandido morto!” –
Essa é nova!
Ora,
e quem disse que com a reprimenda ilegal de delinquentes e suspeitos,
consuma-se o cerco que garante a segurança coletiva? A questão é por demais
complexa para que seja deixada ao arbítrio de quem quer que seja.
É
preciso perceber que quando a ação da autoridade encarregada de fazer respeitar
a lei, extravasa os limites legais, o fato é gravíssimo. Estamos diante de um
abuso de autoridade. Quando esse abuso é cometido pela polícia, ou seja, por
funcionários públicos a quem a sociedade confia armas e dá o direito de prender
pessoas, configura-se uma verdadeira ameaça à democracia e ao Estado de
direito!
O
descontrole mental de um policial desarmado já é alarmante, quando armado, é a
verdadeira negação da razão de ser da polícia.
Mas
se estes argumentos não são suficientes, cabe aqui comentar acerca de uma outra
notícia recente, envolvendo policiais. É sabido que o estado de São Paulo está
sofrendo com uma terrível onda de violência, que já ocasionou a morte de mais
de 90 policiais militares. A Corregedoria está investigando o caso, pois
suspeita de que policiais venderam
os dados de quase cem policiais militares ao PCC. Na lista, continha dados de
policiais que prenderam ou ocasionaram a morte de alguns membros da facção. O
PCC, estaria utilizando esses dados para cometer atentados contra os PM’s e
seus familiares.
E
agora? Quem merece bala? Os policiais? Estas, são as pessoas a quem alguns,
como os autores dos comentários citados, querem dar carta branca para matar,
seja lá quem for.
Essa
linha de pensamento não combate a violência. Apenas a banaliza.
E,
até onde eu sei, heróis não matam, cumprem a lei. Pra quê discutir a pena de
morte se na prática ela já existe? Eu francamente não entendo: fala-se muito
que as leis devem ser cumpridas, mas avaliza-se o descumprimento delas sem o
mínimo de reflexão.
Falta
o entendimento, de que no momento em que um policial agride ou mata um
suspeito, ele o está julgando, condenando, apenando e passando por cima do
Estado. E os bons policiais, que não somente
existem, mas são muitos, acabam pagando por esse tipo de mau comportamento.
Do
ponto de vista de uma vítima de criminosos, é possível compreender a reação de
revolta e o desejo de vingança. Mas a lei existe justamente para impedir que
cada crime dê origem a uma cadeia de agressões e vinganças que estabeleceria a
Lei das selvas como forma de convivência.
Os
cinco policiais envolvidos na morte do servente devem responder judicialmente
por homicídio. Qualificado por motivo torpe. No mínimo. Por quê? Porque é assim
que dispõe a lei. Eles, ao contrário do servente, terão um julgamento, com
direito ao contraditório e à ampla defesa. E olhem, eles mataram. O servente,
até onde se sabe não.
O
texto, colhido do sítio eletrônico da advogada Amanda Werner é merecedor de
aplausos e dispara em poucas palavras a verdade que ocorre no país, que diga-se
de passagem, é considerado a maior nação cristã do mundo, onde se percebe
nitidamente que a sociedade revoltada com a delinqüência das elites e da plebe,
quer a todo custo justiça, nem que seja pelas próprias mãos.
O
povo brasileiro é violento e pela sua origem, sem dúvida, é truculento e autoritário,
venerando amplamente ditadores e torturadores que ao longo da história
massacraram os mais frágeis, como se vê, com estátuas, avenidas, rodovias e
prédios públicos com nomes de Felinto Muller, Medicilandia, Getulio Vargas,
Fleury, Castelo Branco entre tantos e tantos outros e também vigaristas e
safados, contrabandistas assassinos, com destaque para João Havelange que
homenageia com seu conspurcado nome, dois estádios de futebol.
Roberto
J. Pugliese
www.pugliesegomes.com.brAutor de Direito Notarial Brasileiro
( fonte Chuva Ácida, por AMANDA WERNER )
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