Memória nº 62.
O (quase) golpe.
Mudaram-se para Florianópolis
e na casa adquirida resolveram fazer algumas mudanças. Alguns pequenos ajustes
para deixar a nova moradia de conformidade a aproximar-se mais do gosto do
casal, já que uma construção pronta dificilmente será inteiramente do agrado.
Por estarem com obras, resolveram aproveitar para colocar uma pequena piscina
no jardim, próximo ao gazebo.
Feitas as buscas pelo melhor
preço, foi chamado o diretor da empresa escolhida, que analisou o lugar, mediu
e prometeu além das facilidades do preço e pagamento, ainda iluminação e outras
cortesias incluídas no preço bem convidativo.
Disse que só poderia iniciar
a obra em Agosto, motivo que o cheque de sinal deveria ser depositado tão
somente em Agosto, com o início das obras, ficando em custódia, apenas para
garantir a prestação do serviço e as obrigações contratadas.
Passou Junho, Julho e Agosto.
Nem cheque depositado, nem obra iniciada. Intrigado, as respostas que eram
dadas pelo telefone eram evasivas. As idas à loja, uma pequena casinha no
caminho do escritório, passagem obrigatória quase que diária, também nunca
coincidia com a presença do diretor da empresa e o outro que o acompanhara.
Até que Lourenço resolveu dar
uma solução, saindo das negociações amigáveis tentadas, junto à recepcionista que nada sabia informar, nada
decidia ou se revelava conhecedora do problema, e partir para ação mais
concreta, inclusive se fossem infrutíferas as diligencias, ir à policia para
dar um basta definitivo.
Naquela manhã, na lojinha da
empresa, forçou o suficiente para que a mocinha informasse que o diretor estava
numa Lan House nas proximidades. Disse que o computador estava quebrado e que
ele fora...O outro diretor estava em lugar não sabido.
Recentemente na cidade não
conhecia bem os lugares, mas tentou firmar o roteiro e partiu em busca da tal
Lan House. Foi em direção errada. Não
era para lá, retornou, tornou a falar com recepcionista pelo telefone,
corrigindo a rota então mal esclarecida. Foi a outra rua, andou de um lado para
o outro... enfim, encontrou o centro comercial onde havia a tal Lan House. Numa
esquina, na Fazenda Rio Tavares, viu no amplo estacionamento o automóvel com a
pintura da empresa. Estacionou, desceu e foi ao encontro do empresário
inadimplente.
Era uma papelaria no térreo e
subindo uma escadinha, tipo caracol, no mezanino, havia alguns computadores e
ele estava lá, entretido com a tela escrevendo.
Quatro ou cinco computadores
ocupados, com pessoas sentadas e em pé, num ambiente escuro, sem janelas em
que, a única saída era aquela escada estreita e de difícil acesso.
Sem dar oportunidade para
qualquer reação, Lourenço se posicionou entre o fulano ali sentado digitando e
a escada, cumprimentando-o e de imediato questionando sobre a piscina. Olhou de
cima para baixo e foi de baixo para cima que o empresário o olhou e respondeu.
A surpresa surtiu efeito pois
além do susto a posição estratégica o fez ficar sem qualquer ação mais
sólida. Primeiro falou que a indústria
não tinha entregado. Depois falou qualquer outra coisa. Depois outra... enfim,
não podia ligar para a industria, em Palhoça, pois não havia telefone. (... )
Estava caracterizada a picaretagem. Crime, estelionato... qualquer ilegalidade
fora comprovada.
- Então vamos até a indústria.
Vamos no meu carro. Quero o meu cheque de volta.
O sujeito intimidado entrou
no carro e começaram a manobrar quando Lourenço decretou.
- Não quero mais a piscina.
Vamos lá em cima e desfazer o negócio. Você vai declarar que a obrigação está
desfeita e o deposito preliminar, deverá ser devolvido, através do cheque que
se encontra em custódia. Eu quero o cheque em 24 horas.
(...)
Após consultar o outro
comparsa pelo telefone ficou esclarecido que o cheque fora dado a alguém e que
estava em qualquer lugar do mundo e não teria como devolver naquele momento.
- Não tem importância. Assina
aí, e me entregue amanhã, para evitar que eu vá a polícia...
Imediatamente Lourenço foi ao
banco e pediu fosse cancelada a ordem de pagamento. O cheque embasado na
declaração que fora assinada na Lan House estava sustado.
A empresa apenas de fachada
no dia seguinte fechou. Sumiram. O cheque desapareceu... e Lourenço contratou
outra empresa que fez o necessário, instalando a piscina em trinta dias... E o
cheque cancelado nunca veio a ser cobrado.
Roberto J. Pugliese
presidente da Comissão de Direito
Notarial e Registros Públicos –OAB-Sc
Membro da Academia Eldoradense de Letras
Membro da Academia Itanhaense de Letras
Titular da Cadeira nº 35 – Academia São
José de Letras
Autor de Terrenos de Marinha e seus
Acrescidos, Letras Jurídicas
Autor de Direitos das Coisas, Leud
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