07 fevereiro 2014

A piscina e os bandidos. ( memória nº 62)


Memória nº 62.

O (quase) golpe.

 

Mudaram-se para Florianópolis e na casa adquirida resolveram fazer algumas mudanças. Alguns pequenos ajustes para deixar a nova moradia de conformidade a aproximar-se mais do gosto do casal, já que uma construção pronta dificilmente será inteiramente do agrado. Por estarem com obras, resolveram aproveitar para colocar uma pequena piscina no jardim, próximo ao gazebo.

 

Feitas as buscas pelo melhor preço, foi chamado o diretor da empresa escolhida, que analisou o lugar, mediu e prometeu além das facilidades do preço e pagamento, ainda iluminação e outras cortesias incluídas no preço bem convidativo.

 

Disse que só poderia iniciar a obra em Agosto, motivo que o cheque de sinal deveria ser depositado tão somente em Agosto, com o início das obras, ficando em custódia, apenas para garantir a prestação do serviço e as obrigações contratadas.

 

Passou Junho, Julho e Agosto. Nem cheque depositado, nem obra iniciada. Intrigado, as respostas que eram dadas pelo telefone eram evasivas. As idas à loja, uma pequena casinha no caminho do escritório, passagem obrigatória quase que diária, também nunca coincidia com a presença do diretor da empresa e o outro que o acompanhara.

 

Até que Lourenço resolveu dar uma solução, saindo das negociações amigáveis tentadas, junto  à recepcionista que nada sabia informar, nada decidia ou se revelava conhecedora do problema, e partir para ação mais concreta, inclusive se fossem infrutíferas as diligencias, ir à policia para dar um basta definitivo.

 

Naquela manhã, na lojinha da empresa, forçou o suficiente para que a mocinha informasse que o diretor estava numa Lan House nas proximidades. Disse que o computador estava quebrado e que ele fora...O outro diretor estava em lugar não sabido.

 

Recentemente na cidade não conhecia bem os lugares, mas tentou firmar o roteiro e partiu em busca da tal Lan House.  Foi em direção errada. Não era para lá, retornou, tornou a falar com recepcionista pelo telefone, corrigindo a rota então mal esclarecida. Foi a outra rua, andou de um lado para o outro... enfim, encontrou o centro comercial onde havia a tal Lan House. Numa esquina, na Fazenda Rio Tavares, viu no amplo estacionamento o automóvel com a pintura da empresa. Estacionou, desceu e foi ao encontro do empresário inadimplente.

 

Era uma papelaria no térreo e subindo uma escadinha, tipo caracol, no mezanino, havia alguns computadores e ele estava lá, entretido com a tela escrevendo.

 

Quatro ou cinco computadores ocupados, com pessoas sentadas e em pé, num ambiente escuro, sem janelas em que, a única saída era aquela escada estreita e de difícil acesso.

 

Sem dar oportunidade para qualquer reação, Lourenço se posicionou entre o fulano ali sentado digitando e a escada, cumprimentando-o e de imediato questionando sobre a piscina. Olhou de cima para baixo e foi de baixo para cima que o empresário o olhou e respondeu.

 

A surpresa surtiu efeito pois além do susto a posição estratégica o fez ficar sem qualquer ação mais sólida.  Primeiro falou que a indústria não tinha entregado. Depois falou qualquer outra coisa. Depois outra... enfim, não podia ligar para a industria, em Palhoça, pois não havia telefone. (... ) Estava caracterizada a picaretagem. Crime, estelionato... qualquer ilegalidade fora comprovada.

 

- Então vamos até a indústria. Vamos no meu carro. Quero o meu cheque de volta.

 

O sujeito intimidado entrou no carro e começaram a manobrar quando Lourenço decretou.

 

- Não quero mais a piscina. Vamos lá em cima e desfazer o negócio. Você vai declarar que a obrigação está desfeita e o deposito preliminar, deverá ser devolvido, através do cheque que se encontra em custódia. Eu quero o cheque em 24 horas.

 

(...)

 

Após consultar o outro comparsa pelo telefone ficou esclarecido que o cheque fora dado a alguém e que estava em qualquer lugar do mundo e não teria como devolver naquele momento.

 

- Não tem importância. Assina aí, e me entregue amanhã, para evitar que eu vá a polícia...

 

Imediatamente Lourenço foi ao banco e pediu fosse cancelada a ordem de pagamento. O cheque embasado na declaração que fora assinada na Lan House estava sustado.

 

A empresa apenas de fachada no dia seguinte fechou. Sumiram. O cheque desapareceu... e Lourenço contratou outra empresa que fez o necessário, instalando a piscina em trinta dias... E o cheque cancelado nunca veio a ser cobrado.

 

Roberto J. Pugliese


presidente da Comissão de Direito Notarial e Registros Públicos –OAB-Sc

Membro da Academia Eldoradense de Letras

Membro da Academia Itanhaense de Letras

Titular da Cadeira nº 35 – Academia São José de Letras

Autor de Terrenos de Marinha e seus Acrescidos, Letras Jurídicas

Autor de Direitos das Coisas, Leud

Nenhum comentário:

Postar um comentário