Memórias nº 61
O beliche e o Shopping Center.
I
A casa estava cheia de
visitas. Lourenço trouxera Gil e Bellardi. Seu irmão trouxera Cintra, Zé
Ricardo e assim, eram seis dormindo no quarto dos fundos. Um cômodo fora da
casa principal.
Acomodaram-se como puderam.
Colchão no chão. Cama de um lado e do outro e no beliche, acima Gil e em baixo
Lourenço.
No meio da madrugada todos
dormindo. Ventilador portátil rodando num dos cantos fazendo mais barulho do
que aliviando a alta temperatura do calor de verão e de repente, numa virada
qualquer, o beliche desaba e por um triz quase pega a trava na testa de quem
dormia embaixo.
O susto foi geral.
No meio da escuridão e no
envolvimento do silencio, uma berraria e confusão. Gil pulou do leito e se
agarrou com Lourenço irmão, que dormia no chão e Lourenço preso sob o beliche
que caíra também grita para que o tirem dali.
Na escuridão ninguém sabia o
que ocorria. Ninguém se entendia. Enfim, alguém acende a luz e tudo é
esclarecido.
(...)
Mal fixado, com o peso e o
balançar eventual, o beliche despreendeu-se e caiu. Gil veio abaixo caindo em
cima de Lourenço, preso entre o colchão de sua cama e o leito que cedera na
cabeceira e permanecera fixo nos pés, provocando maior tormento e susto dada a
inclinação incomoda...
II
Saíram cedo de Itanhaém. Estrada
da Banana até a Br 116. Ambas com pista única para os dois sentidos. Aquela
cheia de curvas e sem acostamento e a federal, como até hoje, com muito
trânsito, com tráfego bem pesado, tornando-a bem perigosa. Por volta de meio
dia, estavam no centro de Curitiba batendo em alguns hotéis e procurando dois
apartamentos de casal. Rodam daqui... dali... até que encontram o que queriam.
Almoçaram e deram algumas voltas pela
encantadora cidade. Estavam cansados.
Mais à noitinha resolveram ir
ao Shopping Center, único da cidade, que na verdade era em São José dos
Pinhais. Regininha e Lourença Esposa saíram às compras e deixaram Lourenço e
Gil para traz até que se encontraram e combinaram que ficariam naquele banco
aguardando por elas...
( ... )
Estava muito frio e o cansaço
tornava o shopping uma geladeira, com o vento penetrando pelas alamedas e se
espalhando pelo corpo das pessoas...
O tempo passou. Estava muito
frio. Muito frio e elas não apareciam. Os dois cansados, sentados no banco no
meio do corredor, sem encosto, que os obrigaram a se encostar meio de lado um
no outro e... sem assunto, ou já esgotados adormeceram... zzz...zzz...zzz.
Dormiram e foram acordados
pelas mulheres espantadas com o que viram... Dali o tournée continuou. Foram
jantar na Santa Felicidade, o tradicional bairro italiano onde se concentram
restaurantes bastante cobiçados.
No dia seguinte foram passear
de ônibus. Andaram por toda Curitiba. Desciam de um coletivo, tomavam outro...
Retornaram na segunda feira
pela manhã.
Gil e Lourenço estavam sempre
juntos. Amizade antiga. Conheceram-se em 1957 em Itanhaém. Compadres.
Permaneceram juntos, mesmo com as inúmeras mudanças de domicilio de Lourenço,
até que o acidente na casa do Guarujá em Março de 2007 ...
Foram 50 anos de amizade
forte. Amizade insubstituível cuja ausência deixou o vácuo profundo.
Roberto J. Pugliese
presidente da Comissão de Direito
Notarial e Registros Públicos –OAB-Sc
Membro da Academia Eldoradense de Letras
Membro da Academia Itanhaense de Letras
Titular da Cadeira nº 35 – Academia São
José de Letras
Autor de Terrenos de Marinha e seus
Acrescidos, Letras Jurídicas
Autor de Direitos das Coisas, Leud
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