04 fevereiro 2014

O beliche, o sono e o shopping center. ( memória nº 61)


Memórias nº 61

O beliche e o Shopping Center.

 

 

I

A casa estava cheia de visitas. Lourenço trouxera Gil e Bellardi. Seu irmão trouxera Cintra, Zé Ricardo e assim, eram seis dormindo no quarto dos fundos. Um cômodo fora da casa principal.
 
Acomodaram-se como puderam. Colchão no chão. Cama de um lado e do outro e no beliche, acima Gil e em baixo Lourenço.
 
No meio da madrugada todos dormindo. Ventilador portátil rodando num dos cantos fazendo mais barulho do que aliviando a alta temperatura do calor de verão e de repente, numa virada qualquer, o beliche desaba e por um triz quase pega a trava na testa de quem dormia embaixo.
 
O susto foi geral.
 
No meio da escuridão e no envolvimento do silencio, uma berraria e confusão. Gil pulou do leito e se agarrou com Lourenço irmão, que dormia no chão e Lourenço preso sob o beliche que caíra também grita para que o tirem dali.
 
Na escuridão ninguém sabia o que ocorria. Ninguém se entendia. Enfim, alguém acende a luz e tudo é esclarecido.
 
(...)
 
Mal fixado, com o peso e o balançar eventual, o beliche despreendeu-se e caiu. Gil veio abaixo caindo em cima de Lourenço, preso entre o colchão de sua cama e o leito que cedera na cabeceira e permanecera fixo nos pés, provocando maior tormento e susto dada a inclinação incomoda...
 
II
 
Saíram cedo de Itanhaém. Estrada da Banana até a Br 116. Ambas com pista única para os dois sentidos. Aquela cheia de curvas e sem acostamento e a federal, como até hoje, com muito trânsito, com tráfego bem pesado, tornando-a bem perigosa. Por volta de meio dia, estavam no centro de Curitiba batendo em alguns hotéis e procurando dois apartamentos de casal. Rodam daqui... dali... até que encontram o que queriam. Almoçaram e  deram algumas voltas pela encantadora cidade. Estavam cansados.
 
Mais à noitinha resolveram ir ao Shopping Center, único da cidade, que na verdade era em São José dos Pinhais. Regininha e Lourença Esposa saíram às compras e deixaram Lourenço e Gil para traz até que se encontraram e combinaram que ficariam naquele banco aguardando por elas...
 
( ... )
 
Estava muito frio e o cansaço tornava o shopping uma geladeira, com o vento penetrando pelas alamedas e se espalhando pelo corpo das pessoas...
 
O tempo passou. Estava muito frio. Muito frio e elas não apareciam. Os dois cansados, sentados no banco no meio do corredor, sem encosto, que os obrigaram a se encostar meio de lado um no outro e... sem assunto, ou já esgotados adormeceram... zzz...zzz...zzz.
 
Dormiram e foram acordados pelas mulheres espantadas com o que viram... Dali o tournée continuou.  Foram jantar na Santa Felicidade, o tradicional bairro italiano onde se concentram restaurantes bastante cobiçados.
 
No dia seguinte foram passear de ônibus. Andaram por toda Curitiba. Desciam de um coletivo, tomavam outro...
 
Retornaram na segunda feira pela manhã.
 
Gil e Lourenço estavam sempre juntos. Amizade antiga. Conheceram-se em 1957 em Itanhaém. Compadres. Permaneceram juntos, mesmo com as inúmeras mudanças de domicilio de Lourenço, até que o acidente na casa do Guarujá em Março de 2007 ...
 
Foram 50 anos de amizade forte. Amizade insubstituível cuja ausência deixou o vácuo profundo.
 
Roberto J. Pugliese
presidente da Comissão de Direito Notarial e Registros Públicos –OAB-Sc
Membro da Academia Eldoradense de Letras
Membro da Academia Itanhaense de Letras
Titular da Cadeira nº 35 – Academia São José de Letras
Autor de Terrenos de Marinha e seus Acrescidos, Letras Jurídicas
Autor de Direitos das Coisas, Leud

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