Rolezinho !
O Expresso Vida transcreve abaixo um texto
de Paulo Nogueira, jornalista independente sobre as últimas manifestações
públicas de grupo de jovens que estão se organizando e bagunçando com violência
espaços públicos.
“ A periferia só serve para
limpar nossos pratos.
Paulo Nogueira
O cardeal panamenho Óscar Maradiego tem toda razão
em seu desabafo. É uma vergonha a desigualdade social que
teima em açoitar a America Latina.
Temo que meus filhos viverão num Brasil abjetamente
iníquo, e pior: temo que os filhos dos meus filhos também.
Lamento por meus netos e netas. Terão que viajar
para a Escandinávia para ver uma sociedade justa, digna, decente.
O pobre vota, vota, vota – e permanece pobre.
Há na America Latina um sistema sinistro pelo qual
os privilegiados dão sempre um jeito de manter suas vantagens. Eles são intocáveis.
Os Sarneys, por exemplo. Ninguém mexe com eles porque Sarney, em algum momento,
teria sido importante para Lula.
É uma divida de Lula, se ela existe de fato. Ou do
PT. Mas acaba transferida para todos os brasileiros, em especial os miseráveis
maranhenses. A elite latino-americana armou um esquema pelo qual nada muda, ou
muito pouco muda.
O fato é que o PT não conseguiu romper este esquema
– ou por medo, ou por pragmatismo, ou simplesmente por inépcia. A falta de
audácia, para mim, foi o principal fator do imobilismo, o que é curioso num
partido que pregava que a esperança deveria vencer o medo.
No poder, o medo venceu.
O Brasil ainda está à espera de seu Papa Francisco
– um destemido, um visionário, um inovador que mexe nas coisas sem ficar se
perguntando se os americanos vão gostar, ou os tradicionalistas da Igreja, ou
quem seja. Só assim você muda as coisas: incomodando. Ah, os católicos ricos
americanos estão amuados porque Francisco elogiou marxistas que conheceu?
Francisco é mais elegante do que o que vou escrever, mas a resposta dele foi:
danem-se.
Clap, clap, clap. De pé.
É dentro desse
quadro que aparecem os rolezinhos. Uma entrevista do Estadão com o organizador do
primeiro grande rolezinho é reveladora.
O que eles queriam, os jovens da periferia?
Queriam ver alguma coisa que não existe na região
em que moram: a opulência segregadora dos shoppings, no qual eles só são
bem-vindos para servir a clientela depois de ficar mais de uma hora num ou dois
ônibus lotados para chegar ao trabalho.
Nós não cuidamos da periferia. Brigamos quando
alguém tenta fazer alguma coisa pela periferia. O melhor exemplo é o prefeito Haddad,
massacrado por tentar diminuir o imposto das regiões mais pobres e aumentar o
das áreas mais ricas. Os privilegiados se uniram em Sao Paulo, e ainda
receberam o apoio de Joaquim Barbosa.
A periferia só é vista quando vai para o centro.
Então assusta, e a policia é chamada, e os alarmes
soam histéricos: pobres e negros à vista. Queremos empurrá-los de volta para o
lugar precário de onde jamais deveriam ter saído para nos incomodar.
Que venham, mas ordenadamente, para lavar os nossos
pratos, servir a nossa comida, fazer a faxina de casa e sorrir submissamente.
O cardeal tem razão. É muita conversa e quase
nenhuma ação na América Latina, a terra dos intocáveis, o paraíso da
iniquidade.”
O Expresso Vida deixa patente
que é favorável a toda forma de protesto e de melhor distribuição de renda.
No entanto condena e não aceita nenhum
tipo de protesto que ponha em risco a segurança de bens e pessoas públicas ou
particulares. Ademais teme pela ordem política e pelo regime democrático.
Roberto J. Pugliese
Membro da Academia Eldoradense de Letras
Membro da Academia Itanhaense de Letras
Titular da Cadeira nº 35 – Academia São
José de Letras
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