Memória.nº65
Lições inesquecíveis.
Ainda não completara uma
semana que estava trabalhando no tabelionato quando seu pai pediu que fosse ao
escritório de um cliente para ler e assinar a escritura de compra de um
prédio...
Deu as orientações mínimas e
entregou o livro de notas, recomendando que tomasse cuidado e que depois de
colher a assinatura cobrasse os emolumentos que disse cobrar e fosse direto
para casa em razão do livro que não deve correr riscos de ser extraviado.
Naquele tempo o livro era
enorme, manuscrito e Lourenço, com uma pasta própria seguiu para o tal
escritório, nas imediações do Instituto Mackenzie, próximo ao Tribunal Militar
Estadual, num prédio não muito alto, provavelmente na Amaral Gurgel...
Se apresentou como
funcionário do cartório e aguardou ser chamado. Muito atencioso o cliente
deixou bem à vontade e pediu que lesse a escritura. Como não entendia bem, ou
nada do que estava lendo e, como era a primeira vez que se deslocava nessa
missão, com o peso da responsabilidade e um tanto nervoso, sua leitura
provavelmente enguliu a pontuação e as entonações adequadas a cada termo.
Gebara o cliente não entendeu
nada, mas com educação pediu para dar uma olhada no texto, antes de assiná-la.
Perguntou gentilmente há quanto tempo era funcionário do cartório e, após
assinar onde foi indicado,pagou o devido e ainda deu uma gratificação para
encentivo.
- Parabéns...
Elogiou e incentivou o rapaz,
mesmo sendo apenas para não desmoraliza-lo.
Ocorre que o cliente, na verdade,
era um sócio do Iate Clube, amigo de Lourenço Pai e desconhecia que o rapaz era
o filho de seu amigo. Mesmo com a insegurança, nervosismo e falta de expressão,
elogiou e incentivou, dando animo ao jovem que estava se iniciando numa
carreira.
Lourenço contou para o pai e
elogiou o comportamento social do cliente.
(...)
Passados alguns anos, já
advogado e numa posição social outra, seguro de si cruzou como Gebara na
garagem de barcos do Iate Clube, criou coragem, e interrompendo a lavagem da
lancha em que estava entretido, pediu licença e contou a história que se
sucedera anos antes, elogiou e agradeceu o amigo de seu pai. E aprendeu a agir
do mesmo modo. Nunca esqueceu.
Quem também o ajudou no
inicio da advocacia foram os proprietários de uma imobiliária, que tinha
diversos loteamentos, inclusive um em Serra Negra e outro em Iguape.
Lourenço lavrava escrituras
do loteamento Varella, situado em Iguape e quando saiu do cartório para exercer
a advocacia, lembrou-se que havia inúmeros compradores inadimplentes e sugeriu
rescindir esses contratos. Eram mais de mil contratos e a rescisão extra
judicial.
Não precisariam contrata-lo
para o serviço, mas para ajuda-lo no inicio da carreira, Waldemar da Costa
Gomes e Francisco José de Toledo Machado, esse último, inclusive advogado,
entregaram esses contratos e os de Serra Negra para que ultimassem as medidas
próprias.
Foi à época uma grande ajuda.
Inesquecível o comportamento dos
loteadores, que nunca teve oportunidade de retribuir ou agradecer, pois
com o tempo, com as mudanças de domicilio e
circunstancias da vida, se desencontraram. Mas nunca os esqueceu. Nem os
esquecerá.
Roberto J. Pugliese
Presidente da Comissão de Direito Notarial
e Registros Públicos –OAB-Sc
Membro da Academia Eldoradense de Letras
Membro da Academia Itanhaense de Letras
Titular da Cadeira nº 35 – Academia São
José de Letras
Autor de Terrenos de Marinha e seus
Acrescidos, Letras Jurídicas
Autor de Direitos das Coisas, Leud
Sócio do Instituto dos Advogados de Santa Catarina
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