Congresso Internacional de Direitos Humanos.
Roberto J. Pugliese atribui ao Poder Público responsabilidade por violação de Direitos Humanos. !
( trecho da fala do palestrante )
Congresso Internacional de Direitos Humanos.
O Expresso Vida traz aos
ilustres leitores o texto que o editor desse blog apresentou em Agosto de 2006,
em Curitiba, Pr., no Congresso Internacional de Direitos Humanos.
Trata-se de discurso bastante
contundente que atribue aos Poderes Públicos a maior culpa pela violação de
direitos humanos no país. Segue o texto completo.
Vejamos:
“ Caros senhores,
O Brasil deve ser
considerado pela pratica tradicional da violência um país que não respeita os
direitos naturais. Pelo traço deixado ao longo da história, não há como
esquivar-se da pecha vergonhosa de
tratar-se de um pais violento, onde o povo ignorante na sua maioria,
inconscientemente se submete a violência de uma minoria dominante.
A
violação de direitos naturais trata-se de prática tradicional e histórica,
assimilada pelas elites, que ao longo dos anos, estruturou um poder oficial
para controle dos excluídos das classes privilegiadas, que se vale dos mais
diversos instrumentos, com destaque aos meios institucionais patrocinados pelo
Poder Público.
Objetivando
o aludido fim, a manipulação das elites sobre as massas, se vale de qualquer
instituição, principalmente pública, sobre a qual detém histórico controle, sem
dar importância aos direitos naturais e as prerrogativas inerentes a dignidade
decorrente da vida humana.
É
tradicional a postura do Estado a serviço de grupos dominantes, inclusive de origem
estrangeira. Sempre foi assim.
Desde
a invasão portuguesa capitaneada por Cabral, que ignorando direitos e costumes
dos nativos aborígenes, provocou a ruptura da
ousaram
discordar das normas impostas pelo novo regime. Em homenagem ao harmonia
ambiental da costa, com a extração indiscriminada de riquezas naturais, notadamente
o pau brasil, passando pela violência da escravidão indígena, até genocídios
escandalosos, dizimando grupos étnicos pela transmissão de doenças, maus tratos
e confinamentos em nome de um Monarca situado num reino tão distante, como
igualmente distante e irreconhecível foi o Deus que se impôs às raças
dominadas.
Observa-se
pois que vergonhosamente o país surge da espada covarde do Colonizador,
oficializada pela Cruz hipócrita do pregador, valendo-se de práticas ardilosas
impostas pela brutalidade da força desproporcional e da sutileza envolvente de
conversas ludibriadoras de lideranças frágeis e entreguistas, visando a
disseminação cultural de povos, para
submissão destes a soberania do Conquistador.
A
violação de direitos naturais fez da
população de 5 milhões de indígenas que viviam no século XV no território
conquistado pelos portugueses na América Meridional, atingir em no primeiro
quartel do século passado, a
insignificante marca de apenas 120 mil silvícolas, extinguindo-se
totalmente costumes e culturas inerentes
a Nações que foram dizimadas ao longo da história. Povos, línguas e tradições
milenares, foram extintas em nome dos interesses econômicos do Capital
pertencentes a grupos dominantes brasileiros e estrangeiros.
Inimaginável
os dados extraídos por pesquisadores de órgãos públicos, como a FUNAI e o IBGE
e por Organizações Não Governamentais, como o CIMI e a &&& que
apontam essa cruel estatística. Vergonhosa as incontáveis acusações e sentenças extraídas de Tribunais
Internacionais, comprovando que a atuação condenável do Estado contra etnias e
segmentos desprotegidos da sociedade trata-se de prática indisfarçável e
tradicional.
A
época setecentista, na busca de fortunas e maior poder, empresas européias financiaram por longos anos seguidos a
exploração das riquezas da privilegiada natureza, ignorando tratados internacionais, fronteiras
estabelecidas e fechando os olhos as brutalidades indispensáveis para
conquistas de novos territórios. Os bandeirantes, a par de violarem direitos
mínimos do caboclo e principalmente dos indígenas com quem se deparavam, agiam
com mão de ferro no isolamento da interlandia que desbravavam, impondo-se a
qualquer custo a vontade do
patrocinador.
Àquela
época fica patente que a Corte do Rio de Janeiro, não teve o mínimo pudor em
estabelecer e manter o regime da escravidão negra, propiciando elevados lucros
para mercadores, que buscavam do outro lado do Atlântico a mão de obra farta,
responsável pela composição da elite rural conservadora, bem sucedida e comprometida
com a concentração de riquezas, privilégios e poderes.
Durante
o regime imperial que se impôs a partir de 7 de setembro de 1822, não será
exagero afirmar-se que a seqüência de violações à dignidade mínima das
pessoas, paulatinamente foi se alterando
para pior.
Maiores
requintes da Corte permitiram ignorar-se direitos humanos, em especial dos que
se impunham na condição de opositores ao regime, bem assim, também dos que não
integravam as privilegiadas mordomias de
apaniguados que sustentavam a monarquia brasileira.
É
sabido que demonstrando força, mais de uma vez o Imperador dissolveu as
Assembléias desmoralizando o Poder Legislativo, para impor sua vontade. Exigiu
fosse inserido na Magna Carta que idealizou, um Poder Político Especial,
constituindo-se o singular Poder Moderador.
Não é novidade a imposição constante de censura. Também é notório que
penas degradantes, cumpridas em
condições desumanas em locais isolados, sem qualquer assistência, permitiam
fossem contraídas doenças ou mesmo levavam esses apenados a morte. Outros eram
degredados em razão de sentenças extraídas de processos viciados.
A
esse tempo, sob as ordens do Imperador, a Assembléia faz aprovar legislação que
garante a concentração da propriedade da
terra, agravando a situação de injustiça social já latente. Legislação prévia,
dificultando a aquisição imobiliária, precede a lei áurea, permitindo assim que
o negro permaneça excluído do resultado da produção das riquezas da qual
participava como mero coadjuvante. Institucionalizava-se paulatinamente a
violação de direitos humanos, criando-se condições legais para impedir o acesso
a propriedade pelos escravos libertados em 1888.
Percebe-se
nitidamente durante o período imperial que teia de normas propiciaram a
institucionalização de meios para violar-se direitos mínimos e indispensáveis
aos seres humanos.
Surgem
inúmeras revoltas, guerras e revoluções em diversas regiões do país, as quais
foram sem exceção, duramente sufocadas pelo Estado. Direta ou indiretamente a
desigualdade social decorrente da concentração da propriedade agrária nas mãos
de raros integrantes da elite fundiária é o mote desses conflitos.
Os
anais escritos pelos vencedores jamais justificaram os motivos de tantas lutas
espalhadas pelo território do império, assim como não conseguiram argumentar
motivos favoráveis a tantos massacres promovidos pelo Estado para manter a paz
e a integridade do território. Mas nesse singelo retrospecto, permite-se
salientar esses fatos históricos relacionados na causa e no efeito a violação
de direitos naturais pelos Poderes Públicos.
O
mesmo pode ser acrescentado em relação a Guerra do Paraguai, promovida durante
o Império sob a instigação britânica para coibir o fortalecimento da jovem
república incrustada no interior da América, que não mais dependia dos
badulaques europeus. Os atos de barbárie promovidos pelos militares da tríplice
aliança revelam a sutileza na arte de violar direitos humanos.
Negros,
presidiários, doentes mentais e todas as espécies de excluídos sociais, étnicos
ou despidos de rendas, em troca da liberdade que nunca alcançaram, eram
convidados a se tornar voluntários. Os que não aceitavam, tinham suas
restrições ampliadas por perseguições ou
julgamentos facciosos.
Décadas
depois, já na 2a. República o governo hipócrita ludibriou milhares
de nordestinos, criando sob a instigação dos Estados Unidos, o heróico exercito
da borracha, que foi abandonado à própria sorte no interior do Território do
Acre, sem qualquer recompensa pelo esforço de guerra que através do empenho
individual propiciaram a vitória bélica dos aliados. Mais uma vez a história se
repetiu violando direitos mínimos de parcela de miseráveis.
Com o
advento da República, as mudanças que se dão, não são tantas. Basta lembrar que na ilha de Santa
Catarina, o Mal. Floriano Peixoto
determinou o fuzilamento de todos os insubordinados que violento militar, a
elite política do Estado, houve alterar o nome da Capital , então Desterro,
para Florianópolis.
Sempre
fundada na constante violação de direitos mínimos dos cidadãos e na saliente
injustiça social institucionalizada, a
história Republicana, desde o seu início, convive com insurreições, movimentos
populares e revoluções. Foram os anarquistas, em S. Paulo; os tenentes no Rio
de Janeiro; a coluna Prestes que caminhou pelo país levando um ideal de paz e a
guerra paulista de 1932, apoiada pelos barões do café e pela nova classe de
industriais igualmente descontentes.
Na
fronteira oeste, insatisfeitos com o elevado grau de concentração fundiária,
símbolo do poder desmedido, paranaenses e catarinenses confundidos pela
liderança mística de um Monge alucinado,
deflagraram a Guerra do Contestado, cujo objetivo indisfarçável fora a
melhor distribuição do capital concentrado.
E o
requinte aprimorado dos vencedores, em
nome da modernização do Estado arcaico, pela liderança bruta do caudilho,
imprimiu-se a ditadura, que através do regime de exceção,
buscou transformar a grande fazenda de café endividada, numa República liberal,
social e verdadeiramente democrática, impondo-se a vontade da nova classe
dominante que surgia, constituída pelos primeiros industriais igualmente servis aos interesses de poucos,
mantendo-se o mesmo prumo de política de favores e prerrogativas em detrimento
das classes menos favorecidas.
A
preservação dos direitos humanos, mesmo com o término do longo período
ditatorial imposto por Vargas, não foi plenamente restabelecida. A polícia
política de Felinto Muller, deu lugar ao
DOPS e nem todos os Partidos Políticos foram institucionalizados, permanecendo
na clandestinidade, da democracia aparente.
O
povo voltara a cantar, porém, mesmo no embalo da bossa nova e da liberdade de
imprensa, a censura permaneceu oficializada, acobertando a violência
institucional promovida pela desigualdade social geradora de inúmeras outras
agressões aos direitos naturais.
A
farsa da renuncia de Jânio Quadros e a mobilização popular para garantir a
posse do vice- presidente, bem revela a astúcia do poder econômico dominante,
impedindo a qualquer custo a implementação da democracia verdadeiramente
popular.
Deslumbrando-se
a efetivação das primeiras reformas de base, através das quais, pretendia-se
estruturar o pais para minorar a injustiça social e a violência institucional
tradicional, modernizando-se as relações do Estado com o Povo e principalmente
impondo-se aos interesses nacionais privilégios sobre quaisquer outros
alienígenas, suspendeu-se a farsa e com a despudorada colaboração do Tio San,
interrompeu-se o curto período de democracia política, revelando-se mais uma
vez a fragilidade em que se sustentava, acuada principalmente por grupos
tradicionais de interesses conservadores.
Com o
golpe de 31 de Março a violação de
direitos naturais passou a se dar
escancaradamente. Os militares e policiais transformaram-se em agentes de
segurança interna do Estado. A brutalidade do regime saltou aos olhos do mundo.
Oficiais
das forças armadas freqüentaram cursos
ministrados no Panamá, e diplomados pela Escola das Américas, se prepararam
para servir aos interesses internacionais que não desejavam fosse concretizada
a independência do povo e do país.
Em
nome da segurança nacional intelectuais foram deportados. Professores afastados
de suas cátedras. Funcionários públicos demitidos. Castrou-se repentinamente do
exercício de seus postos lideranças ideologicamente contrárias ao governo que
se instalara. Militantes e ativistas políticos tradicionais, legitimamente
representantes de seus eleitores foram perseguidos cruelmente e de igual modo
eliminou-se a possibilidade de novas lideranças políticas. Extinguiram-se todos
os partidos políticos, interviram em sociedades de classe, nas escolas e nos
sindicatos.
Todas
as manifestações populares, reivindicantes de direitos foram suprimidas. Cassaram-se direitos políticos. Esvaziou-se o
Congresso Nacional do debate ideológico. Perseguiram os que discordavam.
Prenderam, mataram, torturaram em nome da paz social e da segurança das
instituições. Calaram as massas pela força bruta. Atribuíram valores superiores
a vida. Desprezaram a dignidade mínima do ser humano.
O
Poder Legislativo dos Estados e dos Municípios teve o mandato de seus
integrantes suspensos e o Congresso Nacional, por diversas vezes, cercado por
tropas, foi fechado arbitrariamente por ordens emanadas pelo ditador de
plantão.
Calou-se
a vos do brasileiro. Tentaram por inúmeros meios, modos e forma promover a
lavagem cerebral coletiva da Nação.Ativistas e seus familiares foram
perseguidos como inimigos do regime e da pátria. Julgamentos sumários
chancelaram a farsa do devido processo legal.
O
povo alegre e festivo foi jogado nas masmorras do regime imposto contra a sua
vontade.
A
Constituição fora rasgada, cedendo lugar a inúmeros atos institucionais, com
destaque ao AI 05, que outorgava ao Chefe do Poder Executivo Federal poderes
ilimitados. Institucionalizou-se sob a
orientação da CIA e outros organismos estratégicos, forma para calar as massas
e despoja-las de condições políticas mínimas para organizar o enfrentamento
adequado.
Os
meios de comunicações foram preparados com astúcia, tecnologia e financiamento
público e estrangeiro para servirem ao Estado totalitário, seus agentes e todos
que tiravam proveito do regime. Rede de
micro-ondas se espalhou por todos os cantos do país, com o fito de controlar
eventuais insurreições, disfarçando-se pela pujança de se unir o imenso
território nacional.
Repentinamente
a recém inaugurada TV Globo do Rio de Janeiro, com suporte técnico, orientação
editorial e colaboração indisfarçável do grupo de comunicação Time-Life, se transforma na maior
rede de comunicações e no principal veículo publicitário da perversa ditadura.
A
censura prévia implementada dentro das redações dos principais jornais, revistas
e agencia de noticias e o temor das emissoras de rádio e tv terem cassadas suas
concessões, impedia que a corrupção implantada no seio da caserna e nos
meandros das estatais viesse ao
conhecimento público. Assim como as generalizadas estúpidas investidas contra
brasileiros contrários ao regime.
Sob a
bota e a espada do Estado policialesco, durante anos o povo conviveu com os
atos de arbítrio emanados do Poder: Foram expulsos da terra, para ceder lugar
a efetivação de projetos de grandes
represas; incharam as principais metrópoles com favelas, mocambos e moradores
de rua. A ecologia foi degradada no ambiente rural e urbano, cedendo lugar a
projetos de parcelamento do solo, a
sítios de recreio ou mesmo de construção de empreendimentos condominiais sem
qualquer cuidado com as águas servidas, o lençol freático, com a circulação do ar e luz, impondo-se a
desarmonia total entre o homem e a natureza. A mata atlântica, o cerrado e a
floresta amazônica receberam financiamentos públicos para se transformarem em
pastagens e fazendas de grãos. Foram construídas represas e grandes barragens, sem qualquer
discussão com a população submetida a desapropriações vergonhosas, cujos preços
ainda não foram pagos. Alguns projetos inaugurados com tanta celeridade,
tiveram o solo invadido pelas águas com a submersão de arvores nobres.
O
ensino público cedeu lugar as empresas exploradoras dessa atividade pública de
todos os graus.A pesquisa científica universitária padeceu com a
permissibilidade da exploração da biodiversidade florestal pública entregue a
empresas estrangeiras. A ciência deu lugar ao lucro.
A
saúde pública não foi levada a sério. Durante anos, o segurado do município não
podia ser atendido pela unidade hospitalar do Estado ou da União. E vice versa.
Os hospitais particulares, foram amplamente incentivados e se expandiram reprimindo-se a demanda indispensável de
hospitais públicos.
Os
bancos, inclusive os estatais, fomentaram o consumo de bens e utilidades nem
sempre necessárias, mas produzidas pelas
industrias do primeiro mundo,algumas inclusive com sedes no pais,
enquanto que a industria da habitação, inteiramente nacional, não foi
incentivada, salvo por um burocrático BNH que, valendo-se da poupança
obrigatória do trabalhador, servio mais as classes privilegiadas do que a
construção popular.
Fica
nítido, pela leitura rápida da história, que
a intervenção estatal oficializando os requintes violadores dos direitos
humanos, se implantou nos trópicos, desde que a esquadra portuguesa lançou suas ancoras na costa baiana. E assim continua até
presentemente. E o mesmo ocorreu na América espanhola, inglesa, francesa,
holandesa ocupada e brutalmente violentada por autoridades estúpidas que
difundiram a cultura do medo individual e coletivo.
A
constante violência generalizada que historicamente vem abalando direitos
inerentes à natureza humana, está lamentavelmente incutida na cultura do povo
latina americana e brasileira. A ingenuidade coletiva e a boa fé, acrescida do
elevado grau de ignorância e passividade fizeram com que todos esses anos
fossem aprimorados e adaptados às condições regionais e do momento, requintados
instrumentos oficiais de exploração popular, para que círculo restrito de
apaniguados melhor pudesse se servir do poder em todas as suas expressões.
A
própria Constituição é vítima dessa violência. Fruto de debate político e ideológico maduro, participativo, que
mobilizou toda a sociedade para edifica-la, com a firme preocupação na
preservação de interesses nacionais presentes e futuros, bem assim, com mote
principal na valorização da dignidade humana, logo após os festejos de sua
solene promulgação, passou a sofrer campanha
violenta para sua revogação.
Todos
os meios de comunicações, desde os tradicionais jornais e revistas impressos,
passando pelas diversas formas de mídia eletrônicas, adentrando-se às universidades, sindicatos e organizações de classe e
culturais, agentes estrategicamente posicionados passaram a desmoralizar sem
qualquer pudor o texto magno.
Instigado
por interesses daqueles que foram prejudicados com o avanço político e
institucional por ela estruturado, os representantes das elites econômicas e do
capital internacional que sempre ronda os interesses genuinamente
brasileiros, passaram a atribuir aos
ditames constitucionais os motivos de todas as mazelas e dificuldades
enfrentadas pelo sofrido povo brasileiro.
Sem
qualquer receio a imprensa servil a interesses de castas privilegiadas, se
dispôs e até hoje, divulga razões no sentido de se instalar nova assembléia
nacional constituinte, ou pelo menos, reformarem-se a estrutura de seu
conteúdo, estirpando-se definitivamente as cláusulas pétreas entre outros
empecilhos que limitam os poderes de grupos descontentes, disfarçando essas
campanhas infamantes, sob a ótica dos novos tempos de mundo globalizado e
restrito mercado de trabalho.
Decorre
do exposto, nesta breve síntese histórica que o
brasileiro, de um modo geral, está cada vez mais longe dos fundamentos
da democracia e conseqüentemente, cada vez mais próximo das condições adversas
a preservação de direitos humanos.
Os
partidos políticos permanecem fragilizados, surgindo como outrora lideranças
isoladas, algumas místicas, outras, populista e demagógica, porém a grande
maioria arbitrária e voltadas para servir interesses isolados. A corrupção
institucionalizada na estrutura burocrática colabora para a descrença e
desmoralização do direito, sugerindo o retorno de messias, incorporado pela farda isenta com o
fito de moralizar os destinos da nação.
A
liberdade de expressão continua sob a censura imposta veladamente por empresas
jornalísticas comprometidas com interesses particulares, inibindo o
conhecimento popular da verdadeira realidade.
O
povo generalizadamente resigna-se acatando todos os atos de autoridades. Sejam
simples agentes burocráticos de repartições públicas que investidos do poder,
não cumprem os deveres de oficio, sejam os agentes políticos que se furtam a
cumprir suas mínimas obrigações de administrar, legislar ou julgar dentro dos
parâmetros do bom direito, sejam também
nas ações de agentes particulares prestadores de serviços, industriais,
comerciantes ou mesmo seus empregados, que valendo-se de critérios preconceituosos,
dispensam atenção diferenciadas com fundamento no sexo, na cor, na classe
social e infinitas equações anti-democráticas, submetendo-se passivamente
diante de carteiradas e tráfico de influencias corriqueiros.
A
cultura discriminatória imposta ao longo da história das Américas, atinge o
seio da sociedade, em todos os segmentos organizados pela coletividade,
castrando-se ou impondo-se dificuldades a todas manifestações contrárias a
ordem estabelecida, como se dá nas Igrejas, nos Clubes sociais, nas Escolas de
todos os níveis, nas Associações de Classe, nos Sindicatos e sociedades
diversas, cujos titulares dos poderes internos, valendo-se em regra dessas
benesses, apóiam-se das especiais condições em que se encontram para inibir o
fortalecimento de oposição aos grupos dominantes, intrumentalizando
perseguições e outros métodos amplamente conhecidos igualmente inibidores de
articulações. Exemplo típico dessa
castração política é o que se passa há décadas seguidas no seio da CBF.
Os
mais velhos ainda temem exercer a livre manifestação do pensamento. Não
acreditam na força das normas constitucionais garantidoras de direitos
individuais e coletivos, pois a maior parte de suas vidas, conviveram com as
arbitrarias brutalidades do Estado Novo
e com a tragédia dos anos de chumbo. A brutalidade impregnou-se na cultura
popular, em detrimento da cidadania e dos direitos naturais.
E com
esse patrimônio cultural estruturado é que se convive em pleno século XXI com
as arbitrariedades patrocinadas pelo Poder Público e passivamente aceitas pela
grande maioria do povo. Aplaude-se os discursos inflamados em defesa da paz,
mas omite-se em ações reais.
Nos
municípios com freqüência o grupo econômico dominante impõe seus agentes políticos
para administrar verdadeiros feudos. Instituem-se dentro da legalidade a rotina
do mando e do desmando daqueles que estão no Poder, amparados por agentes e
organismos públicos, dependentes da teia complexa que mistura poder político e
econômico e nessa ordem, mantém o povo distante e servil. Escravos conscientes
dos tempos atuais.
O
quadro que se apresenta do Oiapoque ao Chui, aproveita na maioria das vezes a
ineficiência estrutural do Poder Judiciário e a benevolente interpretação da
lei, pelos órgãos que deveriam agir com
severidade e maior rigor.
Se
essa violação aos princípios do regime democrático se perpetra com facilidade
nos menores redutos, afastados dos centros mais desenvolvidos do país, anos
atrás o finado presidente Jânio Quadros, ao se eleger prefeito de S. Paulo, com
a restauração do regime democrático, não teve qualquer receio em decretar a
desapropriação de imóvel de propriedade de um de seus adversários, em
represália a campanha eleitoral precedente, desvirtuando o instituto jurídico-administrativo
e violando sem compaixão princípios da moralidade.
Ainda
que anulado pelo Poder Judiciário o ato administrativo contrário ao bom
direito, chancela-se mais uma vez a cultura autoritária que predomina nas
esferas favorecidas pelo Poder.
Vale
lembrar também que são nos municípios que vereadores praticam atos semelhantes,
revelando criatividade ímpar na busca de conquistas pessoais, muitas vezes
medíocres, mas causadoras de violação a direitos naturais individuais ou
coletivos reconhecidos.
No
âmbito dos Estados e do Distrito Federal são cada vez mais freqüentes a prática
de violações institucionais de direitos humanos, quer por agentes policiais,
como é do conhecimento público, quer por ações diversas, que se materializam
principalmente contra segmentos fragilizados da sociedade civil: São os
favelados que não encontram acesso a escola pública, ou os quilombolas que não
recebem os títulos de suas posses tradicionais ou os movimentos populares que
são criminalizados para melhor discriminar-se essas ações coletivas e
banaliza-las para facilitar a desmoralização de seus objetivos, como se dá nas
operações contra grupos de estudantes, professores, operários e infinidade de
segmentos que buscam condições de
dignidade, com esteio nos primeiros artigos da Magna Carta.
O
Poder Judiciário com freqüência também tropeça em fraquezas, acobertados pela
desculpa do cumprimento da lei, provocando através das bitoladas
jurisprudências conservadoras, instrumento de certificação de justiça de
diplomas jurídicos injustos que tornam o Poder Público cada vez mais distante
dos verdadeiros interesses da Nação.
Com
certa frequencia os Tribunais se sensibilizam pelo clamor de ilustres
integrantes das castas mais abastadas que circundam as rodas influentes,
desprezando de forma fria o grito dos excluídos. As penitenciárias,
transformadas em fétidas masmorras feudais, se
encontram cada vez mais
superlotadas de miseráveis, enquanto os crimes praticados pelos capitães
de industria, políticos e agentes públicos, tradicionalmente não são punidos.
O
pobre é torturado na Delegacia de Polícia e, corajosamente pleiteia a reparação
de danos morais, conseguindo depois de muitas lutas, recursos e entraves
pela falta de estrutura judiciária,
sentença condenando a Fazenda Pública de Santa Catarina a pagar o escárnio
chocoso de insignificante
importância de R$2.000,00.
O
moribundo aidético, com fundamento na lei federal, pleiteia perante a Justiça
de S. Paulo, receber do Estado que se omite, os medicamentos necessários para o
tratamento. O Juiz de Direito, do pedestal de sua Vara, valendo-se das regras
processuais expressas em favor do
Estado,exara fundamentado despacho
dispondo que “ não há fundado receio
no dano irreparável. Todos são mortais. Mais dia, menos dia, estaremos
partindo, alguns por seu mérito, para ver a face de Deus. Isto não pode ser
tido por dano.Daí indefiro a tutela antecipada. ”
Envolvido em denuncia
pela prática de crime de aliciar trabalhadores rurais e submete-los à condição
análoga à de escravo, o STF julga inquérito e por maioria de votos, decide
arquiva-la. O procedimento foi célere o
bastante para impedir o desgaste do indiciado, dada sua condição de Deputado
Federal.
Nessa linha, anote-se
que a atuação equivocada do Poder Judiciário, permite que septuagenários
aguardem soluções judiciais pendentes por anos a fio, como na expropriação das
ações da Cia. Paulista de Estrada de Ferro ou
decorrentes da criação do Parque Florestal da Serra do Mar, enquanto cautelares
interpostas por bancos, nem sempre brasileiros, em poucas semanas, concluem
diligencias de busca e apreensão ou penhoras de bens que garantem execuções
revelando a prioridade do capital sobre outros valores.
O
Ministério Público, instituição constitucionalmente disposta com ampla
autonomia para a defesa da sociedade, muitas vezes deixa de atuar com a
presteza indispensável, por carecer da estrutura mínima, propositadamente
negada pelos orçamentos votados por integrantes do Poder Legislativo que estão
sendo investigados por atos de corrupção. Outras, lamentavelmente, por
curvarem-se diante dos interesses das classes privilegiadas.
Por
derradeiro vale salientar que a organização legislativa, por tradição, revela
alto grau de influencia de segmentos diversos da sociedade, com preponderância
relevante do poder econômico. Decorre daí que, desde os tempos das Cortes
portuguesas, se tornou histórica a elaboração legislativa se coadunar em favor
desses interesses, acentuando assim, condições favoráveis para que o Estado
permaneça até hoje como o maior violador de direitos humanos.”
Os congressista na ocasião enterraram
solenemente a pedra fundamental da Universidade de Direitos Humanos de
Curitiba.
Roberto J. Pugliese
Presidente da OAB-TO-GURUPI, 1990-1992 e
1992-1994.
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