Memória nº 87
Fogo no prédio.
Sono pesado. Os recém-casados
residem na José Maria Lisboa, entre a avenida Brigadeiro Luiz Antonio e rua
Pamplona no Jardim Paulista em São Paulo. Madrugada segue com o silencio e
tranquilidade do bloco dos fundos do edifício no 7º andar, quando o interfone
toca avisando: Fogo !
- Desça imediatamente. Está
pegando fogo no prédio.
Era a voz do zelador um tanto
nervosa avisando que deveriam descer e que estava acordando todos os moradores.
Já chamara os bombeiros.
Situação difícil até para
descrever. Acordar na madrugada com o som do interfone intermitente e ser
avisado que está pegando fogo no prédio. Não ter tempo para avaliar o que tem
em seu poder, seus documentos, diplomas, retratos... tudo que em quase vinte
oito anos de vida conseguira, parte estava ali para ser, eventualmente
queimado. Sem alternativa, melhor fugir.
Vestem-se rapidamente.
Ele olha a sala, o
escritório, o quarto vazio ainda pois não tiveram filhos, e com a carteira,
chave do carro e mais algumas bobagens, saem correndo, trancam a porta do
apartamento e...
- Vamos avisar o vizinho.
Um casal com o filho moram
num apartamento à frente. São chineses. Não falam português. Lourenço bate sem
parar na porta social. Demoram para abrir e quando abrem não dão muita atenção.
Lourenço segue o caminho da vida. Tentara. Sua mulher já estava descendo as
escadas.
Muita gente descendo. A
escada lotada de moradores. Velhos, crianças, mulheres, homens, empregados
domésticos,... todos descendo em passos largos.
Lá pelo terceiro andar
Lourenço lembra-se que esquecera do jaboti, que permanecia na área de
serviço, ao lado da cozinha. Para. Os vizinhos reclamam, pois está atrapalhando
o fluxo de gente que desce sem olhar para traz...
Permanece parado. Não sabe se
desce, sobe ou o que faz. ( Uma tartaruga, tem vida e poderá morrer queimada )
( ? )
(... )
Depois de algum tempo os
bombeiros já haviam chegado.
No pórtico do prédio, no
jardim e no hall de entrada, com todos os moradores conversando e esperando a
solução. Movimentação geral de militares e moradores. Bochichos gerais... ,
quando por fim adentra no ambiente, com Dulço, o pequeno jaboti em uma de
suas mãos, Lourenço todo feliz por ter sido herói de si mesmo. Chega sob
aplausos de todos.
O incêndio foi debelado. Era
de pequenas proporções e foi facilmente apagado pela corporação. Os moradores
retornaram para seus apartamentos, inclusive Lourenço, Lourença e Dulço.
Roberto J. Pugliese
Membro da Academia Eldoradense de Letras
Membro da Academia Itanhaense de Letra
Titular da Cadeira nº 35 – Academia São
José de Letras
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