21 maio 2014

Dulço, o jabuti. ( memória nº 87 )


Memória nº 87
Fogo no prédio.
 

Sono pesado. Os recém-casados residem na José Maria Lisboa, entre a avenida Brigadeiro Luiz Antonio e rua Pamplona no Jardim Paulista em São Paulo. Madrugada segue com o silencio e tranquilidade do bloco dos fundos do edifício no 7º andar, quando o interfone toca avisando: Fogo !

 

- Desça imediatamente. Está pegando fogo no prédio.

 

Era a voz do zelador um tanto nervosa avisando que deveriam descer e que estava acordando todos os moradores. Já chamara os bombeiros.

 

Situação difícil até para descrever. Acordar na madrugada com o som do interfone intermitente e ser avisado que está pegando fogo no prédio. Não ter tempo para avaliar o que tem em seu poder, seus documentos, diplomas, retratos... tudo que em quase vinte oito anos de vida conseguira, parte estava ali para ser, eventualmente queimado. Sem alternativa, melhor fugir.

  

Vestem-se rapidamente.

 

Ele olha a sala, o escritório, o quarto vazio ainda pois não tiveram filhos, e com a carteira, chave do carro e mais algumas bobagens, saem correndo, trancam a porta do apartamento e...

 

- Vamos avisar o vizinho.

 

Um casal com o filho moram num apartamento à frente. São chineses. Não falam português. Lourenço bate sem parar na porta social. Demoram para abrir e quando abrem não dão muita atenção. Lourenço segue o caminho da vida. Tentara. Sua mulher já estava descendo as escadas.

 

Muita gente descendo. A escada lotada de moradores. Velhos, crianças, mulheres, homens, empregados domésticos,... todos descendo em passos largos.

 

Lá pelo terceiro andar Lourenço lembra-se que esquecera do jaboti, que permanecia na área de serviço, ao lado da cozinha. Para. Os vizinhos reclamam, pois está atrapalhando o fluxo de gente que desce sem olhar para traz...

 

Permanece parado. Não sabe se desce, sobe ou o que faz. ( Uma tartaruga, tem vida e poderá morrer queimada ) ( ? )

 

(... )

 

Depois de algum tempo os bombeiros já haviam chegado.

 

No pórtico do prédio, no jardim e no hall de entrada, com todos os moradores conversando e esperando a solução. Movimentação geral de militares e moradores. Bochichos gerais... , quando por fim adentra no ambiente, com Dulço, o pequeno jaboti  em uma de suas mãos, Lourenço todo feliz por ter sido herói de si mesmo. Chega sob aplausos de todos.

 

O incêndio foi debelado. Era de pequenas proporções e foi facilmente apagado pela corporação. Os moradores retornaram para seus apartamentos, inclusive Lourenço, Lourença e Dulço.

 

Roberto J. Pugliese
Membro da Academia Eldoradense de Letras
Membro da Academia Itanhaense de Letra
Titular da Cadeira nº 35 – Academia São José de Letras  

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