Memórias nº 86
Grupo de Terras da SUDELPA e
Grupo de Assessoria e Participação.
Existem fatos na vida que se tornam inesquecíveis. Razão diversa
faz com que aquele que a vivenciou jamais esqueça.
Lourenço era vereador. Também
tinha sido, logo que se formara, professor auxiliar da equipe do Senador Franco
Montoro, na PUC, onde era professor titular de Introdução à Ciência do Direito.
Naquela época, já formado,
mais próximo do direito de propriedade fizera o usucapião de um sitio
pertencente ao seu pai, situado às margens da rodovia Regis Bittencourt, em
Juquitiba, Sp e o curador, um jovem promotor da Comarca de Itapecerica da Serra
gostara bastante da forma como preparara os autos.
No dia da audiência de
instrução conversaram Lourenço e o jovem Membro do Ministério Público sobre o
processo e outros assuntos.
(...)
Anos depois, residindo em
Cananéia com a família recebe uma ligação dizendo que o governador Montoro
assumira e estava montando um grupo para regularizar as terras do Vale do
Ribeira e promover uma espécie de reforma agrária local e questionara se ele
teria interesse em participar.
Integraria o grupo de terras
da SUDELPA, com a liderança de Heráclito Sobral Pinto e outros sete
profissionais, inclusive aquele promotor de Itapecirica da Serra que o indicara
ao governador.
Falou com a mulher e refletiu
que seria bom. Não iria integrar a administração pública. Apenas prestar
serviços. Seria contratado da SUDELPA, e aceitou.
A SUDELPA tratava-se de
autarquia estadual cujo objetivo era dar assistência ao litoral paulista. – Superintendência
do Desenvolvimento do Litoral Paulista. Esse órgão, integrante da Secretaria de
Estado dos Negócios do Interior, tinha máquinas para abrir estradas, advogados,
engenheiros, técnicos de todas as áreas para dar suporte aos municípios do
litoral de São Paulo.
Merece registro que àquela
época o Brasil tinha diversos órgãos de fomento regionais semelhantes, entre
outros a SUDECO, a SUDAM, a SUDENE, a SUDESUL e tantos outros, todos mantidos
pela União, que só não incluíam o Estado de São Paulo na área de atuação, o que
motivou o governo paulista instituir uma autarquia para esse fim, abrangendo o
litoral e o Vale do Ribeira.
Conforme fora orientado na
quarta feira seguiu para São. Paulo para assinar o contrato de prestação de
serviços, mas chegando ao prédio sede da autarquia, à Av. Angélica, foi avisado
que não poderia, porque algo inesperado acontecera e que deveria voltar à
semana vindoura.
No final de semana recebeu
outra ligação dizendo que não seria mais contratado. Não entendeu, mas deixou
de lado, pois não procurara, e fora convidado.
(....)
Anos depois, morava em Gurupi,
Estado do Tocantins, e como presidente da OAB era bastante atuante. Sempre na mídia, tinha circulação
com os advogados, com a população, com indígenas, com a base da pirâmide social
e também com a sociedade política. Exercia o mandato com muita influencia sócio
política no Estado que estava nascendo.
Recebe uma ligação do então
Deputado Federal Edmundo Galdino, do PMDB que estava fundando o PSDB, então dissidente
do PMDB, formado pelos chamados honestos e históricos e gostaria de conversar
com Lourenço.
Galdino era do Bico do
Papagaio, extremo norte do Tocantins e a base de Lourenço o sul. O deputado
era cadeirante, pois fora baleado numa
confusão entre Sem Terras e Jagunços, quando fora Vereador à Câmara municipal
de Araguaina.
Em dia e hora marcado chegou
o emissário do deputado que iniciou a conversa já acentuando com bastante
firmeza: Você é o Lourenço do Vale do Ribeira ?
- Sim !
- Vi seu nome na parede do
jardim e lembrei-me de você? Eu sei porque você não foi contratado pela SUDELPA
para integrar o Grupo de Terras...
Susto. Fazia dez ou mais
anos. Lourenço até se esquecera do que ocorrera e alguém, vindo dos confins do
país, sabia da história, ou melhor, da sua história, que ele desconhecia.
O emissário, um político
profissional, desses do tipo que ora auxiliam um governador, amanhã um
deputado, depois vão trabalhar numa autarquia, depois com o senador... e vivem
correndo galerias, conhecendo gente, políticos, empresários... Um típico
assessor de político. Enfim, o fulano após algumas insistências contou.
- ... você foi indicado pelo Dr. fulano de tal, um promotor que te
conheceu em Itapecerica da Serra, e disse que você seria a pessoa ideal, pelo
conhecimento e disposição, além de residir no Vale do Ribeira. O governador te
conhecia: Fora teu professor e também você foi seu auxiliar... Ademais você era
do PMDB, fora candidato a Vereador e nada mais justo que determinar sua inclusão na equipe... No entanto, havia só
sete vagas e uma de suas filhas queria que uma determinada pessoa, técnica em
alguma coisa também participasse, por isso e por aquilo e o governador tinha
que cortar alguém. Optou pelo menos importante, com menos cacife político, com
menos popularidade... Optou em cortar Lourenço da equipe. Optou por você, pois
não pedira...
A narrativa do assessor do
deputado Galdino, com detalhes, foi impressionante. Justificou que era membro
do Diretório Estadual do PMDB e soube e acompanhou todo o processo.
Lourenço ficou pasmo. Soube
de detalhes sobre a sua pessoa que desconhecia.
Antes, por ser oportuno,
merece registrar que estando desde o inicio de sua carreira voltada para o
litoral e em especial litoral paulista, integrou o GAP da SUDELPA.
O Governador Paulo S. Maluf ao assumir o Palácio dos Bandeirantes, criou o GAP, um grupo de assessoramento no qual, seus integrantes seriam pessoas articulados com algum tema, área ou interesse e que poderiam contribuir com ideias, apresentar soluções e ajudar o Poder Executivo governar São Paulo.
Foram criados entre outros, o GAP do Hospital das Clinicas, o GAP da USP, o GAP do Instituto Biológico, o GAP da bacia do TIETE, do Vale do Paraíba, do Comercio, da Vasp, da Fepasa, da Agricultura... enfim, inúmeros grupos para assessorar o governandor... e Lourenço se ofereceu e foi nomeado integrante do GAP da SUDELPA, pois queria estar junto e contribuir para melhor governança em Cananéia, Iguape, Itanhaém, Vale do Ribeira entre outras localidades.
O governador tinha ao seu lado inúmeras cabeças trabalhando sem qualquer ônus financeiro, dando ideias e se comprometendo com a sua administração. Jogada de mestre.
Nesse grupo havia um empresário com fazenda na qual criava búfalos em Registro; outro tinha uma pedreira de mármore em Barra do Turvo; outro era político e fazendeiro de bananas em Itariri e ao todo eram cerca de dez ou doze membros. Lourenço tinha seu escritório de advocacia ainda na Capital à avenida Brasil e nada mais. Apenas um grande interesse pela região.
Lembra-se que não era muito bem prestigiado pelos demais, mas trazia suas ideias e algumas eram aprovadas e encaminhadas ao chefe do Executivo.
No final do governo, José Maria Marin, então vice-governador do Estado, no exercício do governo, dada a renuncia do titular para concorrer à Camara Federal, houve uma grande festa no Palácio dos Bandeirantes e entrega de diplomas a Lourenço e demais integrantes.
Pela leitura dessas duas passagens observa-se que Lourenço tem uma grande experiência e interesse pela região...
Roberto J. Pugliese
Membro da Academia Eldoradense de Letras
Membro da Academia Itanhaense de Letras
Titular da Cadeira nº 35 – Academia São José de Letras
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