02 novembro 2014

A verdade sempre aparece. ( memória nº 104 )


 DESCULPAS.
(Memória nº 104)
 

Errar trata-se de uma das finitudes humanas. Todos estão sujeito à erros, equívocos e deslizes durante a vida. Uns acertam mais, outros menos. Uns erram muito. Outros erram propositadamente. Outros simplesmente erram.

 

Em São Francisco do Sul havia um comerciante estabelecido no Centro Velho com uma joalheria, instalada na entrada de uma Galeria, situada à rua Babitonga, nos baixos de um clube. Lá, nos fundos da galeria, Edegar Tavares o despachante tinha seu escritório. Ambos eram amigos de Lourenço.

 
visão parcial de São Francisco do Sul

Certa vez, o joalheiro recomendou uma moça ao escritório de advocacia de Lourenço para que a orientassem  e  promovessem o divórcio ou separação judicial, talvez amigável. Por alguma razão,  após algumas idas e vindas, entrevistas e muita conversa jogada fora ela desapareceu e o joalheiro quando indagado por Lourenço sobre os motivos, foi ríspido e deselegante, rompendo a amizade entre ambos.

 

Disse o joalheiro que a moça que frequentava a mesma Igreja, contou isso e aquilo, pondo em dúvida a palavra de Lourenço e de sua sócia.

 

O tempo passou e se quer ao longo desse período se cumprimentavam. A discussão fora feia e muito séria.

 

No entanto, numa manhã qualquer de um dia de semana, Lourenço foi ao escritório do despachante Edegar e como ele estava ocupado, sentou-se e encostado na parede da porta do estabelecimento aguardava para ser atendido, quando repentinamente o joalheiro, esbaforido, ingressou na sala, sem pedir licença e, meio estúpido e aos gritos perguntou pelo advogado, que assustado, levantou-se de pronto, até para prevenir de vir a ser fisicamente agredido, dada a aparência dos fatos.

 

- Pois não, o que há, questionou Lourenço, em pé na frente do joalheiro, sob olhar de Edegar e demais presentes, junto a porta daquele escritório.

 

- Vim te pedir desculpas, bradou alto e em bom som o joalheiro.

 

Enfim, para não ser enfadonho. O joalheiro que acreditara na moça de sua Igreja, rompera a amizade com Lourenço por equivoco, levado a erro e descobrira que havia sido injusto. Não teve dúvida, na primeira oportunidade, ao vê-lo ingressando na galeria, foi atrás para desculpar-se.

 

Noutra ocasião, também em São Francisco do Sul o advogado mais antigo da cidade, rompeu as relações com Lourenço. Ficara sabendo que numa das aulas que à época ministrava em Joinville, Lourenço o citará debochando, ao dar  exemplo de algum fato jurídico relevante para a ocasião.

 

Lourenço esclareceu que era mentira e que jamais faria isso com um colega etc e tal, mas não adiantou.

 

Nas audiências que se deparavam um com o outro pessoalmente a situação era constrangedora para ambos, pois não se falavam diretamente e não se complementavam. Dois verdadeiros inimigos.

 

Até que um dia, ao terminar uma audiência, o advogado que rompera equivocadamente as relações, antes de sair da sala, falou alto para que todos ouvissem inclusive o magistrado, a escrevente e as partes, que estava se desculpando publicamente pois soube que rompera as relações fundado em versão mentirosa que acreditou. Em seguida apresentou sua mão direita e celebrou à paz.

 

Lourenço aceitou as desculpas.

 

Roberto J. Pugliese
Autor de Direito das Coisas, 2005. Leud.

Nenhum comentário:

Postar um comentário