(Memória nº 104)
Errar trata-se de uma das finitudes humanas. Todos estão sujeito à
erros, equívocos e deslizes durante a vida. Uns acertam mais, outros menos. Uns
erram muito. Outros erram propositadamente. Outros simplesmente erram.
Em São Francisco do Sul havia
um comerciante estabelecido no Centro Velho com uma joalheria, instalada na
entrada de uma Galeria, situada à rua Babitonga, nos baixos de um clube. Lá,
nos fundos da galeria, Edegar Tavares o despachante tinha seu escritório. Ambos
eram amigos de Lourenço.
Certa vez, o joalheiro
recomendou uma moça ao escritório de advocacia de Lourenço para que a
orientassem e promovessem o divórcio ou separação judicial,
talvez amigável. Por alguma razão, após
algumas idas e vindas, entrevistas e muita conversa jogada fora ela desapareceu
e o joalheiro quando indagado por Lourenço sobre os motivos, foi ríspido e
deselegante, rompendo a amizade entre ambos.
Disse o joalheiro que a moça
que frequentava a mesma Igreja, contou isso e aquilo, pondo em dúvida a palavra
de Lourenço e de sua sócia.
O tempo passou e se quer ao
longo desse período se cumprimentavam. A discussão fora feia e muito séria.
No entanto, numa manhã
qualquer de um dia de semana, Lourenço foi ao escritório do despachante Edegar
e como ele estava ocupado, sentou-se e encostado na parede da porta do
estabelecimento aguardava para ser atendido, quando repentinamente o joalheiro,
esbaforido, ingressou na sala, sem pedir licença e, meio estúpido e aos gritos
perguntou pelo advogado, que assustado, levantou-se de pronto, até para
prevenir de vir a ser fisicamente agredido, dada a aparência dos fatos.
- Pois não, o que há,
questionou Lourenço, em pé na frente do joalheiro, sob olhar de Edegar e demais
presentes, junto a porta daquele escritório.
- Vim te pedir desculpas,
bradou alto e em bom som o joalheiro.
Enfim, para não ser
enfadonho. O joalheiro que acreditara na moça de sua Igreja, rompera a amizade
com Lourenço por equivoco, levado a erro e descobrira que havia sido injusto.
Não teve dúvida, na primeira oportunidade, ao vê-lo ingressando na galeria, foi
atrás para desculpar-se.
Noutra ocasião, também em São
Francisco do Sul o advogado mais antigo da cidade, rompeu as relações com
Lourenço. Ficara sabendo que numa das aulas que à época ministrava em Joinville,
Lourenço o citará debochando, ao dar
exemplo de algum fato jurídico relevante para a ocasião.
Lourenço esclareceu que era
mentira e que jamais faria isso com um colega etc e tal, mas não adiantou.
Nas audiências que se
deparavam um com o outro pessoalmente a situação era constrangedora para ambos,
pois não se falavam diretamente e não se complementavam. Dois verdadeiros
inimigos.
Até que um dia, ao terminar
uma audiência, o advogado que rompera equivocadamente as relações, antes de
sair da sala, falou alto para que todos ouvissem inclusive o magistrado, a
escrevente e as partes, que estava se desculpando publicamente pois soube que
rompera as relações fundado em versão mentirosa que acreditou. Em seguida
apresentou sua mão direita e celebrou à paz.
Lourenço aceitou as
desculpas.
Roberto J. Pugliese
Autor
de Direito das Coisas, 2005. Leud.
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