10 novembro 2014

Palavras vazias.


O conteúdo das palavras.

 

Algumas pessoas falam muito. Falam bastante. Falam sem parar. Todos os temas e todos os assuntos a versatilidade do conhecimento os propicia a falar. Consideram-se especiais. Melhores, superiores, importantes. Sabem tudo.

 

Falar, falar, falar sem parar. Falar pelos cotovelos, joelhos e orelhas. Falar sentado, em pé, pilotando barco, avião ou automóvel. Falam até sentados na roda-gigante.

 

São tagarelas de plantão.

 

Encontramos esses linguarudos em todos os cantos e, sem qualquer pudor, sofremos o despejo incansável de intermináveis locuções, na maioria das vezes inoportunas, desconexas e sem conteúdo. São histórias que não nos interessam e também a qualquer outro ouvinte. São detalhes e minúcias enfadonhas despidas de raiz que encaminha ao tédio. São falas sem fim.

 

Falam tanto que no meio da fala mudam de assunto e desenvolvem outras mensagens que faz do dialogo proposto uma confusão de explanações  cujo início se perde e o fim nunca chega. Cansativo ouvir o falante.


 





 

 

Falam sem cessar. Sem cansar. Nem bebem água. Não abrem  pausa para o dialogo. Falam e não escutam. Mandam. Opinam, questionam e respondem.  Não conhecem vírgulas, ponto-e-vírgulas, exclamações ou reticências. Interrogações  não tem respostas por falta de tempo hábil e travessão...  Não existe travessão, aspas, parêntesis ou colchetes. Não concedem à parte.

 

Tédio do lero-lero daqueles que falam próximos; dos que falam de longe e de todos que falam sem parar. Tem aqueles que entram em êxtase quando vislumbram um microfone e os que também discursam por telefone.  Tem os que falam e gesticulam alto. Tem os que falam mais alto e aqueles que gritam.

 

Tem também os que falam de pressa e os que balbuciam de modo inteligível, baixinho e sem parar, num ritmo inadequado para prender a atenção. Falam morno provocando sono que vira o prenúncio do pesadelo da antevisão de  monólogo que se perde no espaço. Esses falam chochos e mórbidos. Resmungam sem parar e sem emitir som. Falam para dentro. Difícil ouvir sem ter interesse no assunto.

 

Uns falam com quem conhecem e falam com desconhecidos. Para esses, o  importante é falar sem se dar conta de quem ouve. Falar com a boca molhada, insalivada agredindo com cuspes e babas meladas ensopando aos que, enojados se afastam e são perseguidos. Pegam no braço, puxam e exigem que estejam próximos à boca molhada e gosmenta de tanta fala. E quando o falante sofre do estomago o mau hálito torna o ambiente pior. E o azedo do pinguço então torna inebriante e zonzo o discurso ébrio interminável...

 

Outros se esquecem e falam tomando café, comendo macarrão ou degustando sopa de cenouras. Por óbvio, esses falantes sem o mínimo de respeito e desconhecendo boas maneiras, sempre se engasgam, tossem, sujam a mesa, a toalha e os demais convivas que, suportam a fala e a bagunça.

 

São falantes que se impõe através das cordas vocais esganiçadas, roucas ou tenebrosas. Também tem os falas-finas. Homens que na puberdade ainda falam como crianças. Tem mulheres que falam grosso.  Outros espirram e continuam falando e se limpando.

 

São tribunos decadentes e frustrados que se consideram mestres, sabidos daquilo que todos sabem. Vazios e desprovidos do senso abalizado comportamental, não se importam no egocentrismo de seus monólogos se os ouvintes pacientes que o assistem se mostram ou não satisfeitos. São ejaculadores de sons nem sempre ouvidos, se quer perceptíveis dada a futilidade insonssa e desbotada, desprovida de qualquer saber. Suas frases se transformam em orações e estas em  intermináveis discursos, onde sem pausa,  ditam saberes inerentes ao nada do que produzem.

 

Falantes que transformam a conversa em sermões. Dão broncas intermináveis. Fazem citações de locuções tiradas de alguma enciclopédia utópica só para revelar a pobreza do próprio saber. Também, aproveitam ocasiões que surgem no dia a dia de qualquer pessoa e rasgam elogios quando poderia ser um simples muito obrigado. São malucos entorpecidos pelo próprio som. São os que sonham e os que narram pesadelos.  E ainda tem aqueles que perguntam: - Sabe o que me lembrei agora?

 

Anônimos, esses locutores desejam tribunas nas quais possam ditar suas ideias e à semelhança de Vargas, Peron,   Alfredo Stroessner, Fidel Castro e outros caudilhos latinos, fingem que não escutam e disfarçam impedindo que saiam de sua volta àqueles que, ora por respeito, ora por educação, suportam ouvi-los. São egocêntricos, egoístas e catequizadores do nada.

 

Enfim, é preciso lembrar que a evolução da espécie humana dispôs a humanidade de dois ouvidos e uma única boca para serem utilizados na proporcionalidade e moderação. Monólogo é conversa de ermitão diante do espelho. Ninguém é obrigado a suportar.

 

Exceção à puxas-sacos, subordinados  e subalternos, nessas ocasiões resta disfarçar e de fininho fugir. Sumir para não ouvir mais ninguém.

 

Roberto J. Pugliese
Autor de Direito das Coisas, 2005, Leud
Titular da Cadeira nº 35 da Academia São José de Letras.

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