Memórias nº 81.
Indígenas – Ilha
do Bananal
Os pais de Lourenço vinham de Belém. Aproveitaram para ir à
Manaus e estavam retornando. A viagem pela Belem-Brasília além cansativa e
perigosa, para um casal de velhos, que já eram seus pais, provocava preocupação
para todos os familiares. Na ida foram diretos: São Paulo-Belém. Na volta pararam em Gurupi
para descansar alguns dias.
Feriado de finados decidiu visitar a Ilha do Bananal,
distante alguns quilômetros, mas próximo o suficiente para irem e voltarem no
mesmo dia.
Como sempre, sol, calor, dia azul, alegre... Pela manhã
seguiram para Formoso do Araguaia. Depois de um café, continuou em direção à
maior ilha fluvial do mundo.
Lembra-se que após a cidade, andaram cerca de 50 km. numa
rodovia atravessando um enorme banhado, onde há um imenso projeto de cultivo de
arroz a perder de vista. Ao longo da estrada, um projeto de rodovia, então sem
pavimentação, milhares de jacaré descansando sob sol. Impressionante.
Impossível estacionar na rodovia dada a quantidade desses animais se expondo ao
sol.
Por volta das 13 horas estacionaram às margens do rio Javaé.
Não muito profundo, atravessaram à pé, com água pelas coxas. Ingressaram na
ilha, que nessa parte, é território indígena. É sede de aldeia administrada
pela FUNAI.
Os pais, a mulher e o filho foram adentrando pela aldeia.Lourenço
precavido assim que chegou naquele território bem povoado de nativos, foi
direto à sede da autarquia, se apresentou e pediu autorização para visitar. Perguntou se
poderia filmar e se todos poderiam transitar livremente. Questionou se havia
alguma restrição.
O funcionário, deitado numa rede, sem muita atenção e
comportamento digno de autoridade federal, disse que não havia restrição alguma
e liberou a todos para circularem pela
reserva indígena.
Passeio interessante. Diálogo com alguns indígenas. Ingresso
em algumas ocas. Visão de plantio, antena parabólica, crianças com corujas
amarradas à semelhança de cães encoleirados... Visitação muito pitoresca por
quase duas horas sob o sol forte da Amazônia legal.
Filmaram tudo. Indígenas homens, mulheres, crianças, gay.
Ocas, sistema de abastecimento de água e transmissão de eletricidade. Animais
domesticados... Havia pasto, plantação, trator, jipe. Lourenço pai, ao lado de um velho índio. Lourença mãe, Lourença
esposa com algumas indígenas...Tudo arquivado na mesma fita que havia filmado o
trajeto e os incontáveis jacarés e aves coloridas.
Decidiram ir embora. Os pais se anteciparam e foram em direção ao Javaé
para atravessarem. Lourenço filho e a mãe foram em direção a uma cachoeira,
distante uns duzentos ou trezentos metros banharem-se. Lourenço aguardando nas margens do rio, percebeu u'a
movimentação diferente dos indígenas quando.
- Dr. queira acompanhar, disse um jovem índio, indicando a
sede da FUNAi, onde Lourenço negociara a visitação com o servidor federal
quando chegaram.
(...)
Na salinha do pequeno prédio federal cerca de dez ou doze
indígenas expuseram educadamente que não poderia ter filmado e que iam ficar
com a filmadora...
No calor do ambiente apertado, cheio de gente e inúmeros argumentos trocados, soube da proibição de filmar.
No calor do ambiente apertado, cheio de gente e inúmeros argumentos trocados, soube da proibição de filmar.
(...)
Muita negociação, Lourenço convenceu a todos que entregaria
a fita, mas que não sabia abrir o recipiente próprio para tira-la. Apenas
Lourenço filho, então com doze anos de idade, magrinho, mirrado, aparentando
até menos idade. Queria ludibriar a todos e sair com a máquina e as filmagens.
Diante disso os indígenas
confabularam e determinaram que um indiozinho, talvez da mesma idade, fosse
buscar Lourenço filho. Um adulto seria covarde se fizesse essa função, segundo
foi esclarecido posteriormente. (!!!)
O menino chegou, acompanhado do menino-índio e percebeu o que
acontecia e tentou abrir o recipiente que guardava a fita e mostrou não
conseguir. Após diversas tentativas e percebendo que Lourenço disfarçara mandar
abrir conseguiu e tirou a peça e entregou ao pai.
Era a fita simplesmente ou a máquina que seriam
incinerados.
Não teve acordo. Decidiram que
ficariam com a fita e, por conhecerem Lourenço e saberem que era chefe dos
advogados e defendia indígenas e direitos humanos, iriam se reunir com outras
tribos em Dezembro e, se tudo fosse acertado, iriam à Gurupi levar a fita para
apagar o que fora gravado na aldeia e devolver.
- Índios conhecem Chefe de Advogados que defende índios e direitos humanos. A gente acredita no Doutor e faz acordo.
- Índios conhecem Chefe de Advogados que defende índios e direitos humanos. A gente acredita no Doutor e faz acordo.
(...)
Sem a fita retornaram.
Em Formoso do Araguaia foram à
delegacia de policia e lavraram uma ocorrência policial, já que a fita tinha
imagens da família e poderia ter destino incontrolável. Ademais haviam sido
ludibriados pelo funcionário que permitira o proibido. E sumira da aldeia. Permitira a filmagem e não ficara para dar a solução.
Após o final de semana, na segunda
feira imediata, assim que saiu de casa, Lourenço foi à sede da FUNAI em Gurupi,
agencia principal da autarquia no Tocantins. Para sua surpresa, assim que chegou
à sala de espera já estavam os indígenas aguardando para serem atendidos. Foram
reclamar do funcionário assim como Lourenço fora para o mesmo fim.
(...)
Passou o tempo. De quando em vez,
encontrava-se por acaso, numa das movimentadas ruas da cidade, ou numa das
agencias bancárias, ou na farmácia, enfim, de tempo em tempo, encontrava-se
perdido com um ou outro indígena daquela aldeia. Conversavam e era avisado
que logo teria uma resposta sobre a fita.
- Final Dezembro índios do Bananal reúnem para decidir fita.
- Final Dezembro índios do Bananal reúnem para decidir fita.
E assim aconteceu: Num entardecer
de janeiro, estava só, em sua casa, quando um indígena chegou e disse que viera
apagar a fita, conforme combinara, pois o Conselho das Tribos assim decidira.
E por mais de meia hora apagaram
as filmagens da aldeia e Lourenço recuperou a fita que ficara em poder dos
indígenas.
O funcionário da aldeia foi
transferido para o sul do Pará...dada as incontáveis reclamações.
Merece registro também que a
amizade de Lourenço com os indígenas do Bananal fez com que recebesse
convite para ir à ECO 92, pois o grupo de índios tinha uma passagem a mais e
gostariam que o CHEFE DOS ADVOGADOS os acompanhasse.
Roberto J.
Pugliese
www.pugliesegomes.com.brautor de Terrenos de Marinha e Seus Acrescidos.
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