MEMÓRIA
nº 80
Ponta
Pé inicial. ( a proposta que nem chegou a receber )
Lourenço no exercício da
vereança estava se saindo muito bem com
o eleitorado. Muitas moções, indicações, requerimentos e projetos de interesse
da população fazia com que fosse chamado para diversas solenidades populares.
Numa delas, foi convidado a
dar o pontapé inicial de uma partida de futebol de jovens de uma escola do
Carijo, bairro de pescadores onde residia. O professor o convidou e numa
determinada manhã de um sábado, foi ao estádio municipal para dar o chute e
assim dar por iniciada a partida.
Noutra ocasião os líderes da
situação, membros da ARENA, partido político do Prefeito Municipal, marcaram
uma reunião na casa de um dos vereadores, que exercia a presidência da Camara.
Não entendeu bem, mas na hora
marcada foi à casa de Sido Teixeira, próximo ao seu escritório. Seria com a
presença de Hélio Fortes o líder do Prefeito e vereador mais experiente, também
da Arena.
- Entre doutor. Aguarde um
pouquinho.
(...)
Permaneceu só na sala de
visitas por mais de quinze minutos, quando ambos entraram e começaram a falar
futilidades: futebol, preço de alimentos, transito na BR116 e assuntos que não
significavam nada de importância para merecer uma reunião entre o vereador da
oposição que estava incomodando o prefeito e toda a estrutura da situação na
cidade e os dois situacionistas.
Durante uns vinte minutos
jogaram conversa fora até que percebendo que não tomavam qualquer iniciativa,
questionou o porque da reunião e a resposta, evasiva limitou-se a dizer que não
tinha nada de importante... ( ? ) para tratarem.
Não entendeu bem, se despediu
e foi embora intrigado.
Anos mais tarde, mais maduro
e vivido, concluiu que o convite fora
para se acertarem e mediante algum favor especial deixar de combater o
prefeito, os vereadores da situação, as falcatruas e toda a ditadura de 1982...
No entanto, os dois vereadores não souberam como abordar Lourenço e se omitiram
em qualquer proposta, com medo de qualquer consequência maior, já que sua
postura era indisfarçavelmente bastante reta e muito séria.
Roberto J. Pugliese
membro da cadeira nº 35 da Academia Sãojoseense de Letras.
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