13 outubro 2012

Família Monogâmica x Capitalismo - Reflexões.

POR QUE AS FEMINISTAS LUTAM CONTRA A FAMÍLIA MONOGÂMICA?

 

Bom, ao tratar de assunto tão delicado, devemos iniciar categorizando o que concebemos como monogamia:

Etimologicamente, a palavra se forma a partir do Grego MONOS, “um, único”, mais GAMEIN, “casar”.

MONOGAMIA, na sociedade capitalista, diferente do que a ideologia burguesa/patraircal apresenta, não é a livre vontade de se relacionar afetiva-sexualmente apenas com uma única pessoa, como “naturalmente” acontece.

Para compreendermos o significado que a palavra monogamia traz consigo, desde sua origem, é necessário uma contextualização histórica:

A relação monogâmica, isso é, a noção de propriedade de um indivíduo sobre o outro, funda-se na transição para a sociedade de classes, aquela em que uma parte da sociedade, a classe dominante, explora a outra e majoritária parte da sociedade.

A passagem histórica de sociedades comunais para sociedades de classes, traz consigo o surgimento da propriedade privada, do trabalho alienado (explorado), e um instrumento especial criado pela classe dominante para organizar e aplicar cotidianamente a violência, o Estado.

Nesta transição, as relações históricas até então concebidas em carater coletivo, como o cuidado das crianças, passam a adquirir a condição de relações PRIVADAS. Fica restrito ao “lar” o espaço de atuação das mulheres e todas as suas atividades ligadas ao âmbito da reprodução da vida (cozinhar, limpar a casa, cuidar dos filhos, etc)

Com esta conformação social, compete aos homens o “provimento” de suas mulheres; e estas devem “servir” aos seus senhores, em uma relação de poder. Aos indivíduos masculinos cabe o poder da propriedade privada, serão eles os maridos. Às mulheres cabem as atividades que não geram a riqueza privada: serão esposas ou prostitutas.

A família, tal como hoje a conhecemos, não surge como resultado do amor entre os indivíduos. Surge como a propriedade patriarcal de tudo o que é doméstico.

Ao referenciar o poder do homem, e a separação dos espaços públicos X privados, a família monogâmica passa a moldar o que é ser homem e o que é ser mulher (categorizando os gêneros masculino e feminino) em nossa sociedade. Tal fato interfere inclusive no desenvolvimento da sexualidade de ambos: ao homem compete, a todo momento, afirmar sua sexualidade e enquanto a mulher deve negá-la, condicionando o sexo apenas para fins reprodutivos: gerar herdeiros que possam perpetuar a acumulação de riqueza da família. Daí a necessidade da garantia de que o filho será mesmo do marido através da exigência da virgindade da esposa – por isso cabe ao primogênito masculino a herança.

“Para assegurar a fidelidade da mulher e, por conseguinte, a paternidade dos filhos, a mulher é entregue incondicionalmente ao poder do homem. Mesmo que ele a mate, não faz mais do que exercer um direito seu.” (Engels, 1979: 68)

Tão falsa é a ideia de que a monogamia é a relação sexual com apenas uma pessoa que desde sua origem é permitido ao homem o rompimento deste “contrato”. O chamado “heterismo”, aceitação social de que apenas os homens mantenham relações extra-conjugais, traz a reboque as relações de prostiruição em que a existência da escravidão junto à monogamia, a presença de jovens e belas cativas que pertencem, de corpo e alma, ao homem, é o que imprime desde a origem um caráter específico à monogamia que é monogamia só para a mulher, e não para o homem. E, na atualidade, conserva-se esse caráter.” (Engels, 1979:67)

A alienação patriarcal sobre a mulher que a converte em esposa ou prostituta, é a negação de sua potência histórica, o rebaixamento do seu patamar de humanidade.

A FAMÍLIA MONOGÂMICA SE CONSTITUI, PORTANTO, POR UM HOMEM E UMA OU VÁRIAS MULHERES EM UMA RELAÇÃO DE OPRESSÃO — NEM CONSENSUAL, NEM AUTÔNOMA.
Sendo assim, devemos LUTAR contra a família monogâmica! Pois ela representa a dominação do homem sobre a mulher.

Está claro para nós que as relações monogâmicas não comportam a totalidade das necessidades e possibilidades de desenvolvimento do gênero humano! Por isso, é parte da construção de um projeto contra-hegemônico dxs trabalhadorxs o forjar de novos homens e mulheres que se paute em relações livres no sentido mais pleno desta palavra!

Defender que as relações afetivo-sexuais sejam COMPLETAMENTE LIVRES não significa impôr modelos de relacionamentos (se a duas ou mais pessoas), pelo contrário, é a defesa de que qualquer tipo de relacionamento (inclusive a dois) não deve ser pautado pela propriedade privada, pelo machismo, pelo Estado, incluindo a noção de posse de uma pessoa sobre a outra!

Defendemos uma nova forma de organização da vida social, uma sociedade emancipada das relações de exploração e opressão. E, para que esta sociedade seja possível, é imprescindível superar também a atual forma de família.

Somos favoráveis à liberdade mais completa para que as pessoas possam viver seus amores com a maior intensidade e a maior autenticidade. Superar o casamento monogâmico é decisivo para a constituição de uma sociedade que possibilite o desenvolvimento universal e pleno dos indivíduos.

E, para que isso seja possível, é imprescindível superar a sociedade capitalista e o machismo.

Roberto J. Pugliese
www.pugliesegomes.com.br


( Texto elaborado por Tábata Melise Gomes, com base no texto extraído de A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, de Engels e de Abaixo a Família Monogâmica, de Sérgio Lessa. )

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